segunda-feira, 16 de abril de 2018

Fraldas: Ecologias e Economias



INTRODUÇÃO
Antes de mais: este é um exercício de uma leiga. Sou psicóloga, não sou engenheira do ambiente nem economista, mas decidi fazer esta análise do "ponto de vista do utilizador", utilizando o Google e o senso comum. Vale o que vale, não me batam se não gostarem do que leram, se tiver algum erro ou se me tiver faltado algum aspecto.
Apresentarei algumas fontes (outras perdi-as), mas estão à vontade para me apontarem outras informações. Aliás, agradeço mais informação sobre o fabrico das fraldas biodegradáveis e das reutilizáveis.
Já percebi que isto da ecologia não é um assunto nada simples e que os negócios acabam por ser muito pouco transparentes. Como são quase todos, hoje em dia. A finalidade é o lucro e as palavras "biodegradáveis", "ecológico", "verde", "amigo do ambiente", etc., vendem e podem ser usadas mesmo que o produto não o seja a 100%. Uma treta.

Já a questão da economia é numa vertente doméstica, portanto foi mais fácil para mim (embora deteste fazer contas). Mas custou-me e não será a perfeição matemática, de certeza. Perdoem-me.

Vamos estabelecer um número médio de fraldas que um bebé utiliza durante dois anos. Poderão ser mais ou menos fraldas, poderá ser mais ou menos tempo de utilização de fraldas. Isto são apenas valores intermédios.
No primeiro e no segundo mês são cerca de 8 a 12 fraldas. Uma média de 10 fraldas por dia, 600 fraldas nos dois primeiros meses.
Do terceiro ao oitavo, cerca de 6 a 8 fraldas. Considerei 7 por dia, uma média de 1260 fraldas nestes 6 meses.
Do nono ao 24º mês, 5 a 7 fraldas diárias. Cerca 6 por dia, dão 2880 fraldas em 16 meses.
O total: 4740 fraldas utilizadas/gastas em dois anos.


Fonte: http://islandwood.org/footprint-calculator/

ECOLOGIAS
Quando, cá em casa, escolhemos as fraldas reutilizáveis nem sabíamos da existência das biodegradáveis. Para mim eram as habituais "Dodot" ou as de pano. Ecologicamente, não havia qualquer dúvida nas nossas cabeças de quais eram as mais ecológicas.

Ao optarmos por estas fraldas não só pesou a questão do ambiente, como saber que as fraldas de pano são as melhores para o rabinho do bebé - não causam tantas assaduras. Claro que não impedem que tal aconteça. Basta um cocó mais ácido, uma pele mais sensível e demorarmos mais tempo para mudar a fralda e lá temos um rabiosque vermelhito.
As vantagens são ecológicas e dermatológicas, mas se as descartáveis fossem melhores para a pele, mesmo sendo piores para o ambiente, teria optado por essas. Muito honestamente, há coisas em que sou realmente egoísta e entre o ambiente e o bem-estar da minha filha, tenho de escolher o segundo. Não é um "que se lixe o ambiente", mas quase.

Entretanto, já a utilizar as reutilizáveis, fiquei a saber da existência das biodegradáveis. Ora bolas! Será que me poderiam ter poupado tanto trabalho de lavar, estender, "montar", arrumar...? E ainda terem um menor impacto no ambiente? Olha... agora já estava feito e a questão da prevenção das assaduras continuava a existir.
No entanto, não me impediu de investigar esta opção. Mesmo que não fosse para mim, poderia ser um produto que pudesse aconselhar.

Analisar se algo é realmente ecológico é um exercício complexo. É necessário analisar, entre outras coisas que me transcendem, o impacto de:
- Materiais utilizados (plantação da matéria-prima e espaço ocupado por essa plantação, recolha da matéria-prima, fabrico);
- Transporte (da matéria-prima e outros materiais até ao local de fabrico, daí até aos retalhistas e daí até às nossas casas);
- Utilização (por exemplo, a água e o detergente gastos na utilização das reutilizáveis, ou os cremes utilizados para os rabiosques assados);
- Descarte e decomposição (como nos livramos deles, o que lhes acontece na realidade, se contaminam os solos e a água, etc...).

Qualquer fralda, seja descartável (biodegradável ou não) ou reutilizável tem o seu impacto negativo no ambiente. Nem há como negar.
Se quisermos ser 100% ecológicos nesta questão, o ideal é não colocarmos fraldas nos pequenos e tentarmos a técnica "elimination communication". E, mesmo assim, aumentávamos o número de máquinas que teríamos de fazer para lavar a roupa.
Portanto, 100% ecológicos só se formos para o meio do mato, junto de uma ribeira e os putos andarem nus e de cada vez que se sujarem vão dar um mergulho.

Sobre as fraldas descartáveis não biodegradáveis: não é preciso explicar porque não são ecológicas, certo? Feitas de tudo quanto é matéria-prima não sustentável, poluente, com uma data de químicos, que demoram 450 anos para se decompor, etc.
Se estão a ler este artigo, provavelmente, já estão conscientes disto e querem é informação sobre alternativas.

Fonte: https://www.babygearlab.com/topics/diapering-potty/best-disposable-diaper

Descartáveis Biodegradáveis
Há vários pais que optam por estas fraldas. E fazem esta opção com a melhor das intenções, porque o rótulo "biodegradável" induz que o produto é super ecológico, que houve cuidado com os materiais utilizados e fabrico e que desaparecerá após a sua utilização, de um modo amigo do ambiente. Afinal... isto é o que nos é sugerido, não é?

Deparei-me com alguns artigos que sugeriam que o custo ecológico do fabrico destas fraldas não será muito diferente do das outras descartáveis, inclusivamente com a quantidade de água utilizada nesse processo.
Depois, lendo com atenção e em diversos sites, não existem fraldas 100% biodegradáveis porque o material utilizado para absorver o xixi não é biodegradável (os toalhetes das marcas sim, mas as fraldas não). Por exemplo, as Bambo são 75% biodegradáveis, as Bio Baby são 70%, as da Muumi não encontrei nenhuma percentagem. Mas esta questão da biodegradabilidade acaba por ser secundária porque a grande maioria não se degradará e já explicarei porquê.
Outra questão que poderemos ponderar é se produtos feitos de bioplásticos (o nome dado ao material) serão sustentáveis num uso a larga escala. Muitos destes produtos são feitos à base de milho, de cana ou afins, e o espaço necessário para a plantação destas matérias-primas seria gigantesco. Imaginem quanto espaço seria preciso para se fabricarem as quase 5000 fraldas que cada bebé utiliza em dois anos! É muita fralda, é muito bebé, é muito espaço.

Em relação ao descarte, por serem feitas de bioplásticos seriam uma alternativa ecológica neste aspecto. As biodegradáveis só serão decompostas se forem colocadas num sistema de compostagem e a verdade é que a maioria destas fraldas é deitada no lixo doméstico e irá acabar num aterro sanitário onde não tem possibilidade de se decompor, por falta das condições adequadas, criando o mesmo problema das outras descartáveis. 
Se tiverem um sistema de compostagem à mão, talvez consigam reduzir o seu impacto ambiental. Fica a informação, para os Lisboetas, que a CM Lisboa disponibilizará 4000 compostores para os munícipes que tenham jardim, logradouro ou quinta. No entanto, há quem afirme que estes sistemas domésticos não são suficientes para decompor estas fraldas. E mesmo que sejam, se a fralda não é 100% biodegradável continuamos com um problema de ecologia nas mãos.

As fraldas biodegradáveis são recentes no mercado e ainda é difícil avaliar o seu impacto real no ambiente. Por isso, mesmo se conseguisse ter acesso a um sistema de compostagem eficaz, as dúvidas que tenho sobre o fabrico e a biodegradação total continuariam a subsistir e manter-me-ia nas reutilizáveis.


Fonte: https://www.bestproducts.com/parenting/baby/g2010/reusable-cloth-diapers/

Reutilizáveis
Sobre as reutilizáveis, um dos argumentos contra é o de que o seu fabrico não é o mais amigo do ambiente e que a questão do descarte se mantém ao mesmo nível das outras fraldas.
É verdade, para o tecido ser reciclável não pode ser composto de uma mistura de materiais e tecidos como a microfibra não são inocentes, até poluem bastante. Mesmo quando são utilizados materiais 100% orgânicos, há a possibilidade de serem utilizados químicos para os branquear e desinfectar.
Portanto, a nível de fabrico e de descarte não apresentam grande vantagem ecológica.
No entanto, comparando os dois cenários, ao serem reutilizáveis, mesmo que não sejam totalmente amigas do ambiente, estamos a usar 30 fraldas em vez das quase cinco mil. E, se estas 30 fraldas forem bem estimadas poderão ser utilizadas por outra criança e pouparem outras 4740 fraldas num aterro. Mesmo que não se decomponham, o espaço ocupado por 30 fraldas é incomparável com o espaço ocupado por 4740 fraldas. E isto é só analisando o material e fabrico.

Em relação ao transporte, só tivemos de fazer uma viagem para ir buscar as 30 fraldas. Pode-se alegar que, na compra das outras aproveitamos uma deslocação que teríamos de fazer ao supermercado. No entanto, para que as quase cinco mil fraldas cheguem ao supermercado são necessárias várias deslocação.

Outro argumento contra as fraldas reutilizáveis tem a ver com o consumo de água e detergente utilizado para as lavar.
Devo dizer que, para mim, todo e qualquer gasto de água potável que não seja para algo alimentar (e pouco mais) é algo que me incomoda. Mas, vivendo num prédio no meio da cidade, não há nada que eu possa fazer em relação a isso. Se fosse construir uma moradia fazia todo um sistema para alternar a água potável com a não potável e que fosse utilizada nos banhos e assim serviria para encher o autoclismo, por exemplo. Adiante...
O fabrico de cada fralda descartável implica cerca de 34 litros de água. Portanto, dois anos de fraldas descartáveis implica um consumo de mais de 160 mil litros de água. 161 160 litros de água, para o fabrico das 4740 fraldas que um bebé utiliza, em média, durante dois anos.
Pois bem... Em cada lavagem, uma máquina gasta, em média, cerca de 45 litros de água. As fraldas reutilizáveis só necessitam de ser lavadas a cada 3 dias, o que significa duas a três máquinas por semana (vamos balizarmo-nos por 2,5); 112,5 litros de água por semana; 52 semanas por ano; 5850 litros por ano; cerca de 11 700 litros em dois anos. Mesmo que seja das máquinas que mais água gasta (cerca de 77lt) isso significa 20 mil litros de água em dois anos.
É incomparável com os 160 mil litros de água usados no fabrico das descartáveis que se usarão no mesmo espaço de tempo. 8 vezes menos de água ao escolher as reutilizáveis.
Quanto ao detergente, há detergentes ecológicos (cá em casa é o que usamos, feito por mim).

Ecologias - Conclusão
A minha conclusão é que as fraldas reutilizáveis acabam por ser as mais ecológicas.
Porquê? Porque basta serem reutilizáveis e porque o impacto de 30 fraldas será sempre menor do que o impacto de 4740. Menos fraldas, menos recursos utilizados. Mesmo assumindo que o seu fabrico e materiais utilizados não são o mais ecológico.
Com as descartáveis, mesmo comprovando que o fabrico de milhares de fraldas tem um impacto menor ao fabrico de 30 fraldas (o que me parece muito pouco provável), continuamos com o problema do descarte. Só se tornando realmente mais ecológicas se forem 100% biodegradáveis e se tivermos acesso a um composto que decomponha eficazmente estas fraldas.


ECONOMIAS
Descartáveis
Fiz um valor médio dos packs que encontrei nos sites dos supermercados. Não utilizei nem as mais baratas, nem as mais caras 

Utilizei como referência para as descartáveis "normais" as marcas Continente e Dodot. Para as descartáveis biodegradáveis utilizei a Bio Baby (por ser a de valores intermédios).
Para o intervalo dos 9 aos 24 meses, fiz um valor médio entre o custo das fraldas de tamanho 4 e tamanho 5.

Meses 1 e 2: 600 fraldas; Continente - 96,00€; Dodot - 159,80€; Bio Baby - 168,00€
Meses 3 a 8: 1260 fraldas; Continente - 138,60€; Dodot - 277,20€; Bio Baby - 340,20€
Meses 9 a 24: 2880 fraldas; Continente - 403,20€; Dodot - 777,60€; Bio Baby - 950,40€

Portanto, em 2 anos e 4740 fraldas, o gasto médio e fraldas descartáveis seria:
Continente - 637,80€
Dodot - 1214,60€
Bio Baby - 1458,60€

Reutilizáveis
Para as fraldas reutilizáveis precisamos de considerar 4 coisas: as fraldas em si, os revestimentos, a electricidade e a água.

Em geral é aconselhável ter-se 30 fraldas. E os preços variam muito, é uma questão de pesquisar e/ou de se ter sorte.
Na loja EcologicalKids (EK), um pack de 30 fraldas custa 620,00€.
No AliExpress (AE), já vi packs de 10 fraldas a 50,00€ e costumam fazer promoções (portanto, 150,00€).
As minhas foram compradas no OLX por 100€. Novas. Foi um achado.

Os revestimentos vendem-se, na EK, por 7,00€ (embalagem de 100). Os revestimentos podem ser lavados na máquina se só houver xixi, pelo que deverão ser necessárias cerca de 20 embalagens. Portanto, 140,00€ em revestimentos para dois anos.

Desde que comecei a usar fraldas reutilizáveis (em Julho de 2017) e até à última factura (Março de 2018) gastei mais 17,00€ em electricidade e 23,00€ em água.
A electricidade é difícil medir quanto do seu aumento teve a ver com as lavagens de roupa, porque também gastámos mais em aquecimento no Inverno. Mas vamos assumir estes valores na globalidade. O que significa que, no final de dois anos, serão 45,00€ em electricidade (1,89€/mês) e 61,00€ em água (2,55€/mês).

Pack 1: Fraldas EK + revestimentos + consumos = 866,00€
Pack 2: Fraldas AE + revestimentos + consumos = 396,00€
Pack 3: Fraldas OLX + revestimentos + consumos = 346,00€



Comparaçãoes
Continente VS Pack 1: Em 2 anos, as fraldas descartáveis são 228,00€ mais baratas;
Continente VS Pack 2: Reutilizáveis custam o equivalente a 14 meses e 2 semanas de fraldas descartáveis;
Continente VS Pack 3: Reutilizáveis custam custam o equivalente a 11 meses e 2 semanas de fraldas descartáveis.

Dodot VS Pack 1: Reutilizáveis custam o equivalente a 17 meses e 2 semanas de fraldas descartáveis;
Dodot VS Pack 2: Reutilizáveis custam o equivalente a 7 meses de fraldas descartáveis;
Dodot VS Pack 3: Reutilizáveis custam o equivalente a 6 meses de fraldas descartáveis.

Bio Baby VS Pack 1: Reutilizáveis custam o equivalente a 14 meses de fraldas biodegradáveis;
Bio Baby VS Pack 2: Reutilizáveis custam o equivalente a 6 meses de fraldas biodegradáveis;
Bio Baby VS Pack 3: Reutilizáveis custam o equivalente a 5 meses e 1 semana de fraldas biodegradáveis.

Economias - Conclusões
As fraldas reutilizáveis poderão ser mais baratas do que as descartáveis, se encontrarem um bom negócio.
Se não encontrarem, serão apenas mais caras do que as descartáveis mais baratas e serão mais económicas do que as de gama média e do que as biodegradáveis.



Fontes:
http://www.greenlivingonline.com/article/truth-about-bioplastics
https://www.wired.com/2004/04/the-poop-on-eco-friendly-diapers/?currentPage=all
https://www.ecocasa.pt/agua_content.php?id=41
http://www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/temos-um-compostor-para-si
https://www.thespruce.com/eco-friendly-disposable-diapers-1707168
http://dicaspaisefilhos.com.br/bebes-e-criancas/calculadora-de-fraldas/
https://twinpickle.com/2017/06/09/disposable-cloth-biodegradable-diapers/