segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O Meu Segredo de Mãe: 4º Segredo


Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário.

A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.

Tirando alguns casos em que quem os escreve se identifica, não tenho forma de saber qual o enquadramento temporal ou veracidade dos segredos. De qualquer modo, assumirei sempre que são verdadeiros e representam uma situação actual, mais não seja porque, mesmo que não sejam para quem os partilhe, poderão ser para quem os lê.

Deixo o apelo: se se sentirem assoberbados, desesperados, perdidos, o que for, procurem ajuda. Para vós ou para quem percebam que possa estar a passar por algo semelhante.

Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados e serão sempre apagados.



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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Os papagaios também pedem desculpa"


As crianças (e os adultos, convenhamos) não devem ser obrigadas a estabelecer contacto físico seja com quem for.
Ensinar uma criança a cumprimentar os outros não é, nem pode ser, exclusivamente sinónimo de contacto físico. Senão andávamos a distribuir beijos pelo supermercado.
Não, não é obrigatório darem beijos aos avós, só porque são avós. Nem à amiga dos pais, nem aos vizinhos, nem a quem quer que seja.

Sim, podemos sugerir "dá um beijinho à avó", mas se a criança não quiser, esse querer deve ser respeitado.
As crianças devem ser educadas a cumprimentar porque faz parte do aprender a estar em sociedade, mas esse cumprimentar pode-se fazer de imensas formas:
- dizer "olá";
- dar "mais cinco";
- acenar;
- dar um aperto de mão;
- abraçando;
- beijando.
E a criança pode escolher de que forma se sente mais confortável para cumprimentar o outro que está à sua frente. Não quer estabelecer contacto físico, não estabelece.
Com a obrigação não se educa, amestra-se.


A partir do momento em que é preciso “forçar” uma demonstração física de afecto já algo está errado. O afecto não pode ser forçado, isso é uma contradição. A expressão de afecto tem de ter origem na vontade de quem sente esse impulso.
Forçar uma criança a cumprimentar alguém de um modo físico é promover um contacto físico contra a sua vontade e é ensinar-lhe que não é soberana sobre o seu próprio corpo. Sim, porque o "forçar" ou "obrigar" é sempre contra a vontade da pessoa, senão não lhe chamávamos "forçar" ou "obrigar".
Há muita gente que obriga os filhos a cumprimentarem fisicamente desconhecidos ou pessoas de pouca confiança. E nem com conhecidos e familiares se deve forçar contacto físico.
"As crianças têm de aprender a ser afectuosas. Como é que os outros sabem que gostamos deles se não os beijamos ou abraçamos?" - Pensarmos que só há afecto ou amor se for demonstrado fisicamente é extremamente redutor. O amor só pode existir se existir respeito e o corpo/espaço físico de cada um deve ser respeitado, independentemente da idade e do grau de parentesco.
Ao forçar ou obrigar um cumprimento que implique contacto físico não estamos a promover uma aprendizagem de como expressar fisicamente os seus afectos de um modo positivo e prazeroso, que é como deve ser a demonstração física de afectos: de iniciativa espontânea e de livre vontade. Já para não falar dos perigos em colocamos as crianças quando lhes ensinamos que as suas vontades sobre o seu corpo não são soberanas.

Pintura por Yihang Pan - fonte

Não nos podemos prender nas nossas experiências pessoais. Os nossos filhos não somos nós. Há casos em que os avós eram fixes e há casos em que não o eram. E quem diz avós, diz pais, tios, primos ou vizinhos do terceiro esquerdo.
Tal como eu não gosto de contacto físico, há muita gente que adora expressar-se desse modo. O que é importante é que cada um seja livre de expressar os seus afectos como quer, quando quer, a quem quer e da forma que quer.
Ninguém deve ser obrigado a beijar ou a abraçar quem quer que seja, só porque alguém mandou. Alguém maior, alguém numa posição de autoridade. Isto é, completamente, contraproducente.
Não dar um beijo ou um abraço não significa que se seja mal educado.
Se a criança QUISER cumprimentar com dois beijos, se não for forçada e houver uma relação afectuosa mútua entre a criança e a outra pessoa, ao observar os pais e pessoas com quem convive diariamente e tem como modelos, a criança irá aprender naturalmente e por imitação a beijar as pessoas de quem gosta.
Em vez de aprender que TEM de o fazer senão os outros ficam tristes ou zangados, ou leva uma palmada ou é repreendido. Sim, porque a chantagem emocional é muito comum: quantos de nós não se viram já numa situação em que os pais da criança dizem "dá um beijinho ao tio/avô/primo/amigo" e a criança diz que não. E insistem. E a criança repete que não. E os pais dizem "se não deres o beijinho o avô fica triste", "dás o beijinho ou tenho de me chatear?" Isto é péssimo e é muito habitual. Já tive de dizer a pais "se ele não quer, não quer. Não há problema" e tento um downgrade para um "mais cinco" ou algo que o valha, para safar os putos. 
Tanto as crianças como os adultos só se deveriam tocar uns aos outros, como forma de expressão de afecto, quando querem, porque querem e a quem querem.
Porque é que eu tenho de dar dois beijos se não conheço alguém? Porque é que a minha cara ou os meus lábios têm de tocar no corpo de um desconhecido ou de alguém com quem não tenho confiança? Ou porque é que tenho de deixar que toquem no meu?

Grafiti por Alice Pasquini - fonte

Repito: com a obrigação não se educa, amestra-se.
A Carminho está a ser ensinada a cumprimentar as pessoas. E, caramba, como ela adoooora acenar e dizer “olá” a toooooda a gente que se cruza com ela.
Mas não será, nunca, obrigada a beijar, abraçar ou a estabelecer qualquer tipo de contacto físico contra a sua vontade. Ela é soberana a quem e de que forma escolhe expressar fisicamente os seus afectos.
Em primeiro lugar sou mãe e cabe-me educá-la, mas serei também amiga. Com limites, claro. Não creio que o meu papel seja apenas debitar informação sobre como estar no mundo e esperar que ela obedeça porque “eu é que sou a mãe”. Não quero criar um robot, quero criar uma criança curiosa e crítica do que se passa à sua volta. Se quisesse ter uma criatura que me obedecesse cegamente tinha arranjado um cão.

Isto é válido para muitas coisas. Não acho que se deva forçar o que quer que seja. Deve-se, isso sim, ensinar.
Porque é que alguém tem de comer a sopa toda? Muitas vezes não como tudo porque já não me apetece mais ou porque estou cheia. Como mais tarde. Porque é que com as crianças se deve estabelecer essa relação de medição de forças? Comer é e deve ser um momento de prazer. Por algum motivo confeccionamos os alimentos e escolhemos determinadas combinações. Precisamente para termos prazer ao alimentarmo-nos. Não o fazemos apenas porque “tem de ser para sobreviver”.
A minha filha tem apenas 17 meses e come a sopa quando gosta. Dou sempre a provar, se recusar duas ou três vezes pode ser porque naquele momento não tem fome, porque não gosta daquela combinação de sabores, porque não lhe apetece... Geralmente come e muito bem. Porque gosta, porque lhe sabe bem. Não porque “tem de ser”.

Autor desconhecido - fonte

E tal como é com os cumprimentos e com a alimentação será com tudo.
Porque é que se acha boa ideia obrigar o pedir desculpas? Como diz uma amiga minha "os papagaios também pedem desculpa". Se calhar, é melhor conversar com a criança sobre a situação, sobre o que aconteceu, como fez os outros sentirem-se e como fazer para melhorar a situação. Em vez de obrigar a um pedido de desculpas automático e não sincero. A Carmita já me deu uns piparotes com mais força e, se eu digo que isso não se faz, a seguir dá-me festinhas - está a aprender a pedir desculpas.
E porque é que não ensinamos a arrumar? Com 17 meses já está a aprender a arrumar os seus brinquedos e outras coisas. Quando me vê a varrer vai buscar outra vassoura e tenta imitar. Se eu lhe peço para ir buscar ou arrumar um objecto ela fá-lo (ok, nem sempre, mas na maioria das vezes).
É muito pequenina, mas não precisa de reforços negativos ou de gritos para aprender. Ela percebe muito bem muitas coisas que lhe dizemos (do domínio prático, evidentemente).

Achar que eles não percebem quase nada é subestimar as crianças. Percebem muito mais do que julgamos e é preciso termos paciência e darmos-lhes tempo para aprender e compreender essas aprendizagens.

Ilustração por Monica Barengo
http://nikillustrazioni.blogspot.com/

terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Meu Segredo de Mãe: 3º Segredo

Espero que esteja tudo bem com esta mãe e com este bebé.
Espero que o "Fá-lo-ia" não signifique que ainda se encontra nesta relação.



A quem se encontra numa situação de relação abusiva: não precisam de passar por isto sozinhos. Há entidades especializadas e prontas a orientar-vos ou a prestar auxílio.
APAV - Associação Portuguesa de Apoio À Vítima é uma dessas entidades. Podem contactá-los através da Linha de Apoio à Vítima 116 006 (chamada gratuita), e-mail (apav.sede@apav.pt) ou, presencialmente, num gabinete (onde há gabinetes).





Tirando alguns casos em que quem os escreve se identifica, não tenho forma de saber qual o enquadramento temporal ou veracidade dos segredos. De qualquer modo, assumirei sempre que são verdadeiros e representam uma situação actual, mais não seja porque, mesmo que não sejam para quem os partilhe, poderão ser para quem os lê.

Deixo o apelo: a violência doméstica é crime público. Se se sentirem assoberbados, desesperados, perdidos, o que for, procurem ajuda. Para vós ou para quem percebam que possa estar a passar por algo semelhante.

Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário.

A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.

Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados e serão sempre apagados.



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domingo, 14 de outubro de 2018

A Culpa é da Mãe


"Nasce uma mãe, nasce a culpa"
Qual é o blogue sobre maternidade que nunca citou esta frase?
Mas é a realidade. Ao longo da nossa vida passamos, várias vezes, por situações que nos suscitam sentimentos de culpa, mas nenhuma nos faz sentir isso tantas vezes quanto a maternidade.
Que coisas nos fazem sentir culpadas de algo?

  • Amamentar;
  • Não amamentar;
  • Dar chucha;
  • O bebé chuchar no dedo;
  • Fazer BLW;
  • Fazer a tradicional iniciação aos alimentos sólidos;
  • Optar pelo co-sleeping;
  • Por não conseguimos fazer co-sleeping;
  • Porque não damos as vacinas extra-plano;
  • Porque o bebé chorou quando lhe demos banho;
  • Porque o bebé chorou quando lhe mudámos a fralda;
  • Porque o bebé chorou e não sabemos porquê;
  • Porque o bebé chorou e sabemos porquê, mas não percebemos instantaneamente;
  • Porque o bebé chora, mesmo sabendo nós que "os bebés choram" (por tudo e por nada);
  • Porque o bebé se espetou;
  • Porque sofre de uma qualquer alergia, a culpa é nossa porque estava nos nossos genes (ou não, não interessa);
  • Porque tem pele atópica;
  • Porque somos umas bestas horrorosas que lhes cortam as unhas;
  • Porque não lhes damos o que eles querem, quando querem, como querem, na quantidade/forma/cor/sabor/whatever que eles querem;
  • Porque achamos que o cocó deles cheira às profundezas do inferno e o nosso amor por eles devia fazer com que cheirasse a "rosas, senhor";
  • Deixá-lo ver televisão;
  • Deixá-lo ver/jogar com um tablet ou telemóvel;
  • ...
... poderia ficar nisto até ao Natal, porque nos sentimos culpadas por tudo.
E até nos sentimos culpadas porque os outros fazem as coisas de forma diferente da nossa e se calhar os outros é que estão certos. 
Ou então, se os outros fazem diferente e o dizem é porque estão a querer dizer que somos maus pais.

Falando de um modo leviano, a nossa prioridade enquanto mães (e pais, cuidadores, etc.) é certificarmo-nos de que as nossas crias vão crescendo e sobrevivendo. Tudo o resto é bónus.
De resto, somos confrontados com escolhas todo o dia, todos os dias. Algumas serão melhores do que outras e vamos aprendendo por tentativa e erro.
Algumas escolhas são as correctas porque temos a informação correcta, outras não são tão acertadas porque temos a informação errada ou nem sequer a temos e é preciso improvisar na hora, algumas escolhas sabemos que não são as mais correctas, mas é o que conseguimos/podemos fazer.
Não faz mal!
Outra coisa que acontece é, muitas vezes, estamos demasiado sensíveis e interpretamos como críticas comentários que não o são.



Por exemplo: há quem diga que eu sou "fanática da amamentação" e que critico quem opta por alimentar o seu bebé com leite artificial, simplesmente por dizer que "a amamentação é o melhor".
Vamos lá ver uma coisa, amamentar é o melhor. Não sou eu que o digo, é a ciência.
No entanto, amamentar é uma escolha da mulher, porque se trata do seu corpo. E amamentar não é a única opção para alimentar bebés. E, se optarem por não amamentar de todo ou por fazerem um padrão misto (leite materno e fórmula), isso é a vossa escolha e não significa que se devam sentir culpadas, devam ser culpadas por outros, ou que quem promove a amamentação vos está a criticar negativamente.
Como já disse anteriormente "mais do que promover a amamentação, promovo a saúde mental e a vinculação. Sou uma defensora acérrima da amamentação, desde que não coloque em risco o apego mãe-bebé ou a sanidade mental dos pais. Seja pela dor, seja pela privação de sono, seja pelo que for. Defendo que, mais importante do que o bebé passar a vida agarrado à mama da mãe, é a relação de vinculo entre os dois. Relação essa que se pode estabelecer de várias formas." (neste artigo).
A escolha sobre como alimentar o seu bebé cabe à mãe. Infelizmente, muitas mulheres querem amamentar e acabam por não o fazer ou por desistir, não por assim o pretenderem, mas por serem aconselhadas com informação incorrecta. E até por profissionais de saúde, que não o fazem por mal, mas por, com a melhor das intenções, disseminarem informação incorrecta. Ainda este fim de semana ouvi uma enfermeira aconselhar uns pais, de um recém-nascido de 1 dia, a terem em casa uma "latinha de leite em pó", para alguma emergência. Ou para administrarem um bebé-gel se o bebé ficasse mais de 24h sem evacuar ou irem para as urgências se ficasse 3 dias sem o fazer - algo que é super comum acontecer com bebés que são amamentados em exclusivo. Pode ser algo mais complicado? Claro que pode, mas pode não ser. Antes de correrem para as urgências com um bebé, enviem uma mensagem ao médico assistente.


Ilustração por Brooke Smart
http://www.brooke-smart.com


Bem... divaguei. Como de costume.
Onde é que eu queria chegar com este artigo? Ah, sim! A culpa da mãe.
Ao longo do nosso percurso vamo-nos sentir culpadas por tudo e mais alguma coisa. Fazendo ou não a escolha correcta, sendo ou não algo que esteja sob o nosso controlo.
E somos sensíveis a quem tem opiniões diferentes da nossa. Mas lembrem-se, lá porque alguém faz diferente de nós, não está a dizer que somos más mães ou que são melhores do que nós. Interpretem como estarem a oferecer uma alternativa que poderemos seguir (ou não!).
A parentalidade não se guia por uma única fórmula, há infinitas combinações possíveis. E o que resulta melhor vai depender: do bebé, dos pais, da família, do meio sócio-cultural em que se insere, do acesso que tem a determinadas infra-estruturas, entre muitas outras. Depende de tantas, mas tantas, variáveis.

Já nem promovo um "aprendam a livrar-se da culpa", mas antes um "aprendam a gerir esse sentimento". Porque a realidade é que, com maior ou menor frequência, ela lá aparece para dar um ar da sua graça. 
Como dizia a outra: "shake it off"









sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O Meu Segredo de Mãe: 2º Segredo

Será de um pai?
Eles também têm os seus segredos...



Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário.

A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.
Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados e serão sempre apagados.

Deixo o apelo: se se sentirem assoberbados, desesperados, perdidos, o que for, procurem ajuda. Para vós ou para quem percebam que possa estar a passar por algo semelhante.




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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O Meu Segredo de Mãe: 1º Segredo

Lembram-se de vos ter dito que ia iniciar uma rubrica sobre "O Meu Segredo de Mãe/Pai"? (aqui)
Hoje partilho convosco o primeiro segredo.
É um segredo bastante comum.



A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.
Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados por mim e serão sempre apagados.

Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (
ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário (aqui).



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