quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Saúde Pélvica

Há uns dias tive uma sessão/aula de fisioterapia na MAC.
Esta sessão foi-me marcada por eles, devido ao meu tipo de parto (fórceps).





Como vos disse, fiquei chocada por sermos apenas 4 mulheres quando 15 foram convocadas. Acho que as mulheres têm muito pouco cuidado com elas mesmas e sinto que há bastante desconhecimento no que diz respeito à saúde sexual.
Não que eu seja uma perita na matéria, mas desde miúda que foi algo que me interessou e algo sobre o qual me fartei de ler e pesquisar. Quer por uma questão de prazer, quer por uma questão de querer ser saudável.

A sessão foi com a Fisioterapeuta Sofia Carrêlo, que adorei. Gostei da sua forma de explicar as coisas e do seu humor. Gostei de como fala com um enorme à vontade e sem paninhos quentes ou medo de chocar. É cá das minhas. As coisas são como são e não vale a pena andar com paninhos quentes.

O tópico que se abordou foi, basicamente, a recuperação dos músculos do pavimento pélvico. No entanto também falámos de como tratar as cicatrizes da episiotomia e, muito superficialmente, lubrificação.



Quer já sejam mães, quer ainda estejam longe de o serem, quer não o queiram: todas as mulheres deviam fazer exercícios vaginais! TODAS! Desde ontem! Desde sempre. Vai ser algo que vou ensinar à Miminho assim que puder.

Apesar de já saber 99% das coisas faladas na sessão, há sempre espaço para aprender mais e formas novas de se pensar as coisas.
Antes de mais e como explicou a Sofia, precisamos de fazer estes exercícios porque temos uma enorme desvantagem: "o simples facto de sermos mulheres". Enquanto não evoluímos para uma postura bípede os nossos orgãos internos estavam apoiados nos músculos da barriga, onde não há buracos, quando nos pusemos sobre duas patas, a vida da mulher ficou dificultada e os nossos órgãos internos dependem de uns músculos que nos mantêm os orifícios fechados.

Os nossos órgãos estão assentes sobre os músculos pavimento pélvico (MPP), músculos que rodeiam os nossos orifícios lá de baixo: uretra, vagina e ânus.
São os MPP que: controlam a função urinária e fecal (fecham a passagem e impedem que andemos sempre a libertar fluidos), suportam os nossos órgãos dessa zona (evitam que a bexiga, o útero e o intestino saiam pelos orifícios que temos) e que promovem uma vida sexual saudável.


E reparem que à volta da vagina e do ânus, o músculo faz um 8 - Fonte


Vamos pensar um bocadinho: o que é que acontece aos músculos que não são exercitados? Pensem no infame músculo do adeus. Estava tão firme à volta do nosso braço e foi descaindo, há quem lhe chame asa de morcego. Porquê? Porque não se fez exercício, logo perdeu a força, perdeu elasticidade... Todos os músculos são assim, incluíndo o da nossa vagina. E é indiferente se parimos vaginalmente ou se nunca se teve um filho. Um músculo que não é exercitado perde qualidades. Neste caso não é só uma questão estética, é uma questão de saúde, precisamente pelas funções de que falei anteriormente.
Porque acham que há tanto mercado para as fraldas para os adultos? Porque acham que os anúncios destas marcas não falam em doenças que provocam incontinência, mas falam do "espirrei/tossi/ri e saiu uma gotinha de xixi"? Isto, minhas caras, é a consequência de não se exercitarem os músculos do pavimento pélvico em pessoas perfeitamente saudáveis, sem doenças que provoquem incontinência.

Depois, há um bónus de cedo se começarem a fazer os exercícios (a.k.a. Kegel - já explico): melhora a vida sexual. Ficamos mais apertadinhas e ainda temos a capacidade de proporcionar mais prazer ao homem, porque o podemos apertar durante a penetração. O que é bom para eles e duplamente para nós (dá-nos mais prazer e fazemos exercício).


Mega parêntesis:
Isto se formos hetero, nos outros casos não sei como fisicamente possa aumentar o prazer de outra mulher... agora vou ficar a pensar nisto... mais uma pesquisa a fazer e mais coisas constrangedoras no meu histórico.
Hmmmm... tenho de esperar pela vinda de uma amiga minha cá a casa. Era costume juntar-se um grupo de amigos cá em casa e debatermos assuntos sérios, com humor. Como, geralmente, a coisa era acompanhada com uns copos de vinho ou outras bebidas (no meu caso, absinto), acabávamos sempre com dúvidas de cariz sexual e alguém dizia "Oh, Rita! Vê aí no teu telemóvel como é que se faz...". Era sempre o histórico dela que ficava conspurcado.
Rita: preciso de ti. Tenho uma dúvida 😂

Continuando: Não só estes músculos previnem a necessidade de, mais cedo ou mais tarde, termos de andar com pensinhos diários ou fraldas, mas previnem prolapsos.
Sabem o que são prolapsos? É quando os nossos órgãos internos decidem sair e conhecer o mundo. É quando, por exemplo, se está na casa de banho e o nosso útero sai pela vagina. Quem diz útero, diz bexiga e diz intestino. Achavam que as hemorróidas causadas pela obstipação ou pela gravidez ou pelo parto eram más? Imaginem o que é sair-vos o intestino ou outro órgão que é suposto estar bem guardadinho dentro de nós.

Portanto, meninas: Estão à espera do quê para começar a fazer os vossos Kegel? Já deviam ter começado na adolescência! Vamos lá!




O que são os Kegels: São os exercícios criados pelo Dr. Arnold Kegel, em que se contrai e relaxam os músculos. Apesar de lhes ter dado notoriedade no ocidente, estes exercícios já eram muito praticados no oriente e conhecidos como pompoarismo. O pompoarismo já está um passo à frente dos Kegels: certamente já ouviram falar naqueles espectáculos tailandeses onde as senhoras disparam bolas de golf, fumam ou fazem outras coisas espectaculares com a vagina. Isso é o pompoarismo, isso é o resultado de muitos anos, muitos exercícios e muitas técnicas. Também não é preciso tanto, mas se quiserem: porque não? Não deixa de ser saudável e ainda têm um divertimento extra. Eu não vos julgarei.

Como fazer o exercício: Contrair os músculos como se estivéssemos a impedir o xixi ou um pum de sair. Não é apertar as nádegas! Nem encolher a barriga, nem nada disso. É o músculo que se encontra na zona do períneo. E depois, descontrair suavemente - não largar de repente.
Uma dica que segui e que só se pode fazer uma única vez (para perceber como se faz) é, quando forem fazer xixi interromperem o fluxo de urina. Ficam logo a perceber qual é o músculo. Mas não façam assim os exercícios, porque pode provocar infecções ou retenções urinárias e a ideia é sermos saudáveis e não nos prejudicarmos, certo?

Há dois tipos de exercício: um rápido e um mais lento.
Rápido ou alforreca (como a Sofia explicou e eu adorei): Contrair durante um segundo e relaxar completamente - repetir 10 a 20 vezes
Lento ou elevador: contrair em 5 tempos, enquanto se expira, e ir "subindo" a cada tempo  (há uma sensação de que os músculos sobem), manter 5 segundos, descontrair devagar quando se inspira (os músculos descem) e descansar 5 segundos. Numa fase inicial, repetir 5 a 10 vezes.
Deve-se fazer o exercício várias vezes ao dia. Podem estar em pé, sentadas ou deitadas. A cozinhar, a lavar os dentes, a amamentar, ao acordar, antes de dormir, enquanto se está ao computador. Ninguém repara e é rápido.



A Sofia deu ainda uma dica: colar um post-it no espelho da casa de banho, com o desenho de uma alforreca. Assim, ninguém sabe o que é, e sempre que lá forem lembram-se de fazer os exercícios.
Eu saquei uma app (tenho apps para tudo) em que defini os Kegel para 3 vezes por dia e sigo os níveis que eles têm. Sou um bocado baldas, confesso.

Outras coisas em que os Kegel ajudam:
- Na recuperação da episiotomia: assim que os comecei a fazer senti uma recuperação muito, mas muito mais rápida;
- Nas dores nas relações sexuais;
- Na laxidão vaginal;
- Alterações de sensibilidade.


Esta app está na App Store da Apple com o nome "Treinador Kegel - Exercícios do Assoalho Pélvico"

Outras dicas:
- Não vale a pena fazer muitas séries para compensar vezes em que não se fez. Estamos a trabalhar um músculo e não o queremos lesionar. Sim, este também se lesiona e cansa, não são só os outros;
- Usem um espelho para observarem os movimentos. Se calhar num primeiro dia não vêem grande coisa, mas com a prática vão vendo a evolução;
- Insiram um dedo e sintam o exercício. Para quem fez episiotomia, podem aproveitar esta altura para massajarem os pontos internos com elastolabo (se não forem sensíveis ao rícino, como eu);
- Divirtam-se com o vosso parceiro. Quando estiverem na vossa intimidade, aproveitem para fazer os Kegel durante a penetração. Perguntem-lhe o que sente, com o tempo e a prática ele vai sentindo cada vez mais.
- Há bolas próprias para se exercitarem estes músculos e que se vendem em sex shops. Há maiores e mais pequenas, com ou sem fios. Quais as ideais para vocês já dependerá da vossa musculatura vaginal, do vosso à vontade e da vossa experiência. Não tenham vergonha e peçam ao/à lojista que vos ajude (não deve ser a coisa mais estranha que ele já ouviu: de certeza!);

- Cintas: um grande "NÃO!" segundo a Sofia e segundo outras fisioterapeutas que já conheci. Era muito comum no tempo das nossas mães, mas agora é completamente desaconselhado (eu sei que há muitos médicos e enfermeiras que ainda hoje aconselham a cinta). Porquê? Porque para além de não resolverem nada, coloca uma pressão e peso acrescidos no pavimento pélvico e só prejudica a recuperação destes músculos. Se usarem para um casamento ou porque vão sair, tudo bem. Como uma peça diária, não. Além de que torna os músculos preguiçosos, enquanto que se não usarmos a cinta, temos tendência para irmos apertando a barriga durante o dia para que não se note.

-Falta de lubrificação vaginal: com a amamentação diminui a produção de estrogénio, o que faz com que a lubrificação vaginal diminua. Não há grande coisa a fazer até se acabar com a amamentação, para além de se usar um lubrificante. Para quem usa preservativos, é conveniente que se use um lubrificante à base de água, porque os que são à base de óleo podem danificá-los.

Provavelmente ficaram coisas por falar, mas a miúda está a acordar.
Qualquer dúvida que tenham é só perguntar que, se eu souber, explico.


Até lá:



Nota: Eu não sou médica, nem enfermeira, nem fisioterapeuta. Sou Psicóloga, actualmente doméstica. Simplesmente, farto-me de pesquisar sobre estes temas. Sempre que tenho uma dúvida agarro-me ao computador e fico horas a pesquisar. Isso vale o que vale e não substitui o que quem vos segue vos diz, ou o que vocês consideram ser melhor.

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