segunda-feira, 30 de março de 2020

A Procura da Tranquilidade - Como viver em Estado de Emergência





No artigo anterior deixei-vos indicações da Organização Mundial da Saúde e da Direcção-Geral da Saúde sobre sintomas, medidas de protecção, máscaras e luvas, etc. 
Também vos deixei artigos e links interessantes, fidedignos e isentos, para poderem consultar se quiserem saber a evolução da pandemia, sem ficarem ansiosos com a carga sensacionalista que existe nos é impingida pelos telejornais, jornais e redes sociais. 

Entretanto, e durante o fim de semana, as redes sociais encheram-se de insultos e publicações acríticas exigindo a cabeça dos automobilistas que tentavam atravessar a Ponte 25 de Abril e chegar à margem sul. "Criminosos", diziam alguns, "essa gente não quer saber da pandemia e quer ir dar um passeio à praia!" - esta, claro, é uma versão soft das palavras que pulularam. Surpresa das surpresas! Então não é que, afinal, a grande maioria dos automobilistas estavam em cumprimento das directrizes do Estado de Emergência? Não é que, afinal, as filas de trânsito eram provocadas pelo corte feito pelas autoridades para fazerem a operação STOP? Não é que, afinal e para não variar, fomos impulsivos na análise de uma situação?
Temos, então, uma oportunidade para, em vez de nos indignarmos por cada pessoa que vemos na rua, pensarmos que essa pessoa provavelmente, tal como nós, está a cumprir a sua parte e a ser consciente? Fiquemos felizes por até vivermos numa sociedade em que, pelo menos em tempo de pandemia, somos realmente solidários, responsáveis e com sentido comunitário.
Além do mais, com os inconscientes e inconsequentes, não é a insultá-los que chegamos a eles. É com diálogo e educação. É fazê-los pensar que fazem parte de um todo, que podem ficar doentes e transmitir o vírus a alguém de quem gostam. Portanto, se virem alguém que não está a cumprir e quiserem chamar a polícia, façam-no, mas abstenham-se de filmar as pessoas para as achincalhar nas redes sociais.


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Estou a pensar quantidade de gente que vi ontem por aqui a reagir aos automobilistas que tentavam atravessar a ponte. Fiquei algo desapontada. A maioria que vi era acrítica, imponderada e insultuosa. Acontece que a maioria (arrisco, a grande maioria) está a cumprir com as regras do estado de emergência e com as directrizes das entidades de saúde competentes. E acontece que esta mesma maioria está com medo. Estamos todos. O presente incerto, o futuro também. Passamos a maior parte do tempo fechados em casa, alguns passam o tempo TODO em casa. Fechados há dias e a única janela para o mundo exterior são a televisão e as redes sociais. A maioria das pessoas está a cumprir com o pedido de distanciamento social, com o estado de emergência. Respirem, acalmem-se e pensem no que pode causar certos movimentos. O trânsito ontem, na ponte, foi causado pela operação STOP que foi feita. Há muitas pessoas que trabalham na margem norte e moram na margem sul. O estado de emergência também permite que se vá prestar auxílio a familiares que estão isolados. Segundo a agente responsável, a maioria das pessoas estava em cumprimento. Ou seja, a fila não era provocada por quem queria ir passear para a costa. E parem de contar e criticar as pessoas que vêem na rua a fazer a sua vida possível. Ainda há muitas pessoas que trabalham o dia inteiro e que aproveitam o fim de semana para fazer as suas compras. É absolutamente normal e expectável que continue a haver mais gente na rua ao fim de semana. Porque é que assumem logo que, tal como vocês, aquelas pessoas não estão a fazer a sua parte? Só vocês é que são o exemplo, o resto é tudo “imbecil”, “energúmeno”, “acéfalo”, e tudo o mais que li por aí? Sim, há quem seja inconsciente ou inconsequente, mas não são a regra. Não são. E sim, é para educar, não é para prender ou bater, como também já vi pedirem. A PSP é, e bem, um agente activo na educação e informação dos cidadãos. O que é mais importante do que reprimir e agredir. Mais do que nunca, calma e empatia precisam-se. #cidadania #parentalidade #media #comunicação #pandemia #coronavírus #covid19 #empatia #psp #dgs
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Em que consiste o Estado de Emergência

Mas... Mas... Antes até de se chamar a polícia ou exigir um carrasco para os meliantes (não podia deixar fugir a oportunidade de escrever esta palavra), convém sabermos o que se pode ou não fazer durante o actual estado de emergência.

O actual estado de emergência foi decretado a 18 de Março, aprovado a 19 e entrou em vigor a 22 de Março. Termina a 02 de Abril, mas poderá ser renovada (que deverá vir a acontecer).
Basicamente, este estado de emergência tem como objectivo limitar as nossas deslocações e, consequentes, interacções, de modo a prevenir a transmissão do covid-19. Refere o decreto "(...) os contactos entre pessoas, que constituem forte veículo de contágio e de propagação do vírus, devem manter-se no nível mínimo indispensável" e "(...) a redução do contacto entre pessoas e bens ou estruturas físicas deve ser acautelada e reduzida tanto quanto possível".. Assim, de um modo geral, todas as actividades que não são consideradas necessárias para o funcionamento do país e para a saúde individual ficam ou em regime de teletrabalho ou suspensas.
Uma das grandes "polémicas" do covid (e a mais frequente das minhas discussões) tem sido a deslocação de pessoas na via pública. No presente estado de emergência, há uma clara preocupação com a saúde física e mental provocada pela situação reclusão (ainda que voluntária). O decreto é claro " Fica também prevista (...) uma permissão de circulação para efeitos, por exemplo, de exercício físico, por forma a mitigar os impactos que a permanência constante no domicílio pode ter no ser humano.

O Decreto é demasiado extenso para o colocar aqui na sua totalidade e, tal como no artigo anterior, vou colocar apenas aqui o que interessa saber sobre como vivemos, ou como podemos viver, a nossa nova vida quotidiana.
Existem três novas formas de vida: Confinamento obrigatório, dever especial de protecção e dever geral de recolhimento domiciliário (artigos 3.º a 5.º, da página 2).

Confinamento Obrigatório

Passa a viver em confinamento obrigatório (em estabelecimento de saúde ou no próprio domicilio, dependerá do estado de saúde), as pessoas que se encontrarem doentes ou aquelas cujas autoridades ou profissionais de saúde tenham determinado vigilância activa (pessoas que tiveram contactos com alto risco de exposição)

Dever Especial de Protecção

Estão nesta situação os maiores de 70 anos e as pessoas consideradas de risco (imunodeprimidos e portadores de doença crónica - hipertensos, doentes cardiovasculares, portadores de doença respiratória crónica e doentes oncológicos).
Podem sair de casa para, entre outros,
- adquirir bens e serviços;
- obtenção de cuidados de saúde;
- ir aos correios, bancos e agências de seguros;
- deslocações curtas para actividade física (proibido o exercício de actividade colectiva);
- deslocações curtas para passear os animais de companhia;
As pessoas consideradas de risco podem, se não tiverem em situação de baixa médica, deslocar-se para exercício de actividade profissional.

Dever Geral de Recolhimento Domiciliário

A restante população (que não a anterior) pode deslocar-se para, entre outros,
- adquirir de bens e serviços;
- trabalhar;
- procurar trabalho ou responder a oferta de trabalho;
- obter cuidados de saúde, transportar quem deles necessite ou doar sangue;
- Assistir pessoas vulneráveis, com deficiência, filhos, progenitores, idosos ou dependentes;
- para ir para estabelecimentos escolares (lembram-se que há crianças que, pelas actividades dos pais continuam a ir à escola?);
- deslocações de curta duração para efeitos de fruição de momentos ao ar livre;
- deslocações de curta duração para efeitos de actividade física (proibido o exercício de actividade colectiva);
- deslocações para voluntariado social;
- cumprimento de partilha de responsabilidades  parentais;
- deslocações aos correios, bancos e seguradoras;
- passear os animais de companhia e alimentação de animais (e levar os animais ao veterinário);
- regressar ao domicílio pessoal.
- e várias mais.
Os veículos podem circular na via pública para realizar as actividades mencionadas ou para ir a bombas de gasolina.
E, muito importante, em todas as deslocações efectuadas devem ser respeitadas as recomendações e ordens determinadas pelas autoridades (de saúde e de segurança), designadamente as respeitantes às distâncias a observar entre as pessoas.
Reparem que, no início, escrevi "entre outros". Significa que há mais situações em que as pessoas se podem deslocar. Portanto, quando tiverem o impulso de ir à janela apontar dedos, acalmem-se e olhem para esta lista.

Resumindo e concluindo

Evitem sair de casa, sim. É para sair o menos possível. Mas evitem, também, ficar SEMPRE em casa, pela vossa saúde física e mental. A OMS recomenda 30 minutos de exercício físico diário para adultos e 1 hora para crianças. Esperam-nos muitas mais semanas de distanciamento social e, provavelmente, estado de emergência. Já temos de estar fisicamente longe dos outros, vamos evitar comprometer mais o nosso bem estar mental (e da nossa família) ao ficarmos de quarentena se não houver recomendação para isso por parte das autoridades (de saúde ou governamentais).
Não é preciso ir ao supermercado ou ao banco ou aos correios todos os dias. De cada vez que vão estão a colocar-se em risco (e aos outros). São situações que não podem concretizar sem estarem perto de outras pessoas ou sem tocarem em sítios onde outros tocaram.
A DGS e a OMS recomendam que tenhamos uma boa alimentação, portanto optem por ir ao supermercado semanalmente ou com a menor frequência possível. Se puderem, optem por compras online (se conseguirem, que aquilo está difícil) ou requisitem os serviços que algumas juntas de freguesia estão a facultar par algumas situações.
Podem ir fazer o tal passeio higiénico recomendado pelo Primeiro-Ministro, mas sozinhos ou com quem partilham a vossa casa. Não é para ir correr com o vizinho ou com o amigo ou com o familiar que mora noutra casa. Escolham sítios isolados, com pouca gente. Ou optem pela clássica "volta ao quarteirão".

É importante nunca esquecer: comportamentos de segurança de higiene.
Quando tenho de sair de casa, só toco mesmo no que tiver de ser e só com uma mão: na porta, interruptores, código de acesso, tampa do ecoponto. Nunca toco na cara e levo na outra mão álcool gel para desinfectar as mãos logo a seguir. Não uso o casaco para proteger aos mãos, nem o rabo ou pernas para empurrar. É mais fácil e imediato desinfectar as mãos.
Por exemplo, num trajecto de casa ao carro: levo o desinfectante na mão esquerda, a mão esquerda é para acender a luz da escada (se for preciso), abrir e fechar a porta da rua, abrir a porta do carro. E pimbas! Logo a seguir álcool-gel. No regresso, a mesma coisa, mas assim que entro em casa tiro os sapatos, lavo as mãos e mudo de roupa. Se algum de nós tiver ido ao supermercado ou a um sítio onde passe muita gente, lavo o chão da entrada a seguir.


Deixo-vos aqui a Declaração do Estado de Emergência, para que o consultem e se informem e saibam o que podem fazer e como o devem fazer.
E não se esqueçam: respirar, acalmar, filtrar e empatizar! Só assim isto se torna mais suportável.
Vai ficar tudo bem.
Fonte

sábado, 28 de março de 2020

A Loucura do Medo e a Procura da Tranquilidade - Parte II


A minha segunda e mais recentemente estratégia adoptada para manter a sanidade mental e tranquilidade?
Filtrar! Filtrar! Filtrar!

Há cerca de duas semanas passava o dia com a televisão ligada em canais noticiosos, a querer ver os directos da Directora da DGS e da Ministra da Saúde e do Primeiro-Ministro. A querer ver os números. O que se passa em Itália, o que se passa em Espanha. E no Reino Unido. E nos Estados Unidos. E na China. E África? Já chegou a África? E, ao mesmo tempo, de telemóvel na mão a ver o meu feed e grupos no Facebook, a receber mensagens em grupos do WhatsApp.

E tanta, mas tanta, informação que me sentia cada vez mais confusa e baralhada. E paranóica.
Usa máscara! Não uses máscara! Os chineses usam máscaras! Mas usam máscaras pela poluição e sempre usaram!
Usa luvas! Não uses luvas! Luvas protegem! Luvas dão falsa sensação de segurança!
Não ponhas um pezinho na rua! Podes ir à rua! Só podes ir à rua para passear o cão! Podes dar um pequeno passeio! Olha para aqueles caixões todos em Itália, são de gente que saiu à rua!
Lava as mãos. Usa álcool gel. Faz uma mistura de água com lixívia que é o que usam em laboratório! Detergentes normais chegam!
Chegaram-me informações sobre como o vinagre era melhor do que o álcool ou que os casais se deviam abster de relações sexuais. Estas, para mim, foram claramente mentira e sem qualquer sentido, mas outras havia em que dava por mim a seguir os meus "achismos". Ora, "achismo" vale zero.

Quando vi uma imagem alarmista que dizia que a OMS tinha dito que o vírus se propagava pelo ar e que tínhamos de andar de máscara sempre e quando dei por mim a comprar lixívia para desinfectar tudo quanto era saco e produto que entrasse nesta casa, percebi que estava me estava a deixar ir numa espiral de paranóia. Lembrei-me, então, que no início disto tudo tinha lido algures a seguinte recomendação:

Não passes o dia a receber informação. Dedica um momento do teu dia a isso e escolhe apenas informação de fontes credíveis e fiáveis.

Dito e feito! Deixei de ver os telejornais, desliguei notificações de grupos de whatsapp e passei a ir informar-me junto de entidades científicas e de confiança.
Não sou um supra-sumo científico dotado de conhecimento que me permita identificar todas as características deste vírus e todos os porquês de fazer assim ou assado em relação às luvas, máscaras e o raio que o parta.
Decidi que, a partir de agora, me iria informar apenas junto de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Direcção-Geral da Saúde (DGS), a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP - que é a minha Ordem) ou o site www.wordometers.info para seguir as suas indicações o mais escrupulosamente possível e retirar informação.

Tal como disse Graça Freitas, a Directora da DGS, estas recomendações e informações são feitas com base na evidência científica que se tem à data. As coisas podem mudar de um dia para o outro.

É muito importante que tenhamos todos a noção de que este vírus é novo, logo, a comunidade científica (que é aquela que devemos ouvir) não tem todos os conhecimentos e a informação vai sendo actualizada com o passar do tempo e com o evoluir da situação e dos estudos sobre o vírus.
Só vou abordar as recomendações para a população geral, não para profissionais de saúde ou agentes de autoridade ou qualquer profissão que exija proximidade com pessoas ou material delicado. Isto é uma espécie de resumo, no final vou colocar os links para os sites para poderem consultar mais detalhadamente e se manterem a par. 

De acordo com a OMS, o vírus é transmitido entre pessoas através de contacto próximo e pelas gotas que expelimos pelo nariz e boca. As pessoas que estão em maior risco são as que estão em contacto próximo ou que cuidam de pacientes com covid-19.


Sintomas
Segundo a DGS, a maioria das pessoas apresenta sintomas ligeiros: febre superior a 37,5º, tosse e dificuldades respiratórias (falta de ar). Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo a maioria dos casos recupera sem sequelas.
A OMS refere que os sintomas mais comuns são a febre, cansaço e tosse seca. Alguns pacientes podem dores dores, congestão nasal, "pingo", dores de garganta ou diarreia. Estes sintomas costumam ser ligeiros e começam gradualmente. Algumas pessoas ficam infectadas, mas não desenvolvem sintomas nem se sentem mal. A maioria das pessoas (cerca de 80%) recuperam sem necessidade de tratamento especial. Cerca de 1 em cada 6 infectados ficam gravemente doentes e desenvolvem dificuldades respiratórias. Os mais velhos e pessoas com doenças prévias (como hipertensão, problemas cardíacos ou diabetes) têm maior probabilidade de desenvolver uma doença grave. Procurar apoio médico se se tiver febre, tosse e dificuldades respiratórias.


Medidas de protecção
Segundo a OMS:
As medidas preventivas mais eficazes, para a população geral, são:
- Limpar frequentemente as mãos com álcool gel ou lavar com água e sabão;
- Não tocar nos olhos, nariz e boca;
- Espirrar ou tossir para lado interior do cotovelo ou para um lenço de papel que deve ser logo deitado fora;
- Usar máscara se tiver sintomas respiratórios e fazer a higiene das mãos após o descarte da máscara;
- Manter uma distância social (mínimo 1 metro) de pessoas com sintomas respiratórios;
- Contactar ajuda médica, de acordo com as directrizes das entidades de saúdes nacionais se apresentar sintomas como tosse, febre e dificuldades respiratórias - Em Portugal é contactar a Linha de Saúde 24 (808 24 24 24);
- Estar atento aos locais e cidades onde o covil-19 se está a espalhar mais e, se possível, evitar esses locais para diminuir a probabilidade de contrair o vírus.

Segundo a DGS:
São reforçadas as medidas acima descritas e acrescentam
- Evitar contacto próximo com pessoas com infecção respiratória;
- Evitar tocar na cara (boca, olhos ou nariz) com as mãos;
- Evitar partilhar objectos pessoais ou comida em que tenha tocado (não se referem a agregados familiares ou pessoas que partilhem diariamente o mesmo espaço);
- Adicionam para pessoas em risco de doença grave (idosos e doentes crónicos):  evitar contacto próximo com outras pessoas, afastar-se de pessoas doentes, limitar o contacto social e evitar multidões. Manter-se em casa, se possível.
- Para quem anda de transportes públicos (porque nem todos se podem dar ao luxo de ficar em casa por opção): garantir a distância mínima de outras pessoas, usar máscara APENAS se tiver problemas de saúde, virar a cara se alguém estiver a tossir e pedir à pessoa que o faça para um lenço, braço ou cotovelo, desinfectar as mãos com solução à base de álcool ou lava-las assim que possível, se o transporte estiver lotado esperar pelo próximo (se possível).


Máscaras e luvas
Segundo a OMS, se formos saudáveis, apenas devemos usar máscaras quando estivermos a cuidar de alguém infectado ou com suspeitas de estar infectado com covid-19; devemos usar se estivermos com tosse ou a espirra. As máscaras só serão eficazes quando usadas em combinação com frequente uso de álcool gel ou lavagem das mãos com água e sabão. Do mesmo modo, só se deve usar máscara quando sabemos como as colocar, usar e como as retirar e descartar.
Alertam, ainda, que a máscara pode dar uma falsa sensação de segurança e até ser ela própria uma fonte de infecção quando não utilizada do modo correcto.

Esta opinião é a partilhada pela DGS "De acordo com a situação atual em Portugal, não está indicado o uso de máscara para proteção individual, exceto nas seguintes situações: Suspeitos de infeção por COVID-19; Pessoas que prestem cuidados a suspeitos de infeção por COVID-19.". A DGS "não recomenda, até ao momento, o uso de máscara de proteção para pessoas que não apresentam sintomas (assintomáticas). O uso de máscara de forma incorrecta pode aumentar o risco de infeção, por estar mal colocada ou devido ao contacto das mãos com a cara. A máscara contribui também para uma falsa sensação de segurança.
Ainda segundo a DGS, o uso de luvas não é eficaz. E, tal como a máscara, pode ser um veículo de transmissão do vírus em vez de serem protectoras.


Transmissão pelo ar ou por superfícies
De acordo com a DGS e com a OMS, o contágio não é pelo ar, mas pelas secreções respiratórias ou gotículas que expelimos (se estivermos infectados) e/ou durante a realização de procedimentos médicos invadidos produtores de aerossóis. As gotículas podem entrar directamente pela boca olhos ou nariz e provocar a infecção. Cumprir o distanciamento social aconselhado pela DGS ou ficar em casa são boas medidas de prevenção da infecção.
Também não se sabe ao certo quanto tempo o vírus sobrevive nas superfícies. Os estudos sugerem que podem persistir em algumas superfícies de algumas horas a vários dias, dependendo das condições, como o tipo de superfície, temperatura ou a humidade do ambiente.
As superfícies não transmitem directamente o vírus, apenas se se tocar com as mãos numa superfície contaminada e posteriormente as levar à boca, nariz e/ou olhos.
Se as superfícies forem lavadas regularmente evita-se esse contágio. Quer na nossa casa como em locais públicos a frequência de limpeza deve ser aumentada, para que o vírus não se acumule nas superfícies. Deve utilizar-se detergente e desinfectante comum de uso doméstico. 


Resumindo
Lavar as mãos, manter uma distância social, lavar as mãos, esquecer máscaras e luvas (se não formos profissionais de saúde ou cuja profissão implique contacto próximo com pessoas ou material delicado),  lavar as mãos, aumentar a frequência de limpeza da nossa casa para evitar a acumulação do vírus.
Em lado algum diz que, para quem não está infectado, de quarentena ou que faça parte do grupo de risco, não podemos dar um breve passeio higiénico, para bem da nossa saúde.

Parem de passar os dias a ler coisas, a partilhar coisas (principalmente falsas, alarmistas e/ou que contribuam para nada mais do que pânico), empanicar com coisas.
Parem de se plantar à janela a filmar ou a fotografar quem sai à rua cumprindo todas as recomendações, para publicar nas redes sociais. Aliás, parem de filmar e fotografar os outros para achincalhar, parem de se armar em PIDE desde a marquise lá de casa.
E gente da margem Norte que hoje entupiu a ponte para ir para a Costa: isso não é um breve passeio higiénico, pá!


Informação e fontes
Para além de tudo o que expus anteriormente, há outros sites e artigos interessantes que gostaria de partilhar convosco.

Ordem dos Psicólogos Portugueses - Aqui
Tem uma variedade de artigos de apoio e vídeos, como passos para lidar com a ansiedade, manter actividades à distância, como explicar a crianças as medidas de distanciamento e isolamento social, etc. 

Artigos do Washington Post
Têm modelos explicativos e animados que nos ajudam a:
perceber as evoluções das epidemias: "How epidemics like cover-19 end (and how to end them faster)" - Aqui
como é que medidas como quarentena obrigatória, isolamento social, distanciamento social, etc., funcionam (ou não funcionam - o caso da quarentena forçada) - "Por que surtos como o coronavírus se espalham exponencialmente e como "achatar a curva" - Aqui

Artigo "Coronavírus: o martelo e a dança" - Aqui - novamente, modelos matemáticos para nos explicar como poderemos abrandar a curva e ganhar tempo.  

Site Worldometers - Aqui - um site que possibilita estatísticas em tempo real (ou o mais possível), se têm mesmo de saber os número de infectados, mortes e recuperações (no mundo e por país). Também inclui sintomas, idade, etc.

Organização Mundial da Saúde - Aqui
Direcção-Geral da Saúde - Aqui
Serviço Nacional de Saúde - Aqui


Concluindo
  • Não saiam de casa sem necessidade;
  • Prefiram compras com entregas ao domicílio (se possível);
  • Se tiverem de ir para filas mantenham a distância social (mínimo de um metro);
  • Afastem a cara de pessoas que estiverem a espirrar e/ou tossir;
  • Se estiverem a tossir ou a espirrar, usem uma máscara se tiverem de sair (será preferível evitar sair);
  • Quando estiverem fora de casa, evitem tocar em superfícies. Se o fizerem, não toquem na cara e desinfectem as mãos assim que possível (eu ando com um fraquinho de álcool gel na carteira);
  • Quando entrarem em casa, tirem os sapatos, troquem de roupa e lavem bem as mãos;
  • Se precisarem, não há problema ou contra-indicação, em irem dar um pequeno passeio higiénico (ir com o marido e filhos não tem problema, aproveitarem para verem amigos é que já não é uma boa prática). E breve! Perto de casa! Não é para irem atravessar a ponte, gente!

Fiquem seguros e fiquem em casa (o mais possível e se possível)

A Loucura do Medo e a Procura da Tranquilidade - Parte I


Estou no 16ª dia de recolhimento voluntário.
Durante estas duas semanas já passei por várias fases de estados e humores - ansiedade, tristeza, falta de esperança, esperança, vontade de mandar tudo à merda, desistir disto da quarentena e "vamos mas é apanhar o vírus para despachar isto", curiosidade com o futuro pós-covid, etc.
É que, desde que iniciei este recolhimento, nunca acreditei que fosse apenas até ao final de Março. E quando, numa primeira vez, disseram que o pico seria em Maio, percebi logo que antes do verão a vida não voltaria à normalidade possível. Ora, se começamos o isolamento dois meses antes do pico, teremos de o continuar após esse pico.

Por isso mesmo é que não instituímos a quarentena absoluta cá em casa, mas um recolhimento.
Se fossem apenas duas semanas completamente fechados em casa, era na boa. Não sendo apenas duas semanas, mas uma situação para durar meses, é preciso ponderar o impacto que isto tem na nossa saúde mental.
Assim, o primeiro passo para a procura da tranquilidade foi instituir uma rotina. Já tinha trabalhado de casa e sabia o quão importante é. Para isso, não esperei e logo à creche da Carminho que enviasse o horário e rotinas que praticavam, para que ela não perca o hábito. Além disso, instituí também um breve passeio diário.

Antes que me atirem pedras pelo passeio diário, deixem-me explicar o porquê desta decisão e em que consiste esta pequena ida à rua. Relembro que nunca acreditei que fossem apenas duas semanas, e o plano era para ser algo a fazer por um período de tempo prolongado.
A Carminho tem, praticamente, 3 anos. Em qualquer outra circunstância, retirar uma criança da creche e fecha-la em casa 24h/dia, seria justificação mais do que suficiente para se chamar as entidades competentes e verificar se os pais estão a exercer maus tratos ou negligência. Porquê? Porque é uma idade crítica para a aquisição de determinadas competências e uma idade na qual é super importante a sociabilização com os seus pares e o explorar do mundo.
No entanto, face ao cenário que vivemos actualmente, retirar a Carminho da creche (e logo a seguir foi decretado o seu encerramento) foi uma decisão fundamental, que garantiria a segurança de todos (dela, nossa, nos colegas e por aí fora). Contrariando a nossa natureza de seres altamente sociais e gregários, o distanciamento social é fundamental para a nossa saúde neste momento.
E não me digam "as crianças adaptam-se", "as crianças são resilientes". Primeiro: claro que se adaptam quando confrontadas com uma mudança (todos nos adaptamos, que remédio). Segundo, as pessoas não nascem resilientes, tornam-se resilientes e estimulam a resiliência quando confrontadas com as adversidades da vida. Não é necessariamente positivo que alguém seja muito resiliente, porque, provavelmente, já passou por diversos eventos complicados ao longo da vida. É bom que tenhamos a capacidade de resiliência, mas não é imperativo que o seu significado seja bom ou livre de traumas.
Posto isto e analisando a informação de fontes fidedignas, optámos por, já que uma parte muito importante da sua vida estava interdita, não cortar com outra igualmente importante: o conhecimento do mundo exterior e a motricidade. Se morássemos numa vivenda com quintal, o cenário seria outro, mas vivemos num apartamento pequeno.
Assim, para manter este "esticar as pernas" ao ar livre, vamos para sítios isolados. Isto é, também fundamental, assim conseguimos cumprir o distanciamento social. Não vamos para sítios cheios de gente, não vamos para esplanadas, não vamos para o paredão, etc...

Se fosse só eu e o Duarte, as esporádicas idas ao supermercado ou à farmácia, seriam suficientes, mas não somos só os dois e não vamos levar a Carminho para as filas do supermercado. Aí é que o risco é mais elevado (pela proximidade das pessoas na fila, porque vamos tocar em objectos em que outros já tocaram...) e já chega se algum dia tiver mesmo de ser.
Até nos vedarem o acesso à rua, continuaremos a dar os nossos breves passeios e idas ao lixo. Em sítios sem gente, ao ar livre. Se não fosse seguro, não deixariam que as pessoas se colocassem em risco ao passear os cães.
Curiosamente e, provavelmente, por sentir a diferença no movimento, sons e falta de pessoas, a própria Carminho já começa a dizer que não quer ir à rua. Aos poucos, vamos-nos habituando a uma vida diferente.


Concluindo: a primeira fase da procura da tranquilidade foi a instituição de uma rotina, mantendo a normalidade possível.

A seguir vou partilhar convosco a segunda fase da procura da tranquilidade: filtrar, filtrar, filtrar!