quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Senso, Sensibilidade, Intriga e Maldade

    Há quem não tenha bom senso, acabe a ferir susceptibilidades para alimentar a intriga e, simplesmente, ser maldoso.
    Eu chamo-lhe "não saber fazer as coisas" e é coisa que me tira do sério.

    As relações humanas não são simples e é preciso balançar muitos factores para que não se firam susceptibilidades.
    Lá por sermos amigos e gostarmos de alguém não significa que gostemos de tudo o que caracteriza a pessoa e que, de vez em quando (com menor ou maior frequência) não nos faça querer arrancar cabelos. Muitas vezes, até o que gostamos numas situações nos irrita profundamente noutras.
    É normal. Faz parte!

    Como tal, também faz parte que acabemos por comentar ou desabafar com uma terceira (ou quarta ou quinta) pessoa acerca do que nos incomoda. E como não temos à nossa frente o objecto do nosso incómodo, não precisamos de medir palavras ou conceitos, tendo cuidado com a sensibilidade do mesmo.
    É normal. E quanto maior a frequência com que estamos com a pessoa maior a irritação, porque mais frequentemente somos confrontados com a aquilo que ela faz, a forma como faz, com o português que usa, com o cheiro que tem, o que seja!
    Não conheço quem não desabafe sobre outras pessoas sendo mais ou menos incisivo na forma de o fazer.

    Depois vem a intriga, geralmente aliada a uma descontextualização do que foi dito, de como foi dito e por quem foi dito.
    Duas pessoas falam sobre uma terceira, que consideram sua amiga, acerca de uma característica que as incomoda, de algo que aconteceu e que irritou.
    - Epá, tenho de falar com a Gertrudes. Já me estou a passar com que anda a acontecer e não tenho pachorra para aturar merdas de ninguém.
    - Por acaso já tinha reparado que isso aconteceu. É uma estupidez. Mas sim, acho que devem falar para resolver a sítuação.
    - Ai, sim. Claro que vou falar. Tenho é de esperar pela oportunidade e de me acalmar senão ainda acabo a mandar à outra parte.
    (Claro que poli um bocado este diálogo. Mas acho que é compreensível)
    Ora, uma quarta pessoa ouve o que foi falado e, mal vê a Gertrudes diz-lhe:
    - Olha, ouvi fulana a dizer que se estava a passar contigo e que não tinha pachorra para aturar as tuas merdas. E sicrana disse que já tinha reparado e que era uma estupidez.
    Minhas senhoras e meus senhores, isto é descontextualizar um assunto, é intriga e é extremamente desnecessário. Pode fazer com que um desentendimento que se calhar era uma ninharia adquira grandes proporções e para quê?
    Depois, fulana e sicrana têm de resolver atabalhoadamente a questão de forma a preservar uma amizade. E de explicar à Gertrudes que isso foi tirado de contexto, que iam falar com ela, mas usando outras palavras, que aguardavam pelo momento certo. Têm de fazer ver à Gertrudes que ela própria fala assim dos outros e que é normal.
    Se a quarta pessoa não fosse intriguista das duas uma:
    a) Ficava caladinha e não se metia no assunto
    b) Se não consegue manter a boca fechada, falava com a Gertrudes e dizia-lhe "Olha, ouvi fulana e sicrana a falar. Não percebi muito bem sobre o quê, mas elas estão um bocado chateadas com algo se passou. mas bolas, vocês são amigas, deviam era falar e esclarecer as coisas".

    Depois, ainda temos o cenário da maldade. Em que ninguém tem rigorosamente nada a ganhar e que o que faz/diz é pura maldade.
    Todos temos um amigo com uma característica que não consegue controlar (seja o cheiro, seja o suar, seja o défice intelectual, seja ser estrábico) e que outros já comentaram entre si quando não está presente.
    É uma característica é algo que acontece e é algo que não se resolve com uma conversa. É algo que o grupo tem de aprender a aceitar.
    Bem, alguém ir ter com essa pessoa e dizer-lhe "todos comentam que o teu suar em bica lhes mete nojo", é ser maldoso. E faz com que a pessoa que abre a boca seja mais nojenta do que qualquer fluido corporal.

    Sim, eu comento as tuas atitudes nas tuas costas. Se calhar faço-o primeiro do que te confrontar directamente.
    Sim, eu sou bruta e uso palavrões para descrever o que acho de ti e da situação quando estou a desabafar.
    Não, eu não vou contar o que tu me pediste para não contar.
    Não, eu não te vou dizer que cheiras mal da boca.
    Sim, eu estou longe de ser perfeita e digo e faço coisas que irritam/incomodam os outros.
    Sim, eu sei que tu fazes o mesmo comigo.

    Mas, mais cedo ou mais tarde, se formos mesmo amigos, falarei contigo sobre o que acho que temos de resolver para manter a nossa amizade. E estou sempre disponível para que o faças comigo.
    Tens é de compreender que no momento eu não posso falar contigo se for algo que me tira do sério. Sabes que sou impulsiva, bruta que nem casa. Sabes tu e sei eu.
    Portanto, quando algo me irrita, preciso de me afastar um pouco, desabafar com outra pessoa (sem ter medo de ferir a tua susceptibilidade), perceber se o que me irrita tem a ver com algo que merece ou não ser resolvido (às vezes passamo-nos com coisas que mais tarde acabamos por perceber que foi parvoíce nossa), e se merecer vou falar contigo expondo a questão de forma clara e tranquila, com palavras bem escolhidas.
    Ah, e não te esqueças: se a pessoa foi ter contigo para fazer intrigas em relação a outros, provavelmente fará o mesmo em relação a ti.

    Era mesmo preciso explicar isto?