Reparem como todas estas histórias terminam no momento em que conseguem, finalmente, ficar juntos. Como se tornam amores intemporais, "para sempre", e terminam ou no momento do casamento ou no momento de uma morte precoce e trágica. Assim é fácil amar para sempre. Assim é fácil que não se chegue ao esmorecer da paixão e fiquemos quase exclusivamente com o amor.
Mas a ficção incutiu-nos a fantasia de que a paixão, num relacionamento bom, dura 24 horas por dia, todos os dias. Que a tesão e a sofreguidão pelo outro têm, obrigatoriamente, de estar sempre presente. E é assim, porque os filmes e romantismo barato e superficial nos meteram esta ideia na cabeça, por tanta gente pensar deste modo que as relações não duram.
Querem Romeu e Julieta? Lembrem-se do vosso primeiro namoro na adolescência. Como a certa altura quiseram fugir com ele porque os pais não vos deixavam estar juntos sempre que queriam. Se se tivessem suicidado, teriam conseguido um amor para sempre. Assim é fácil.
Uma coisa é a paixão, que nos causa marcas emocionais e físicas. E que só durará para sempre se se interromper abruptamente (qualquer que seja a causa) e nunca for devidamente terminada ou vivida numa relação conjugal. É a paixão que nos faz estar a caminho do outro e a sentir uma inquietação na área genital, pulmonar e cardíaca. Em que basta um olhar, aquele olhar, e já se sente um orgasmo latente.
Que nos dá vontade de lhe espetar um tabefe de tanta vontade que se tem em possuí-lo. Em que não se consegue conter e é preciso morder, arranhar, agarrar, prender contra a parede, puxar/agarrar cabelos, lamber partes do corpo... Sem limites, porque tudo naquela pessoa tem de ser nosso e tudo em nós tem de ser, urgente e imperativamente, possuído pelo outro.
A paixão é objectificação (nossa e do outro), com a finalidade de obter prazer e supressão de necessidades sexuais.
Já o amor é querer cuidar. Claro que também envolve paixão, simplesmente ela não está lá permanentemente. Aparece de vez em quando para dizer "olá". Mas o prazer físico deixa de ser o objectivo principal.
O que passa a ser fundamental e prioritário é que o outro esteja bem, feliz, cuidado, nutrido. É providenciar a respostas às suas necessidades e ficarmos felizes e satisfeitos com isso.
É não se importar de limpar vómito, ouvir movimentos intestinais, fazer canjas de galinha. Ir à farmácia e ficar na fila atrás de 30 velhos que gostam de ir à farmácia ao final do dia para ver pessoas.
É passar por coisas chatas, feias e nojentas, não por se esperar retorno sexual (ou de qualquer outro tipo), mas por se querer genuinamente que o outro esteja feliz. Implica espírito de sacrifício.
É ficar-se de pijama, sem tomar banho, sem pentear, a fazer maratonas de filmes/séries, sem cozinhar e encomendar-se pizzas ou qualquer outra coisa nada sexy.
É deitarmo-nos ao lado de uma pessoa que quando nos toca dizemos "chega para lá estás muito quente/frio", dormirmos melhor se não estiverem lá, mas a meio da noite, enquanto dormem fazer-lhes uma festinha porque queremos que lá estejam.
É ouvir a respiração ou a forma como comem e sentirmo-nos extremamente irritados, mas até aguentar isso. É irritar o outro de propósito, só porque sim. É conhecer limites, é provocar sempre respeitando.
É pensar que é com aquela pessoa que se tem de comentar o que acabou de se ver/ouvir. É ter uma linguagem própria, olhares aliados a telepatia, piadas apenas entre os dois (que quando se tenta repetir noutro contexto nos faz parecer anormais).
É isto e muito mais, mas sempre a querer que o outro esteja bem. Isso acima de tudo.
O amor não é lindo, não é fácil. É o que é.
Torna-se lindo por querermos suportar coisas que não gostamos no outro porque é ele que amamos e que queremos com todos os defeitos irritantes. É querer e fazer tudo o que está ao nosso alcance para que ele seja feliz.
Amor é altruísta. É sobre o outro. É querer dar.
Escrito a 20.08.2015
Mas a ficção incutiu-nos a fantasia de que a paixão, num relacionamento bom, dura 24 horas por dia, todos os dias. Que a tesão e a sofreguidão pelo outro têm, obrigatoriamente, de estar sempre presente. E é assim, porque os filmes e romantismo barato e superficial nos meteram esta ideia na cabeça, por tanta gente pensar deste modo que as relações não duram.
Querem Romeu e Julieta? Lembrem-se do vosso primeiro namoro na adolescência. Como a certa altura quiseram fugir com ele porque os pais não vos deixavam estar juntos sempre que queriam. Se se tivessem suicidado, teriam conseguido um amor para sempre. Assim é fácil.
Uma coisa é a paixão, que nos causa marcas emocionais e físicas. E que só durará para sempre se se interromper abruptamente (qualquer que seja a causa) e nunca for devidamente terminada ou vivida numa relação conjugal. É a paixão que nos faz estar a caminho do outro e a sentir uma inquietação na área genital, pulmonar e cardíaca. Em que basta um olhar, aquele olhar, e já se sente um orgasmo latente.
Que nos dá vontade de lhe espetar um tabefe de tanta vontade que se tem em possuí-lo. Em que não se consegue conter e é preciso morder, arranhar, agarrar, prender contra a parede, puxar/agarrar cabelos, lamber partes do corpo... Sem limites, porque tudo naquela pessoa tem de ser nosso e tudo em nós tem de ser, urgente e imperativamente, possuído pelo outro.
A paixão é objectificação (nossa e do outro), com a finalidade de obter prazer e supressão de necessidades sexuais.
Já o amor é querer cuidar. Claro que também envolve paixão, simplesmente ela não está lá permanentemente. Aparece de vez em quando para dizer "olá". Mas o prazer físico deixa de ser o objectivo principal.
O que passa a ser fundamental e prioritário é que o outro esteja bem, feliz, cuidado, nutrido. É providenciar a respostas às suas necessidades e ficarmos felizes e satisfeitos com isso.
É não se importar de limpar vómito, ouvir movimentos intestinais, fazer canjas de galinha. Ir à farmácia e ficar na fila atrás de 30 velhos que gostam de ir à farmácia ao final do dia para ver pessoas.
É passar por coisas chatas, feias e nojentas, não por se esperar retorno sexual (ou de qualquer outro tipo), mas por se querer genuinamente que o outro esteja feliz. Implica espírito de sacrifício.
É ficar-se de pijama, sem tomar banho, sem pentear, a fazer maratonas de filmes/séries, sem cozinhar e encomendar-se pizzas ou qualquer outra coisa nada sexy.
É deitarmo-nos ao lado de uma pessoa que quando nos toca dizemos "chega para lá estás muito quente/frio", dormirmos melhor se não estiverem lá, mas a meio da noite, enquanto dormem fazer-lhes uma festinha porque queremos que lá estejam.
É ouvir a respiração ou a forma como comem e sentirmo-nos extremamente irritados, mas até aguentar isso. É irritar o outro de propósito, só porque sim. É conhecer limites, é provocar sempre respeitando.
É pensar que é com aquela pessoa que se tem de comentar o que acabou de se ver/ouvir. É ter uma linguagem própria, olhares aliados a telepatia, piadas apenas entre os dois (que quando se tenta repetir noutro contexto nos faz parecer anormais).
É isto e muito mais, mas sempre a querer que o outro esteja bem. Isso acima de tudo.
O amor não é lindo, não é fácil. É o que é.
Torna-se lindo por querermos suportar coisas que não gostamos no outro porque é ele que amamos e que queremos com todos os defeitos irritantes. É querer e fazer tudo o que está ao nosso alcance para que ele seja feliz.
Amor é altruísta. É sobre o outro. É querer dar.
Escrito a 20.08.2015
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