quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Opiniões há muitas... Bom senso é que é difícil.




Esta coisa das redes sociais (e da internet em geral) representa, na perfeição, a humanidade.
Tem um potencial fenomenal para aprendermos uns com os outros, para crescermos e fazermos o bem, mas depois a malta escolhe é fazer o posto: escolher apenas informação que valide a opinião que quer impôr aos outros, mostrar que se é melhor do que qualquer outra pessoa e insultar ou humilhar quem tem uma forma de pensar diferente da nossa.

Bem... Há gente que merece ser achincalhada, nomeadamente gente que, intencionalmente, quer prejudicar os outros só por serem diferentes. Xenófobos, racistas, homofóbicos, misóginos e por aí.
Bem, mas não é sobre estes temas que me apetece falar hoje.
Hoje abordarei temas ligados à gravidez/maternidade, dado que é o tema sobre o qual me tenho debruçado nos últimos tempos.




Certas coisas que oiço ou leio fazem com que fique com os nervos em franja, mas a maioria dessas coisas só demonstra o egocentrismo e ignorância (intencional ou não) de quem as debita. Deixo-vos aqui alguns exemplos.

  1. "Não sabes o que é parir". Há quem goste muito de dizer isto a mulheres que passaram por uma cesariana. Meus caros, do alto das minhas 36 horas de parto, com uma epidural que poderia ter sido fatal, com episiotomia e fórceps, digo-vos: sois umas bestas! E provavelmente invejosas. Porquê? Porque parir é quando o bebé sai da barriga da mãe para o mundo exterior. Não implica ser vaginal e, em muitos casos tristes, nem implica que o bebé esteja vivo. O bebé saiu da barriga da mãe? Foi um parto. Doloroso? Não interessa. Demorado? Não interessa. Saiu? Está cá fora? Foi um parto! Deixem de querer ser melhor do que outras mães que tiveram um parto diferente do vosso.
  2. Prioridade das grávidas no atendimento ao público - "gravidez não é doença" ou "só quando estiver lá para os 8 ou 9 meses". Então e que tal se for enquanto estiver em trabalho de parto? Aí já uma grávida pode ir comprar qualquer coisita ou ir tratar de assuntos às finanças ou à segurança social? Dizem que "gravidez não é doença", mas querem que as grávidas nem cheguem perto, que fique em casa e que os maridos, família e amigos tratem das coisas. Então, mas é ou não é doença? Estou confusa com a vossa forma de pensar. É assim, já que não têm a sensibilidade e civismo para ter a iniciativa de deixar uma grávida passar à frente, sejam egoístas e pensem em vocês. Não interessa se custa a uma grávida estar em pé durante muito tempo, esqueçam essa criatura que teve a ousadia de contribuir para a natalidade. Pensem que as grávidas têm enjoos e vomitam. Pensem que, se não lhes derem prioridade, correm o risco de levar com um vómito de jacto em cheio na nuca. É melhor deixar a grávida passar ou levar com vómito de uma desconhecida?
  3. Prioridade com crianças no atendimento ao público - "trazem os bebés para passarem à frente", "está no carrinho, não está ao colo, devia ficar na fila como toda a gente". Eu nem vou entrar pelos vários motivos que fazem com que a prioridade seja óbvia quando alguém está com um bebé (tem de amamentar, as crianças têm rotinas, etc, etc), mas tal como no ponto anterior sejam egoístas e pensem em vocês. As crianças choram!!! Querem estar na fila do supermercado (um sítio já tão agradável onde toda a gente adora ir) ou na sala de espera das finanças e ouvir um bebé a chorar incessantemente? Ainda para mais um bebé alheio. O dos nossos já é irritante, mas quando é o dos outros... Se calhar é melhor dar prioridade, para bem dos vossos tímpanos e dos vossos "nervos".
  4. "Amamentar em público é vergonhoso". Vergonhoso é estarem a querer ver a nossa mama quando estamos a alimentar os nossos filhos, isso é que é vergonhoso. O que as mães gostam é de pôr a mama de fora em público. Eu faço-o sempre que posso. Assim que se começa a aproximar a hora da mamada, agarro na minha bebé e vou para a rua. Já lá tenho uma cadeirinha e tudo. Até o faço na mamada da madrugada, não vá perder a oportunidade de mostrar a mama a mais uma pessoa. Porque é que alguma mãe quereria estar no conforto do sofá ou de uma poltrona, em casa, quando pode estar na rua?
  5. "Se têm de amamentar em público, que vão para a casa de banho ou que tapem o cenário". Sabem o que eu curto mesmo? Comer na casa de banho. Não perco uma oportunidade. É confortável e asseado. Principalmente nas casas de banho de estabelecimentos públicos. Outra coisa que também gosto muito é de comer com uma toalha em cima da cabeça. É do caraças! Super confortável, quentinho... Melhor só comer numa casa de banho pública e com uma toalha a tapar a cabeça.
  6. "Eu sou melhor mãe do que tu". Desde que engravidei que fui convidada para entrar em vários grupos de mães no Facebook. Na maioria deles impera o civismo e o respeito, mesmo quando as opiniões são divergentes. Mas há um em especial (que não vou publicitar) em que acontece o oposto. Eu só opino lá quando me engano e acho que estou a opinar noutros. Se alguma Mãe diz algo que o grupo alfa não gosta é logo achincalhada. Logo! Já vi isso muitas vezes e acho nojento. É daqueles comportamentos de grupos que me dão vómitos. Como os mitras que quando estão sozinhos não se metem com ninguém, mas quando estão com os amigos já levantam a crista e são os maiores da aldeia a chatearem as pessoas que passam. Ok! Algumas questões são tontas, como por exemplo perguntarem se podem entrar os pais ou pessoas que não têm filhos, mas o que custa responder-se educadamente? É preciso gozar com as pessoas? São assim tão miseráveis que têm de gozar com estranhos na internet? Opá, fez uma pergunta parva? Fez, sim senhora. E até podemos pensar muita coisa da pessoa "ca granda burra!!". Daí a dizer-se, é desnecessário e mesquinho. Houve uma mãe que publicou uma vez uma foto do cocó do seu bebé, para perguntar se era normal. Caiu o Carmo e a Trindade. Como se nenhuma mãe tivesse alguma vez olhado para o cocó da cria e tivesse tido essa dúvida. Malta, eu já pesquisei "cocó de bebé". Está no meu histórico. É um grupo de mães, qual é o problema em colocar-se essa dúvida? Têm nojo de cocó de criança? Numa imagem no monitor? Uau! São mesmo as mães perfeitas. Decididamente, são as pessoas ideias a quem se colocar uma dúvida.
Muitas mães, eu incluída, gostam de pesquisar na net sobre como fazer isto ou aquilo, ou sobre se algo é normal ou digno de preocupação. Mas há uma coisa que não nos devemos esquecer: a internet é um mundo e tem tudo de bom e de mau, de certo e errado. É muito complicado filtrar a informação.

Uma coisa que acontece é ver mães questionarem o que os médicos lhes disseram ou contradizerem a informação que um médico deu a outra mãe. 
Ainda no outro dia eu partilhava algo que a "minha" pediatra me aconselhou e umas mães vieram dizer "isso não é bem assim, porque comigo aconteceu assado e o meu pediatra disse frito". Pois bem, cada uma de nós é livre de partilhar experiências e opiniões (desde que com educação, que até foi o caso). Mas cada caso é um caso, não vamos dizer que a experiência dos outros não é válida só porque a nossa foi diferente. A minha resposta foi "Eu confio na pediatra. Se não confiasse, teria de mudar. Se ela me dá esta informação, eu vou segui-la. Porque ela, certamente, sabe mais do que eu.".
Ainda houve uma mãe que disse algo do género "os pediatras são bons para questões de saúde, mas para alimentação e sono já não". Não respondi, porque não me apeteceu discutir, mas alimentação e sono são questões de saúde. Digo eu!

A internet, um blog, um amigo, uma mãe, o que seja não vos deve dar mais segurança do que o vosso médico. Se não confiam no vosso médico, mudem de médico. Isto serve para qualquer área da medicina e para vocês ou para os vossos filhos. Se não confiam ou se não conseguem estabelecer uma boa relação, mudem de médico. Não vale a pena estarem a perder o vosso tempo e o do profissional se depois chegam a casa e não vão seguir as suas indicações ou vão para a internet seguir os conselhos de estranhos.

Bem, está na hora da próxima mamada, vou para a rua mostrar a mama ao mundo, porque usufruir do conforto da minha casa é uma seca.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O Meu Parto IV - O Pós-Parto

Os partos são difíceis. Ou melhor, não é esperado que sejam fáceis, embora os haja.
E quem me dera que o meu tivesse sido.
Lembro-me que um dos meus pensamentos, no auge da dor e antes de me levarem para o bloco operatório, foi: "Desisto!"
Claro que no milésimo de segundo seguinte percebi que não havia cá "desisto" para ninguém. Era uma situação da qual é impossível escapar. O bebé tem de sair, doa o que doer, saia como saia.



No artigo "O Meu Parto III - O Parto", fiquei aqui:
Como ela tinha nascido de manhã, assim que fosse para a enfermaria poderia receber visitas.
Durante todo este tempo, desde que tinha saído da sala de partos, o Duarte ficou quase 2 horas sem saber de mim. Quando, finalmente, encontrou uma médica que tinha estado no nosso quarto foi-lhe dito que "mãe e filha estão bem". Foi assim que ficou a saber que já era pai. Quando saíssemos do recobro ele poderia ver-nos.
O que não sabíamos é que haveria uma falha informática e, durante um período de tempo, ninguém saberia responder à pergunta do Duarte "Onde estão a minha mulher e a minha filha?".

Continuando...
Até chegar ao recobro estava meio abananada. Já sem dores, a tentar perceber o que se passava, quem era, a tentar perceber o que tinha acontecido nas últimas horas e com um cansaço enorme.
Pensei no bem que me saberia dormir umas valentes horas. Uma boa noite de sono, que já não tinha há dias. E depois lembrei-me que isso tudo tinha acabado. Não havia cá descanso. Não haveria noite de sono bem dormida, nem de várias horas seguidas.
Agora tinha uma bebé e a recuperação e descanso tinham de ser feitos de acordo com ela.

Da parte da bebé, enquanto estive na maternidade, não me podia queixar. Todos os outros bebés choravam, a minha nem emitia um som. Aliás, a minha grande preocupação em relação a ela era que não acordava nem por nada. "Deve mamar de 2 em 2, 3 em 3 horas", diziam e uma hora era passada a tentar fazer com que acordasse. Nas primeiras semanas mamou sempre nua, só de fralda. Despiamo-la para que acordasse e às vezes isso não era suficiente e tinha de ser combinado com cócegas nos pés ou nas axilas e estimulação do maxilar, porque ela adormecia durante a mamada.
Pegar bem na mama, é toda uma outra história, todo um outro artigo. Porque, ao contrário do sono, não foi nada fácil. Agora começa a melhorar, e mesmo assim...



Chegada ao recobro, foi-me dito que, assim que passasse para a enfermaria poderia receber visitas. Pouco tempo depois, a enfermeira apareceu e disse-me que iam abrir uma excepção à regra de "não visitas no recobro", porque o sistema informático estava em baixo e não me conseguiam transferir para a enfermaria. Só o pai da bebé poderia vir e já era uma excepção enorme. Alguns minutos depois:
"Vem aí o pai e o avô". "O avô? Qual avô? Não me sabe dizer?". Não me apetecia nada que o pai do Duarte aparecesse, não me sentia com forças para formalismos. "O avô que é médico." Era o meu pai! Fiquei tão feliz! Estava explicada a segunda excepção. Se o meu pai não fosse médico, não teria entrado. Mas é assim que as coisas funcionam. E, se eu sempre fui muito inibida dessas coisas e raramente usei "o meu pai é médico" em contextos que me poderiam ajudar, naquele momento não queria saber. Sim, é um privilégio. Não, não quero saber se é certo ou errado. Estava fragilizada e ter o meu pai ao lado era o que eu precisava.

Chegaram ao recobro, só podiam ficar 5 minutos, porque não é suposto haver visitas naquele local. A felicidade nos olhos de ambos, a conhecerem a Carminho. O meu pai sacou logo da máquina e ele e o Duarte tiraram fotos à e com a bebé, ao mesmo tempo que me davam atenção a mim também.
Veio a enfermeira e disse-lhes que o avô tinha de sair, mas o pai ainda podia ficar mais um minutinho. Quando chegou a altura de sair, ficou combinado que eu lhe ligaria quando passasse para a enfermaria. Pouco depois, a enfermeira viu-me com o telemóvel e disse-me que não o podia ter no recobro. Já não me lembro bem porquê, mas o Duarte voltou ao recobro e tive de lhe entregar tudo, ficando incomunicável.
Entretanto, tive vontade de fazer xixi. Trazem-me uma arrastadeira e, tal como durante o parto, tive de ser algaliada. Não adiantou endireitarem as costas da cama ou saírem de perto da cama. Não havia maneira de fazer xixi, portanto foi de algália. Duas vezes. Numa das vezes acho que fiz o xixi mais longo da minha vida. Nunca pensei que algália fosse tão simples e pensava que se ficava sempre com uma sensação de xixi incompleto, mas não. É impecável. Não dá aquele alívio que sabe super bem, mas ficamos óptimas.
Ora, as visitas na MAC para os pais são das 12h às 21h. A Carminho nasceu às 10h56 e só passei para a enfermaria pelas 18h00.
Estava eu a "arrumar" o meu espacinho na enfermaria (temos uma cama, uma mesa de cabeceira, o berço e nada mais), quando:
- Tia? Olá! Já passou a hora das visitas, com é que... oh! Já sei! Já percebi - A minha tia é enfermeira e, tal como o meu pai, fez uso da chamada "cortesia profissional".

Antes que comecem já a fumegar e a dizer que estas excepções são inadmissíveis deixem-me dizer que a "cortesia profissional" e o "favor ao amigo" funcionam em qualquer profissão. Quem conhecer gente nas Finanças ou na Segurança Social, nem sequer tem de lá pôr os pés, os amigos levam-lhes os papéis e ajudam-nos nessas coisas. Nos bancos é a mesma coisa, nas imobiliárias também, nas forças policiais, na EMEL. Lojistas que usam os seus descontos para comprar coisas para os amigos, etc, etc, etc... É assim em todo o lado. E não me venham dizer que, se fossem vocês, não aproveitariam a excepção. Além do mais, eu estive "presa" no recobro durante horas, logo a seguir ao parto, em que não podia ver ninguém, em que não pude contactar ninguém, por causa de uma situação excepcional.



Aproveitei que a minha Tia estava ali para ir à casa de banho. Assim, a Carminho não ficava sozinha. Levantei-me, comecei a arrastar-me pela enfermaria e só depois de alguns passos é que reparei que estava a deixar um rasto de sangue atrás de mim. A porcaria da cueca e do penso gigantes, tinham saído do sítio e eu estava a sujar tudo. Por isso é que vos digo: fraldas para adultos! Com as fraldas isto não teria acontecido.
O meu "xixi tímido" não é só para o uso de arrastadeiras, é também em casas de banho públicas. Além do mais, com a episiotomia acontece as mulheres sentirem um ardor (mais ou menos intenso, depende da mulher) quando a urina entra em contacto com a ferida. A antecipação dessa dor fazia com que o xixi ficasse ainda mais tímido. Respirei fundo, concentrei-me, e fiz o que tinha a fazer. Não me doeu, não me ardeu, nada. Pelo menos dessa tinha escapado. Custava-me imenso andar, por causa da cicatriz. Para me limpar só mesmo a encostar o papel, nada de o arrastar na pele.

Pedi à minha Tia que ligasse à minha mãe, para que ela dissesse ao Duarte que eu já estava na enfermaria e para ele me trazer o telemóvel e as minhas coisas. Porque eu não tinha nada. Nem mala, nem artigos de higiene, nada! Só me tinham deixado ficar com uma muda de roupa para a bebé. A resposta do meu querido marido foi que já não pensava em passar lá naquele dia e que me levaria as coisas no dia seguinte. Fiquei num misto de incrédula, com desapontada, com triste, com furiosa, com sensação de ter sido abandonada. Sabem a que distância nós moramos da maternidade? 2 quilómetros! Até a pé se faz num instante! Não só a filha dele tinha acabado de nascer, o que era argumento suficiente para ele dever querer voltar à maternidade, como sabia que eu nunca tinha sido internada e que estava sozinha e sem comunicação com os outros. Como é que ele podia ter uma atitude daquelas? Estar com os amigos a celebrar a paternidade era mais importante do que cumprir o seu papel de pai e de marido? E o que é que custava interromper a festa durante 10 minutos para me ir levar as coisas? A certa altura eu já só estava furiosa.



Sentar-me, deitar-me, levantar-me, tudo era um suplício com as dores que tinha na cicatriz. Quando serviram o jantar, debiquei qualquer coisa, sempre em pé, porque só de olhar para aquela cadeira de metal me doía a cicatriz.
Chegou a altura de apagarem as luzes da enfermaria. A bebé a ter de mamar de 2 em 2/3 em 3 horas e eu sem relógio ou telemóvel para poder ver as horas. O único relógio da enfermaria não era visível da minha cama e a solução que a enfermeira me deu foi levantar-me e ver ou então pedir a uma das outras mães. Amaldiçoei o Duarte. A minha bebé era dorminhoca, era dificílimo acordá-la para lhe dar mama, eu com medo de que ela entrasse em hipoglicémia pela falta de alimentação e sem forma de poder controlar as horas sem ser levantar-me, o que me fazia doer a cicatriz só de pensar. Estava eu a resignar-me ao meu destino de mais uma noite terrível (já tinham sido duas noites em claro, mais uma que mal faria? "Assim é que se vê que só podemos contar com nós mesmos. Não vale a pena contar com a ajuda dos outros. Sou eu e tu filha, só as duas e vamos conquistar o mundo!"), quando o Duarte entra na enfermaria.
Vá lá! Dignou-se a interromper a festa de "wee sou pai" para ser pai e marido. Não sei, nem me interessa, porque é que mudou de ideias, mas agora eu já podia por o alarme para 3 em 3 horas e tentar dormir nos intervalos.

De 3 em 3 horas, fazia um esforço "sobre-humano" para me levantar e acordar a bebé para lhe dar mama. E depois, um segundo esforço para dar a segunda mama e ter de me virar na cama enquanto a segurava. Tinha de a despir e fazer cócegas e todo um número de ginástica para que ela acordasse e mamasse. Tenho a sensação que chamava as enfermeiras sempre que era hora da mama, porque ela não acordava e eu tinha medo de ser muito brusca a acordá-la.
A certa altura, uma das enfermeiras reparou que eu estava a ficar com feridas nos mamilos. Não me doíam, mas estavam lá. A Miminho não pegava bem e estava-me a ferir os mamilos. Sugeriram que usasse um mamilo de silicone. Lá foi o Duarte levar-me um mamilo de silicone e placas de gel da Medela.

Confesso que nem me lembro bem do tempo que lá estive.
Lembro-me que as enfermeiras e as auxiliares era todas, todas!, amorosas e super pacientes e profissionais. Em particular a Enfermeira Graça Lima, com quem criei uma ligação mais especial.
Lembro-me da inter-ajuda entre mães, quando alguma de nós precisava de ir à casa de banho: "podes só vigiar aqui o meu bebé?".
Lembro-me de como uma mãe se riu quando viu a minha cara a olhar para a cadeira à hora do almoço: "sei bem o que estás a pensar. Custa bastante". E ficámos a trocar impressões sobre as dores.
Lembro-me que de 4 em 4 horas lá tomava um paracetamol.
Lembro-me que passava a vida a pedir gelo para a episiotomia.
Constantemente, lá estava eu a carregar no botãozinho para pedir ajuda a alguém.



Só lá estive dois dias, mas pareceu imenso tempo. A certa altura, apesar de toda a ajuda, só já queria ir para casa. Ir à casa de banho enjoava-me imenso. Era o cheiro. O cheiro a sangue, o cheiro a fluidos. Não era o cheiro a xixi e cocó, era o cheiro dos lóquios. Já não podia com aquele cheiro.

No último dia iam pesar a bebé, ver da icterícia, etc., para saber se lhe davam alta, e depois viria uma médica observar-me para ver se me davam alta.
Foi a Enfermeira Graça que a pesou e reparou no angioma na nuca da Carminho - "É a marca dos especiais!" disse-me ela, mostrando-me o seu.  Contra as expectativas das enfermeiras (aparentemente, tinham falado sobre isso) a bebé já tinha recuperado peso suficiente para poder ter alta e de resto estava tudo bem com ela. Pois é, a minha filha não queria acordar para mamar, mas quando pegava na mama era a sério.
Comigo, estava a recuperar bem da episiotomia e estava tudo bem, mas tinha de ir à casa de banho. Oh não!!
Se eu tenho xixi tímido, com o resto ainda é pior. Expliquei à médica e à enfermeira o meu dilema. "Eu sofro de obstipação e não consigo ir à casa de banho em locais públicos. Não consigo relaxar. Em casa tenho um banquinho para apoiar os pés e todas essas coisas. Ainda há umas semanas tive uma crise, fiz um clister e nem assim me aliviei. Tive de tomar dois clisteres e aguentar 15 minutos num banho de imersão morninho. Eu duvido que vá conseguir fazer aqui. Há sempre gente a entrar e a sair da casa de banho, sons, não consigo relaxar a pensar que pode ser a minha bebé a chorar...". Elas entenderam o meu problema. "O ideal era que fizesse aqui, mas compreendemos isso".
Naquele dia a Enfermeira Graça, que era uma porreiraça, tentou, sem sucesso, encontrar uma casa de banho mais sossegada, e perguntou-me se eu queria um clister para tentar ir à casa de banho, "é melhor serem dois". Pus-me a andar de um lado para o outro e a aguentar o máximo de tempo possível. Quando tive vontade fui para a casa de banho. E o que é que saiu? Nada!! Só o próprio clister. Foi uma desilusão. Até ela ficou surpreendida. Passadas umas horas, diz-me que me iam dar alta, mesmo sem ter ido à casa de banho, reforçou que o ideal seria fazer ali, mas que se não fizesse ia para casa na mesma. Disse-lhe que tentaria uma segunda vez. Mais dois clisteres. "A ver se é desta". Mais quinze minutos. Mais uma ida à casa de banho. Finalmente!!! Consegui fazer. Saí da casa de banho, encontrei a enfermeira:
- Consegui!!!! - E abraçámo-nos a festejar e a rir.

Antes de sair, esteve a explicar-me uma data de procedimentos e contraceptivos e tudo e tudo. "Contraceptivo? Abstinência e não se fala mais nisso!", disse eu. Depois daquilo tudo quem é que pensa em sexo? Quem é que, 48 horas após ter sido cortada e levado pontos internos e externos pensa em ter algo a roçar ali? Ok! Eu sei que há mulheres que pensam. Acho óptimo, saudável, tudo isso. Acho também que são umas bravas do caraças! Porque só de pensar em lavar-me naquela zona ficava toda encolhidinha. E só de pensar noutro parto ainda mais!
- Depois pensamos no segundo - disse o Duarte
- Tu pensas no que tu quiseres e podes ter quantos quiseres. Eu fechei a loja. Podemos adoptar, recorrer a uma barriga de aluguer... podes ter filhos com outra... como quiseres. Eu nem quero ouvir falar nisso.

Enfermeira Graça, se ler este artigo (eu sei que segue o blogue), um grande abraço para si e para todas as enfermeiras que, infelizmente, não decorei o nome. Mas em especial para si ❤



A saída da Maternidade revelou o alto nível de segurança com que os nossos bebés estão protegidos. Não só o alarme no pézinho, como vários pontos de controlo que comunicavam uns com os outros à nossa passagem. E, mais uma vez, todos uma simpatia. 
Ainda estava na zona da enfermaria quando passámos pela das adolescentes. Acho eu que eram adolescentes, eram super novinhas. Estavam duas à porta, ainda grávidas, que olharam para a minha bebé e disseram "ooohhh, tão fofa! Tão linda! Tão pequenina!" e eu a babar-me, para logo a seguir uma delas me dizer "uau! Ainda tem uma barriga tão grande!!", "Então, é normal, a seguir ao parto a barriga não desaparece logo", "olha - disse-me a miúda - do meu primeiro, no dia a seguir estava lisinha". "Bitch!!", pensei eu... Se calhar com menos 15 anos a minha barriga também desapareceria no dia a seguir, mas a idade não perdoa... Sacana da miúda, logo a lembrar-me que tinha um longo caminho de recuperação a percorrer. Mas pronto, apesar de brutinha era simpática. Mas bolas, adolescente e já no segundo filho?

A viagem até casa foi um suplício. Aliás, sair da MAC foi um suplício. Bem como as três semanas seguintes.
Andar era um horror, sentar o terror... Até mudar de lado quando estava deitada era doloroso.
A acrescentar, tinha de sair de casa para ir ter com a minha tia ao Estoril para ir ver as minhas mamas (a amamentação foi um processo muito complicado e que, só agora, começa a melhorar), tinha de levar a miúda à pediatra.
Sou ateia, mas quando tinha de sair de casa benzia-me e rezava. Não, não o fazia. Mas quase!


Fonte
Durante a primeira semana em casa estava cheia de medo. De tudo! Até da minha bebé.
E se faço as coisas mal? Ao mesmo tempo, um enorme sentimento de frustração, porque não lhe conseguia dar colo. Dava-lhe mama deitada, porque era a única posição em que aguentava as dores, e tudo o resto tinha de ser o Duarte.
Tinha de ser o Duarte a tirá-la do berço para ma trazer, tinha de ser o Duarte a mudar as fraldas e a limpá-la, tinha de ser o Duarte a dar-lhe colo. E eu ali, deitada, impotente. A única coisa que podia fazer era dar mama e esse era um filme de terror.
Chorei imenso. Não só pelas dores, mas pelo perceber que o momento da amamentação não estava a ser o momento de vinculação que eu tinha esperado. Antes pelo contrário, era um momento horrível, de tensão, de stress, de medo, de dor, de angústia. Cada vez que ela começava a pedir mama eu quase tremia. Lembro-me de chorar ao lado do berço e pedir desculpa à minha bebé, por não conseguir ser uma melhor mãe. Por não conseguir pegar nela quando ela precisava de conforto e por não conseguir que o momento da mama fosse um momento de vinculação.
Chorei, gritei, mordi-me, contorci-me, apertei o Duarte, tudo e mais alguma coisa enquanto dei mama. E só pensava: vou aguentar 1 mês. Como esse mês custou a passar. No fim, "só mais outro mês". E assim chegámos aos 3 meses, sem que ela conhecesse outra fonte de alimento que não a mama.
Mas o tema da amamentação deixarei para outro artigo.

Tinha todos os cuidados com a episiotomia: arranjei uns paninhos de microfibra (ou melhor, cortei uma daquelas toalhas da Decathlon em vários paninhos) e, sempre que ia à casa de banho, lavava com água fria e sabão neutro (glicerina), depois limpava-me com o paninho. Só encostando, para absorver a água e secar o mais possível, nunca arrastando o pano.
Tirava fotos à cicatriz todos os dias, para ir vendo a evolução. Até que um dia, reparei e confirmei, um ponto infectado.
Claro... Claro que eu tinha de ter um ponto infectado! Porque é que haveria de ter uma cicatrização simples e rápida? Naaaaa.... Tinha de me infectar um ponto.
Mais uma ida às urgências. Horrível. Eu sem experiência a dar mama, só tinha dado deitada, e ali à espera só para me verem um ponto. A certa altura perguntei se não tinham um sítio mais recatado do que a sala de espera, para poder dar mama. Deixaram-me entrar. Mas mesmo assim, as cadeiras não eram confortáveis até por causa das dores horríveis, e o Duarte não podia estar lá dentro por causa das outras mulheres. Já tinha leite a esguichar por todos os lados e disse, com lágrimas nos olhos, "vou-me embora. Não vou ficar mais tempo aqui à espera, por uma coisa que só demora 5 minutos. A minha bebé precisa de mamar, eu não consigo dar aqui, vou-me embora".
As enfermeiras e médicas repararam e fui atendida logo a seguir. 2 minutos depois, saía do gabinete com uma receita de uma pomada para aplicar na cicatriz.

Durante duas semanas, a minha rotina diária consistia numa eternidade sempre que ia à casa de banho. Nunca me limpava com papel higiénico, só o encostava para absorver o excesso que ficava na pele e depois era "lavar com água fria, sabão neutro e passar com uma toalha suave", de seguida um quantidade enorme de cicalfate na cicatriz.
Para além da cicatriz tinha ainda de cuidar da hemorroidal. Claro que tinha de ter ficado com aquilo... Por isso, para além daquela rotina para a cicatriz, tinha ainda um bónus 3x ao dia de pomada para a hemorroidal.
A certa altura já nem sabia o que me doía mais: a cicatriz ou as hemorróidas.
Não só fazia estas limpezas todas como comecei também a fazer os Kegel. E com eles senti uma melhoria enorme, em tudo.
3 semanas depois do parto já estava quase como nova e decidi começar com caminhadas diárias. O que não durou muito tempo, porque veio uma onda de calor enorme e só ficava uma temperatura agradável às 22h00 e a essa hora não levava a miúda para a rua.
Quando tudo estava a encarrilar: menos dores, a amamentação menos mal, já conseguia andar, já não sangrava... O Duarte é operado ao tendão de Aquiles e tudo nesta casa cai em cima de mim.
"Tens de descansar", "Dorme quando ela dorme", "Tens de tratar de ti". Como? Impossível, entre um bebé recém-nascido e um marido que não pode andar, quem tinha de tratar da casa era eu. Quem tinha de acartar com as tralhas todas da bebé sempre que saíamos de casa era eu.
O cansaço já era tanto que chegou a um ponto em que eu já cometia erros parvos a conduzir. Não eram perigosos, eram erros de não me conseguir lembrar de caminhos que fazia há anos, de demorar eternidades a estacionar.
O que me valia é que a nossa bebé é uma santa. Tirando o não pegar bem na mama, não dá trabalho nenhum: dorme bem, alimenta-se em boas quantidades, não tem cólicas, é bem disposta.
Pronto: sofri com tudo, mas se a recompensa é ter uma sorte enorme na bebé que tenho e ela ser super saudável e feliz, isso vale a pena.



Oiço histórias de amigas e de mães em fóruns a dizer que os bebés não dormem, que acordam de hora a hora, que perdem peso, que têm cólicas. E eu sou penso "abençoada filha que me calhou."
Vale a pena todos os horrores do parto, dos pontos infectados, de todos os problemas nas mamas (feridas, bolhas, mastites, pus, etc etc), se tenho uma bebé que não sofre. Que é amada, que é feliz, que é saudável, que se está a desenvolver muito bem, que adere rapidamente às rotinas, que dorme...
Por ela, tudo vale a pena. Porque ela é a minha prioridade. Porque o meu dever enquanto mãe é protegê-la, adaptar-me às suas necessidades (por enquanto...), tudo.
A vinculação aconteceu. Não foi imediata, não foi com a amamentação (de todo!), foi com o cuidar dela. Foi com o brincar, com o limpar, com o falar. Foi com o dar colinho quando ela chora (não chora muito, mas chora). Foi com o perceber que ela me procura quando está com outras pessoas ou a brincar sozinha, mesmo que a seguir dirija a sua atenção para outra coisa. Foi com os sorrisos com que ela me presenteia todos os dias. Então os do acordar, são maravilhosos. Foi com o perceber que não há colo como o da mãe. Se ela começa a resmungar ou a chorar, mal vem para os meus braços tranquiliza. São os bracinhos dela à volta do meu pescoço a agarrar com força para que eu não a largue.
Todos os dias o amor cresce mais um bocadinho. Não veio com o parto, foi sendo construído. Não foi automático, mas já me apercebi que daria a minha vida por ela sem pensar. Agora já é o amor incondicional. É o amor da minha vida e agora percebo muitas coisas que dantes não percebia. Mas isso já é tema para outro artigo.



Agora que a minha história da gravidez e do parto está concluída, a minha ideia é ir partilhando convosco coisas como a linguagem dos bebés (sinais que eles dão de que estão com fome, sono, sobre-estimulados ou pouco estimulados), as sestas, o brincar, a importância das rotinas, como os habituar a adormecer/tranquilizar sozinhos, a amamentação, etc. Quero escrever também sobre a questão da vinculação, da amamentação, da depressão, etc.
Se houver algum assunto sobre o qual gostavam de ler, é só dizerem.
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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O que levar na mala para Maternidade


Ilustração por Lim Heng Swee / Fonte

Muito li eu sobre como preparar uma mala para levar para a maternidade. Sobre o que devia levar ou o que era dispensável. Nas aulas de preparação deram-me uma lista, na Maternidade deram-me outra e eu optei por fazer um mix das duas.
Já tinha tudo preparado, com tudo o que eles diziam nas listas, quando fiz a visita à MAC e reparei que a mala que eu tinha escolhido nunca caberia nos cacifos. Tive de refazer tudo para trocar por uma mala muito mais pequena.
Enquanto lá estive acabei por perceber que, se pudesse, teria trocado algumas coisas.

Estas foram as listas que me foram dadas


Lista dada na MAC

Lista dada onde fiz a preparação para o parto

Quando percebi que não conseguiria levar tudo sem fazer uma mala gigante ou ter mais do que uma mala, optei por levar apenas metade das coisas e deixar em casa tudo preparado para que o Duarte me fosse levando as roupas limpas e trazendo as sujas para casa.
E só levei uma mala, não tinha paciência para andar com duas malas.


Mala da Mãe

O que levei

  • 1 camisas de dormir
  • Roupão
  • 10 Cuecas descartáveis e uma embalagem de pensos de noite
  • 3 Soutiens de amamentação
  • 3 pares de meias (ainda bem que me lembrei disto, porque eu sou mesmo muito friorenta)
  • Discos absorventes
  • Chinelos de quarto
  • Chinelos de duche
  • Toalha de banho
  • Toalha de linho para a cara
  • Toalhas pequenas íntimas
  • Estojo de higiene pessoal
  • Saco de plástico para a roupa suja
  • Carregador do telemóvel

O que mudaria

  • Não levaria camisa de dormir. Comprei duas camisas de dormir todas bonitas na Teresa Alecrim. De algodão macio, com botões à frente, branquinhas. Lindas. Se fosse hoje nem as teria comprado. Primeiro, não as usei na maternidade nem nos primeiros dias em casa porque como são branquinhas não queria que ficassem sujas de sangue (daí ter optado por ficar com a bata hospitalar e só vesti a camisa de dormir durante as duas horas de visitas), depois porque as minhas mamas cresceram tanto (e elas já eram enormes) que não era nada confortável tirá-las pela abertura. Estão guardadas para mais tarde, para quando deixar de amamentar ou deixar de amamentar durante a noite. São lindas e super confortáveis, mas não me deram jeito;
  • Não optaria por cuecas descartáveis e pensos. A Maternidade dá-nos um ou dois pares de cuecas descartáveis enormes (tamanho único...) e um ou dois pensos gigantes, e eu comprei cuecas e pensos. Se fosse hoje não teria gasto dinheiro nisso e teria dispensado as da maternidade. Porquê? Porque eram enormes para mim e passava o tempo a ajustá-las para não sujar tudo. Da primeira vez que me levantei para ir à casa de banho deixei um rasto de sangue atrás de mim. Isto porque tinha saído tudo do sítio. Eu não fiquei envergonhada nem nada, mas é chato. Se fosse hoje teria comprado logo fraldas para adultos, daquelas todas apto que são tipo cuecas. Ficam ajustadinhas, aguentam mais tempo e uma pessoa não se preocupa. Se aguentam incontinência urinária e fecal, melhor aguentarão os lóquios (perda de sangue);
  • Não levaria as toalhas pequenas. Não havia bidés. Se precisasse de me lavar apenas naquela zona, tinha de me meter no chuveiro e para isso usaria a toalha de banho.

O que deixei pronto em casa

  • 1 camisa de dormir
  • 1 toalha de banho
  • Muda de roupa para quando saísse da Maternidade

O que dispensei completamente

  • Máquina fotográfica ou câmara de filmar (já chegava o telemóvel);
  • Leitura - Que cabeça tinha eu para ler? Para me entreter tinha o telemóvel;
  • Embalagens de lenços de papel. Para quê?



Mala do Bebé

O que levei

  • Saquinho com a primeira roupa da bebé (um body, umas calças, um gorro e um casaquinho) 
  • 2 mudas de roupa (cada muda composta por um babygrow, um vestidinho fino para receber as visitas e um gorro)
  • 2 fraldas de pano
  • 1 Toalha de banho
  • 20 fraldas descartáveis
  • Estojo de higiene do bebé (escova, pente, tesoura, lima, etc)
  • Items de limpeza do bebé de tamanho de viagem (creme lavante, hidratante, creme para assaduras, etc.)
  • Toalhitas
  • Soro fisiológico
  • 2 babetes
  • 1 manta

O que deixei pronto em casa

  • 3 mudas de roupa do estilo das que levei
  • Roupa para a saída da Maternidade (que era a roupa que a minha Mãe preparou para a minha saída, mas que nunca chegou a ser usada)
  • Toalha de banho
  • Mais fraldas de pano e descartáveis
  • 1 manta
  • Ovo para transportar o bebé

O que mudaria

  • Dispensaria a toalha de banho. Enquanto estão na maternidade, os bebés são lavados com compressas e soro. Não tomam banho com água.
  • Não levaria as mantas. A Carminho esteve o tempo todo com a manta da maternidade.
  • Levaria menos fraldas. Os recém-nascidos não sujam assim tantas fraldas.
  • Não levaria os babetes.
  • Nada de casaquinhos de lã. Ela nasceu em Maio e a Maternidade é climatizada.

O que dispensei completamente

  • Botinhas de lã. Ela usou calcinhas e babygrows com pés, não lhe ia vestir botinhas por cima disso.
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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Decoração - Varanda II

Design - Ilustração VI

O diálogo mais estúpido dos últimos tempos

Acabei de me lembrar do diálogo mais parvo (para não dizer outra coisa) que tive nos últimos dias.
Tive de ir a um centro comercial (e levar a Carminho) ver se encontrava roupa para mim (não me preparei devidamente para a amamentação).  Nisto oiço alguém a gritar:
- Mi! Mi! Olha a Mi! Mi!
Era uma pessoa que não via há séculos, com quem já não me dou e que quando a ia eliminar da lista de amigos do FB reparei que ela já o tinha feito. Tranquilo, na boa. Mas porque é que me estava a chamar? Tornámos-nos naquelas pessoas que têm aqueles diálogos constrangedores e chatos quando se cruzam. A quem se diz "Olá!" e acaba-se o tema de conversa, mas como não somos desconhecidos fica-se ali em "pois... então? Que é feito? pois... é a vida...". Aquelas que se virmos ao longe ficamos a fingir que não nos vemos, só para evitar ter de falar sem dizer nada.
Anyway, virei a cara, vi a pessoa e não escapei. Veio ter comigo. "Olá" e tal e coiso... (eu sou a pior pessoa do mundo para conversa de circunstância, e a coisa torna-se bem mais penosa quando não tenho mesmo interesse).
- Então, já és mãe?
- Pois... É verdade...
- É menina?
- Não... Eu é que gosto de vestir um menino de vestidos cor de rosa. Claro que é uma menina!
- Sei lá! Podias querer que fosse gay.
- Hã?? Bem, estou a morrer de fome, tenho de ir.
Tudo bem, que não fui a pessoa mais agradável, se bem que todo o contexto era desfavorável à conversa. Mas...: "Podias querer que fosse gay"????!!! Se era alguém que, apesar de tudo, considerava ser um tipo inteligente, acabei por ficar a achar o contrário.
  1. Eu não quero nem deixo de querer que a sexualidade da minha filha venha a ser assim ou assado. É algo que nem me preocupa, porque eu quero é que ela seja feliz, saudável e ela mesma;
  2. Não me cheira que seja vestir esta ou aquela roupa que venha a definir a sexualidade de uma pessoa. Fosse isso e Torres Vedras era a terra dos "gays";
  3. Eu às vezes visto a minha filha de jardineiras ou de azul, vai ser lésbica? E quando a visto com bodies e calcinhas brancas, estou a fazer com que seja assexuada?
  4. Que m*rda de coisa para se dizer a alguém com quem não se tem confiança;
  5. Que ironia isto vir de alguém sobre quem já me perguntaram se era gay (e eu estou-me a borrifar);
  6. Mas porque é que me chamou?????? Só para mostrar aos amigos com quem estava que conhece muita gente?

Aaaaiii.... Pessoas, pessoas...

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Saúde Pélvica

Há uns dias tive uma sessão/aula de fisioterapia na MAC.
Esta sessão foi-me marcada por eles, devido ao meu tipo de parto (fórceps).





Como vos disse, fiquei chocada por sermos apenas 4 mulheres quando 15 foram convocadas. Acho que as mulheres têm muito pouco cuidado com elas mesmas e sinto que há bastante desconhecimento no que diz respeito à saúde sexual.
Não que eu seja uma perita na matéria, mas desde miúda que foi algo que me interessou e algo sobre o qual me fartei de ler e pesquisar. Quer por uma questão de prazer, quer por uma questão de querer ser saudável.

A sessão foi com a Fisioterapeuta Sofia Carrêlo, que adorei. Gostei da sua forma de explicar as coisas e do seu humor. Gostei de como fala com um enorme à vontade e sem paninhos quentes ou medo de chocar. É cá das minhas. As coisas são como são e não vale a pena andar com paninhos quentes.

O tópico que se abordou foi, basicamente, a recuperação dos músculos do pavimento pélvico. No entanto também falámos de como tratar as cicatrizes da episiotomia e, muito superficialmente, lubrificação.



Quer já sejam mães, quer ainda estejam longe de o serem, quer não o queiram: todas as mulheres deviam fazer exercícios vaginais! TODAS! Desde ontem! Desde sempre. Vai ser algo que vou ensinar à Miminho assim que puder.

Apesar de já saber 99% das coisas faladas na sessão, há sempre espaço para aprender mais e formas novas de se pensar as coisas.
Antes de mais e como explicou a Sofia, precisamos de fazer estes exercícios porque temos uma enorme desvantagem: "o simples facto de sermos mulheres". Enquanto não evoluímos para uma postura bípede os nossos orgãos internos estavam apoiados nos músculos da barriga, onde não há buracos, quando nos pusemos sobre duas patas, a vida da mulher ficou dificultada e os nossos órgãos internos dependem de uns músculos que nos mantêm os orifícios fechados.

Os nossos órgãos estão assentes sobre os músculos pavimento pélvico (MPP), músculos que rodeiam os nossos orifícios lá de baixo: uretra, vagina e ânus.
São os MPP que: controlam a função urinária e fecal (fecham a passagem e impedem que andemos sempre a libertar fluidos), suportam os nossos órgãos dessa zona (evitam que a bexiga, o útero e o intestino saiam pelos orifícios que temos) e que promovem uma vida sexual saudável.


E reparem que à volta da vagina e do ânus, o músculo faz um 8 - Fonte


Vamos pensar um bocadinho: o que é que acontece aos músculos que não são exercitados? Pensem no infame músculo do adeus. Estava tão firme à volta do nosso braço e foi descaindo, há quem lhe chame asa de morcego. Porquê? Porque não se fez exercício, logo perdeu a força, perdeu elasticidade... Todos os músculos são assim, incluíndo o da nossa vagina. E é indiferente se parimos vaginalmente ou se nunca se teve um filho. Um músculo que não é exercitado perde qualidades. Neste caso não é só uma questão estética, é uma questão de saúde, precisamente pelas funções de que falei anteriormente.
Porque acham que há tanto mercado para as fraldas para os adultos? Porque acham que os anúncios destas marcas não falam em doenças que provocam incontinência, mas falam do "espirrei/tossi/ri e saiu uma gotinha de xixi"? Isto, minhas caras, é a consequência de não se exercitarem os músculos do pavimento pélvico em pessoas perfeitamente saudáveis, sem doenças que provoquem incontinência.

Depois, há um bónus de cedo se começarem a fazer os exercícios (a.k.a. Kegel - já explico): melhora a vida sexual. Ficamos mais apertadinhas e ainda temos a capacidade de proporcionar mais prazer ao homem, porque o podemos apertar durante a penetração. O que é bom para eles e duplamente para nós (dá-nos mais prazer e fazemos exercício).


Mega parêntesis:
Isto se formos hetero, nos outros casos não sei como fisicamente possa aumentar o prazer de outra mulher... agora vou ficar a pensar nisto... mais uma pesquisa a fazer e mais coisas constrangedoras no meu histórico.
Hmmmm... tenho de esperar pela vinda de uma amiga minha cá a casa. Era costume juntar-se um grupo de amigos cá em casa e debatermos assuntos sérios, com humor. Como, geralmente, a coisa era acompanhada com uns copos de vinho ou outras bebidas (no meu caso, absinto), acabávamos sempre com dúvidas de cariz sexual e alguém dizia "Oh, Rita! Vê aí no teu telemóvel como é que se faz...". Era sempre o histórico dela que ficava conspurcado.
Rita: preciso de ti. Tenho uma dúvida 😂

Continuando: Não só estes músculos previnem a necessidade de, mais cedo ou mais tarde, termos de andar com pensinhos diários ou fraldas, mas previnem prolapsos.
Sabem o que são prolapsos? É quando os nossos órgãos internos decidem sair e conhecer o mundo. É quando, por exemplo, se está na casa de banho e o nosso útero sai pela vagina. Quem diz útero, diz bexiga e diz intestino. Achavam que as hemorróidas causadas pela obstipação ou pela gravidez ou pelo parto eram más? Imaginem o que é sair-vos o intestino ou outro órgão que é suposto estar bem guardadinho dentro de nós.

Portanto, meninas: Estão à espera do quê para começar a fazer os vossos Kegel? Já deviam ter começado na adolescência! Vamos lá!




O que são os Kegels: São os exercícios criados pelo Dr. Arnold Kegel, em que se contrai e relaxam os músculos. Apesar de lhes ter dado notoriedade no ocidente, estes exercícios já eram muito praticados no oriente e conhecidos como pompoarismo. O pompoarismo já está um passo à frente dos Kegels: certamente já ouviram falar naqueles espectáculos tailandeses onde as senhoras disparam bolas de golf, fumam ou fazem outras coisas espectaculares com a vagina. Isso é o pompoarismo, isso é o resultado de muitos anos, muitos exercícios e muitas técnicas. Também não é preciso tanto, mas se quiserem: porque não? Não deixa de ser saudável e ainda têm um divertimento extra. Eu não vos julgarei.

Como fazer o exercício: Contrair os músculos como se estivéssemos a impedir o xixi ou um pum de sair. Não é apertar as nádegas! Nem encolher a barriga, nem nada disso. É o músculo que se encontra na zona do períneo. E depois, descontrair suavemente - não largar de repente.
Uma dica que segui e que só se pode fazer uma única vez (para perceber como se faz) é, quando forem fazer xixi interromperem o fluxo de urina. Ficam logo a perceber qual é o músculo. Mas não façam assim os exercícios, porque pode provocar infecções ou retenções urinárias e a ideia é sermos saudáveis e não nos prejudicarmos, certo?

Há dois tipos de exercício: um rápido e um mais lento.
Rápido ou alforreca (como a Sofia explicou e eu adorei): Contrair durante um segundo e relaxar completamente - repetir 10 a 20 vezes
Lento ou elevador: contrair em 5 tempos, enquanto se expira, e ir "subindo" a cada tempo  (há uma sensação de que os músculos sobem), manter 5 segundos, descontrair devagar quando se inspira (os músculos descem) e descansar 5 segundos. Numa fase inicial, repetir 5 a 10 vezes.
Deve-se fazer o exercício várias vezes ao dia. Podem estar em pé, sentadas ou deitadas. A cozinhar, a lavar os dentes, a amamentar, ao acordar, antes de dormir, enquanto se está ao computador. Ninguém repara e é rápido.



A Sofia deu ainda uma dica: colar um post-it no espelho da casa de banho, com o desenho de uma alforreca. Assim, ninguém sabe o que é, e sempre que lá forem lembram-se de fazer os exercícios.
Eu saquei uma app (tenho apps para tudo) em que defini os Kegel para 3 vezes por dia e sigo os níveis que eles têm. Sou um bocado baldas, confesso.

Outras coisas em que os Kegel ajudam:
- Na recuperação da episiotomia: assim que os comecei a fazer senti uma recuperação muito, mas muito mais rápida;
- Nas dores nas relações sexuais;
- Na laxidão vaginal;
- Alterações de sensibilidade.


Esta app está na App Store da Apple com o nome "Treinador Kegel - Exercícios do Assoalho Pélvico"

Outras dicas:
- Não vale a pena fazer muitas séries para compensar vezes em que não se fez. Estamos a trabalhar um músculo e não o queremos lesionar. Sim, este também se lesiona e cansa, não são só os outros;
- Usem um espelho para observarem os movimentos. Se calhar num primeiro dia não vêem grande coisa, mas com a prática vão vendo a evolução;
- Insiram um dedo e sintam o exercício. Para quem fez episiotomia, podem aproveitar esta altura para massajarem os pontos internos com elastolabo (se não forem sensíveis ao rícino, como eu);
- Divirtam-se com o vosso parceiro. Quando estiverem na vossa intimidade, aproveitem para fazer os Kegel durante a penetração. Perguntem-lhe o que sente, com o tempo e a prática ele vai sentindo cada vez mais.
- Há bolas próprias para se exercitarem estes músculos e que se vendem em sex shops. Há maiores e mais pequenas, com ou sem fios. Quais as ideais para vocês já dependerá da vossa musculatura vaginal, do vosso à vontade e da vossa experiência. Não tenham vergonha e peçam ao/à lojista que vos ajude (não deve ser a coisa mais estranha que ele já ouviu: de certeza!);

- Cintas: um grande "NÃO!" segundo a Sofia e segundo outras fisioterapeutas que já conheci. Era muito comum no tempo das nossas mães, mas agora é completamente desaconselhado (eu sei que há muitos médicos e enfermeiras que ainda hoje aconselham a cinta). Porquê? Porque para além de não resolverem nada, coloca uma pressão e peso acrescidos no pavimento pélvico e só prejudica a recuperação destes músculos. Se usarem para um casamento ou porque vão sair, tudo bem. Como uma peça diária, não. Além de que torna os músculos preguiçosos, enquanto que se não usarmos a cinta, temos tendência para irmos apertando a barriga durante o dia para que não se note.

-Falta de lubrificação vaginal: com a amamentação diminui a produção de estrogénio, o que faz com que a lubrificação vaginal diminua. Não há grande coisa a fazer até se acabar com a amamentação, para além de se usar um lubrificante. Para quem usa preservativos, é conveniente que se use um lubrificante à base de água, porque os que são à base de óleo podem danificá-los.

Provavelmente ficaram coisas por falar, mas a miúda está a acordar.
Qualquer dúvida que tenham é só perguntar que, se eu souber, explico.


Até lá:



Nota: Eu não sou médica, nem enfermeira, nem fisioterapeuta. Sou Psicóloga, actualmente doméstica. Simplesmente, farto-me de pesquisar sobre estes temas. Sempre que tenho uma dúvida agarro-me ao computador e fico horas a pesquisar. Isso vale o que vale e não substitui o que quem vos segue vos diz, ou o que vocês consideram ser melhor.