quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Para bem do amor deixem de o confundir com paixão!

Reparem como todas estas histórias terminam no momento em que conseguem, finalmente, ficar juntos. Como se tornam amores intemporais, "para sempre", e terminam ou no momento do casamento ou no momento de uma morte precoce e trágica. Assim é fácil amar para sempre. Assim é fácil que não se chegue ao esmorecer da paixão e fiquemos quase exclusivamente com o amor.

Mas a ficção incutiu-nos a fantasia de que a paixão, num relacionamento bom, dura 24 horas por dia, todos os dias. Que a tesão e a sofreguidão pelo outro têm, obrigatoriamente, de estar sempre presente. E é assim, porque os filmes e romantismo barato e superficial nos meteram esta ideia na cabeça, por tanta gente pensar deste modo que as relações não duram.

Querem Romeu e Julieta? Lembrem-se do vosso primeiro namoro na adolescência. Como a certa altura quiseram fugir com ele porque os pais não vos deixavam estar juntos sempre que queriam. Se se tivessem suicidado, teriam conseguido um amor para sempre. Assim é fácil.

Uma coisa é a paixão, que nos causa marcas emocionais e físicas. E que só durará para sempre se se interromper abruptamente (qualquer que seja a causa) e nunca for devidamente terminada ou vivida numa relação conjugal. É a paixão que nos faz estar a caminho do outro e a sentir uma inquietação na área genital, pulmonar e cardíaca. Em que basta um olhar, aquele olhar, e já se sente um orgasmo latente.
Que nos dá vontade de lhe espetar um tabefe de tanta vontade que se tem em possuí-lo. Em que não se consegue conter e é preciso morder, arranhar, agarrar, prender contra a parede, puxar/agarrar cabelos, lamber partes do corpo... Sem limites, porque tudo naquela pessoa tem de ser nosso e tudo em nós tem de ser, urgente e imperativamente, possuído pelo outro.
A paixão é objectificação (nossa e do outro), com a finalidade de obter prazer e supressão de necessidades sexuais.

Já o amor é querer cuidar. Claro que também envolve paixão, simplesmente ela não está lá permanentemente. Aparece de vez em quando para dizer "olá". Mas o prazer físico deixa de ser o objectivo principal.
O que passa a ser fundamental e prioritário é que o outro esteja bem, feliz, cuidado, nutrido. É providenciar a respostas às suas necessidades e ficarmos felizes e satisfeitos com isso.
É não se importar de limpar vómito, ouvir movimentos intestinais, fazer canjas de galinha. Ir à farmácia e ficar na fila atrás de 30 velhos que gostam de ir à farmácia ao final do dia para ver pessoas.
É passar por coisas chatas, feias e nojentas, não por se esperar retorno sexual (ou de qualquer outro tipo), mas por se querer genuinamente que o outro esteja feliz. Implica espírito de sacrifício.
É ficar-se de pijama, sem tomar banho, sem pentear, a fazer maratonas de filmes/séries, sem cozinhar e encomendar-se pizzas ou qualquer outra coisa nada sexy.
É deitarmo-nos ao lado de uma pessoa que quando nos toca dizemos "chega para lá estás muito quente/frio", dormirmos melhor se não estiverem lá, mas a meio da noite, enquanto dormem fazer-lhes uma festinha porque queremos que lá estejam.
É ouvir a respiração ou a forma como comem e sentirmo-nos extremamente irritados, mas até aguentar isso. É irritar o outro de propósito, só porque sim. É conhecer limites, é provocar sempre respeitando.
É pensar que é com aquela pessoa que se tem de comentar o que acabou de se ver/ouvir. É ter uma linguagem própria, olhares aliados a telepatia, piadas apenas entre os dois (que quando se tenta repetir noutro contexto nos faz parecer anormais). 
É isto e muito mais, mas sempre a querer que o outro esteja bem. Isso acima de tudo.
O amor não é lindo, não é fácil. É o que é.
Torna-se lindo por querermos suportar coisas que não gostamos no outro porque é ele que amamos e que queremos com todos os defeitos irritantes. É querer e fazer tudo o que está ao nosso alcance para que ele seja feliz.

Amor é altruísta. É sobre o outro. É querer dar.


Escrito a 20.08.2015

Os amigos são, também, para as ocasiões

MEC, escreves bem, mas não me convences...

Pois se "A amizade é um gosto egoísta(...)" e "puro prazer", como raio é que "O porquê, o onde e o quando não interessam"? Não há relação alguma que não tenhamos por necessidade ou interesse, seja ela ou ele qual for. Desde uma necessidade de afecto a interesse material ou de conveniência.
A vida é assim e não me venham com balelas de se ser 100% genuinamente simpático e educado a todo e qualquer momento, sem que haja algum interesse por trás. Por exemplo, sou sempre simpática e educada para quem está atrás do balcão. Mesmo que essa pessoa seja uma besta. Isto porque tenho um interesse, bem real, de que não me cuspa para a comida.

Os amigos são para as ocasiões.
Para todas elas. As boas, as más, as chatas, as de anhanço puro. Não é que se dê à espera de receber, mas qualquer relação implica entrega. De ambas as partes e não de apenas uma. Para mim a amizade é um acto de entrega. Logo, podemos retirá-la quando nos sentimos defraudados. Quando nos damos a quem depois não nos dá (quer precisemos, quer não), quando nos desiludem, quando percebemos que estamos sempre lá para a pessoa e que ela nunca está porque tem programas mais interessantes. Como ainda há 2 dias me disseram "desculpa, mas não deu para ir jantar e sair contigo porque tive de ir aos correios"...

Diz o MEC que "A glória da amizade é ser apenas presente.". Há amigos que nunca estão, mesmo podendo. Fazem uma escolha consciente de não estar.
"Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito.": há maus amigos! Aqueles que nos falham quando precisamos deles. Aqueles que nos pedem, mas nunca dão. Aqueles que só querem dar 10, mas que pedem 100 de nós. Até posso continuar a gostar da pessoa, mas tenho a escolha de me afastar, de não querer estar mais com ela.

"A amizade é puro prazer." Se a pessoa, supostamente amiga, não me dá prazer, é amiga sequer?
Porque amizades assim deixam de ser prazerosas. Sugam-nos a energia, mas não nos ajudam a repô-la.


Escrito a 13.07.2015

Inspirado por "Os Amigos Nunca São para as Ocasiões", de Miguel Esteves Cardoso

São 20 anos

Oiço o telefone de casa tocar. Imagino a mão morena da minha mãe a levantar o auscultador.
Como adorava as mãos da minha mãe quando era miúda. O cheiro e a frescura das suas mãos, como me acalmavam. O cheiro era uma mistura de creme e tabaco. SG ventil, se a memória não me falha, que tantas vezes lhe fui comprar e, da ultima vez, custava 140$00 (0,70€). Era um cheiro bom, um cheiro quente e confortante que tão bem contrastava com a temperatura fria. Se não estivessem frias não as queria. Se estivessem, então entrelaçava a minha mão na da minha mãe e ela nesse momento sabia: estava na hora de me deitar.

Nunca mais dei a mão a ninguém. Mesmo que tenha agarrado em mais mãos. As minhas, nunca mais as dei.

Está escuro. Que horas são? Levanto-me e caminho cuidadosa e discretamente, sem fazer barulho. Descalça, como sempre, que não consigo estar calçada dentro de casa.
A minha mãe está a chorar. Porque choras, mãe? Travo a minha memória! Não continues...

Vejo a minha mãe chorar e vou-me aproximando devagar. Pára, já disse!

"Mãe?... O que foi?" Um nó na garganta. Os olhos, arregalados, fixam-se num ponto aleatório.
- Não... Não... Não... Não.

Os dentes estão de tal modo cerrados que faz doer os maxilares.
- Não continues. Pára!

Lágrimas a acumulam-se, prontas para rolar. Os dedos pressionam os lábios, um contra o outro.
- Por favor, por favor, por favor... Não podes voltar lá. Não te lembres. Não revivas. Não vais começar com isto outra vez, pois não? Todos os anos é isto. Todos os anos te deixas afundar. Todos os anos deixas a depressão voltar. Todos os anos.

- São 20 este ano.
- Pára!

- Teria 43 se...
- Não continues! Não faças isto. Por favor, pára... Eu não me quero lembrar. Eu não sei se tenho forças para lembrar.

- Mas se não te lembrares, o que é que tens?
- Nada.
- Se não sentires a tua dor, o que é que sentes?
- Não sei.
- Se não desabafas contigo, com quem desabafas?
- Ninguém.

Escrito a 15.12.2014

Máscaras

No meu mural [do facebook] todos são dignos de inveja e todos são invejados. E todos são espiados por amigos de quem não gostam. E todos querem mostrar que são melhores do que os outros. Mais humildes, mais generosos, mais altruístas, mais beneméritos. Todos se querem comparar com todos.
Acabam por tirar os olhos do mais importante: eles mesmos.

Há dias em que estou em baixo, há dias em que estou em altas. Há dias em que estou felicíssima, há dias em que a depressão me sufoca. Achar-me bonita ou feia depende do humor que carrego, tal como me sentir com mais ou menos pesada. Há dias em que não suporto o meu trabalho, outros há em que me sinto esperançosa. Não preciso de títulos, nem de "status".

Como se mede o sucesso profissional? Pelo dinheiro? Pela felicidade? Pelo tempo que nos consome e como o consome? E quem mede esse sucesso? Nós? Os outros? E quais outros? O marido? Os filhos? Os pais? Os amigos? O patrão? O colega? Os estranhos?

Foi, e continua a ser, o meu grande investimento pessoal, não necessitar da validação dos outros.
Não busco a aprovação de terceiros. Não tenho a necessidade de aceitação. Não procuro ouvir o que quero ouvir.
Não quero integrar-me por ser igual aos outros, nem por ser diferente.
Não quero que me invejem, não quero que tenham pena de mim.
Não quero ser como ninguém, não quero que me imitem.
Não quero que esperem de mim, não quero que esperem por mim.
Eu quero ser Eu sem parar para pensar no que querem de mim, no que vêem em mim.

Quando uma pessoa é o que é (quando expõe o que é perante os outros, principalmente o seu lado mais negro, mais egoísta, mais pretensioso, mais "defeituoso"), a recompensa é ser aceite sem que lhe seja pedido algo em troca. E é aí que sente que é aceite, que pertence. Quando não o busca.


Escrito a 09.12.2014

Humores. Há dias assim...

Não sentir tristeza, não sentir frieza. Não sentir egoísmo, não sentir fanatismo, 
Não sentir excitação, gratificação, decepção, frustração.
Não sentir prazer, não sentir angústia. Não sentir felicidade, não sentir vaidade.
Não sentir deslumbramento, desapontamento, arrependimento, sofrimento.
Não sentir confusão, não sentir preocupação. Não sentir agressividade, não sentir piedade.
Não sentir empatia, nostalgia, melancolia, disforia, apatia.
Não sentir alegria, não sentir antipatia. 
Não sentir impaciência, condescendência, benevolência.
Não sentir curiosidade, não sentir ansiedade. Não sentir constrangimento, não sentir ressentimento.
Não sentir amor, dor, mau-humor, torpor.
Não sentir.

Apetece-me adormecer, ficar dormente. Tomar algo e deixar-me ir. Ignorar o que me rodeia. Deixar de dar importância ao que quer que seja.

Porque, no final do dia, o que é que importa? O que é que ME importa? O que EU importo?
O que estou para aqui a fazer? Passo o dia fechada num escritório porque tenho de ganhar dinheiro. Para quê? Para gastar em escolhas que não tenho? Para consumir o que assumo automaticamente, irreflectidamente, que tenho de consumir? Porque alguém me fez acreditar que tinha necessidade?
Porque tenho de ter um trabalho? Para pagar uma casa, conta da luz, conta da água, conta do gás, televisão, internet, telemóvel, tablet, computador. Para uma casa onde chego cansada, no final do dia, e continua a minha correria? Arrumar, cozinhar e enfardar se ainda quero ter alguma actividade que me dê uns minutos de prazer e me faça abstrair do que não quero saber, das responsabilidades que não quero ter, das escolhas que não quero fazer. Que me são impostas se quero ser uma "adulta", "responsável" e "produtiva". Responsável por quem? Produtiva para quem? Por mim e para mim não é certamente, senão apenas agiria sob impulsos em busca do prazer.
Viver em sociedade, viver com regras que uns criaram para outros. Viver com horários que uns criaram para outros. Ter a minha vida gerida por quem não me conhece, por quem não me respeita, por quem não me vê como pessoa, mas como um número.

E eu? Onde estou eu no final disto tudo? Não quero pensar. Quero enlouquecer. Quero não sentir.
Quero viajar para longe daqui. Quero perder a sanidade mental e perder-me em mundos só meus. Onde só eu importo. Onde não tenho de ter receio de ofender alguém por fazer o que quero, quando quero, porque quero. Porque me dá prazer. Quero poder dizer, fazer, querer. Quero poder ir, partir. Sem dar satisfações. Sem causar preocupações.

Quero poder mandar à merda, quero poder virar costas, quero poder mostrar o dedo do meio, quero poder rir na cara. Quero ser Eu. Não quero ser quem os outros querem que Eu seja. Caso contrário, o que estou Eu a ser? Como posso Eu definir-me? Não quero caracterizar-me pelo que faço, mas pelo que sou.

Quero saber quem Eu sou. Quero encontrar o que procuro. Quero encontrar-Me.
E se não puder, quero intoxicar-me. Quero afogar-me. Quero libertar-me.

Escrito a 02.12.2014

Empurrem-me!

Estou sempre a lamentar-me de como alguns aspectos da minha vida não me satisfazem e não me fazem sentir realizada ou a utilizar todo o meu potencial. Principalmente a nível profissional. Falo, grito, esperneio, quase que arranco cabelos.

Mas a verdade é: Não faço a ponta para a mudar.
Porquê? Estou confortável? Não... Será que é porque não sei o que fazer? Sim.

Gosto de tantas coisas e gostava de fazer tanta coisa diferente que tudo fica disperso e perdido. Funciono à base da obsessão. Se há um tema que me interesse fico completamente absorta no mesmo e vivo-o e respiro-o. Mas tem uma limitada duração temporal. Vivo-o tão intensamente que o esgoto e me canso. Quanto tempo se pode explorar exaustivamente qualquer coisa que seja?
Esgoto-o e volto à monotonia. Volto à monotonia e morro do tédio.

Gosto de trabalho que tenho? Não, nem por isso. Podia ser pior? Bem, tudo podia ser pior do que é. Podia ficar sem um braço ou uma perna.
Quero mudar? Preciso de mudar antes que enlouqueça! Consigo mudar? Não sei... Tenho essa força de vontade? Não sei... Porquê? Não faço ideia e isso enerva-me!
Sei o que procuraria fazer se ficasse desempregada? Sei! Sei o que me faria feliz? Sei! É só uma coisa? Não... São conciliáveis? Sim.
Sei o que preciso para dar o passo e iniciar o que me daria prazer? De uma das coisas sim, da outra não. Acho que seria bem sucedida? Não sei. Acho que tenho capacidade para o que quero fazer? Tenho a certeza!
Então porque não o faço? Não sei. Tenho medo? Provavelmente. Sou capaz de me despedir? Não. Porquê? Não faço ideia. Ficar sem emprego seria uma coisa positiva neste momento? Sim. Porquê? Porque me obrigaria a deitar mãos à obra. Sinto-me capaz para "pegar o touro pelos corno" e fazer-me à vida? Não. Porquê? Porque ainda não atingi o meu limite.

Parece que tenho de atingir pontos de ruptura para ser activa. E isso irrita-me. Eu irrito-me a mim mesma por ter esperar que chegue o momento em que ou ajo ou perco a sanidade mental para decidir o que fazer da minha vida. Ela está em piloto automático e eu não gosto disso. Eu é que devo ter o controlo do que acontece no meu percurso, devo ser capaz de fazer escolhas todos os dias para me melhorar e melhorar o que me rodeia.
Mas quando penso em escolher um caminho por onde começar não consigo. São várias as coisas que gostava de fazer e de me atirar de cabeça, não consigo escolher apenas uma.


Parece que preciso de alguém para me acompanhar nas minhas aventuras "empreendedoras". E eu não quero ser "empreendedora", eu quero apenas fazer algo que me ocupe a mente e me faça chegar ao final do dia extenuada, feliz e com a sensação de que sou útil, produtiva, de que estou a explorar todo o meu potencial.

Escrito a 01.12.2014