quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Amamentar: Sonho ou Pesadelo? - Parte 3/3



Triagem da MAC. Segunda volta.
"Estou com uma mastite, com abscesso", "Tem dores?", "Nem por isso.", "Tem febre?", "Não, mas eu nunca tenho febre. Além do mais, já vim cá ontem, foi confirmada a mastite, mas entretanto fui a uma consulta com uma médica especialista e estou com um abscesso". Desta vez observaram-me as mamas, pelo menos isso.
Sou chamada para a consulta. "Então, diz que tem uma mastite? Com abscesso?", "Sim. Fui vista por uma colega vossa, especialista em lactação, que vos escreveu uma carta.". Lêem a carta, observam-me e optam por chamar o especialista. Enquanto uma das médicas foi chamá-lo, a outra confessou-me "Quando entrou aqui a dizer que tinha uma mastite não acreditei. Pela sua cara, nunca imaginei que estivesse nesse estado. Achei mesmo que estava a exagerar. É uma estóica!".
Disseram-me que, no estado em que estava era suposto estar a chorar baba e ranho e a contorcer-me de dores. "De zero a 10, quanta dor sente?", "Bem... Não é bem dor. É mais desconforto.". Olham uma para a outra, em espanto e lá confirmamos, novamente, minha anormal tolerância à dor. Que, se por um lado é bom porque não sofro tanto, por outro acabamos todos (eu e profissionais de saúde) a desvalorizar sintomas. Se eu não tivesse a sorte de ser tão bem acompanhada, de estar sempre atenta e de ser informada, nem quero imaginar o que me poderia ter acontecido. Uma mastite é algo que se pode tornar extremamente grave se não for tratada o mais rapidamente possível, e é algo que se for apanhado precocemente é de muito fácil resolução.
Começam a explicar-me o procedimento habitual: davam-me anestesia geral, cortavam a mama para drenar e limpar, colocavam um dreno e durante uns dias não podia dar mama.

Deixam-me sozinha no gabinete e chorei. Chorei a pensar que me iam cortar, chorei a pensar que durante uns dias não podia dar daquela mama, chorei a pensar que iam ser dores horríveis, chorei a pensar que ia ficar com a mama marcada para sempre, chorei de medo da anestesia geral (a epidural já tinha corrido mal). Chorei com pena de mim mesma e com raiva, "Porque é que tudo me acontece?".
Entra o especialista, o Dr. Pedro Sereno, olha para mim e diz "grande mama!". Observou-me e deu-me duas opções: cirurgia (que implicava ficar internada umas horas e como tinha comido há pouco tempo ainda teria de esperar mais umas quantas) ou aspiração simples (o abscesso era pequeno, por isso dava para espetar uma seringa e aspirar o pus). Optei pela aspiração. Não só porque me lembrei do que a Dra. Mónica Pina me disse, como sou apologista de se tentar sempre o procedimento mais simples possível. Se piorasse, logo se via o que era necessário fazer.
A aspiração doeu um bocado, não vou mentir. Não tanto o espetar da seringa, mas quando me espremeram a mama para que saísse o pus todo. 20 ml de pus! Uma seringa cheia! Deixou-me o aviso "se piorar volte logo às urgências, caso contrário venha ter comigo na segunda feira de manhã".
Durante uns dias, de vez em quando começava a escorrer pus e lá ia eu buscar compressas e espremer a mama. Carradas de compressas com pus. Duas semanas, duas consultas e mais uma aspiração depois e eu estava como nova.



E... quando tudo parecia estar a correr bem, adivinhem!
Olho-me ao espelho e, uma semana depois, o outro lado da mesma mama estava vermelho e a pega voltou a doer horrores. Entrei em pânico.
Nova mastite? A sério? Quando é que teria descanso? Estava a ser acompanhada, a fazer tudo bem, tudo certinho e tinha de haver tanta coisa? "És de uma família de médicos e enfermeiros, é a nossa sina!", dizia-me a minha tia.
Desta vez ataquei logo, meti a Carminho a trabalhar (mama de 2 em 2horas, enquanto eu massajava), frio na mama depois de cada mamada (almofadas de gel e folhas de couve) e anti-inflamatório. Em 2 ou 3 dias parecia estar tudo bem. Decidi voltar à consulta do Dr. Pedro Sereno, por descargo de consciência, que me confirmou já não haver sinal de mastite - tinha-a atacado a tempo e bem.

Depois de ter resolvido mastites e tudo o resto, a Carminho já mamava de 3h em 3h e as dores eram cada vez menores. Como só ia a uma mama de cada vez, dava tempo aos meus pobres mamilos para recuperarem. Entretanto, vieram as primeiras vacinas e com ela uma crise de "mimo" que me levou a dar mama de 2h em 2h horas. E voltaram as dores! Com as dores que sentia, chegou a um ponto em que concluímos que ela só poderia mamar em intervalos de 2h30/3h00, numa mama de cada vez. Ela quando ia à mama sem fome, brincava com o mamilo ou lá o que fazia e dava cabo dele. Tinha de aguentar, não podia ser em livre demanda. Só podia mamar quando tinha fome, não lhe podia dar mama por mimo. Os intervalos de 3h00 resultavam, por isso tínhamos de voltar a eles. E se chorasse entretanto? Teria de aguentar ao colo (de preferência do pai, para não ser um tormento estar ao colo da mãe e não ir à mama).

Livre demanda? Não deu para mim. Ou melhor, não deu quando a Carminho queria mama com mais frequência. Actualmente, conseguimos. Ela nem pede maminha para se saciar, chega à hora da rotina e toma lá! Com intervalos de 4h00 e noites longas, tenho mais do que tempo para recuperar e consigo dar mama se, por algum motivo, ela precisar de uma mamada extra (como é o caso de ir levar vacinas) ou se fizer um intervalo menor. Assim, consigo tranquilizá-la na maminha.
Mesmo agora, com 5 meses, ainda não pega bem. Safo-me porque cresceu e tem a boca maior, senão o meu horror continuava. Já praticamente desisti de tentar que pegue bem. O problema dela é o posicionamento dos lábios e, de vez em quando, lá estou eu a ajeitá-los.

Se eu tenho uma anormal tolerância à dor e custou o que custou, nem quero imaginar pelo que outras mães passam. Aliás, acho que é graças a essa tolerância que, apesar de tudo, continuo a dar mama. Acho, não! Tenho a certeza.
A cada contratempo pensava "Só mais uma semana. Se não melhorar posso desistir, mas tenho de tentar mais uma semana". E de semana a semana, chegámos aos 5 meses de amamentação exclusiva. 5 meses em que a minha filha não sabe o que é outra coisa senão leite e mama da mãe. Foi o truque que usei para não desistir, para ir aguentando - "Só mais uma semana".


Continuo defensora da amamentação e da amamentação em livre demanda, e acho que as mães devem fazer um esforço para aguentar o máximo que conseguirem, para ver se melhora. É importante, muito importante. Às vezes a dor passa rápido, apenas são precisos uns dias para que os mamilos se habituem. Também é normal doer no momento em que eles pegam na mama e depois já não doer. Outras vezes o problema é o bebé pegar mal, mas há exercícios que se podem fazer e eles lá aprendem. Quando acharem que é muito difícil, respirem fundo e estabeleçam limites, sejam esses limites mais um dia, mais uma semana ou mais um mês.
E não, não há leite mau. Não há leite fraco. Os bebés é que passam por muitas fases, nas quais pedem mais mama. Quando vão passar por picos de crescimento, começam a ir mais vezes à mama e/ou a mamar mais tempo, para sinalizar ao corpo da mãe que será preciso produzir mais leite. Passam também por fases em que ficam mais carentes de mãe, porque se estão a desenvolver e é um trabalho duro, então pedem mais mama. Eu tenho sorte de ter imenso leite e de a Carminho ter tendência para ficar mais tempo na mama do que pedir com mais frequência. Mais tempo eu aguento, mais frequência nem pensar.
Mas somos Mães, não somos mártires. Tenho a certeza de que, se em algum momento tivesse decidido desistir da amamentação, ninguém me condenaria e teria o apoio da família. E, se não tivesse, que se lixassem. Porque o corpo é meu, a escolha é minha. E sabia que o teria feito por não ser capaz fisicamente, e por ser o melhor para a minha relação com a Carminho.

A minha experiência ensinou-me muito sobre amamentação. Muito! Em experiência tenho todo um curso de amamentação.
E ensinou-me também que, apesar da amamentação ser muito importante para o bebé, o mais importante é o bem estar psicológico da mãe e o bebé estar alimentado. É conseguirem encontrar um equilíbrio que permita aos dois estabelecer uma relação. Uma mãe instável não será uma boa mãe, por mais que queira, e isso é pior para o bebé do que lhe dar biberão.
Felizmente, consegui ir dando mama e perceber que tinha de aproveitar outros momentos para estabelecer a vinculação com a minha filha: através do vestir, da higiene, do mudar fraldas, do brincar, etc. Não foi pela amamentação que estabelecemos a nossa relação, com a amamentação corri o risco de prejudicar a nossa relação.
Mas, apesar das coisas terem melhorado, ainda hoje há momentos em que ela me magoa. E muito! E, nesse momento, vem ao de cima toda a revolta, toda a frustração, toda a ansiedade por que passei naqueles meses. Felizmente, não é frequente.

Por isso, não admito que me venham dizer que não promovo a amamentação.
Promovo, sim. Senão, não teria continuado a dar mama e a minha filha há muito que seria alimentada a leite artificial. Senão, não estaria a "rezar" para que não lhe nasça nenhum dente antes de fazer 6 meses, com medo de não aguentar mais dores e ser, por fim, obrigada a desistir de dar mama.
Mas, mais do que promover a amamentação, promovo a saúde mental e a vinculação. Sou uma defensora acérrima da amamentação, desde que não coloque em risco o apego mãe-bebé ou a sanidade mental dos pais. Seja pela dor, seja pela privação de sono, seja pelo que for.
Defendo que, mais importante do que o bebé passar a vida agarrado à mama da mãe, é a relação de vinculo entre os dois. Relação essa que se pode estabelecer de várias formas.

Aproveito para agradecer aos Profissionais que me guiaram neste processo e que me salvaram as mamas: A Enfermeira Luísa Valentim (minha querida Tia), a Enfermeira Adelaide Órfão, a Dra. Mónica Pina e o Dr. Pedro Sereno. Não sei o que teria sido de mim e da Carminho se não fossem eles.
Muito, mas muito obrigada. Do fundo do coração. E da mama! Viva a Mama!

Amamentar: Sonho ou Pesadelo? - Parte 2/3



Os bebés nascem com o reflexo de sucção, ou seja, nascem a saber mamar. O que podem não saber, e muitos não sabem, é a pegar bem na mama (e, consequentemente, a não magoar a mãe). Isto é uma terrível surpresa com que muitas mães se deparam. A terrível surpresa com que eu me deparei.
Enquanto estive na maternidade, não sei se por ainda me doer mais os pontos ou por ela não ter grande força, nem tive dores. Não tinha dores, mas ela fazia-me chupões, vergões ou lá o que ela fazia às minhas mama, que até ficavam em crosta.
"Não lhe dói?", perguntava espantada a enfermeira. "Não", respondia eu, sem perceber muito bem a pergunta e ainda sem saber da minha elevadíssima tolerância à dor.
Aconselharam-me mamilos de silicone que eu, muito toscamente, usava sempre que dava mama. Mamilos esses que, mais tarde, deitei fora porque não serviam para nada. Doía-me na mesma e, dor por dor, mais valia que a minha filha não mamasse em plástico.

Pouco depois de sair da maternidade é que a coisa começou a doer. Muito! E não era só durante a mamada. Era sempre! Durante uns 3 meses, não tive um momento sem dor, maior ou menor.
Ela pegava mal, por mais que eu fizesse exercícios próprios com ela ou que lhe ajustasse os lábios enquanto mamava. Pegava mal e, muitas vezes era de me fazer ir às lágrimas. De me fazer gritar, dar murros na cama, apertar a mão do Duarte com todas as minhas forças.
Sempre que se começava a aproximar a hora de mamar eu começava a ficar em pânico, a suar, a tremer por antecipação. Eu chorava, a Carminho chorava.
Era suposto a amamentação ser um momento bonito, sempre me venderam essa imagem. Sentia-me enganada, sentia-me desiludida.
Tinha medo de dar mama. O tempo entre mamadas parecia passar em milésimos de segundos e eu ficava apavorada de cada vez que tinha de dar mama. Só de pensar nisso tremia. Odiava dar mama. Entrava em tal estado de tensão, que a passava para a minha bebé. Ela mamava, mas pegava mal e, quando eu gritava, ela chorava porque se assustava. Eu não queria dar mama, eu não queria ter a minha bebé a mamar. Eu não estava a conseguir estabelecer o vínculo afectivo. 
Eu sabia que aquele amor mãe-bebé que tanto apregoam nem sempre vem com o parto, mas ele não estava mesmo a acontecer. A amamentação estava a impedir que eu me ligasse emocionalmente à minha bebé.

Os mamilos estavam a ficar cada vez mais doridos, porque não tinham tempo de recuperar entre mamadas. Dava as duas mamas em intervalos de 2h30 ou 3h00.
Ela fazia-me feridas nos mamilos, que iam formando umas crostas acastanhadas e que depois caíam no banho. Uma coisa estranhíssima.
Sempre que ultrapassava um problema, surgia outro. Sempre que eu pensava "agora é que isto vai melhorar"
Fui acompanhada de perto, e bem, por especialistas em amamentação, mas há coisas que dependem do bebé e a Carminho estava decidida em não pegar bem.
Às vezes não me doía e, ao verem a pega, as especialistas perguntavam "não te dói?", mas a certa altura eu já não sabia responder. Não sabia se já me tinha habituado à dor, sabia que ela estava a pegar mal e que era suposto doer, mas eu não sentia dor.



A recuperação pós-parto foi lenta e dolorosa. Eu não me conseguia mexer por causa das dores e o único momento em que conseguia fazer de mãe era marcado por pura tensão, ansiedade, stress... tudo. Não queria que chegasse o único momento em que eu podia ser mãe, odiava-o.
Demorou quase um mês até conseguir andar e sentar-me sem grandes dores (as dores ainda continuaram mais umas semanas, mas era suportáveis). Durante esse tempo, por causa de um misto de dor e de inexperiência, eu só conseguia dar mama deitada de lado. Recostar-me doía e sentar-me era impossível. O único sítio onde me conseguia sentar sem dores era num cadeirão do trabalho da minha tia.
Assim que me consegui sentar, e depois de um episódio nas urgências por causa de um ponto infectado, decidi que tinha de treinar em casa a dar mama em todas as posições: deitada, recostada, sentada, em pé. Não voltaria a estar numa situação em que não me pudesse deitar e não conseguisse amamentar.

Houve uma vez em que ela afastou a boca e escorria sangue. Não doía, mas era muito estranho.
Noutra situação, só ao fim de 40 minutos de dar mama é que reparei que o mamilo de silicone se tinha desviado e que ela tinha acabado de arrancar um bocado de carne da auréola com a sucção. Esse bocado de carne ficou pendurado e no espaço de 24h ficou preto e acabou por cair. Também não senti dor e quando falei com as especialistas elas disseram nunca ter visto nada assim. Acabei a dar autorização para que a fotografia da minha mama fosse usada em cursos sobre amamentação.
Descobri algo que eu nunca tinha pensado ser possível: bolhas nos mamilos. Há bolhas de leite e há bolhas de sangue. Eu tive das duas. É o mesmo princípio das bolhas nos pés. Algo ali a roçar na pele (neste caso a má pega) e que depois provoca bolha. Normalmente são na parte exterior dos ductos mamários e é por isso que ficam com leite ou com sangue. A enfermeira picou-me umas com uma agulha (não dói nada), só para eu aprender no caso de ser necessário, mas normalmente os bebés tratam delas enquanto mamam.
Sofria (e ainda sofro) do fenómeno de Raynaud - os mamilos ficam brancos e provoca dor mesmo quando não se está a amamentar, principalmente quando expostos aos frio. Eu sabia que sofria de Raynaud nas mãos e nos pés quando está frio. Aparentemente, é extensível aos mamilos.
Tomar banho era uma "maravilha", o primeiro toque da água a escorrer pelos mamilos fazia-me contrair de dor, agora imaginem quando fazia banhos quentes por causa da subida do leite. Lá ia eu, de madrugada, chorar para o banho. Menos mal quando optávamos por, em vez do banho, colocar panos de água quente nas mamas antes de amamentar.
Roupa a roçar nos mamilos então era um horror. Optei por usar as conchinhas, o que era uma chatice porque passava a noite a entornar as conchinhas e a acordar encharcada. Mas dizem ser o mais seguro em termos de problemas nas mamas - para evitar fungos e essas coisas devido ao mamilo ficar húmido durante muito tempo.



Numa manhã, olhei-me ao espelho depois do banho e reparei que metade da mama direita estava demasiado vermelha. Apalpei-me, senti uma parte dura à volta do mamilo, mas não doía. Pensei que a vermelhidão pudesse ser do banho e desvalorizei. Falei com a minha tia por telefone: a Carminho tinha de esvaziar a mama, antes que a parte dura ficasse pior. Como não me doía, não pensei muito nisso.
Dois dias depois, a Carminho não estava a ser bem sucedida a esvaziar completamente a mama. Continuava a sentir a parte dura, a vermelhidão continuava e agora tinha dois altos junto ao mamilo, voltou a sair bastante sangue enquanto ela mamava, a pega estava a ficar cada vez mais insuportável e o leite era salgado (sim, provei o meu próprio leite - várias vezes).
Comecei a ver o filme todo na minha cabeça e em novas conversas começámos a perceber que poderia ser uma mastite. O estranho era não ter dores, nem febre, que são dos sintomas mais comuns da mastite. Arranjaram-me uma consulta com uma médica especialista para o dia seguinte, mas entretanto deveria ir às urgências da Maternidade Alfredo da Costa.

Triagem da MAC.
"Acho que estou com uma mastite", a enfermeira olha para mim e pergunta "Tem dores?", "Nem por isso.", "Tem febre?", "Não, mas eu nunca tenho febre.", "Ok. É só aguardar pela consulta.". Nem olhou para a minha mama, o que eu estranhei.
Sou chamada para a consulta. "Ora, então diz aqui que está com muito leite. É isso?", "Errrr... não, é mastite mesmo!". Então eu digo à enfermeira que tenho acho que tenho uma mastite e ela escreve "muito leite"? A médica observa-me e confirma o nosso diagnóstico. Prescreve-me anti-inflamatório e antibiótico, dali a 2 dias tinha de voltar às urgências.

No dia seguinte tive a consulta com a médica especialista em lactação, a Dr. Mónica Pina. Não só tinha uma mastite, como já tinha feito abscesso. "Vá já para as urgências. Não espere por amanhã, porque isso pode dar graves complicações". Tinha de ser drenado com urgência e explicou-me diversos procedimentos de como retirar o abscesso, para que eu pudesse optar pelo menos invasivo possível.

Amamentar: Sonho ou Pesadelo? - Parte 1/3




Tal como as mamas são o símbolo da feminilidade, a amamentação é o símbolo da maternidade, do amor de mãe, da vinculação mãe-bebé.
Mas, e quando o sonho se torna num pesadelo?

Depois de um parto extremamente complicado e com um pós-parto debilitante, a amamentação quase me levou à loucura.
Foi uma chapada muito dura que levei da realidade, talvez a mais penosa de todas. Perceber que a amamentação em vez de fomentar a vinculação com a minha bebé estava a prejudicá-la, foi das coisas mais tristes com que me deparei.
Juntamente com a "loucura" normal pós-parto, as dores da amamentação fizeram-me sentir e dizer as maiores barbaridades em relação a ser mãe, em relação à minha filha. Coisas que nunca irei proferir novamente e das quais me arrependo profundamente. Coisas que farei por apagar da minha memória, não esquecendo que são "normais" e que não me posso culpar por isso, porque não eram verdade.

Há umas semanas, quando publiquei o artigo "Ainda sobre o sono", uma outra mãe achou por bem descontextualizar as minhas palavras e apontar-me o dedo por não promover a amamentação. Não gostei. Não gosto quando descontextualizam as minhas palavras, fico realmente zangada, não gosto quando se critica com o intuito de criticar, e não gosto quando se traçam retratos e fazem acusações sem se conhecer o todo.
Aliás, se se tivesse dado ao trabalho de explorar antes de criticar, ter-se-ia deparado com a crónica "Amamentação" e perceberia a minha posição sobre este tema.
Ora, esta mãe tem toda a legitimidade de não gostar ou não concordar com que escrevi. Tem toda a legitimidade para ter um abordagem da maternidade diferente da minha. No entanto, não tem legitimidade nenhuma (nenhuma!) para dizer que eu não promovo a amamentação.



A minha posição em relação à amamentação é que cada mãe sabe o que é melhor para si e para o seu bebé, cada mãe (e pai) sabe como pretende criar o seu bebé.
Eu defendo a amamentação e a importância da sanidade mental dos pais, para que sejam capazes de dar o seu melhor e promover a saúde física e emocional dos seus bebés. Se por um lado acredito que ir à maminha é fundamental, por outro também acredito na importância de os bebés aprenderem a tranquilizar-se de outras formas. Porquê?
Porque nem todas as mães podem ter os seus bebés acoplados à mama sempre que eles pedem, porque há mães que sofrem com a amamentação, porque há mães que não se podem dar ao luxo de curtir a maternidade e precisam de trabalhar, porque há mães que precisam de dormir mais do que outras, porque há mães que simplesmente não querem. Qualquer uma destas hipótese é legítima.

Sou completamente a favor da amamentação em livre demanda.
Não há melhor para o bebé do que se alimentar directamente da fonte e, nos casos em que a coisa corre bem, não há melhor do que a maminha para tranquilizar o bebé e para fortalecer o laço afectivo entre ambos.
Na mama o bebé faz tudo: alimenta-se, brinca, dorme, tranquiliza, tudo! Quando o bebé pode (ou quer) ir à mama, quando a mãe não sofre com isso e quando a mãe tem disponibilidade para o fazer - dêem mama à vontade. A mama é um mundo! Viva a mama!
Mas, infelizmente, há mães que não podem (ou não querem) e não há problema. Desde que o bebé esteja bem alimentado e saudável está tudo bem, isso é que é o fundamental.

Deixo ainda aqui um exemplo em que não resulta dar-se maminha sempre que eles pedem.
Aqui há umas semanas, quando tive o OK da pediatra para que a Carminho dormisse a noite toda, achei que poderia compensar a mamada da madrugada com mais uma mamada durante o dia. Tinha lido alguns artigos sobre isso e as minhas mamas já aguentariam.
O que aconteceu? Bem, a miúda começou a bolçar sempre e chorava na maminha! Falei com a minha tia (enfermeira especialista em amamentação) porque estava preocupada que fosse refluxo gástrico ou outra coisa qualquer.
Sabem o que era? Excesso de leite. A Carminho, como qualquer bebé, não recusava a maminha que lhe era oferecida, mas ainda tinha leite da mamada anterior no estômago e eu tenho uma enorme produção de leite, portanto ela mamava até ficar enfartada. Aí, obviamente, chorava na maminha, procurava a maminha para se acalmar, sentia-se desconfortável, chorava outra vez e depois ia tudo fora! Assim que acabei com a mamada extra acabou-se o drama.
Quando foi levar a vacina da meningite já tinha mamado, mas ofereci-lhe maminha na mesma (é mais tranquilizador e a dor passa-lhes mais rápido). Claro que 10 minutos depois estava a bolçar tudo, mas foi uma ocasião excepcional.
Portanto, estes são exemplos de situações em que é preciso ter atenção quando se dá maminha em livre demanda. Há bebés que não aguentam e outros que sim.
Cada caso é um caso e os pais é que têm de perceber o que funciona para o seu bebé. Sem culpas!



A amamentação quase me levou à loucura e atrasou o estabelecimento do vínculo afectivo com a minha bebé. Tive de promover o vínculo de outras formas: pela brincadeira, pelos mimos, pelo mudar da fralda, etc. Coisas que só consegui começar a fazer um mês após o nascimento da Carminho. Até lá foi um autêntico inferno.
Estive muitas vezes perto de desistir. Gritei, chorei baba e ranho, mordi-me, mordi a almofada, mordi o meu marido, gritei palavrões, culpei a bebé, culpei-me a mim, dei murros no colchão, arrependi-me de ter tido um bebé, senti-me a mãe mais incapaz do mundo, senti-me culpada por não ser a mãe que a minha bebé inocente merecia. Foi um processo muito complicado, de dor física e psicológica.

Neste meu percurso fiquei a saber algo sobre mim: sou anormalmente tolerante à dor. Com aquilo que eu aguentei (e aguento) a maioria das mulheres teriam desistido de amamentar. E com toda a legitimidade para o fazer.
Somos Mães, não somos mártires. O fundamental é que o bebé esteja alimentado e que mãe e bebé estejam felizes.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A Rotina da Carminho



Tenho estado para escrever sobre a rotina da Carminho, só que a minha vida tornou-se caótica.

Juro-vos que quando penso "Isto está a funcionar bem, vou escrever sobre isto", parece que a miúda sente e a coisa deixa de funcionar bem. Parece de propósito!
Durante semanas tudo funcionou bem (com dias menos bons, obviamente), quando decidi escrever... pimbas! Troca-me as voltas.
Desta vez, parte da responsabilidade é do pai e só vem demonstrar a importância de se manter a rotina o mais inalterada possível. Já conto mais à frente.

Depois de instituir a Rotina do Deitar e de perceber que estava bem estabilizada, comecei a trabalhar na Rotina do Dia.
Como já referi, os bebés gostam de rotinas, gostam da previsibilidade que elas lhes conferem aos dias e ficam mais tranquilos.



Cheguei à conclusão que, para mim, a rotina EASY era a que fazia mais sentido.
E - Eat (comer) - Dar de mamar
A - Activity (actividade) - Brincar
S - Sleep (dormir) - Dormir
Y - You (Ti) - Tempo para ti

O número de ciclos ao longo do dia, varia consoante o número de mamadas que o bebé faz e o número de sestas adequadas à idade.
A Carminho está com 4 meses e já há umas boas semanas que faz ciclos de 4 horas - ou seja, mama de 4 em 4 horas. No nosso caso, a rotina acaba por ser EASY-A, porque na maioria das vezes acorda antes da hora de mamar.




Um dia normal da Carminho e da Mãe

07h00 
Acordo e levanto-me, para ter tempo de comer e tomar banho antes que a cria acorde (já não há engonhar, até porque ela parece sentir que eu acordo e acorda também)

08h00
Hora da Carminho acordar e mamar. Na realidade, ela costuma acordar um pouco antes, mas fica muito tranquila no berço, lá no seu mundinho e eu deixo-a estar (aproveitando para acabar de tratar de mim)
Depois da mama, meto-a no muda-fraldas, tiro-lhe logo a fralda e deixo aquela zona a "arejar". Dispo-a,  trato da higiene (cara com soro e o resto do corpo com líquido lavante) e aplico o creme corporal numa mini versão da massagem shantala (peito, braços, pernas, principalmente - ela não tem paciência para mais).

09h00
Hora de brincar.
Deitamo-nos no tapete dela e fazemos uma chamada de vídeo para a Avó (minha mãe). Ela adora e é o único momento em que eu permito que esteja em frente a um ecrã.
Reconhece bem a Avó, faz muitos sorrisos e "fala". Ora olha para a Avó, ora olha para mim. Vai explorando a minha cara, chama por mim quando acha que estou a falar demais para a minha Mãe. É um momento muito giro.

09h30/10h00
Hora da sesta.
Não tem uma hora certa porque depende de como ela está. Às 09h30 vamos para o quarto, deito-a na minha cama e vou fazendo festinhas, falando no tom baixo, dando miminhos.
Quando sinto que ela está preparada, faço a mini versão da rotina de deitar. Baixo os estores dos quartos, coloco-a no muda-fraldas com música clássica baixinha, mudo-lhe a fralda e deito-a no berço.
Esta é a sesta a que adere mais facilmente e a maior, varia entre 45 minutos e 2 horas. Depende muito do dia. Se à hora da mamada seguinte ainda estiver a dormir, o que faço é abrir os estores para que acorde o mais naturalmente possível.
Enquanto dorme a sesta aproveito para comer um lanche, preparar o almoço, tratar de coisas da casa, etc...

12h00
Mama.

12h30
Brincadeira no tapete, com música de fundo. Aproveito para que fique um bocado de barriga para baixo  (o que ela aguentar), ela brinca com o ginásio, etc.
Depois, deixo-a brincar sozinha enquanto faço o almoço (vou supervisionando, obviamente). Quando o almoço está pronto, sento-a na espreguiçadeira para que fique a olhar para mim e vamos conversando enquanto eu como a uma velocidade estonteante (nunca sabemos se nos deixam comer tudo...).
Quando acabo de almoçar, coloco uma música mais tranquila e passo para um registo mais calmo, de mimo, de colo, de embalo.

14h00
Hora da sesta.
Esta sesta costuma ser entre 45 minutos e 1h30.
Aproveito para relaxar, ir à net, tratar de mim...

16h00
Mama

16h30
Passear.
A seguir a mamar, troco-lhe a fralda meto-a no carrinho e vamos dar uma volta.
Tanto pode ser fazer uma caminhada, ir ter com amigos, ir a um jardim ou apenas ir beber um café ou um sumo a qualquer lado.

18h00
Hora da sesta?
Sim, com ponto de interrogação. Esta sesta varia muito e depende do quanto ela dormiu durante a noite e nas outras duas. Até à semana passada ela adormecia, agora não tem andado muito nessa. Depende do humor dela, se vejo que ela está cansada, se dormitou enquanto passeámos... Na idade dela, o ideal é que durma entre 12 e 16 horas no total (incluindo sestas), se durante a noite dormiu 12h00, na sesta da manhã mais 2h00 e ainda dormiu a primeira da tarde não fico muito espantada se ela não tiver sono nenhum ao final da tarde. A alternativa é, durante este tempo, brincar mais tranquilamente, sem grandes excitações.

19h15/19h30
Rotina do deitar.
Anda a deitar-se um bocadinho mais tarde e nós vamos insistindo um bocadinho todos os dias, já a preparar para a mudança de hora.



Considerações/Questões
  1. Quão rígida sou com as horas?
  2. Ela é assim mesmo tão certinha?
  3. E mamar durante a noite?
  4. Então e a amamentação em livre demanda?
  5. Quanto tempo devem ter as sestas?
  6. O meu bebé só dorme sestas de 10 ou 15 minutos (ou menos!). Porquê?
  7. Não quero que o meu bebé confunda a noite com o dia. Deve dormir às escuras?
  8. Quero que o bebé se habitue a dormir em todo o lado. Faz mal dormir com barulho?
  9. O meu bebé não dorme sestas. Como mudar isto?

Antes de responder a estas questões, quero responder a outras duas que me colocam muitas vezes.

  • "Que bebé tranquila! Nunca vi nada assim. Tu deves ser uma pessoa muito calma, não?" - Não. Eu sou uma pessoa bastante ansiosa, sempre fui. Quem me conhece bem sabe que sou tudo menos calma. No entanto, pela minha filha obrigo-me a estar calma, a acalmar. Quando estou com ela, estou com ela, e quando me sinto a ficar mais irritada com algum assunto obrigo-me a parar e a respirar fundo. O nosso stress e a nossa ansiedade passam para eles. Eles sentem o aumento do ritmo cardíaco, do ritmo respiratório e isso deixa-os ansiosos. Por isso, várias vezes paro e respiro fundo. Outra coisa fundamental para se ter um bebé calmo é ter um bebé calmo. Ou seja, parte da tranquilidade da minha filha já nasceu com ela. É pura sorte minha, eu apenas potencio essa tranquilidade ao estar calma quando estou com ela. Mesmo quando está a chorar e a berrar-me ao ouvido (não é frequente, mas já aconteceu algumas vezes). Outra coisa que ajuda muito a que os bebés estejam tranquilos são as rotinas e uma boa higiene do sono.
  • "Como é que consegues manter essa rotina todos os dias?" - Bem, com muito sacrifício da minha vida social. Não se pode ter tudo e eu estou apostada em primeiro tratar da minha filha, que ela tenha as suas rotinas bem interiorizadas e automatizadas, para que depois possa extrapolar a outros cenários. Essa é a minha prioridade. Quando decidi que estava na altura de instituir a rotina, fui extremamente rígida, só saía de casa fora das horas de sesta. Hoje em dia, se for preciso quando chega à hora da sesta ela adormece sozinha se estivermos noutro lado (ou se não adormecer sozinha, basta um bocadinho de colo e depois fica bem no carrinho a dormir). Quanto a estar com amigos à noite, bem, ou vou ter com eles depois da rotina do deitar, ou eles vêm cá a casa ou não vou a lado nenhum.

Agora as respostas às restantes.
  1. Quão rígida sou com as horas? - q.b. Há um intervalo de meia hora (antes ou depois) que eu permito existir. Por exemplo, se ela adormeceu um pouco mais tarde, eu não me importo que ela durma um pouco depois da hora estipulada para a mamada. Até um máximo de meia hora. Ou se estivermos a sair de um sítio qualquer próximo da hora de mamar e ela não estiver com fome, espero até chegar a casa. Há uma flexibilidade controlada.
  2. Ela é assim mesmo tão certinha? - Na maior parte das vezes e dos dias. É uma pessoa, é um bebé, não podemos esperar que sejam como robôs programados. Mesmo o bebé mais "certinho" e que dá 11 ou 12 horas de sono seguidas, terá dias em que está do avesso, incomodado com alguma coisa, e que acorda várias vezes durante a noite, que recusa dormir a sesta e fica inconsolável.
  3. E mamar durante a noite? - Depende do bebé. No nosso caso quando às 6 semanas instituímos a rotina do deitar ela começou a fazer noites completas, mas a pediatra disse para não deixar de passar mais de 6 horas entre mamadas por causa da produção de leite. Então, a meio da noite lá eu acordava para dar mama (às vezes estava tão cansada que deixava que fosse ela ou as minhas mamas em pedra a acordar-me, confesso). Neste momento, estamos a cortar com essa mamada. Já começa a espaçar cada vez mais, por exemplo mamar às 19h30 e depois acordar às 05h30. Mas também podemos ter noites em que acorda às 02h30 e depois só acorda às 08h00. Ainda estamos em adaptação. Como em breve a hora vai mudar, também tenho andado mais concentrada em ir ajustando a hora de deitar. Se o vosso bebé quiser mamar durante a noite, não há problema. Em princípio até o fará em modo zombie, acorda, vocês dão mama e quando o voltarem a deitar já está a dormir. Havia noites em que a Carminho nem abria os olhos, mamava a dormir.
  4. Então e a amamentação em livre demanda? - Se é supostos mamar às 16h, mas às 15h30 já estiver com fome, obviamente que lhe dou mama. Se é suposto mamar às 16h00, mas às 14h00 está com uma crise de choro inconsolável, obviamente que lhe dou mama. A amamentação em livre demanda é o recomendado (e bem) por todos os motivos: porque é um momento de vinculação, porque podem ter fome antes do esperado, porque passam por picos de crescimento em que podem precisar de mamar com mais frequência, porque mamam por conforto, etc., etc., etc. No meu caso, houve uma fase em que não pude dar em livre demanda e não me culpei nada por isso. Não conseguia mesmo e ela queria mama por conforto, tivemos de ser rígidos e os intervalos tinham, no mínimo dos mínimos 2h30. Não podiam ser menores, com o risco de eu deixar de dar mama (mas, sobre isto, falarei no artigo sobre a amamentação).
  5. Quanto tempo devem ter as sestas? - Não há um tempo determinado. Ok, sestas de 20 minutos são curtas e há quem diga que as de 45 minutos também. Há imensos artigos sobre as sestas que só duram 45 minutos e como as alongar. Durante uns tempos também me preocupei com isso, mas depois de mais pesquisas e de falar com especialistas, a conclusão é "desde que acorde bem disposta é porque dormiu o suficiente". Outra coisa importante é não irmos a correr quando os ouvimos chorar ou refilar ou acordar de qualquer outra forma, muitas vezes isso acontece antes de entrarem num novo ciclo de sono e se formos lá vamos interromper o processo. Eu costumo esperar 5 - 10 minutos antes de a ir buscar.
  6. O meu bebé só dorme sestas de 10 ou 15 minutos (ou menos!). Porquê? - A Carminho teve uma fase dessas. Durante o dia, quando adormecia, deitávamo-la na alcofa da sala e 10/15 minutos depois lá ela despertava. Por entre observações e experiências acabámos por perceber o que se passava. Primeiro, ela não gostava de dormir com luz (reparámos porque quando começava a ficar com sono, escondia os olhos, tapava a cara com a fralda, etc.), segundo não gostava de dormir na alcofa. Assim que passámos a deitá-la no berço e às escuras, passou a dormir sestas de 45 minutos. Instantâneo. Portanto, observem os vossos bebés, eles dizem-vos o que precisam.
  7. Não quero que o meu bebé confunda a noite com o dia. Deve colocá-lo a dormir com luz? -  Idealmente os bebés (e qualquer pessoa) deveriam dormir às escuras. Temos um sono mais tranquilo quando bloqueamos a luz, independentemente de sermos ou não capazes de dormir com claridade. Colocar o bebé a dormir a sesta num quarto às escuras não o fará confundir a noite com o dia. E, obviamente, que se estiverem fora de casa, também não vem mal nenhum ao mundo se ele dormir com luz.
  8. Quero que o bebé se habitue a dormir em todo o lado. Faz mal dormir com barulho? - Cada pai sabe o que quer para os seus filhos e para as suas vidas. Não há dúvidas que um sono reparador é aquele que é feito num ambiente escuro e com o mínimo de interferências (sejam elas ruídos, pessoas a passar ao lado, etc.). Claro que, tal como com a questão da luz, uma vez por outra dormir num ambiente com barulho não será problemático. A minha estratégia passa por primeiro habituá-la a adormecer às horas certas, para depois aos poucos se estivermos fora de casa ela consiga dormir uma sestinha onde quer que esteja (e isso já acontece). No entanto, se para ela ter uma melhor qualidade de sono (e consequentemente, desenvolvimento) convém que as sestas sejam num determinado contexto, então tudo farei para providenciar o melhor para a minha filha. Claro que quando não se pode, não se pode. Não temos de ficar enclausurados em casa para o resto da vida, mas também é escusado andarmos a passear todo o dia todos os dias, só porque sim, se isso não é o melhor para eles.
  9. O meu bebé não dorme sestas. Como mudar isto? - Tal como é preciso habituá-los para dormirem à noite, também é preciso habituá-los para as sestas. E é feito exactamente pelo mesmo método. Simplesmente, a rotina pré-sesta pode ser uma versão reduzida da rotina do deitar (no nosso caso, é baixar estores, ligar música, mudar a fralda e deitar no berço - não há mama, não há mudar para pijama, não há banho). Depois, para os habituar a dormirem a sesta a horas determinadas, numa primeira fase o importante é que se habituem a adormecer àquela hora e dormirem onde der (e aqui vale tudo, adormecer o bebé nos braços, dormirem nos braços dos pais, o que for, o importante é que aquela hora estejam a dormir); numa segunda fase, o importante é que seja capaz de adormecer sozinho, seja onde for (deitar o bebé sonolento e ele sozinho deixar-se dormir, seja na sala, no quarto, onde for - aqui podem aplicar-se os métodos do treino de sono); numa terceira e última fase, o importante é que o bebé adormeça sozinho e no seu berço. Com tempo, paciência, perseverança tudo se consegue. E não esquecer, há dias bons e dias maus. Nem sempre funciona. Mas o importante é seguirmos sempre a rotina.

Isto de se ter rotinas é, em simultâneo, uma bênção e uma maldição. Uma benção porque eles andam mais tranquilos, sabemos quando vão dormir, quando vão mamar, porque conseguimos organizar a nossa vida à volta da rotina deles. Sabemos que podemos deitar o nosso bebé à noite e ir jantar fora e que quem ficar com a nossa bebé não vai ter trabalho rigorosamente nenhum, porque ela estará a dormir profundamente. É uma maldição, porque se não lhes dermos a rotina eles vão ficar irritadiços, chorosos, etc. Se para as sestas a Carminho já adormece onde estiver (basta um bocadinho de ajuda), para a noite temos mesmo de estar em casa senão ela fica mesmo inconsolável. No final, para mim, a bênção supera a maldição. E entretanto vão-se fazendo pequenos ajustes aqui e ali, consoante as necessidades. Um dia destes começaremos a sair de vez em quando com ela para jantar, habituando-a para uma eventualidade de não estarmos em casa.



Para terminar, disse no início que era da responsabilidade do pai o facto de ela ter andado trocada e vou contar-vos a história.
No outro dia o Duarte fez anos, infelizmente calhou num dia de semana em que ele ia sair de casa sem a ver e chegaria praticamente à hora de deitar. Nessa manhã aconteceu a Carminho despertar às 06h30. Simplesmente despertou, não pediu para sair do berço nem nada. Muitas vezes fica tranquilíssima e até volta a adormecer. Ora, o pai acordou e, triste por não estar com a sua bebé durante o dia de anos e contrariando o que eu lhe dizia, achou que era boa ideia tirá-la do berço e ir para a sala brincar com ela àquelas horas, acendendo luzes e excitando-a.
Resultado: quando chegou à hora de mamar (às 08h00), ela mamou mal porque acabou a adormecer na mama. Em vez da primeira sesta ser às 09h30/10h00 e durar um mínimo de 45 minutos, foi às 08h00, na mama e durou uns 15 minutos. Todos os ciclos da rotina ficaram trocados, desde mamar mal, a não dormir, a não querer brincar porque estava rabugenta. Em vez de dormir um mínimo de 12 horas, dormiu umas 10 horas no total. No dia seguinte, para compensar dormiu 2 horas nas primeiras duas sestas, mas depois nem pensar que dormia ou descansava na terceira, e continuava rabugenta. No terceiro dia a manhã ficou boa, mas depois tive de sair à tarde e ela voltou à rabugice. Estamos a falar de um bebé que passa a vida a sorrir e que durante três dias, praticamente nem um esboço. No quarto dia, lá consegui que voltasse à rotina.
Finalmente, o pai percebeu que alterar a rotina da bebé só porque se quer uns minutos de brincadeira não compensa. Nem é pelo cansaço com que ficamos enquanto pais (claro que eu andava f***** da vida, porque todo o meu trabalho dos últimos 2 meses parecia ter ido pelo cano abaixo), mas ver a nossa bebé naquele estado era um dó de alma. Uma bebé que está sempre bem disposta, tranquila e a distribuir sorrisos, passou três dias chorosa, desconfortável, irritada. Não compensa!
Isto podia ter corrido mal e ter acabado com a rotina, obrigando-me a começar do zero. Felizmente, conseguimos (eu e ela) voltar à rotina e voltar à boa disposição.

Moral da história: a mãe tem sempre razão! 😂