quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A minha gravidez II: Epifania, obstáculos e decisões

Parte 1: Epifania


Certo dia de Janeiro, estava eu a estender a roupa e fui assolada por um pensamento.
Nunca, mas nunca, me iria sentir preparada para abdicar de mim, para deixar de dormir bem, para tomar em mim a maior responsabilidade que existe neste mundo que é ter um filho. Nunca me sentiria preparada para fazer algo que mudaria de forma tão permanente a minha vida.
Por isso, se queria ter filhos, tinha de ser num ímpeto de "ou vai ou racha".

Acabei de estender a roupa e fui directa à sala.
"Tomei uma decisão. Nunca me sentirei preparada para ter filhos, portanto, tomei uma decisão racional e calculada de que não esperarei por esse momento.". Adivinhando o que aí vinha começou a esboçar uma intenção de sorriso. "Mas atenção, como te disse, eu não tenho filhos sem casar. E não é começar a tentar e eventualmente casar. É casar e só depois começar a fazer por isso. Por isso, quando mais depressa casarmos, mais depressa começamos a tentar."

Nessa mesma semana começámos a preparar o casamento. 8 meses depois estávamos a casar.
E só demorámos tanto tempo, porque quem quis a festa foi ele. Por mim, teria ido ao registo civil, assinava o papel e estava a andar. Mas o homem queria uma festa para os amigos e eu não me importei.

Sim, sou uma pessoa extremamente romântica. Tão romântica quanto uma pedra.



Parte 2: Obstáculos


Assim que começámos a tratar do casamento, começámos a tratar de fazer análises.
Ele não fazia análises há quase uma década e eu tinha uma anemia, pelo que precisávamos de determinar se haveria alguma incompatibilidade, como uma talassémia ou assim.

Não havia incompatibilidade, mas foi-me detectada uma doença auto-imune.
Entrei em choque. Pior do que que morrer, era a possibilidade de ter uma doença que me matasse aos poucos, que me fosse retirando qualidade de vida.
Fiz análises, atrás de análises, nunca nada era conclusivo. Descartavam-se doenças, mas não havia um diagnóstico específico, apenas um "há uma doença auto-imune". Já me queriam mandar para um instituto especializado para ser testada porque a médica dizia que nunca se tinha deparado com valores assim.
Que doença seria? Que consequências teria uma gravidez? E se engravidasse, haveria consequências para o bebé?



Parte 3: Decisões

















Farta de passar meses a ser picada e analisada, sem resultados conclusivos, e sem saber o que me esperava, fiz um balanço:
- Sentia-me bem: isso significava que uma possível doença não estaria assim tão avançada. Portanto, iria fazer a minha vida normal, sem me preocupar. Quando, e se!, acontecesse alguma coisa logo se veria. Ficar à espera de um diagnóstico certo poderia atrasar muito este plano de vida e precisava de ter tempo para o caso de querer ter mais filhos;
- Viabilidade de uma gravidez: com auto-imune ou não, tenho anemia e isso, por si só, já significa que há uma probabilidade de uma gravidez não avançar durante o primeiro trimestre. Se, num cenário normal, já 25% das gravidezes são inviáveis, quanto mais com uma anemia... Se não era a auto-imune, era a anemia, e a anemia não passará nunca.
- Riscos de malfomações: existem sempre e, hoje em dia, há muitas análises e exames que podem fazer para as detectar a tempo e fazer uma interrupção voluntária da gravidez.
- Riscos para a mãe: Uma auto-imune pode fazer com que uma gravidez prejudique, gravemente, a saúde da mãe. "Se isso acontecer, logo se vê. Tudo tem solução".

Não! Não ia continuar a angustiar. Ia-me distrair com a preparação do casamento, ia-me divertir à brava, ia aproveitar a vida e ia seguir com os nossos planos iniciais.

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