quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Ainda sobre o sono...


No seguimento do artigo sobre a rotina do deitar, venho partilhar convosco mais algumas considerações sobre o sono e que não abordei antes, ou por me ter esquecido ou para não fazer um artigo demasiado extenso.

Esta semana estive numa conferência sobre o sono dos bebés e crianças, cujas oradoras eram três médicas (pneumologista pediátrica especialista em sono, pediatra e neuropediatra) e uma psicóloga.
Confesso que saí de lá bastante satisfeita comigo mesma enquanto mãe e cuidadora - "Boa! Parece que ando a seleccionar bem a informação que escolho seguir e a forma como a interpreto.". Se pudesse tinha dado um "high 5" a mim mesma de tão inchada que fiquei.

Uma coisa curiosa que foi dita na conferência e que faz todo o sentido, foi uma grande diferença entre animais e seres humanos em relação ao sono: os seres humanos são os únicos que se preocupam com o sono! Os outros animais deixam, simplesmente, a coisa rolar. Já nós, criamos tanta ansiedade em nós mesmos ao ponto de ficarmos com insónias ou de andarmos em cima dos bebés a stressarmo-nos a nós e a eles (eles sentem tudo), porque dormem demais ou de menos.

Vamos lá esclarecer algumas coisas sobre o sono dos bebés.



Quem dorme mal?
Também nunca tinha pensado nisto, mas, muitas vezes, quem está com falta de sono são os pais e não os bebés. "Ah, ele dorme mal. Acorda muito durante a noite" ou "mexe-se muito durante a noite". Enquanto nalguns casos isto poderá ser verdade, noutros são situações perfeitamente normais que os pais não conseguem ignorar e os mantêm acordados. Lá porque um bebé acorda duas ou três vezes durante a noite, não significa que esteja a dormir mal. Significa é que os pais não conseguem descansar o suficiente.

Promoção de um sono saudável
Para que se previnam problemas de sono nos bebés e crianças e para que se consiga que tenham uma boa higiene do sono é importante considerarmos os seguintes pontos:
  1. Instituir rotina do deitar - podem ler aqui como o fizemos;
  2. Instituir rotinas para o dia com horários regulares para sestas, alimentação e brincadeira - vou tentar que o próximo artigo seja sobre a rotina que sigo com a Carminho;
  3. Quando se deitam os bebés e crianças (quer para a noite quer para as sestas), deve-se fazê-lo como eles sonolentos, mas acordados - isto fará com que se habituem a adormecer por eles próprios, sem necessidade de serem embalados/alimentados/etc;
  4. Adopção de objecto de transição - Não é necessário em todos, mas facilita muito. Uma chucha, uma fralda, um boneco, o que for. Se tiver o cheiro da mãe, ainda melhor. Tranquiliza-os;
  5. Uma hora antes de deitar à noite (ou meia hora antes das sestas), fazer actividades calmas: ler, cantar músicas tranquilas, conversar, dar colinho, deixá-los a brincar sozinhos...
  6. Diferenciar o dia da noite - Quando a Carmita acorda de manhã abro os estores antes de a tirar do berço (do nosso quarto, onde dorme, e do dela, onde a visto e dou mama de manhãzinha e à noite) alimento-a e, logo de seguida, preparo-a para o dia: lavo-a e visto-a. Durante o dia, só vai para o quarto dela para mudar a fralda, para a rotina pré-sesta (uma variante reduzida da da noite), e para o nosso quarto para dormir a sesta. De resto, o dia é passado com claridade, na sala, na rua, onde for. À noite, após a rotina do deitar, vai para o berço e só sai de lá ou de manhã quando acorda, ou a meio da noite se for preciso dar mama ou mudar uma fralda que tenha transbordado - e estas coisas são sempre feitas com o mínimo de luz possível;
  7. A luz - o quarto, à noite, deve estar o mais escuro possível. Nada de luzes de telemóvel, só se for estritamente necessário.
  8. Para os mais crescidos: limitar o uso de tecnologias ou de televisão, pelo menos, 1 hora antes de deitar. Embora pareça que ficam meio anestesiados, a luz branca emitida pelos ecrãs é bastante estimulante. Até nós devíamos seguir esta regra, para uma boa higiene do sono;
  9. Também para os mais crescidos: nada de bebidas energéticas à noite (coca-cola, por exemplo).



Quanto tempo devem dormir?
O tempo de sono total varia muito desde que nascemos até à velhice.
  • Recém-nascidos: podem dormir até 20 horas por dia, mas podem dormir bastante menos;
  • 4 a 12 meses: 12 a 16 horas (inclui sestas durante o dia);
  • 1 a 2 anos: 11 a 14 horas (incluindo sestas);
  • 3 a 5 anos: 10 a 13 horas (incluindo sestas);
  • 6 a 12 anos: 9 a 12 horas durante a noite;

A que horas se devem deitar?
A resposta a esta questão não é linear. É como para os adultos: desde que se durmam as horas necessárias para funcionar bem durante o dia e para crescer bem, a hora de deitar depende de indivíduo para indivíduo. Há bebés e crianças que às 19h00 já estão a cabecear e a fazer birra porque estão com sono, há outras que só pelas 22h pedem para ir para a cama.
O importante é que durmam as horas adequadas à sua idade, ao longo do dia e da noite.

Quando é que se devem criar as rotinas para os bebés?
Como disse no artigo sobre a rotina do deitar, li opiniões contraditórias: uns dizem que quanto mais cedo melhor, outros dizem que antes dos 3/4 meses não vale a pena.
Aproveitei a conferência para esclarecer esta questão. Perguntei se tinha sido eu a ter sorte quando às 6 semanas a Carminho aderiu à rotina muito rapidamente e se há uma idade a partir da qual valha a pena. A resposta foi "se calhar não foi sorte", ou seja, quanto mais cedo se iniciar a rotina, melhor.



Quão leve é o sono de um bebé?
Pois bem! Muitas vezes, embora super bem intencionados, quem interrompe o sono dos bebés são os pais.
É normal os bebés mexerem-se bastante enquanto dormem, revirarem os olhos, vocalizarem, etc., e devemos deixá-los sossegados. Aliás, nem lhes devemos tocar, porque se o fizermos estaremos a despertá-los.
Sabem como nós, durante a noite, acordamos, viramos para o outro lado e voltamos a dormir? Com os bebés é a mesma coisa. Imaginem que, sempre que fizéssemos isso, alguém vinha falar connosco ou pegar-nos ao colo.

E se acordar durante a noite?
É deixá-los. Desde que não chorem ou estejam todos sujos ou a precisar de se alimentarem, não devemos pegar neles nem estimulá-los de qualquer outra formam. Voltarão a adormecer por si. É normal.
Pode-nos é custar a nós dormir enquanto os ouvimos a mexer os braços e pernas, ou a chucharem nas mãos ou em fraldas. Mas devemos deixá-los, para que voltem a adormecer por si mesmos.

E se rebolarem e ficarem de cabeça para baixo?
Bem, se já conseguem fazer isso, não devemos preocupar-nos. Faz impressão? Faz! Ficamos preocupados se sufocam? Ficamos!
Mas, novamente, devemos deixá-los. A natureza é muito perfeita, se eles se colocam nessa posição, também saberão sair dela se estiverem incomodados. Por isso, como em tudo o resto, se não estiverem a chorar é deixá-los estar, porque eles estão bem, nós é que temos demasiadas preocupações na cabeça.

Este tema do sono é tão extenso que, provavelmente, ainda ficaram mais coisas por esclarecer.
Alguma dúvida que tenham, é só perguntar 😉


Actualização (30.Set.2017)
Depois de publicar este artigo, colocaram-me uma excelente questão e que tinha de vir para aqui.

E as luzes de presença?

Nunca usámos luzes de presença durante a noite. Ainda comprei uns coelhinhos muito fofos para que servissem de luzes de presença e só serviram para não me deixar dormir. Passaram a ser usados apenas para eu deitar a Carmita e não tropeçar nas gatas enquanto o faço.
O quarto, à noite, está sempre o mais escuro possível. Até evitamos tocar no telemóvel. Os bebés estão às escuras na barriga da mãe, não há cá luzes de presença, e eu sou da opinião de que se nunca tivermos algo não poderemos sentir a sua falta.
Também pretendo que a minha filha se habitue ao escuro. Claro que, daqui a uns anos, poderá vir a ter medo do escuro pelas mais variadas razões, mas não será por nunca ter dormido às escuras.
Uma coisa que disseram na conferência foi que há luzes de presença projectam sombras que assustam alguns bebés e que o melhor é ser algo que não faça sombras.
Portanto, se o bebé dormir bem, não há necessidade de haver qualquer luz no quarto, mas também não é algo que seja prejudicial.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

A Rotina do Deitar

Fonte

Os bebés e as crianças gostam (e precisam) de rotinas.
As rotinas proporcionam-lhes segurança e tranquilidade pela previsibilidade e a nós, mães e pais, possibilidade de organizarmos o nosso dia a dia. Quando os bebés começam a perceber que há uma determinada sequência ficam mais calmos e ficam mais disponíveis para explorar o mundo, desenvolverem-se e serem mais independentes. Que é, exactamente, o que se passa com os adultos.

A primeira rotina que instituí cá em casa foi a do deitar, por volta das 6 semanas. Cedo percebi que a Carminho gostava de dormir, pois nas primeiras semanas era dificílimo acordá-la para que mamasse. Estávamos sempre a despi-la e a fazer cócegas para que despertasse. Então decidi aproveitar a "embalagem" para experimentar criar a rotina do deitar.
Embora haja quem considere que não vale a pena tentar instaurar rotinas antes dos 3 meses, porque se regem por ciclos de sono diferentes e porque não ligam a essa coisa do dia e da noite, eu considerei que não fazia mal tentar. Mesmo que ela não entendesse a rotina como hora de dormir à noite, pelo menos ia-se habituando.

Havia três coisas para decidir:
  1. Qual a hora de deitar;
  2. Quais as componentes e ordem das mesmas para a rotina;
  3. Qual o método de "treino de sono".



Uma premissa fundamental
O que decidirem experimentar têm de manter durante uns tempos, de uma semana a 10 dias, não esperem que o bebé adira a qualquer coisa à primeira, é preciso que aprenda. Há dias em que eles estão mais chateados ou estão num pico de desenvolvimento e a coisa complica-se e parece regredir, mas é fundamental a persistência e consistência durante um bom período de tempo. Se ao fim de duas ou três noites desistirem ou não seguirem à risca a rotina (hora/componentes/método) terão, simplesmente, perdido o vosso tempo e causado instabilidade ao vosso bebé, em vão. Se, ao fim de uma semana, não houver qualquer melhoria ou adesão a qualquer parte da rotina, então está na altura de experimentar outra coisa.
Assim, e conhecendo os vossos bebés, escolham o que julgam que resulta e se adapte à vossa vida familiar e mantenham-no durante um bom período de tempo. Custe o que custar. Por isso, paciência e força!

Nós tivemos sorte que em duas ou três noites a Carminho aprendeu a rotina e a coisa pegou. Pelo menos até agora.



Qual a hora de deitar
A hora de deitar é algo que depende muito do vosso bebé (como tudo): depende da idade e depende do feitio do bebé. Há bebés que têm sono mais cedo, outros mais tarde. Quando são muito pequeninos não é assim tão importante a hora, mas à medida que vão crescendo passa a ser.
Quando começámos a experimentar, a rotina tinha início pelas 21h00 e ela deitava-se pelas 22h00, ficando a dormir até às 10h00 ou 11h00 da manhã seguinte.
A certa altura reparámos que ela, a partir das 18h00, começava a ficar super resmungona e chorosa e a acordar mais cedo, logo a dormir menos. Um dia, ao acalmá-la, comecei mais cedo a preparar a rotina dela com ela ao meu colo, só para que estivesse já tudo pronto para quando chegasse a hora. Ao entrar no quarto dela, já com a luz mais ténue, ela tranquilizou instantaneamente. E percebi-a! Estava a pedir-me a sua rotina, estava a pedir-me para ir para a cama. Ajustou-se, então, a hora do deitar: passou a ser entre as 20h00 e as 21h00. Ela aderiu bem e voltou a dormir bastante.

Passadas umas semanas, voltou a resmunguice e eu voltei às pesquisas. Concluí que os bebés e as crianças devem deitar-se cedo e que, por vezes, quanto mais cedo as deitamos mais elas dormem. Fizemos uns ajustes e, neste momento, a Carminho tem a sua rotina entre as 19h00 e as 19h30, conforme a hora de mamar e o seu humor, deitando-se entre as 19h30 e as 20h00.
Há artigos que aconselham que a rotina de deitar se inicie entre as 18h00 e as 18h30, mas ela dorme cerca de 11h00 e eu não quero acordar às 06h30 da manhã, confesso.

Sei que há pais que pensam que é o bebé que se deve adaptar aos horários deles e não o contrário. Que preferem que o bebé vá para a cama o mais tarde possível, para que acorde o mais tarde possível. Eu prefiro sofrer agora com a falta de sono, mas habituá-la a adormecer e a acordar a horas saudáveis. Quanto mais bebés, mais horas de sono necessitam. À medida que vão crescendo, vão diminuindo o número de horas que precisam de dormir, principalmente durante o dia.



Componentes da rotina
Há várias e podemos criar uma rotina mais curta ou mais longa, podem-se adicionar ou retirar componentes. Toda a rotina é feita no quartinho dela, para que se habitue ao ambiente, e escolhi uma poucas componentes para que habituasse a poucas coisas para adormecer:
  1. Baixo os estores, acendo uma luz ténue e ligo o iPad com música calma (gosto desta playlist);
  2. Visto-lhe o pijama e coloco uma fralda limpinha (mesmo que tenha mudado a fralda há 30 minutos);
  3. Sento-me na cadeira de baloiço e dou-lhe maminha;
  4. Quando ela acaba de mamar, deito-a no berço (que ainda está no nosso quarto). 
Nas primeiras noites reclamava sempre que a deitava no muda-fraldas para lhe vestir o pijama. Disse "reclamava"? Era mesmo chorar! Sou adepta do dar colo para acalmar e depois continuar a fazer o que estávamos a fazer, mas há momentos em que não dá mesmo. Ainda há noites em que, se deixarmos passar o momento certo, ela desata num pranto e não vale a pena pegar e largar porque ela só se vai acalmar na maminha. Por isso, o que faço é ir falando com ela no tom mais terno possível, descrevendo o que estou a fazer ("agora vamos vestir a fralda. Agora o pijama, um bracinho, o outro bracinho...." etc), fazendo uns "shhh", dando festinhas e beijos. Às vezes tranquiliza, outras vezes eu que aguente os tímpanos.
Há pouco tempo introduzimos o banho no início da rotina, em alguns dias só mesmo águinha, sem creme, e se estiver irritadiça ou chorona, não há banho. Quando for maiorzinha, quero introduzir as leituras.
"Então, mas eu sempre ouvi dizer que a mama não deve ser a última coisa, para não se habituarem", já comento.

Deixo algumas ideias para incluírem na rotina:
  • Massagem
  • Dar banho
  • Ler um livro/contar uma história
  • Ruído branco
  • Mamar ou dar biberão
  • Rezar
  • Dar colo
  • Embalar
  • Cantar
  • Swaddle (só até ele se começar a virar sozinho, depois não é aconselhado) ou saco de dormir
  • Dizer "boa noite" aos bonecas
  • Dar as boas noites ao bebé



Métodos de "treino de sono"
Mais uma vez, há várias possibilidades e depende da mãe e do pai qual o método a usar. É muito importante que o casal esteja em consonância e se apoie e aplique a mesma estratégia, que deverá ser escolhida conforme o que tem mais a ver consigo e com o seu bebé.
Uma coisa eu tinha decidido, não ia deixá-la a chorar até que se calasse. Os últimos estudos indicam que isso é prejudicial para o desenvolvimento do bebé, que ele não aprende a acalmar-se sozinho, mas que se cala porque aprende que foi abandonado e que não vale a pena chorar. Só de pensar nisso, fico com o coração despedaçado.

Aqui estão alguns métodos de Treino de Sono:
  • "Pegar/Deitar" ("Pick Up/Put Down"): Consiste em pegar no bebé quando chora e, quando acalma, voltar a deitá-lo. As vezes que forem necessárias até que deixe de chorar e, eventualmente, adormeça;
  • O Método Ferber, conhecido como "Deixar Chorar": Consiste em deixá-los sozinhos, a chorar, por períodos cada vez mais longos de tempo (períodos com uma duração certa e desde que não estejam inconsoláveis). Depois do que li sobre este método não é tão cruel como pensava;
  • A Extinção: Independentemente de como chore, é não pegar no bebé até que adormeça. Nas primeiras noites, está-se ao lado do berço e vai-se aumentando cada vez mais a distância. Pode-se tentar tranquilizar o bebé com "shhhh".
  • Os 5 "S" (do Dr. Harvey Karp): A ideia é utilizar todos os tipos de conforto, que eles sentem quando estão na barriga da mãe, até que adormeçam - Sucking, Swaddling, Swinging, Shushing e Side/Stomach - Sucção (chucha, polegar, etc), aperto, embalo, "shhh" e deitar de lado ou de barriga para baixo.
O que eu usei e resultou, embora já tivesse lido artigos a dizer que não faz nada e que é uma perda de tempo, foi o "pegar/deitar" ("Pick Up/ Put Down"). Deitava-a, quando ela começava a chorar pegava nela e, mal tranquilizava, deitava-a novamente. Repetindo as vezes que fossem necessárias, as noites que fossem precisas. Isto ensinava-a que, se precisasse, a mãe estava lá para ela. Estava preparada para repetir isto até cair para o lado ou até ela me vencer e adormecê-la nos meus braços. Na primeira noite, mal a encostei ao colchão começou a chorar, tive de repetir o "pegar/deitar" umas sete vezes, até que ela ficasse simplesmente a chuchar nas próprias mãos. Na segunda noite, foram três vezes. Na terceira noite, não conseguia acalmá-la nos meus braços, ela não parava de chorar. "Será que..." pensei eu, deitei-a na caminha e calou-se. Ela estava era a barafustar por não estar deitada e a dormir.
Depois disso aconteceu, nalgumas noites, resmungar um bocadito. Eu (ou o pai) só aparecia quando ela estava mesmo a chorar ou quando já estava a resmungar há muito tempo. Não adianta pegar nela se estiver apenas a resmungar, senão não aprende a acalmar-se sozinha. Há que saber distinguir o que é choro do que é resmunguice. Se aparecerem ao menor som, não os estão a ajudar a aprender a estarem sozinhos. E é importante que eles saibam a acalmar-se sozinhos.



Considerações/Notas
  • Cada caso é um caso, cada pai sabe o que está disposto a experimentar e o que faz sentido para si. Escolham aquilo com que se sentem mais confortáveis e lembrem-se que, com maior ou menor dificuldade, podem mais tarde alterar as rotinas;
  • Uma vez aprendida a rotina, não esperem que o bebé fique para sempre a adormecer bem. Isso até pode acontecer, mas não se surpreendam se houver noites ou dias em que ele parece ter regredido. Calma! Não entrem em pânico e não se metam logo a alterar a rotina. Em princípio será apenas uma fase: um pico de desenvolvimento (cognitivo ou motor), a alteração dos sonhos (por volta dos 3/4 meses deixa de ter um sono de recém-nascido e passa a ter ciclos como os adultos), pode estar doentinho, etc;
  • À medida que eles vão crescendo, poderão ter de ir fazendo ajustes na rotina, seja na hora, seja nas componentes ou até no método de "treino do sono", caso o bebé sofra alguma regressão;
  • Devem ser deitados acordados. Grogues, mas acordados. Não convém que estejam a dormir profundamente, porque se acordarem vão assustar-se por estar num ambiente diferente daquele em que adormeceram;
  • Há quem diga que não se deve dar mama ou biberão antes de dormirem, para não ficarem dependentes disso para dormirem. A questão aqui é que eu não faço por que ela adormeça na mama, idealmente quando é deitada no berço vai grogue e não a dormir profundamente, por isso habituou-se a adormecer por ela mesma. Sim, às vezes acontece ferrar completamente enquanto mama. Outra coisa é que eu quero que ela se deite com a barriguinha cheia (para que não acorde mais cedo com fome) e não quero dar-lhe banho ou mexer muito nela quando acabou de mamar, ainda bolsa e depois tenho de trocar a roupa e isso desperta-os;
  • Durante a noite evito mudar a fralda, porque é algo que a desperta. Imaginem o que é acordarem a meio da noite e alguém vos passar com uma toalha húmida e fria. Só se ela tiver feito um cocó explosivo ou se estiver a resmungar (isso indica-me que ela acordou porque está desconfortável);
  • Boas sestas durante o dia vão facilitar uma boa rotina de deitar e uma boa noite de sono. Temos tendência para pensar que se dormirem muito durante o dia, depois à noite não vão dormir. Mas isso não é bem assim. Dependendo da idade, há um número de horas que devem dormir durante o dia e durante a noite;
  • Não vale a pena sermos muito rígidos com as horas, mas se mantivermos mais ou menos a mesma hora o corpinho deles vai pedir para ir para a cama aquela hora. Convém é que a diferença não ultrapasse os 30 minutos;
  • Evitem contacto visual e sorrisos durante a rotina do deitar - esta é difícil! Não digo que os ignorem, mas se fizerem isto eles vão despertar porque querem interagir connosco. A questão é que é hora de dormir e não de brincar. Quando ela está muito agitada e chorona, aí sim, olho bem nos olhos dela e falo de forma apaziguadora. De resto, muitos miminhos, mas pouco olhar. Bem que reparo que ela às vezes, na mama, está com os seus olhões a fitar-me, à espera que olhe para ela. Custa muito não retribuir o olhar, mas se o fizer, logo a seguir ela fecha os olhinhos.

Actualização (28.set.2017)
No seguimento deste artigo acabei por escrever outro - "Ainda sobre o Sono" - com mais algumas questões sobre o sono que não abordei neste.

  • Quem dorme mal?
  • Promoção de um ano saudável
  • Quanto tempo devem dormir os bebés e crianças?
  • A que horas se devem deitar os bebés e crianças?
  • Quando é que se deve começar a instituir rotinas?
  • Quão leve é o sono de um bebé?
  • E se acordar durante a noite?
  • Já rebola! E se ficar de cabeça para baixo enquanto dorme?
Podem lê-lo aqui.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A Linguagem dos Bebés


Uma das coisas que me preocupava bastante era saber porque é que a minha filha estava a chorar ou a resmungar. Como é que eu podia saber o que ela queria? Mais do que isso, como é que eu podia satisfazer as suas necessidades antes de ela chorar?
Havia coisas que eu já sabia como por exemplo: se começasse a fazer movimentos de sucção estava com fome ou se esfregasse os olhos/cara estava com sono. Mas como saber se estava demasiado estimulada? Ou de menos? Como saber se eram dores de barriga?
Então, lá me pus a estudar e a pesquisar a linguagem dos bebés: que pode ser verbal ou comportamental.




Antes de mais:
  1. Estes sinais estão presentes desde o nascimento, embora menos elaborados. Com o tempo vão ficando mais perceptíveis;
  2. Ninguém conhece o vosso bebé tão bem como vocês, mas é preciso algum tempo para olharem para ele e dizerem "É fome!" ou "Está a ficar com sono". Tempo e tentativa-erro;
  3. Os bebés choram e não é preciso ficarmos aflitos. Aliás, ficarmos tensos ou ansiosos só agrava o problema. E o problema pode nem existir! Os bebés choram porque é essa a sua forma de comunicar. Podem estar alimentados, limpos e dormidos e mesmo assim estarem a reclamar de alguma coisa: pode ser uma etiqueta que os arranha, pode ser quererem miminho, pode ser um punzinho que custa mais a sair... Os bebés choram porque os bebés choram e nessas alturas a única coisa a fazer é dar-lhes colinho (se pudermos) e aguentar até que passe. Por vezes não podemos dar colinho, por exemplo quando estamos a conduzir. Aí é ir falando com eles (o que na maioria dos casos não faz rigorosamente nada) e aguentar.
  4. Quanto mais cedo agirem, mais fácil a resolução do problema. Com o sono então isto é importantíssimo. Por exemplo: se já estão a chorar de sono é porque já estão tão cansados que ainda vão lutar mais contra o sono.
  5. Assim que os aprenderem vão sentir-se super confiantes no vosso papel de pais, mas lembrem-se: às vezes não se sabe mesmo porque estão a chorar ou, mesmo sabendo, eles não aceitam o que estão a pedir (o sono é o melhor exemplo disto).

via GIPHY

Sinais e Sons de Sono
  1. "Estou a ficar com sono": Evita contacto visual com os outros, vira ou esconde a cara, tapa os olhos, olha para o vazio, ficam mais calmos, 
  2. "Está na hora de deitar": Boceja, espirra, franze o sobrolho, fica muito quieto, esfrega a cara e os olhos
  3. "Estou demasiado cansado": Chora, arqueia as costas -  Se deixarem chegar a este estado vai ser mais difícil adormecer o bebé, têm de o acalmar primeiro e pode demorar bastante mais.
  4. Sons: "Owh" (vou escrever em inglês porque mais à frente têm um vídeo a explicar os sons) - neste som eu e o Duarte dizemos que parece uma mini espartano (não sei se viram o filme "300"...)

via GIPHY

Sinais e Sons de Fome
  1. "Estou a ficar com fome": um pouco agitado, vira a cara e abre a boca, procura a mama, chuchar;
  2. "Tenho fome": Espreguiçar, aumento dos movimentos, leva mão/dedos/pulso à boca;
  3. "Tarde demais! Tenho demasiada fome!": Chorar/gritar, muito agitado, fica muito vermelho - Tal como com o sono, se chega a esta fase têm de o acalmar primeiro, senão pode não mamar bem, nem alimentar em quantidades suficientes e pode influenciar a produção de leite, etc. Para além de que o vosso bebé está em sofrimento e nenhum pai quer isso;
  4. Sons: "Neh" (colocam a língua no céu da boca quando fazem o som)

via GIPHY

Sinais de Demasiado Estímulo
  1. Começam com os mesmos do Sono;
  2. Podem tentar acalmar-se chuchando nas mãos ;
  3. "Apagam" - Há pais que acham que dizem "os meus filhos adormecem em qualquer lugar, mesmo com imensa gente e barulho", mas na realidade o bebé não adormeceu, "apagou". Ou seja, não conseguindo lidar com tanto estímulo que havia à sua volta "fechou-se". Não está a ter um sono descansado ou reparador, simplesmente está a bloquear o que se passa à sua volta e está na altura de os pais o levarem para um local tranquilo (se for possível).
Sinais de Querer Brincar
  1. Calmos e atentos;
  2. Os olhinhos tornam-se maiores e mais brilhantes;
  3. Abrem a boquinha em "oooh", como se estivessem espantados e quisessem falar (a nossa faz tanto isto e é tão giro);
  4. Viram a cara ao som das vozes e procuram estabelecer contacto visual;
  5. Procuram objectos;
  6. Sorri;
  7. Sons: vocalizações/barulhinhos

via GIPHY

Sinais e Sons de Gases
  1. Fica agitado, principalmente se estiver deitado, faz uma expressão facial de aflição;
  2. Arqueia as costas (no caso de arrotos);
  3. Leva os joelhos à barriga, esperneia, faz força (no caso de puns);
  4. Sons: "Eh" para arrotos, "Eair" para punzitos (confesso que este dos puns nunca conseguimos descortinar)
Sinais e Sons de Desconforto (pode ser por fralda suja, pode ser por ter calor ou frio...)
  1. Pode ficar pálido ou, pelo contrário, bem vermelho;
  2. Olhar para o lado ou perder o interesse na brincadeira;
  3. Ficar agitado (a Carminho manifesta-se mais assim, quando começa a ficar agitada e não é de fome vou logo ver a fralda, às vezes só tem um xixi e ela queixa-se, outras vezes só se queixa quando tem a fralda cheia de xixi e cocó);
  4. Chorar;
  5. A temperatura é mais complicado de percebermos, porque muitas vezes eles nem se queixam, temos mesmo de procurar e não, não é nas mãos nem nos pés. É na nuca! Pés e mãos é normal estarem frescos, até é bom sinal. Mas, se a nuca está suada é porque eles estão com calor, se está fria é porque estão com frio;
  6. Outro sinal da temperatura é a cor da pele: pode estar avermelhada ou azulada, é o corpo a tentar ajustar-se;
  7. Som: "Heh" (tal como o "Eair", este também nunca percebemos bem).

Deixo-vos o vídeo da Priscilla Dunstan na Oprah. Já é antigo, mas foi o que para mim melhor ilustrou os sons.
Uma coisa que ela explica e eu achei muito interessante é que se responderem correcta e atempadamente ao som, o bebé vai mantê-lo. Se o bebé perceber que a comunicação não está a ser eficaz (quando não respondem correctamente), acaba por deixar de fazer esse som.


Com tempo e atenção vão perceber bem a linguagem dos vossos bebés: podem fazer uns sinais e não outros, podem fazer ou não todos os sons de que a Priscilla fala.
À medida que vão crescendo, os sinais e vocalizações também vão começando a ficar mais complexos.
Isto é só uma ajuda para começarem. A mim ajudou-me imenso e comecei a sentir-me muito mais eficaz no meu papel de cuidadora e de mãe. Para além de me ter facilitado muito a vida. Ficou tudo muito mais simples.

O que funciona para mim, quando ela começa a resmungar é pensar na seguinte pela seguinte ordem:
- Está limpa?
- Está na hora da sesta/de dormir?
- Quer mamar?
Como ela já segue uma rotina, também já está mais fácil para mim perceber o que ela precisa. Sigo esta ordem porque ela raramente pede para mamar, só quando está com sede e isso pode ser antes da hora da mamada. Se estiver com tudo: mudo-lhe a fralda, dou-lhe mama e deixo-a dormir. Sempre abordando primeiro o que é de resolução mais fácil.

Mas não se esqueçam: os bebés choram! Até podemos seguir à risca, e bem, todos os sinais e sons e mesmo assim eles continuarem a chorar ou lutarem contra o sono (como a Carminho luta contra as sestas...).