sábado, 22 de junho de 2019

O Meu Segredo III







Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário.


A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.
Serão publicados semanalmente, de preferência ao sábado, e, a não ser que me enviem com um design à vossa escolha, o formato será o que hoje vos apresento.

Tirando alguns casos em que quem os escreve se identifica, não tenho forma de saber qual o enquadramento temporal ou veracidade dos segredos. De qualquer modo, assumirei sempre que são verdadeiros e representam uma situação actual, mais não seja porque, mesmo que não sejam para quem os partilhe, poderão ser para quem os lê.

Deixo o apelo: se se sentirem assoberbados, desesperados, perdidos, o que for, procurem ajuda. Para vós ou para quem percebam que possa estar a passar por algo semelhante.

Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados e serão sempre apagados.


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quinta-feira, 20 de junho de 2019

Birras: estratégias para as evitar

De todas as etapas por que a Carminho passou desde que nasceu esta foi a que me fez quebrar e perder o controlo. A amamentação foi difícil, mas superei-a e tornei-me numa pro; as noites foram domadas e desde cedo que as dormiu por inteiro; a introdução da alimentação complementar foi tranquila e divertida. Tudo isto, mais ou menos difícil, mas feito com relativa tranquilidade.
Mas as birras? Não sei... É algo que profundamente irritada. Nem sei explicar. Já lá vamos. Primeiro vou falar um pouco sobre as birras e estratégias para as evitar ou lidar com elas.


Ilustração por Elizabeth McNair - Fonte

Sobre as birras
Tal como quando são bebés de meses e é possível evitar que chorem por fome, por sono ou qualquer outra necessidade, também é possível evitar birras. E, tal como nas outras situações, a forma de as evitar é estarmos atentos e agir antes que se instalem.

Quando a Carminho começou com as birras, rapidamente me apercebi que a medição de forças não nos leva a lado nenhum. Em momento de birra instalada, não vale a pena contrariar a criança porque só estaremos a alimentar a vontade de se demonstrar independente.

Quero dizer com isso que temos de dizer que "sim" a tudo ou que não devemos dizer "não"?
Não. Quero dizer que as crianças são criaturas independentes, com vontade própria, que estão a aprender e a testar os limites (de si, dos pais e do mundo que as rodeia), que gostam e precisam de compreender o que se passa (e para isso temos de lhes explicar) e que gostam e precisam de conhecer o mundo e todas as leis que o constituem (sejam sociais, da física ou outras).

Sim, as crianças devem (e precisam!) de aprender a lidar com a frustração, mas não é preciso fazer de propósito para que o aprendam e, nós adultos, nem reparamos quantas vezes ao longo de um dia elas são confrontadas com o não ter escolha, com a imposição de mil e uma coisas, como o serem tocadas, lavadas, transportadas, alimentadas, vestidas, etc. São mesmo dezenas de situações ao longo do dia em que sujeitamos as crianças a isso e nem reparamos pois são coisas que têm de ser feitas e nós temos horários para cumprir, sítios para ir e temos que nos despachar.

Proponho-vos um exercício: enquanto adultos como lidariam se alguém vos tratasse como tratamos as crianças? Se vos impusessem roupas, passeios, comida, banhos, etc., sem vos explicar? Se vos interrompessem, sem aviso nem explicação, para vos impor algo, mesmo que esse algo seja importante para o vosso bem-estar? 
Provavelmente começariam por resistir, por se afastar da pessoa (imaginem então se fosse um gigante!), por querer ganhar algum controlo da situação, por querer perceber o que se passa antes de dar o vosso consentimento.
As crianças não são diferentes nesse aspecto, com a característica de ainda estarem a aprender o que as rodeia, que são independentes. E qual é a palavra mais poderosa de todas? Aquela que nos faz ter o controlo, que tem o poder de nos proteger numa interacção com os outros? O "não"!
Se a criança consente algo, mal ligamos porque é o que queremos que seja suposto que faça. Mas se uma criança nos responde com um "não", vamos reagir muito mais. Seja a rir, seja com choque, seja de que maneira for. Isto torna o "não" numa palavra apetitosa e com muito poder. Poder da criança sobre ela (e ainda bem!) e poder sobre a reacção do outro.
O problema acontece quando se torna numa medição de forças: a criança diz "não", mas nós queremos que "sim", e quanto mais ela diz "não", mais nós dizemos "sim" e a coisa vai escalando porque ela já não nos vai dar o "sim".


Ilustração por Luke Pearson - Fonte

Estratégias para evitar as birras
1. Escolher as nossas "batalhas"
É algo que faço muitas vezes: avaliar a situação e perguntar a mim mesma "porque é que a Carminho não pode fazer aquilo? Quais são as consequências de fazer o que está a fazer?"
Na maior parte das vezes, são experiências em forma de disparates inofensivos e cuja maior consequência é uma varridela rápida ou uma muda de roupa. Poucas vezes são algo de uma dimensão que exija uma interrupção do comportamento. Ou então são coisas que ela pode fazer, desde que cumpra algumas regras: como por exemplo, pode espreitar pela janela enquanto eu estendo a roupa ou a tiro do estendal, desde que não se empoleire na janela e mantenha os pés bem assentes no seu banquinho.

2. Distrair
Estão no parque, a criança está a brincar com algo emprestado e o dono do brinquedo vai embora ou estão a sentá-los na cadeirinha do carro e eles não querem apertar o cinto. Já se adivinha drama, não é? Para além de explicar à criança porque é que tem de devolver o brinquedo ou porque é importante apertar o cinto, tentem distraí-la com outro brinquedo ou actividade.

3. Não fazer perguntas, ou seja, evitar a possibilidade de responderem "não".
O "não" é das palavras preferidas das crianças e não é por acaso que é das primeiras que muitas aprendem a dizer. Por isso, se fizermos uma pergunta de resposta em formato "sim/não", há uma grande probabilidade de que a resposta seja "não".
Por isso, o que faço (ou tento fazer, já que ainda me estou a treinar) é informar em vez de perguntar. "vamos mudar a fralda", "vamos vestir", etc. Quando há resistência (e mesmo sem perguntar há muitas vezes) ajuda explicar porque temos de o fazer. "Temos de mudar a fralda antes de sair".

4. Evitar dizer "não"
Às vezes o "não" não é um "não", mas um "não agora, mas a seguir já podes".
Por exemplo, a Carminho quer ir à rua, mas tem de mudar a fralda antes. Ela começa a pedir "rua! rua! rua!" e a recusar mudar a fralda. Em vez de dizer "não podes ir já à rua, temos de mudar a fralda antes" digo "vamos à rua, mas primeiro temos de mudar a fralda". Se começarmos pelo "não", é a única coisa que vão ouvir e começa a medição de forças. Vamos negociar, vamos dizer que pode fazer o que quer (porque pode!), tem é de fazer uma coisa antes.
Isto até permite que aprendam a esperar. A Carminho já aceita coisas para "amanhã" ou para "quando chegarmos a casa". Percebe que naquele momento não pode, mas que depois vai conseguir. Para isto resultar temos é de cumprir. Eles compreendem o que dizemos, mesmo que não o saibam dizer, pelo que não podemos dizer "quando chegarmos" apenas para distrair e depois falhar. Vamos deixar os incumprimentos para quando há algum imprevisto e tem mesmo de ser. E mesmo nesses momentos explicamos.

5. Como dizer "não"
Sim, há momentos em que "não" é a resposta. A Carminho gosta de me ajudar a tirar a loiça da máquina e às vezes vai lançada para as facas. Como podem adivinhar, a minha reacção não é de negociar. Não há negociação possível para uma criança de dois anos que quer brincar com facas. Nessas situações é sempre ter calma, dizer "Carminho, dá a faca à mãe. Não se pode brincar com facas. As facas são perigosas e fazem dói-dói.".
Parecendo que não, explicar, calmamente, às crianças o que se passa ajuda muito a que o aceitem.

6. Pedir um abraço
Esta é linda e maravilhosa.
Funciona bem quando a birra se começa a instalar e a criança já faz aqueles sons/choro de irritação e impaciência. Antes que escale, um "Carminho, dás-me um abraço?" serve como uma pergunta que surpreende naquele momento e o abraço apertadinho, com festinhas e beijinhos ajuda a fazer "reset".

Claro que se a criança recusar, não devemos andar atrás dela, com ela a tentar afastar-nos e nós a querermos tocar nela. Se a criança nos afasta devemos respeitar o seu espaço, o seu tempo e o seu corpo e, nessa situação, ou tentamos outra estratégia ou nos sentamos a assistir à birra.

Ilustração por Brooke Smart - Fonte

Lidar com as birras
A realidade é que nem sempre conseguimos evitar as birras. Seja porque estamos distraídos, seja porque estamos cansados, seja porque já passou a hora de ir para a cama e estão exaustos e a birra é a forma de comunicar... seja pelo que for, há birras que não evitamos e temos de lidar com elas.
Estarmos calmos (mesmo que nos obriguemos a tal) é fundamental para conseguirmos acalmar a criança. Entrar numa medição de forças não ajuda, antes pelo contrário, só aumenta a intensidade da birra.
Quando a birra está instalada, mas ainda não chegou ao descontrolo, às vezes pegar na criança e abraçá-la com alguma firmeza pode ajudar. Simplesmente, pegar nela e dar um abraço apertado e securizante. Novamente, se a criança recusar, temos de respeitar. Insistir ou agarrá-la enquanto esperneia para se livrar de nós, não vai ajudar à birra.
A única situação em que isto é aceitável é se precisarmos de a retirar de um lugar onde esteja em perigo. Não sei se já passaram pela temível "birra na passadeira". É es.pec.ta.cu.lar. Está tudo bem e  decidem que a passadeira é o melhor palco do mundo. Aliás, devem achar que aquela quantidade de carros está parada, numa avenida super movimentada e à hora de ponta, para assistir à sua performance. De repente, vemos que o sinal passou a vermelho para os peões, imploramos à criança para que avance e saia do meio da estrada. "Não!", "É perigoso, temos de ir", "Não". Decidimos pegar nela e faz aquela cena fabulosa, de levantar os braços, ficar mole, peso morto. Nesse momento o corpo escorrega-nos por entre as mãos ao som de um choro agudo "nããããããooooo". Bem... aí é pegar na criança como for possível, rezando para não provocar quaisquer luxações e fugimos para a passadeira enquanto nos questionamos como é que eles conseguem fazer aquilo com o corpo.

Quando não conseguimos evitar, interromper ou acalmar a birra, pode acontecer escalar tanto que, naquele momento, a criança já não está a ouvir, não quer ouvir, não consegue ouvir, e já precisa é de gritar, chorar, espernear e deitar tudo cá para fora. É deixar-nos estar presentes, mostrando-nos tranquilos e disponíveis, dando-lhe espaço. Aos poucos podemo-nos ir aproximando, colocando-nos à altura dela, falando num tom apaziguador, sem esperar que nos responda, dizendo que está tudo bem, que estamos ali, que queremos ouvir.
Nestas situações temos mesmo de estar disponíveis, não podemos ter pressa em acabar com aquilo. Temos de ter calma e ser a calma que as crianças precisam.

Autor desconhecido - Fonte

O dia em que falhei miseravelmente
Há quem diga que não existem mães perfeitas. Eu digo que sim!
Tirando algumas excepções que serão caso para a CPCJ, todas as mães são a mãe perfeita para os seus filhos. Na nossa imperfeição, com todos os nossos defeitos e feitios, somos a mãe ideal para os nossos rebentos.
Eles não querem outra. É à volta do nosso pescoço que eles querem abraçar. É no nosso cabelo que querem enrolar os dedos quando começam a ficar com sono. É no nosso colo que se querem aninhar. Não nos trocariam por nenhuma outra mãe. Nós somos a mãe perfeita!

Mesmo assim, há dias em que falhamos e, na semana passada, houve uma noite em que me deitei lavada em lágrimas. Falho muitas vezes e falharei muitas mais, mas naquele dia deitei-me com a sensação de que era má mãe, de que tinha falhado em absoluto no papel mais importante que assumi até hoje: o papel de cuidar, amar, nutrir física e emocionalmente, e no de ser um porto de abrigo para a minha filha.

Há birras e birras e, se calhar, o problema foi eu estar num momento menos bom quando esta se deu.
Eu não soube ter a calma suficiente para a acalmar. A Carminho gritou, eu gritei. Começou a acalmar e pediu mama antes de deitar. Foi para a mama. A certa altura começou a enrolar os dedos no cabelo e a puxá-lo. Pedi para parar. Continuou, magoou-me e eu reagi dando-lhe uma palmada na mão. Ela nem ligou e deu-me outro puxão de cabelo. Aí, não sei que tom de voz usei. Sei que não gritei, mas algo no meu tom mudou porque largou a mama e começou a chamar pelo pai. E foi ele que a deitou.

Senti-me na merda. Senti que assustei a minha filha, que ela teve medo de mim. Eu sou a adulta. Eu é que tenho o dever e as competências para me saber acalmar e acalmá-la. Eu tenho de saber tranquilizar-me, afastar-me e proteger a minha filha.
A Carminho só tem dois anos. Eu é que permiti que a coisa escalasse. Eu é que não soube evitar que a situação agravasse. Eu é que não soube acalmar, ser um ponto de abrigo.
Senti que a minha filha teve medo de mim e isso foi devastador.

Mas há dias assim. Dias em que aprendemos lições dolorosas e valiosas sobre nós. Sobre os nossos fantasmas, sobre os nossos limites.
Lição aprendida! Não quero, nunca mais!, que a minha filha reaja assim a algo que eu faça ou diga. Não quero nunca mais que ela se sinta assim, nem quero eu voltar a sentir aquilo.


Ilustração por Natalie Matthews-Ramo - Fonte

sábado, 15 de junho de 2019

Resumo da Semana - 10.Jun.2019

Esta semana foi franquinha em publicações, mas aqui ficam:


Quinta-feira, 13.Junho
Li pelas redes sociais muitas mães a falarem sobre partos, como tinham corrido melhor ou pior e lembrei-me de vos perguntar sobre isso. Podem ler e comentar no instagram ou na publicação do FB.




No fim de semana anterior, fomos passar o fim de semana a Santa Cruz. Aproveitámos para ver como se adaptaria a Carminho a uma cama de "crescida", naquele caso até era uma cama de casal. 
Correu tão bem que, quando regressámos, mudámo-la da cama de grades para uma cama de crianças.
Está a ser uma aventura. Não sei se coincidiu com qualquer fase do desenvolvimento ou se é por se sentir mais livre, mas tem tido altos e baixos. Ontem foi uma noite terrível, acho que nunca teve um meltdown tão grande, e deixámo-nos arrastar por isso. Acho que para a semana escrevo sobre isso.






Sábado, 15.Junho
Sábado é dia de segredo. Apesar de ter aberto a rubrica a todo e qualquer segredo, continuam a ser sobre parentalidade (ainda tinha vários por publicar).


O Meu Segredo II







Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário.


A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.
Serão publicados semanalmente, de preferência ao sábado, e, a não ser que me enviem com um design à vossa escolha, o formato será o que hoje vos apresento.

Tirando alguns casos em que quem os escreve se identifica, não tenho forma de saber qual o enquadramento temporal ou veracidade dos segredos. De qualquer modo, assumirei sempre que são verdadeiros e representam uma situação actual, mais não seja porque, mesmo que não sejam para quem os partilhe, poderão ser para quem os lê.

Deixo o apelo: se se sentirem assoberbados, desesperados, perdidos, o que for, procurem ajuda. Para vós ou para quem percebam que possa estar a passar por algo semelhante.

Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados e serão sempre apagados.


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sábado, 8 de junho de 2019

O Meu Segredo

Aqui há uns tempos disse-vos que os segredos regressariam.
Porque a vida não é só filhos, o meu objectivo agora é que deixem de ser apenas relativos a parentalidade. Podem ser sobre o que quiserem ou precisarem de deitar cá para fora. Os próximos ainda têm a ver com parentalidade.








Podem enviar o vosso segredo através de e-mail (ameninadajoaoxxi@gmail.com) ou do formulário.


A ideia é partilhar segredos que me enviam e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu possa servir de alerta para outros.
Serão publicados semanalmente, de preferência ao sábado, e, a não ser que me enviem com um design à vossa escolha, o formato será o que hoje vos apresento.

Tirando alguns casos em que quem os escreve se identifica, não tenho forma de saber qual o enquadramento temporal ou veracidade dos segredos. De qualquer modo, assumirei sempre que são verdadeiros e representam uma situação actual, mais não seja porque, mesmo que não sejam para quem os partilhe, poderão ser para quem os lê.

Deixo o apelo: se se sentirem assoberbados, desesperados, perdidos, o que for, procurem ajuda. Para vós ou para quem percebam que possa estar a passar por algo semelhante.

Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados e serão sempre apagados.


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