quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Opiniões há muitas... Bom senso é que é difícil.




Esta coisa das redes sociais (e da internet em geral) representa, na perfeição, a humanidade.
Tem um potencial fenomenal para aprendermos uns com os outros, para crescermos e fazermos o bem, mas depois a malta escolhe é fazer o posto: escolher apenas informação que valide a opinião que quer impôr aos outros, mostrar que se é melhor do que qualquer outra pessoa e insultar ou humilhar quem tem uma forma de pensar diferente da nossa.

Bem... Há gente que merece ser achincalhada, nomeadamente gente que, intencionalmente, quer prejudicar os outros só por serem diferentes. Xenófobos, racistas, homofóbicos, misóginos e por aí.
Bem, mas não é sobre estes temas que me apetece falar hoje.
Hoje abordarei temas ligados à gravidez/maternidade, dado que é o tema sobre o qual me tenho debruçado nos últimos tempos.




Certas coisas que oiço ou leio fazem com que fique com os nervos em franja, mas a maioria dessas coisas só demonstra o egocentrismo e ignorância (intencional ou não) de quem as debita. Deixo-vos aqui alguns exemplos.

  1. "Não sabes o que é parir". Há quem goste muito de dizer isto a mulheres que passaram por uma cesariana. Meus caros, do alto das minhas 36 horas de parto, com uma epidural que poderia ter sido fatal, com episiotomia e fórceps, digo-vos: sois umas bestas! E provavelmente invejosas. Porquê? Porque parir é quando o bebé sai da barriga da mãe para o mundo exterior. Não implica ser vaginal e, em muitos casos tristes, nem implica que o bebé esteja vivo. O bebé saiu da barriga da mãe? Foi um parto. Doloroso? Não interessa. Demorado? Não interessa. Saiu? Está cá fora? Foi um parto! Deixem de querer ser melhor do que outras mães que tiveram um parto diferente do vosso.
  2. Prioridade das grávidas no atendimento ao público - "gravidez não é doença" ou "só quando estiver lá para os 8 ou 9 meses". Então e que tal se for enquanto estiver em trabalho de parto? Aí já uma grávida pode ir comprar qualquer coisita ou ir tratar de assuntos às finanças ou à segurança social? Dizem que "gravidez não é doença", mas querem que as grávidas nem cheguem perto, que fique em casa e que os maridos, família e amigos tratem das coisas. Então, mas é ou não é doença? Estou confusa com a vossa forma de pensar. É assim, já que não têm a sensibilidade e civismo para ter a iniciativa de deixar uma grávida passar à frente, sejam egoístas e pensem em vocês. Não interessa se custa a uma grávida estar em pé durante muito tempo, esqueçam essa criatura que teve a ousadia de contribuir para a natalidade. Pensem que as grávidas têm enjoos e vomitam. Pensem que, se não lhes derem prioridade, correm o risco de levar com um vómito de jacto em cheio na nuca. É melhor deixar a grávida passar ou levar com vómito de uma desconhecida?
  3. Prioridade com crianças no atendimento ao público - "trazem os bebés para passarem à frente", "está no carrinho, não está ao colo, devia ficar na fila como toda a gente". Eu nem vou entrar pelos vários motivos que fazem com que a prioridade seja óbvia quando alguém está com um bebé (tem de amamentar, as crianças têm rotinas, etc, etc), mas tal como no ponto anterior sejam egoístas e pensem em vocês. As crianças choram!!! Querem estar na fila do supermercado (um sítio já tão agradável onde toda a gente adora ir) ou na sala de espera das finanças e ouvir um bebé a chorar incessantemente? Ainda para mais um bebé alheio. O dos nossos já é irritante, mas quando é o dos outros... Se calhar é melhor dar prioridade, para bem dos vossos tímpanos e dos vossos "nervos".
  4. "Amamentar em público é vergonhoso". Vergonhoso é estarem a querer ver a nossa mama quando estamos a alimentar os nossos filhos, isso é que é vergonhoso. O que as mães gostam é de pôr a mama de fora em público. Eu faço-o sempre que posso. Assim que se começa a aproximar a hora da mamada, agarro na minha bebé e vou para a rua. Já lá tenho uma cadeirinha e tudo. Até o faço na mamada da madrugada, não vá perder a oportunidade de mostrar a mama a mais uma pessoa. Porque é que alguma mãe quereria estar no conforto do sofá ou de uma poltrona, em casa, quando pode estar na rua?
  5. "Se têm de amamentar em público, que vão para a casa de banho ou que tapem o cenário". Sabem o que eu curto mesmo? Comer na casa de banho. Não perco uma oportunidade. É confortável e asseado. Principalmente nas casas de banho de estabelecimentos públicos. Outra coisa que também gosto muito é de comer com uma toalha em cima da cabeça. É do caraças! Super confortável, quentinho... Melhor só comer numa casa de banho pública e com uma toalha a tapar a cabeça.
  6. "Eu sou melhor mãe do que tu". Desde que engravidei que fui convidada para entrar em vários grupos de mães no Facebook. Na maioria deles impera o civismo e o respeito, mesmo quando as opiniões são divergentes. Mas há um em especial (que não vou publicitar) em que acontece o oposto. Eu só opino lá quando me engano e acho que estou a opinar noutros. Se alguma Mãe diz algo que o grupo alfa não gosta é logo achincalhada. Logo! Já vi isso muitas vezes e acho nojento. É daqueles comportamentos de grupos que me dão vómitos. Como os mitras que quando estão sozinhos não se metem com ninguém, mas quando estão com os amigos já levantam a crista e são os maiores da aldeia a chatearem as pessoas que passam. Ok! Algumas questões são tontas, como por exemplo perguntarem se podem entrar os pais ou pessoas que não têm filhos, mas o que custa responder-se educadamente? É preciso gozar com as pessoas? São assim tão miseráveis que têm de gozar com estranhos na internet? Opá, fez uma pergunta parva? Fez, sim senhora. E até podemos pensar muita coisa da pessoa "ca granda burra!!". Daí a dizer-se, é desnecessário e mesquinho. Houve uma mãe que publicou uma vez uma foto do cocó do seu bebé, para perguntar se era normal. Caiu o Carmo e a Trindade. Como se nenhuma mãe tivesse alguma vez olhado para o cocó da cria e tivesse tido essa dúvida. Malta, eu já pesquisei "cocó de bebé". Está no meu histórico. É um grupo de mães, qual é o problema em colocar-se essa dúvida? Têm nojo de cocó de criança? Numa imagem no monitor? Uau! São mesmo as mães perfeitas. Decididamente, são as pessoas ideias a quem se colocar uma dúvida.
Muitas mães, eu incluída, gostam de pesquisar na net sobre como fazer isto ou aquilo, ou sobre se algo é normal ou digno de preocupação. Mas há uma coisa que não nos devemos esquecer: a internet é um mundo e tem tudo de bom e de mau, de certo e errado. É muito complicado filtrar a informação.

Uma coisa que acontece é ver mães questionarem o que os médicos lhes disseram ou contradizerem a informação que um médico deu a outra mãe. 
Ainda no outro dia eu partilhava algo que a "minha" pediatra me aconselhou e umas mães vieram dizer "isso não é bem assim, porque comigo aconteceu assado e o meu pediatra disse frito". Pois bem, cada uma de nós é livre de partilhar experiências e opiniões (desde que com educação, que até foi o caso). Mas cada caso é um caso, não vamos dizer que a experiência dos outros não é válida só porque a nossa foi diferente. A minha resposta foi "Eu confio na pediatra. Se não confiasse, teria de mudar. Se ela me dá esta informação, eu vou segui-la. Porque ela, certamente, sabe mais do que eu.".
Ainda houve uma mãe que disse algo do género "os pediatras são bons para questões de saúde, mas para alimentação e sono já não". Não respondi, porque não me apeteceu discutir, mas alimentação e sono são questões de saúde. Digo eu!

A internet, um blog, um amigo, uma mãe, o que seja não vos deve dar mais segurança do que o vosso médico. Se não confiam no vosso médico, mudem de médico. Isto serve para qualquer área da medicina e para vocês ou para os vossos filhos. Se não confiam ou se não conseguem estabelecer uma boa relação, mudem de médico. Não vale a pena estarem a perder o vosso tempo e o do profissional se depois chegam a casa e não vão seguir as suas indicações ou vão para a internet seguir os conselhos de estranhos.

Bem, está na hora da próxima mamada, vou para a rua mostrar a mama ao mundo, porque usufruir do conforto da minha casa é uma seca.

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