quinta-feira, 27 de julho de 2017

Queixume: Estou cansada.

Se ter um bebé já é cansativo, ter um bebé e um marido que não pode andar torna tudo caótico.
Mama, sou eu que a dou, por isso são ali 20-45 minutos em que não posso fazer nada. Depois é preciso mudar a fralda. O pai muda, mas eu é que a tenho de pôr e tirar do muda-fraldas. Fica um bocado com o pai e eu aproveito para arrumar "cenas" (há sempre "cenas" para arrumar. Como é que elas aparecem????).
Mas quando começa a chorar, lá vai a mãe ao resgate. Do pai, claro. Quando a Carminho começa a chorar o meu pensamento é: "Está alimentada? Está! Fralda nova? Tem! Pronto, não há nada em que seja imperativo a minha presença, o pai pode tratar". Só que eu sinto, à distância a ansiedade do pai. Ele não pode andar com ela ao colo e fica frustrado. E juro-vos, o que me stressa é ele e não a bebé. Porquê? Porque os bebés choram. Se está alimentada e mudada, se não está doente, é miminho que quer. Claro que preferirá a Mãe, mas miminho é miminho. Se não for da Mãe pode levar mais tempo a fazer efeito, mas lá se chegará. No entanto, o choro dela e a ansiedade do pai, deixam-me em stress e lá interrompo a "cena" que estou a tratar, para acalmar a miúda. Adormece, deito na alcofa. Volto à "cena". 5 minutos depois, lá está a miúda a chorar e o meu stress a crescer, porque já antecipo a ansiedade do pai. As "cenas" ficam todas a meio. Todas!
"Tens de descansar quando ela descansa.", "tens de tratar de ti mesma.". Quando? Como? Felizmente, tenho a minha própria Mãe. Confesso, já fugi de casa com a miúda, para poder descansar. A Avó consegue andar, é uma mais-valia do caraças. 
Os dias passam num instante, são todos iguais. Todos neste compasso. E eu a ficar mais cansada. "Só mais um dia até ele poder andar. Só mais um dia". 
Ontem fui colocar o implante contraceptivo. Nem pensar que ia confiar na minha cabeça para tomar a pílula de amamentação, revelar-se-ia um desastre de certeza! Se com a outra já era o que era, com esta e depois do parto que foi (e ao tempo que foi), não arrisco de certeza. Bem, fui colocar o implante e "deve evitar fazer esforços com este braço". Pois... Só devia pegar na miúda para a amamentar ou se ela estivesse mesmo em stress. Enquanto estive com a minha Mãe, foi tranquilo. Ela transportava e dava colo à Miminho. Mas, em casa, foi impossível de evitar. Dei-lhe colos, até que o braço começou a doer. Passei-a ao Pai. "Ela está alimentada e com a fralda trocada. Desenvencilhem-se os dois. Eu hoje não posso!". Foi uma choradeira interminável para deitar. Se foi. Perdi a conta ao tempo. Mas o Pai conseguiu. Finalmente, o Pai, mesmo sem andar, conseguiu adormecer a filha.
Mas continuo cansada. Mesmo com ela a dormir 6-7 horas seguidas, mamar, e dormir mais umas 4 horas. Estou sempre a acordar com a preocupação "Precisa de mama? Precisa de arrotar?". Podia ser pior, eu sei. Tão pior. Podia estar sozinha, ela podia ser uma bebé com cólicas. Tantas coisas em que podia ser pior e não é. Parece que o meu corpo sofre pelas duas. Que assim seja! Que assim continue. 
Ela ontem levou as vacinas do segundo mês e ouvi o que é o seu choro de dor. É de partir o coração. Vá lá que passou rápido (estar a mamar ajuda), mas é triste. Se pudesse, teria sofrido aquela dor por ela. Aquela e todas as que virão. Mas não posso, nem devo. A vida é assim. Crescer é assim. 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Bebés - Regras para as visitas

Quando se começou a aproximar a data prevista para o parto decidi escrever as regras que queria que as visitas seguissem.
A ideia era enviar-lhes antes de visitarem, mas com tudo o que se passou acabámos por não enviar, no entanto foram as regras que seguimos.

Se quiserem façam a vossa lista, não se preocupem se alguém fica ofendido ou chateado. As regras são feitas para proteger os bebés. É essa a nossa preocupação enquanto pais e nada mais.


REGRAS PARA AS VISITAS
Estamos muito entusiasmados, queremos que conheçam a nossa bebé e gostamos muito de vos ter connosco, mas também estaremos cansados e temos os nossos timings e regras para protegermos a Carminho.
Sabemos que algumas vão custar a cumprir, que são hábitos muito enraizados, que são demonstrações de afecto e tudo isso. No entanto, enquanto pais (e não custa admitir que são mais imposições da mãe do que do pai) somos nós quem estabelece as regras e pedimos-vos que as compreendam e, acima de tudo, as cumpram. A mãe é leoa e morde! ahahah
  1. Quem quiser visitar na maternidade está à vontade para o fazer, mas combinem com o Pai. Na Maternidade Dr. Alfredo da Costa, onde mãe e bebé ficarão durante 2 ou 3 dias, só podem estar 2 visitantes de cada vez (incluindo o pai), o horário é limitado (14h30 às 16h30) e a família tem prioridade;
  2. Nada de beijos! Nada de aproximar a vossa face da cara e mãos da Carminho. Acabou de nascer, ainda não tem toda a imunidade de que precisa e está muito vulnerável a todo o tipo de "bichosas" que os mais crescidos podem ter. Daqui a uns dias já o poderão fazer - quando os pais disserem!;
  3. Lavar e desinfectar as mãos antes de pegar na bebé. Não se preocupem, nós temos álcool-gel à vossa disposição. Os motivos: os mesmos do ponto anterior. Mas lembrem-se, perguntar sempre antes de lhe dar colo;
  4. Se vocês ou os vossos filhotes têm ou tiveram algum bicharoco nos últimos dias, algum sintoma de constipação, etc., por favor adiem a vossa visita. Seja um nariz a pinga, seja uma tossezinha, por mais pequeno que seja. Serão sempre muito bem vindos uns dias mais tarde;
  5. Evitem usar perfumes ou colónias com odores muito fortes quando vierem visitar. A mãe é alérgica, mas aguenta-se à bronca. A Carminho ainda não sabemos e preferimos não descobrir já;
  6. Se quiserem tirar fotos, perguntem primeiro. NUNCA usem flash. Certifiquem-se de que está desligado para evitar "ups!". E nada de meterem as fotos na net. Essa é uma decisão dos pais;
  7. Se a mãe disser que está na hora de amamentar e não o fizer logo, por favor entendam que está na hora de se retirarem;
  8. Por favor, tentem limitar a vossa visita a curtos períodos de tempo. Cerca de 30 minutos, a não ser que os pais expressem vontade em contrário. Percebam que devemos estar estafados e que um bebé implica fazer um milhão de coisas;
  9. Nada de contar histórias assustadoras de coisas que podem correr menos bem, nem de dar conselhos. Nós já sabemos alguns, cada caso é um caso e estamos bem acompanhados. Sabemos que o fazem com a melhor das intenções, mas queremos evitar ansiedades desnecessárias;
  10. Quando vierem visitar e quiserem oferecer alguma coisa para a bebé: perguntem primeiro aos pais. Se calhar mais vale deixarem a oferta para daqui a uns tempos. Queremos que aquilo que  oferecerem seja utilizado pela Carminho, em vez de correr o risco de ficar esquecido. Mas podem trazer comida e bebida para os pais :D (também precisamos de mimos e atenção).






sexta-feira, 14 de julho de 2017

Fashion - Cabelo II

Decoração - Casa de Banho III

O Meu Parto III - O Parto




Antes de mais, um desabafo: Adorava deixar de escrever a bold! Mas sou uma naba nesta coisa do html e não consigo alterar a formatação. Queria manter a fonte, o tamanho, etc... Mas que o texto deixasse de estar a bold.
Quando vou ver o código html, não há nenhum <b> ou </b>, portanto não faço ideia! Se alguém me conseguir ajudar ficarei eternamente agradecida.



Como já toda a gente que me lê percebeu, o meu parto não foi fácil. Aliás, dizer que não foi fácil é quase um eufemismo. Foi difícil, traumático, etc. Até há uns dias não conseguia falar nisso sem ficar com os olhos cheios de lágrimas e com o queixo a tremer.

Atribuo parte do que se passou ao facto de me terem feito o toque com descolamento de membranas sem me dizerem. Esta prática é indutora do parto e era algo que eu dizia especificamente, no meu Plano de Parto, que NÃO queria. Pelo menos não até a gravidez estar nas 41 ou 42 semanas. Verdade seja dita: o meu plano de parto não foi aprovado pela direcção da Maternidade. No entanto, tinha-o guardado no meu boletim de grávida.

Acontece que o primeiro toque com descolamento foi feito às 39 semanas. Não fui avisada de que me estavam a fazer o descolamento de membranas. A médica apenas se referiu a uma "maldade" para verificar a abertura e tamanho do colo do útero. Portanto, se não quiserem indução já sabem: quando vos falarem em fazer uma "maldade" digam que não querem!
Eu até me considero uma pessoa informada, mas só reparei no que era tarde demais. Sempre fui de confiar nos médicos e de lhes tentar facilitar a vida: é o que dá ser filha de médico e sobrinha de enfermeiros. Conhecer ambos os pontos de vista e ter bastante à vontade nestas andanças.
O segundo toque com descolamento de membranas foi feito na segunda-feira da quadragésima semana. Já tinham feito uma vez e das vezes seguintes permiti que o fizessem porque, confesso, não me apercebi que era uma forma de indução e porque confiei.



No dia 23 de Maio, como escrevi aqui, "combinei com amigos para ir ver o "Alien", podia ser que ela se sentisse inspirada e decidisse sair por iniciativa própria". Quando voltámos para casa, fui para a cama e acordei cerca de 2h30/3h, pelas 02h30 com contracções.
Tentei continuar a dormir, mas eram contracções de 10 em 10 minutos. Não eram muito fortes, mas eram com uma frequência que nem me deixava adormecer novamente. Ao princípio tentei desvalorizar, achava que seriam mais Braxton Hicks, porque sempre achei que quando começasse com contracções seriam de 30 em 30 minutos ou de 20 em 20. Nunca esperei que fossem logo de 10 em 10.
Levantei-me, agarrei no telemóvel e fui para a sala. Tinha de monitorizar as contracções para perceber se era um falso alarme ou se já era mesmo o início do trabalho de parto. Apesar de não serem dolorosas eram incómodas e sentia um desconforto enorme na zona dos rins. Meti-me aos saltinhos na bola de exercícios, escrevia no blog, tentava entreter-me. As contracções continuavam estáveis de 10 em 10 minutos e eu sem saber o que fazer, porque não tinha grandes dores, mas nas aulas de preparação sempre disseram para irmos para o hospital quando as contracções fossem de 10 em 10 minutos. Decidi que acordaria o Duarte se passassem a uma frequência de 7 em 7 minutos, se começassem a doer mais ou a umas horas mais decentes para o acordar. Passadas quatro horas de contracções de 10 em 10 minutos, achei que devia ir às urgências, e lá o fui acordar, "temos de ir para a maternidade, acho que é agora".

- Já experimentaste a bola?
- Andei nisso toda a noite.
- Queres tomar um banho quente?
- Já tomei, mas se calhar tomo outro.
Tomei mais um banho quente (não que fizesse grande coisa, mas um banho de imersão sabe sempre bem), tomámos o pequeno-almoço tranquilamente, atrasamos um bocadinho a ida para as urgências,  mas lá fomos.

A partir daqui, o timing e ordem das coisas está um pouco mais difuso na minha memória. Algumas coisas poderão não ser exactamente na ordem ou como agora me recordo. O que vale é que tenho as minhas conversas com amigos para dar uma ordem à coisa.
Uma coisa que devem saber sobre mim é que, pelo menos antes de ter a Miminho, se eu não dormisse as minhas 8 horinhas de sono já tinha o dia estragado. Rabugice, cansaço, falta de paciência, irritabilidade, etc, etc, etc. De dia 23 para dia 24 de Maio, não tinha dormido mais do que 3 horas quando acordei com as contracções e, a partir daí, não dormi mais até ela nascer. O que aconteceu às 11h00 de dia 25 de Maio.

Fomos para as urgências da MAC, onde me foi dito que, apesar das contracções de 10 em 10 minutos, não tinha quase dilatação. Mais um toque, mais um descolamento de membranas, e um "vá andar durante duas horas e volte para uma reavaliação. Regresse antes se as contracções passarem a ser muito fortes, de 5 em 5 minutos, se perder sangue ou se a bebé deixar de se mexer".
Acordada desde as 02h30 e ainda tinha de ir andar durante duas horas? Se tem de ser, tem de ser.
Com um marido coxo e com dores no pé, lá fomos andar pelo nosso bairro durante duas horas. Ainda esperámos que a Zara da Guerra Junqueira abrisse porque eu tinha metido na cabeça que queria comprar saco-cama de linho lindíssimo que lá tinha visto. Sabem o mais engraçado? Eu na fila, gravidíssima, e nem a funcionária, nem a mulher que estava à minha frente me deram prioridade. E ambas olharam para mim. Ainda pensei em reclamar, mas como até precisava de estar em pé, só fiz um olhar reprovador e acabei a falar mal com a funcionária. Não é o meu estilo, mas enfim... Estava em trabalho de parto com contracções de 10 em 10 minutos há um porradão de horas e não me deram a prioridade que me é devida por lei, acho que mereço um desconto.
Por volta das 11h30 voltámos às urgências. Não tinha diferença nenhuma na dilatação. Continuava tudo na mesma. Já estava naquilo há 09h30 e estava com, praticamente, uma directa em cima. Estava cansadíssima e a coisa não evoluía. Já estava com vontade de chorar.
Mandaram-me novamente para casa: "Em princípio de hoje não passa, mas volte quando estiverem de 5 em 5 minutos ou insuportáveis".
Voltámos para casa. Tentei descansar, tomar outro banho quente. O desespero era o cansaço pela falta de sono. Sempre que adormecia acordava com uma contracção, parecia uma tortura de privação de sono.



Por volta das 19h30, com 15 horas de contracções de 10 em 10 minutos, ficaram super intensas. E fomos, pela terceira vez no mesmo dia, para as urgências.
Mal a enfermeira me ligou ao CTG tive uma contracção, sempre que entrava na sala tinha uma contracção: "Ena! Teve mais uma grande!" e eu a pensar "f****-se! Mas grandes eu sei que são, não preciso do CTG para me dizer isso...". Por esta altura já tinham passado 17 horas e eu já estava a ver a minha vida a andar para trás. Tinha decidido "Quero drogas!!! Quero tudo aquilo a que tenho direito". As minhas costas estavam tão lixadas que doíam só de lhes tocar.
Eram umas 22h quando fui vista pelas médicas. Continuava com pouca dilatação. Mais um toque, mais um descolamento, mais um "vá andar durante duas horas e volte para uma reavaliação. Regresse antes se as contracções passarem a ser muito fortes, de 5 em 5 minutos, se perder sangue ou se a bebé deixar de se mexer". "5 em 5 minutos durante quanto tempo?", perguntei eu. "Se tiver contracções de 5 em 5 minutos durante meia hora, volte.".

Parecia que estava a adivinhar. Disse ao Duarte que não valia a pena saírmos da zona da maternidade e mal saímos das urgências, tenho uma contracção horrível. Olho para o telemóvel, onde registava as contracções numa app, e tinham passado 5 minutos desde a última contracção. "Ok. Isto tem de se manter assim durante meia hora e eles admitem-me, finalmente". Foi a meia hora mais dolorosa da minha vida. Pensava eu.
A andar pelas ruas à volta da maternidade, de 5 em 5 minutos, encostava-me a uma parede cheia de dores. Durante meia hora, andei pela rua a chorar, a desesperar, a contar "já só faltam 5 contracções para voltar", "já só faltam 4", "pffff... faltam 3", "f***-se!! Só mais 2", "Vá lá, só mais 1!! Vamos voltar para as urgências!". Detesto que me vejam a chorar ou a sofrer, mas estava-me a borrifar. Além do mais, quem me visse percebia perfeitamente o que estava a acontecer: uma grávida, ao lado da MAC, a chorar agarrada às paredes e a dizer para o marido "A culpa é tua! Tu é que querias filhos, mais do que eu! Porque é que eu fui na tua conversa??". Nunca pensei ser um cliché ambulante, mas lá estava eu a responsabilizar a 100% quem me acompanhava.

De volta às urgências, fui sentar-me agarrando-me à cadeira da frente, enquanto o Duarte foi à recepção. Diz-me ele "deram-te alta".
- O quê????!!!!
Não me lembro se me levantei ou se gritei do meu lugar
- Não me deram nada alta! Eu estou aqui para ser reavaliada. Não me deram alta! E se me deram, abram novamente o processo!
A recepcionista lá foi ver o que se passava.
Eram umas 23h00, 18h00 de contracções, 4h00 de dores terríveis nas costas em que nem queria que o Duarte mas massajasse, estava eu na sala de espera das urgências da MAC cheia de medo de ser observada e que me voltassem a dizer para ir andar, porque eu mal conseguia mexer as pernas, quando... de repente... 












Senti um "pop", comecei a escorrer líquido e pensei "agora não há hipótese, têm de me admitir. Daqui já não saio". Avisei a recepcionista:
- Olhe, rebentaram-me as águas!
- Ok. Não se preocupe.
E nada...
Eu continuava a escorrer, a cadeira cada vez mais molhada e nada.
- Olhe, pelo menos, chamarem alguém para limpar isto, não?
Eu sei... eu sei... Para quem lá trabalha isto é mais do mesmo. É algo que acontece "n" vezes por dia, fui só mais uma a sujar mais uma cadeira e não é algo que os leve a vir-me buscar no segundo seguinte. Mas eu não estava bem em mim e era a minha primeira gravidez, pelo que estranhei aquele comportamento.
Lá me chamaram. Só a mim. Por enquanto o acompanhante ainda não entrava. Vou para a triagem, começam a falar comigo ou a fazer-me perguntas das quais já não me lembro, com a excepção de uma:
- Vai querer epidural?
- Sim!!!!

Levam-me para outra sala, para que vestisse a bata, e acompanham-me até à sala de partos. A anestesista já vinha para me dar a epidural. Eu não gostava muito da ideia de me espetarem fosse o que fosse na coluna, mas não aguentava muito mais, só queria ficar sem dores. Só queria descansar um bocadinho. Nesta altura as contracções eram com menor frequência, cerca de 3 em 3 minutos.
A anestesista chega, pede-me que me sente em cima da cama, com as pernas cruzadas à chinês e enrolando as costas. Lá me espeta o que tem a espetar, o que foi desconfortável.
- Como sente as pernas? - perguntou.
- Pesadas. - respondi, achando que fosse uma sensação normal.
- Pesadas?! - reagiu.
"hmmm..." pensei eu "resposta errada..."
- Sim, e estão dormentes.
- dormentes?!
- Sim.
- E está dormente onde?
- Olhe, estou a começar a sentir dormência até à barriga.
- Consegue deitar-se?
Tentei descruzar as pernas.
- Não consigo mexer as pernas.
E o meu corpo começa a cair para o lado.
- Senhora Enfermeira, agarre-a!
Deitaram-me na maca e aqui eu estava um bocado noutra dimensão.

- Sente isto?
Olhei e estavam a espetar-me qualquer coisa na perna.
- Não.
"Pronto! Estou paralítica." pensei "Não me vou preocupar com isso agora. Depois logo se vê."
Elas lá iam fazendo as suas coisas e eu, estava a ficar com tanto sono que decidi dormir uma sesta e aproveitar para descansar enquanto a médica e a enfermeira resolviam o que tinham de resolver. Eu só queria dormir.
- Fique connosco!! Não adormeça!!
Abri os olhos, havia mais gente à minha volta, metiam-me uma máscara de oxigénio. Parecia tirado de um filme. Normalmente, dizem estas coisas quando o personagem está prestes a morrer.
"Então é assim que acaba? Tenho tanto sono...".
- Não adormeça!
Lembrei-me da minha bebé e decidi fazer o esforço, por ela.
Aos poucos, comecei a recuperar as sensações no corpo. Por algum motivo, a anestesista deu-me água a beber. Engasguei-me. Tinha perdido a capacidade de engolir. Se, por um lado, estava a recuperar, por outro não conseguia engolir e durante uns bons minutos assim fiquei.

Sabem quando nos sentamos muito tempo sobre uma perna e, quando a tiramos de debaixo de nós, durante uns segundos não se sente nada e depois começamos a sentir uma dormência? Foi assim que senti o meu corpo todo. Não sentia nada e, depois, estava a sentir dormência da cabeça aos pés.
Com a dormência, veio uma comichão imensa na cara.
Foi mais ou menos nesta altura que o Duarte entrou na sala de partos.
- Tenho tanta comichão. - e coçava os olhos, o nariz, a boca.
- Menina, não se coce. Isso é só impressão, faz parte. Tente não se coçar.
Substituíram-me a máscara de oxigénio pelos tubinhos que se enfiam no nariz. Lembro-me de pensar que sempre tivera curiosidade em experimentar aquilo tudo. A máscara é desconfortável, mas os tubinhos são porreiros. Respira-se tão bem! Às vezes tirava-os para me coçar, mas assim que os voltava a encaixar, sentia o ar tão puro, tão leve, tão fresco. Era óptimo.

How I Met Your Mother  - Lily in labour
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Enquanto esteve a trabalhar, a anestesista foi com muita frequência ver se eu estava bem.
Com a epidural a funcionar era tudo muito mais suportável. Apesar da dilatação teimar em ser extraordinariamente lenta, com a analgesia já tinha forças. Sentia tudo, só não sentia dor.
Durante a noite lembro-me de ter trovejado. Lembro-me de ter vomitado duas ou três vezes. Lembro-me que quando voltava a sentir dormência era sinal de que ia voltar a ter dores e tocava na campainha para avisar. Lembro-me da Enfermeira Amélia. Não a senti muito ternurenta, mas pareceu-me uma mulher rija, confiante no que fazia e que me transmitia segurança. Lembro-me que precisei de fazer xixi, mas como não conseguia ir à casa de banho, trouxeram-me uma arrastadeira. Acabei por ser algaliada, o que não custa nada. 

De manhã, entram, no meu quarto, não sei quantas pessoas. Assumi que seriam internos ou estagiários. Uma médica vai ver em que estado está a dilatação, a posição do bebé, e mais não sei o quê que eles fazem.
A médica falava e a voz era-me familiar. Durante este tempo todo eu, que sou bastante pitosga (5 dioptrias) estive sem óculos. Ela falava com os colegas e eu reconhecia-lhe a voz.
- Vanessa???
- Menina???
Tinha sido minha colega no secundário e agora, 15 anos depois, tinha a mão dentro de mim.
- Então, tudo bem? - Perguntei - Nunca pensei que nos voltássemos a encontrar nesta posição.
Risada geral naquele quarto.
Tenho a sensação de que ela ficou bem mais desconfortável do que eu. Parece-me normal. No processo de gravidez e parto perdemos a conta a quantas pessoas nos viram e tocaram na vagina, o nosso pudor vai pela janela.
Foi uma situação estranha, mas como já nada me surpreende, encarei a coisa com humor e como mais uma história engraçada.

Passado não sei quanto tempo, volto a sentir a dormência. Vinha aí a dor! Toquei logo na campainha para avisar que precisava de mais um reforço.
Alguém voltou, não me deram reforço. Pensei que o anestesista viria a caminho (nesta altura, a primeira anestesista já não estava e já lá tinham ido dois diferentes). A enfermeira dizia-me para fazer força e eu fazia toda a que tinha. Estava com "9/10 centímetros de dilatação", ouvi dizer. Já estava mesmo no fim. Estava quase a acabar. Era agora.
Volta a dor. Desta vez, as dores que sentia nas costas eram absolutamente insuportáveis. Tentava fazer força quando sentia uma contração, mas as dores eram tantas que perdia as forças a meio da contracção.
- Tenho muitas dores, preciso de um reforço.
Ninguém respondia ao meu pedido. Só me diziam para fazer força. E eu tentava. E sentia que ela estava  a "meio do caminho", mas eu perdia as forças por causa da dor e a coisa ficava parada.
- Faça força! Mais força!
- Eu não consigo! Eu preciso de um reforço. As dores tiram-me a força, não consigo fazer mais do que isto. Por favor.
Nada de reforço. Dores horríveis. Percebi que não mo iam dar.
Estava lá uma médica loira que me diz, mais uma vez, para fazer força.
- Eu estou cheia de dores, fo... fogo!!!

Ia-me saindo uma asneira, um "foda-se".
Mas não saiu. Percebi que o meu superego é demasiado presente em algumas situações. Com dores lancinantes e fora de mim, fui incapaz de mandar um "foda-se" a uma médica.
Disse ao Duarte
- Caguei! Vou gritar.
- Faz o que for preciso.
E deitava tudo cá para fora quando fazia força ao sentir uma contracção.
Mas cada vez que gritava, pensava nas outras parturientes que estariam à volta e como os meus gritos as podiam assustar. Raios me partam! No meio daquilo, não só era incapaz de dizer uma asneira, como estava preocupada com as outras? A minha mãe educou-me demasiado bem.
Comecei a ficar um bocado fora de mim. Estava lixada da vida, aos gritos, cheia de dores, a fazer toda a força que conseguia, mas que percebia não ser suficiente. A senti-la a caminho, mas a não avançar. Ficava preocupada com ela.



Oiço alguém dizer que me iam levar "lá para cima".
- Consegue andar? - alguém perguntou.
- Estão loucos???? - gritei.
Nesta altura mandaram o Duarte embora, mas eu já estava noutra dimensão por causa das dores, por causa do meu estado psicológico, e nem dei por nada.
Entre dores horríveis tive de mudar de maca duas vezes. Uma para sair do quarto e para ir para o elevador e outra ao sair do elevador. Lembro-me que me custou horrores.

Quando dou por mim estou no bloco operatório.
Reparei naquelas luzes que aparecem sempre nos filmes e parecia que estava numa nave espacial. Tudo branco, os médicos e enfermeiros com as toucas e com as máscaras, só se lhes via os olhos.
Eu continuava a implorar pelo reforço.
- Já vai. Não se preocupe, tenha calma. Está quase. - alguém me respondeu.

E, de repente, um anestesista por quem quase me apaixonei. Só lhe via os olhos, eram tranquilizadores. Enquanto eu chorava de dores, fazia-me festinhas na cara. Suaves, mas com alguma pressão. A pressão certa. Uma voz apaziguadora que me dizia:
- Menina... Menina... tenha calma. Já estamos a administrar, daqui a uns segundos já não vai sentir dor. Tenha calma, menina.
O próprio anestesista era uma analgesia. Conseguiu tranquilizar-me. A voz e as festinhas eram como um abraço. Gostava mesmo de saber quem é para lhe poder agradecer. Nunca me irei esquecer do seu toque, do seu olhar, da sua voz. Nunca me esquecerei de como, no momento mais doloroso da minha vida, me conseguiu acalmar.



De repente, as dores passaram! Sem as dores recuperei a energia. Já estava pronta para mais um bocado.
- Faça força!
Fiz força uma ou duas vezes e, às 10h56 do dia 25 de Maio, uma Quinta-Feira da Espiga, nasceu a Miminho. Não chorou, mas vi que mexia os pés e as mãos e não me preocupei. Meteram-na a chorar. Chorou durante dois segundos, foi o suficiente. Pousaram-na no meu colo.
Estava roxa e tinha uns olhos enormes, que me fitavam. Levaram-na para a observar e eu pedi "breast crawl". Pousaram-na novamente no meu peito, mas de repente:
- Deixe-me só ver uma coisa!
E levaram-na novamente. Estava a ficar fria. O bloco é um local muito frio.

Senti um alívio enorme quando ela nasceu, mas o alívio total foi quando saiu a placenta. Aí sim, estava tudo cá fora. Avisaram-me que iam fazer uma coisa chata e que podia doer. Carregaram-me na barriga para que saísse tudo. Não me doeu. Foi desconfortável, mas nada de insuportável.
Depois, comecei a tremer e a contrair-me. Não sabia porquê. A médica explicou-me que era normal, porque o bloco é mesmo muito frio, mas que precisava que eu tentasse manter-me imóvel para que me suturasse. Tinham-me feito uma episiotomia e agora tinha de levar pontos por fora e por dentro.
Enquanto tratavam da minha filha, aproveitei para falar com a médica.
- Porque é que eu vim para o bloco? Foi alguma coisa que fiz?
- Não foi nada que tenha feito. Ela estava virada para cima, com a cabeça a bater no osso, acabaria por vir sempre para aqui. Tivemos de a tirar com fórceps.
Na sala ao lado ouvia a equipa a celebrar os "feitos" da minha filha recém-nascida.
- Olhe, não sei o que ela está a fazer, mas os meus colegas estão divertidíssimos com a sua bebé.
Percebi que lhe estavam a fazer o APGAR (começou por ter 9 e depois 10 pontos), ouvi alguém a rir-se e a dizer que ela tinha feito xixi.
Depois, a coisa acalmou. Perguntei pela minha filha.
- Está ali. Não a consegue ver através da porta?
- Doutora, eu sou cega e estou sem óculos. Não consigo ver nada.

Quando terminaram todos os procedimentos, juntaram-me à minha bebé.
Estava na altura de ir para o recobro. Como ela tinha nascido de manhã, assim que fosse para a enfermaria poderia receber visitas.
Durante todo este tempo, desde que tinha saído da sala de partos, o Duarte ficou quase 2 horas sem saber de mim. Quando, finalmente, encontrou uma médica que tinha estado no nosso quarto foi-lhe dito que "mãe e filha estão bem". Foi assim que ficou a saber que já era pai. Quando saíssemos do recobro ele poderia ver-nos.
O que não sabíamos é que haveria uma falha informática e, durante um período de tempo, ninguém saberia responder à pergunta do Duarte "Onde estão a minha mulher e a minha filha?". 
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quinta-feira, 6 de julho de 2017

O Meu Parto II - Plano VS Parto

Fonte
Há duas semanas deixei-vos aqui o Plano de Parto que desenhei, hoje confronto o plano com a realidade. A realidade foi bastante diferente, bem mais dura do que esperava, mas ainda bem que tinha noção de que era só um Plano e que a realidade pode ser bastante diferente, senão tinha sido bem pior.

Ora, antes de contar a história, vamos lá confrontar o Plano com a Realidade.

PLANO DE PARTO
Desejo que todo o processo seja o mais natural possível, desde parto vaginal até à amamentação. No entanto, tenho plena consciência de que o que idealizo poderá não ser possível por algum motivo, pelo que deposito total confiança nas decisões da equipa hospitalar, pedindo apenas que me expliquem no caso de ser necessária alguma alteração ao plano inicial.

Tenho total confiança na equipa que me acompanhará no parto, mas gostaria que me fossem dizendo/explicando os procedimentos ao longo de todo o processo, desde que entro na maternidade até ao pós-parto.
Realidade - Ou eu não ouvi ou certas coisas não me foram explicadas na altura: como o porquê de não levar o último reforço da epidural ou o porquê de ter sido levada para o bloco operatório.

Equipamento
  • Que me seja facultada a bola de exercícios Realidade: Quando, finalmente, cheguei à sala de partos nem me lembrei da bola de exercícios (ou dos óleos essenciais) 
Trabalho de parto e parto
  • Sem pressão, para que seja o mais rápido possível, deixar o corpo decidir;
  • Mobilidade: gostaria de ter liberdade de movimentos, possibilidade de andar e adoptar posições que me sejam mais confortáveis (de cócoras, em pé, de gatas, etc...) - Realidade: A certa altura tentei pôr-me de pé para andar, mas não só os tubos e fios do soro e CTG não me permitiam grande mobilidade (estava toda enrolada, com CTG de um lado e soro do outro), como estava tão cansada que as minhas pernas não tinham forças para me suportar;
  • Sem indução: se possível - Realidade: Aqui umas das médicas não esteve muito bem. Duas semanas antes do parto fez-me o toque e descolamento de membranas, sem me explicar concretamente o que estava a fazer e quais as possíveis consequências desse procedimento. Apenas me disse que era "uma maldade" para ver a dilatação e o estado do colo. Só na semana seguinte é que outra médica me disse que ela o tinha feito. Este procedimento foi repetido nas consultas e idas às urgências até ao parto. E atenção: o meu parto começou no dia em que fazia precisamente 40 semanas de gravidez;
  • Alívio da dor: gostaria de tentar evitar qualquer tipo de fármacos, mas mantendo essa possibilidade em aberto - Realidade: Depois de cerca de 24 horas com contracções de 10 em 10 minutos e a certa altura de 5 em 5, em que eu chorava de dores a dar voltas à maternidade, assim que me perguntaram se queria epidural, respondi um "sim!!!". Já chegava de dores;
  • Expulsão: Se possível, evitar a episiotomia, que o períneo seja lubrificado, massajado e suportado - Realidade: Não deu para evitar pelo tipo de parto que acabou por ser;
  • Gostava de ter liberdade de adoptar a posição que o meu corpo pedir quando chegar à altura da expulsão (agachada, de gatas, em pé, etc.) - Realidade: Fui para o bloco operatório, nem se colocou esta questão;
  • Placenta: Aceito que me sejam administrados fármacos para ajudar na dequitadura.
Pós-parto imediato
  • Contacto pele com pele imediato, durante o máximo de tempo possível;
  • Amamentação durante o contacto pele com pele, antes de qualquer outra intervenção, e gostaria de tentar o breast crawl; Realidade: Eles puseram-na ao meu colo, mas não deu para fazer o breast crawl porque ela começou a ficar muito fria e tiveram de a levar para a aquecer.
  • Clampeamento do cordão apenas quando parar de pulsar;
  • Se possível que seja o pai a cortar o cordão umbilical, se o pai não estiver corto eu; Realidade: O pai não esteve presente no momento do nascimento. Como fui para o bloco operatório e o parto foi considerado de risco, não assistiu ao nascimento da filha. Só lamento que tenha ficado cerca de hora e meia sem saber de nós. Pelo menos quando conseguiu perguntar a alguém disseram-lhe que estávamos bem, foi assim que ficou a saber que a filha já tinha nascido
  • Pretendo que a minha filha seja alimentada com recurso exclusivo ao leite materno através da amamentação (sem recurso a biberões, etc.);

Obrigada pela vossa compreensão.


Vou tentar publicar amanhã a história do meu parto (a miúda dorme sempre uma grande sesta de manhã e vou tentar aproveitar). Era suposto estar incluída nesta publicação, mas como já devem ter percebido a minha vida está repleta de peripécias e, neste momento, não só tenho uma bebé de 6 semanas para cuidar, como tenho um marido que foi operado ao pé e está muito limitado nas ajudas que pode dar cá em casa.
Entre, mamadas, fraldas, arrumar a casa, ir às compras, etc., tira-me bastante tempo para escrever. 

Muita sorte tenho eu de ter família e amigos dispostos a ajudar. Com tudo o que tenho passado, admiro cada vez mais as mães que enfrentam esta viagem sozinhas! Sinceramente, não sei como seria a minha vida se não tivesse o apoio que tenho. Apesar de tudo, dentro dos muitos azares que tenho tido, sou uma grande sortuda.



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