quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Natal: Não dá para escapar

Na manhã de 24 de Dezembro, a caminho da Consoada, o Duarte recordava os seus Natais de criança e quão bem a sua Avó Materna preparava e cozinhava para a Consoada e Dia de Natal. Babava-se pelo bacalhau, pelo polvo e pelo leitão e pelos doces que via a Avó preparar, com o auxílio da família.
- Olha, ali aquela fila gigante para ir comprar os doces. Já ninguém se dá ao trabalho de cozinhar os doces. Tudo de compra! A minha Avó fazia tudo e era tão bom. A tua de certeza que também cozinhava e bem! Aposto que, tal como a minha, não comprava nada feito.

- Bem, se queres que te diga não sei. Não me lembro. Provavelmente. Com a morte da minha Irmã apaguei todas as memórias anteriores e os Natais seguintes não eram muito felizes.
Lembro-me que nos juntámos para a Consoada no dia a seguir ao funeral, mas não me lembro de nenhum Natal anterior. Lembro-me como a partir desse ano todos os Natais eram pautados por um silêncio gritante, por uma ansiedade sentida e escondida por todos, tudo num limbo entre a necessidade de manter a família unida e a vontade de não estar ali. De não se falar do que ia na mente de toda a gente e que era tão visível.

Não sei o que comíamos, mas lembro-me como me sentia. Lembro-me de olharmos de lado uns para os outros e, de certeza, pensarmos no mesmo. Nos fantasmas que rodeavam a nossa mesa e que ninguém tinha coragem para convocar, para lembrar de forma aberta.
A Família entrou em modo de sobrevivência: tínhamos de manter os rituais familiares, mas não se podia falar dos que faltavam e deixavam saudades. Qualquer tentativa de recordar era silenciada. A necessidade de lembrar de uns era um confronto à necessidade de recalcar de outros.
O seu nome era murmurado e olhávamos todos para o chão.

Desde os meus 10 anos que os Natais não eram felizes. Eram uma angústia. Tinha saudades da minha Irmã e, não só a minha mente a tinha escondido como não me era permitido que a recordasse.
No momento em que, no dia 23 de Dezembro, me disseram que ela tinha morrido que todas as memórias foram recalcadas. Ainda hoje, não me lembro de momentos passados com a minha irmã. Durante muitos anos, as minhas únicas memórias eram a sua gargalhada e o dia do funeral. Tentei agarrar-me o mais que pude, mas agora já nem sei se a gargalhada que oiço é a dela ou algo que minha mente entretanto substituiu. Do dia 23 lembro-me como se fosse ontem. E, doa o que doer, não quero esquecer.
A outra memória mais aproximada é da última vez que estive com ela. Com grande tristeza minha, a mente humana funciona de formas tão fantásticas para a sua sobrevivência que, lembro-me de tudo menos da figura da minha Irmã. Lembro-me dos sítios, dos diálogos, das outras pessoas que estavam presentes, de onde vínhamos, para onde fomos, de tudo. Mas a figura da minha Irmã não está. Há um vazio ali.



Durante anos, o Natal causou-me as maiores angústias. Uma ansiedade terrível e uma depressão que ressurgia, ano após ano.
Não é uma data que se possa esquecer. Não é uma data da qual se possa fugir. Uma tragédia num dia de celebração significa que esse dia passa a ser o dia da tragédia e não da celebração. E quando a tragédia acontece no Natal, significa que meses antes começamos a ser recordados.
Não é como outros dias em que nos lembramos quase na véspera. Não...
É um dia que começa a ser anunciado em meados de Outubro e que começamos a ser bombardeados com a felicidade dos outros, que fazem uma contagem decrescente para um dia em que é suposto sermos felizes e ansiosos por estarmos com a família. No meu caso, começava a contagem decrescente para o dia em que me disseram "A Joana morreu". Para o dia em que, com 10 anos, entrei num carro funerário para apoiar o meu Pai. Para o dia em que vi, pela primeira vez, um corpo descer à terra.
A partir de Outubro, começava a televisão e a rádio e o comércio a anunciar "está aí o pior dia do ano". E as pessoas à minha volta sorriam e diziam "ai, mal posso esperar pela altura em que morreu a tua irmã!". Claro que as pessoas não dizem isto, mas era isto que sentia. Não se consegue escapar a esta época, só se formos viver para um sítio sem comunicações, isolados do mundo, do conceito de tempo.
Ano após ano, mal se começava a anunciar o Natal, começava um crescendo ansioso dentro de mim. Uma ansiedade que crescia, crescia, e que explodia em depressão.

As outras pessoas não têm de saber ou de se lembrar que para nós é uma altura complicada. E celebram, celebram, celebram. E nós definhamos um pouco mais a cada dia que se aproxima a celebração. Eu fazia uma contagem decrescente para um evento familiar triste, mascarado de feliz e de união. E sentia tudo menos isso. Sentia-me mal, agoniada. E, naturalmente, passei a odiar o Natal. 
Como gostar de uma época que nos causa sofrimento? E um sofrimento tão anunciado? Como gostar de uma época em que é para estar feliz, mas só queremos escondermo-nos e chorar até que passe? Como gostar de uma época em que, se precisarmos de alguém, não está ninguém disponível porque está ocupado a ser feliz com a sua família?
Não há como escapar e está em todo o lado: na rádio os locutores fazem-se super entusiasmados com aproximar da época, na televisão são os anúncios e os logotipos em versão de Boas Festas, a música ambiente é natalícia, os outdoors também invocam a época, nas redes sociais começam a aparecer publicações alusivas à época e que vão crescendo até começarmos a ver árvores de Natal no início de Novembro... Para onde quer que me vire lá está ele: o aniversário da morte da minha Irmã. Uma sensação sufocante e claustrofóbica.

Durante mais de 20 anos vivi assim esta época: com dor, com ressentimento, com tristeza. Até que decidi: Já chega! Não posso viver mais assim. Não tenho de viver mais assim. No mundo em que vivo não há como fugir ao Natal, por isso tenho de o aceitar.



Entretanto, no ano passado engravidei e decidi que mais do que o aceitar e deixar de tentar fugir-lhe, iria tornar o Natal numa época feliz. Além do mais, a minha Filha não tem de herdar o meu sofrimento. Não tenho o direito de lhe retirar uma celebração, por mim. Se ela um dia disser que não quer e que não gosta, tudo bem, mas até lá o Natal será uma época feliz - por ela.
Tal como não posso escapar ao Natal, não posso escapar à minha história. Não consigo (nem quero!) fugir às minhas memórias. Não consigo evitar momentos em que estou mais triste. Não consigo deixar de chorar um pouco num duche um pouco mais demorado. E não faz mal, faz parte de quem eu sou, de como sou, do que sou.
Mas já chega de depressões, de me arrastar em tristezas e em ansiedades. Não tenho de gostar do Natal, mas decidi que vou aprender a vivê-lo. Vou ter prazer em fazer a Árvore de Natal, em escolher a ementa para o almoço de 25, em pensar em presentes e embrulhos (simbólicos para os adultos e "bons" para os miúdos). Vou tirar fotos de Natal: no ano passado foi a barriga, este ano foi a Bebé, para o próximo ano logo se vê. Vai haver um presépio, vão piscar luzes, vai tocar Frank Sinatra. Vou cantar Mariah Carey e Wham!, e não vai ser apenas para irritar o Duarte.

Tal como eu, há muita gente que sofre nesta época. Não é à toa que aumentam as depressões e os suicídios - é, realmente, uma época angustiante e de stress para quase toda a gente. Simplesmente, para alguns o peso é demasiado.
Não temos de gostar do Natal, mas temos opção: ou escolhemos afundar-nos ou escolhemos aprender a viver com ele, a aceitá-lo. Eu escolhi torná-lo numa época feliz e com um novo significado. Ou, pelo menos, tentar.

Continuação de Boas Festas!! 🎄

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Introdução dos Sólidos: Baby-Led Weaning (BLW) - Quando?

Seguindo-se ao "O que é e Medos Frequentes" e "Porquê?", apresento-vos o "Quando?".
A par das dúvidas relativamente aos riscos do BLW ao medo de engasgamento, o "quando posso iniciar?" é a pergunta que mais me fazem.

De um modo genérico, a resposta é: Aos 6 meses e quando já se sentam direitos (com e sem apoio).
Adeus e obrigada.

Estou a brincar. Acham mesmo que era capaz de não vos explicar as coisas?
Volto a dizer:
Como sabem não é um método inventado por mim, o que escreverei acerca do mesmo será informação retirada dos livros da Gill Rapley e da Tracey Murkett, e que complementarei com o que observo na Carminho e as experiências que temos tido.
Será como que uma tradução do livro "Baby-Led Weaning: The Essential Guide to Introducing Solid Foods and Helping Your Baby to Grow Up a Happy and Confident Eater". Livro este que aconselho que comprem.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, com a Sociedade Portuguesa de Pediatria e com o Comité Português para a UNICEF, o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses de vida dos Bebés é a melhor forma de os alimentar.

E porquê?
1. Os alimentos sólidos não são tão adequados a suprir as necessidades nutricionais dos Bebés como o leite materno ou de fórmula;
2. O Sistema Digestivo dos Bebés ainda não é capaz de retirar dos alimentos o que o Bebé necessita, portanto estes passam sem fornecer uma nutrição adequada;
3. Se se iniciarem os sólidos demasiado cedo, pode provocar-se um decréscimo na vontade de beber leite. Assim, o Bebé poderá não ficar tão bem nutrido;
4. Uma vez que o Sistema Imunitário ainda não está completamente desenvolvido, Bebés que iniciam sólidos cedo têm um maior risco de infecções e de desenvolver alergias do que os Bebés que foram alimentados a leite materno ou fórmula.

Sinais de que o Bebé está pronto para iniciar os sólidos
O BLW, ao seguir os sinais do Bebé, encoraja a sua confiança e independência. Assim, os sólidos são iniciados quando o Bebé demonstra que é capaz de se alimentar sozinho e vai progredindo ao seu ritmo. Os instintos levam-no a copiar os pais e irmãos e a desenvolver as suas capacidades de se alimentar de um modo natural e divertido, à medida que vai aprendendo.

A primeira pista de que estão prontos para mais do que leite é quando agarram num pedaço de comida e o levam à boca - o que farão se lhes for dada a oportunidade.
No caso da Carminho, eu estava a almoçar com ela ao colo (estava rabugenta) e, de repente, tirou-me uma batata frita da mão e levou-a à boca. Como batatas fritas não são um alimento adequado, tirei-a da mão quando vi que estava mesmo a mastigá-la. A cada pedaço de comida que eu levava à boca, ela esticava os bracinhos e abria a boca. Decidimos então dar-lhe um bocadinho de banana. Foi uma maravilha, não a largou durante um bom bocado. Esmagava-a com as mãos, levava-a à boca, cheirava. Tudo!
Estava felicíssima. Eu apenas apoiava a banana para que não caísse no chão.

No entanto, a motivação para levarem os alimentos à boca não tem a ver com fome, tem a ver com o querem copiar os outros porque são curiosos e porque o seu instinto lhes diz que assim sabem o que é seguro. Tal como os outros animais, um Bebé precisa de saber que alimentos são seguros e quais não são, assim, vai observar o pais de modo a ver o que eles levam às suas bocas.

É importante, também, ver sinais que coincidem com importantes mudanças no corpo do Bebé e que lhe permitirão lidar com a comida (desenvolvimento do Sistema Imunitário, do Sistema Digestivo e o crescimento e desenvolvimento da boca):
1. Consegue sentar-se sem apoio;
2. Alcança os objectos e leva-os à boca, rapidamente e com precisão;
3. Rói os seus brinquedos;
4. Faz movimentos de mastigação.

Os Bebés não necessitam de ser ensinados a comer - eles não aprendem a comer, eles desenvolvem a capacidade de o fazer através das capacidades para o fazer.
Algumas capacidades desenvolvem-se gradualmente, outras parecem surgir de um dia para o outro, mas todas elas são o resultado da prática de movimentos variados que o Bebé vai aprender a juntar para conseguir pegar num pedaço de comida, levá-lo à boca, mastigá-lo e engoli-lo.

As capacidades para se alimentar desenvolvem-se naturalmente e por esta ordem:
1. A pega na mama da Mãe;
2. Dirigir-se para objectos que lhe interessa;
3. Pegar em objectos e levá-los à boca;
4. Explorar os objectos com os lábios e com a boca;
5. Separar um pedaço de comida;
6. Mastigar;
7. Engolir;
8. Pegar em pequenos objectos com os dedos em pinça (com o polegar e o indicador).


Aos 6 meses, se o Bebé tiver oportunidade para olhar, alcançar e pegar na comida, irá levá-la à boca. Na realidade, não se está a alimentar (embora o pareça) porque ainda não tem a capacidade para engolir a comida, mas está a explorá-la com os seus lábios e língua.
Entre os 6 e os 9 meses, o Bebé começa por ser capaz de morder ou roer com as gengivas, de forma a separar um pequeno pedaço de comida. Pouco depois, descobre que consegue manter a comida dentro da boca durante um bocado e, tendo um maior controlo da língua, consegue movimentá-la e mastigá-la. No entanto, nesta fase a maioria da comida irá cair em vez de ser engolida.
O Bebé só será capaz de, propositadamente (se estiver bem sentado), levar a comida ao fundo da boca  depois de aprender a morder e a mastigar. Ele só irá começar a engolir a comida quando os músculos da língua, bochechas e maxilar se coordenarem de modo a permiti-lo. Isto funcionará como uma protecção contra o engasgamento - mas só funciona se o Bebé estiver em controlo.
Por volta dos 9 meses, o Bebé desenvolve a capacidade de agarrar em pinça, usando o polegar e o indicador para pegar em pequenos pedaços (ou objectos).

Bebés a quem é dada a oportunidade de se alimentarem a todas as refeições têm imensas oportunidades para praticar estas capacidades e, rapidamente, se tornam confiantes e aptos.
Do que se tem observado, os Bebés só se começam a alimentar quando estiverem preparados para o fazer (tal como com o andar e o falar) - mas precisam que lhes seja dada essa oportunidade. Eles sabem, instintivamente, quando estão preparados para alimentos sólidos e desenvolverão, naturalmente, as aptidões necessárias para se alimentarem sozinhos.

Há ainda uma série de sinais que, habitualmente, são associados ao estar pronto para comer, mas que são "apenas" sinais de desenvolvimento associado à idade do Bebé:
1. Acordar à noite: Muitos pais assumem que se o Bebé volta a acordar (ou a acordar mais vezes) durante a noite é porque tem fome. Este acordar pode estar ligado a uma enorme variedade de razões e, para Bebés com menos de 6 meses, se for mesmo fome o que se deve oferecer é mais leite (materno ou fórmula);
2. Lento aumento de peso: É uma das razões mais habituais para os pais serem aconselhados a iniciar os sólidos mais cedo, no entanto estudos demonstram que é algo muito normal de acontecer por volta dos 4 meses, especialmente em Bebés amamentados;
3. Observar os pais a comer: A partir dos 4 meses, os Bebés ficam fascinados com tudo o que é feito à sua frente, no entanto não sabem o que significa - são apenas curiosos;
4. Fazer sons com os lábios: Isto significa que estão a aprender a usar as suas bocas, tanto têm a ver com o comer como com o falar. Fazem parte da preparação para os alimentos sólidos, mas não significa que estejam preparados para os iniciar;
5. Não adormecerem logo a seguir a serem alimentados com leite: A partir dos 4 meses, os Bebés ficam mais despertos e alerta e começam a dormir menos;
6. Ser pequeno: Se o Bebé é pequeno é porque é suposto ser pequeno ou porque precisam de mais alimento. Se têm menos de 6 meses, o alimento que precisam é que leite. A excepção são os Bebés muito prematuros que podem precisar de nutrientes extra antes dos 6 meses;
7. Ser grande: Ou é suposto serem grandes ou estão a beber mais leite do que precisam (normalmente, fórmula - não há excesso de leite materno). Esta ideia vem dos anos 50, época em que se acreditava que quando atingissem um determinado peso deveriam iniciar os sólidos.

Portanto, quando os vossos pequenos estão prontos para iniciar o Baby-Led Weaning?
Quando:
1. Fizerem os 6 meses: Estarão preparados, a nível do sistema imunitário e digestivo;
2. Se conseguirem sentar direitos e sem apoio - evita o engasgamento;
3. Tiverem vontade: Quando vos "roubarem" um pedaço de comida, levarem-no à boca e começarem  a explorá-lo. É dar-lhes a oportunidade para participarem (estarem presentes) durante as refeições familiares - vão começar a ver que ficam a seguir os vossos movimentos, tentam agarrar a comida que vocês levam à boca, ficam de boca aberta e a imitar-vos.

















Próximo artigo? O "Como".
Como preparar a comida, como vestir/sentar/etc, como oferecer a comida, o que fazer, o que não fazer, etc.

E o artigo depois desse? "A nossa versão do BLW".
Disse-vos no primeiro artigo que fazemos um mix entre BLW e tradicional. Vou explicar-vos de forma mais aprofundada em que consiste o nosso Baby-Led Weaning e partilhar convosco a minha insanidade pela organização.

"Como assim? Insanidade pela organização?" - Para me organizar a nível de compras, de preparação prévia de alimentos, de introdução de novos alimentos, de ir rodando os alimentos (para evitar dar um alimento durante demasiados dias seguidos), de oferecer uma refeição equilibrada, de saber o que poderá ter causado alguma alergia (em caso de isso acontecer), etc., fiz um quadro em que tenho todas as refeições programadas até aos 12 meses da Carminho.
Comecei a fazer esse quadro quando a Carminho ainda tinha 5 meses e, desde então, já sofreu algumas alterações. A primeira foi porque me perdi um bocado na organização - cozia quantidades demasiado grandes então tínhamos de servir aquilo enquanto havia (para não desperdiçar). Agora tenho de fazer mais umas porque soube de novos alimentos que já podemos introduzir.
Depois explico tudo. Prometo.

O que eu não prometo é uma grande brevidade. Estamos a 3 dias das festividades e já vou ter de ir "correr capelinhas", vou ter pouco tempo para escrever. Mas vou tentar ter, pelo menos, o "Como" antes do Natal. Repito: Não prometo nada!

Por isso, se não publicar mais nada antes do Natal:
Feliz Natal para todos!(com uma árvore ainda sem luzes)

Artigos relacionados:

domingo, 17 de dezembro de 2017

Introdução dos Sólidos: Baby-Led Weaning (BLW) - Porquê?

Comecei por explicar, aqui, o que é o Baby-Led Weaning (BLW), como se compara com o Método Tradicional (MT) de um modo geral e porque é que este método não representa um maior risco de engasgamento do que o MT.

Agora apresentarei o porquê, os motivos que me levaram a optar pelo BLW, bem como as suas vantagens em relação ao MT, e quando é que se devem iniciar os sólidos, mais concretamente quando é que se deve começar o Baby-Led Weaning. Quando acabei os "porquê" reparei que isto já estava demasiado extenso, o "quando" fica para o próximo (mas a intenção estava lá).

Volto a dizer:
Como sabem não é um método inventado por mim, o que escreverei acerca do mesmo será informação retirada dos livros da Gill Rapley e da Tracey Murkett, e que complementarei com o que observo na Carminho e as experiências que temos tido.
Será como que uma tradução do livro "Baby-Led Weaning: The Essential Guide to Introducing Solid Foods and Helping Your Baby to Grow Up a Happy and Confident Eater". Livro este que aconselho que comprem.
A Carminho a explorar um pedaço de Maçã (cozida)
















Porquê o Baby-Led Weaning? Quais as suas vantagens? (e, já agora, as desvantagens)

Vou escrever pela ordem em que me chamaram à atenção e que depois fui aprendendo.

1. Bebés que iniciam os sólidos com o BLW tornam-se menos esquisitos com a comida: Como este método torna o acto de comer num acto prazeroso e porque comem a comida como ela é desde o início. Não há necessidade de transição de texturas e de momentos - algo que é complicado para muitos Bebés. Eu sempre fui picuinhas a comer, ainda hoje tenho automatismos parvos, embora tenha aprendido a comer de tudo, isso só aconteceu muito mais tarde, já nos 20 e muitos. Não quero que a minha filha seja como eu;

2. Não há guerras à hora das refeições: Não há pressão para que os Bebés comam - é no seu tempo -, logo, as refeições não se tornam num inferno para Bebés e Pais e podem, todos juntos, desfrutar deste momento familiar. Eu bem me lembro como este momento era um tormento para mim, até bem tarde. Passava horas à mesa, já sozinha, era mandada para a cozinha. Era uma luta de vontades entre mim e os outros. Não era fixe;

3. Não há necessidade para jogos ou truques: No BLW, o Bebé come o que quer e pára quando quer - não são decisões dos Pais. Portanto, não é preciso "enganar" ou distrair o Bebé para que coma o que ele não quer comer - nada de "olha, o avião!". Mais tarde, também não será necessário fazer formas engraçadas com a comida ou esconder vegetais noutras comidas;

4. É um momento prazeroso: Como o próprio Bebé é parte activa no processo e como é ele que controla o que comer, quanto comer e o tempo que demora, a refeição torna-se num momento de prazer. Os Bebés esperam por este momento que adoram, apreciam descobrir novos alimentos e gostam de fazer as coisas por eles mesmos. A Carminho, mal percebe que estamos a preparar o "cenário" fica toda contente: abana os pés, procura logo pela comida, "grita" sonzinhos de satisfação e, literalmente, atira o corpo na direcção da cadeira;

5. Cria-se uma atitude positiva em relação à comida: Muitas perturbações da alimentação das crianças iniciam-se bem cedo. Se as primeiras experiências do Bebé com a comida forem saudáveis e felizes, problemas como recusa de alimentos ou fobias alimentares tornam-se menos comuns. Na primária tive uma má experiência com o alho-francês. Uma das sopas era um caldo de alho francês, com pedaços do mesmo a boiar. Eu não gostava daquilo, cuspia-me toda, "vomitava" para o prato e obrigavam-me a comer na mesma. Uma coisa vos garanto: se me cheira a alho-francês eu não vou comer. Sei que é um alimento super saudável, mas nem pensar. Se estiver numa empada de pato ainda escapa, mas mesmo assim pedaços maiores são postos de parte e não me interessa se estou num restaurante fino ou se quem fez o prato fica ofendido: não dá!;

6. É natural: Os Bebés estão "programados" para experimentar e explorar - é como aprendem! Com este método, permite-se que o Bebé explore a comida ao seu ritmo e que siga os seus instintos para comer quando estiver preparado - como qualquer outro Bebé do Reino Animal (e sim, somos animais);

7. Um momento de aprendizagem sobre comida: Com o BLW, os Bebés aprendem acerca do aspecto, do sabor, do odor, da textura dos alimentos e de como se conjugam diferentes sabores;

8. Um momento de aprendizagem sobre o mundo: Tal como com os outros animais, um Bebé não está, simplesmente, a brincar - está sempre a aprender, a descobrir. Aprendem acerca de conceitos como "mais" e "menos", tamanho, forma, peso e textura. Aprendem, ainda, como pegar em algo mole sem o esmagar ou em algo escorregadio sem o deixar cair. Nesse momento, todos os seus sentidos estão envolvidos e aprendem como relacionar todas estas coisas, para um melhor entendimento do mundo que os rodeia;

9. Um momento de aprendizagem sobre como comer com segurança: Os Bebés aprendem sobre o que é mastigável e o que não é. A relação entre o sentir físico e o sentir mental é algo que só pode ser aprendido com a experiência. Quando o Bebé pega num pedaço de comida com a mão e o coloca dentro da boca isto ajuda-o a avaliar a facilidade com que diferentes tamanhos de pedaços se mastigam e movimentam com a língua. Isto é importante para que aprenda a evitar pedaços que são demasiado grandes para colocar na boca. Aprender como lidar com diferentes texturas também poderá diminuir as probabilidades de engasgamento;

10. Experimentar com diferentes texturas e aprender a mastigar: Com o BLW há uma experimentação de diferentes formas e texturas dos alimentos desde o início, estes não são reduzidos a uma colher de papa ou puré. Têm, ainda, a possibilidade de praticar a mastigação e a movimentação das coisas dentro das suas bocas, tornando-se mais experientes a lidar com a comida mais rapidamente do que os outros bebés. Para além de ser bom para a alimentação, aprender a mastigar eficazmente é também bom para a digestão e para o desenvolvimento da linguagem. Lidar com um leque variado de alimentos não só torna a refeição mais interessante, como torna mais provável que os Bebés ingiram todos os nutrientes de que necessitam;

11.  Experimentar a comida como ela é: Como adultos, esquecemo-nos que grande parte do prazer de comer vem de experimentarmos texturas e sabores individuais. Este método permite que os Bebés sintam este prazer. Já imaginaram se todas as vossas refeições fossem reduzidas a sopa ou a puré ou a papas? Sempre a mesma consistência, mesmo que o sabor mudasse? Não era aborrecido à brava? Ou até uma tortura?;

12. Aprender a confiar na comida: Os Bebés que estão habituados a seguir os seus instintos, no que diz respeito à comida, raramente suspeitam dela. Permitir que rejeitem comida que sentem que não precisam ou que não lhes parece segura (seja qual for o motivo), significa que estarão mais dispostos a experimentar novos alimentos porque sabem que podem escolher se os comerão ou não. Ainda no outro dia, o Duarte gozava comigo porque me deu algo a provar e eu tive de o cheiras primeiro? Sempre que me metem um prato à frente, fico bastante tempo a observar, a cheirar, a analisar. A primeira garfada é sempre dada com alguma suspeição;

13. Desenvolver o seu potencial: Ao usarem os dedos para levarem a comida à boca, os Bebés estão a ter mais uma oportunidade para praticar a coordenação olho-mão. Pegar em alimentos de diferentes texturas e tamanhos, várias vezes ao dia, melhora a sua destreza. Mastigar (em vez de, simplesmente, engolir) ajuda a desenvolver os músculos que serão utilizados quando aprenderem a falar;

14. Confiar em si mesmo: Permitir que os Bebés façam as coisas também estimula a sua confiança neles mesmos. Confiança nas suas habilidades e decisões. Quando um Bebé pega em algo (eu tinha escrito "nalgo", mas o Duarte gozou comigo e tive de alterar) e o leva à boca recebe, naquele instante, uma recompensa instantânea, através de uma forma ou textura interessante. Isto ensina-o que é capaz de fazer boas coisas acontecerem, aumentando a sua confiança e auto-estima. À medida que vai aumentando a sua experiência com a comida e que vai descobrindo o que é comestível e o que não é, bem como o que esperar de cada tipo de comida, vai aprendendo a confiar nas suas decisões. Bebés confiantes tornam-se crianças confiantes e isto, muitas vezes, permite que sejam mais tranquilos em relação à sua necessidade de explorar o mundo e que tenham mais liberdade para o aprender;

15. Participar nas refeições em família: Isto é divertido para o Bebé e permite-lhe copiar o comportamento dos outros à mesa, acabando por, naturalmente, aprender a usar talheres e adoptar as maneiras da família. Assim, começam a aprender como os diferentes alimentos/pratos são comidos, como partilhar, como esperar pela sua vez, e como conversar. Participar nas refeições em família tem um impacto positivo nas relações familiares, aptidões sociais, desenvolvimento da linguagem e hábitos alimentares saudáveis. Como disse no artigo de ontem, ainda não estamos nesta fase, mas fiquei a pensar nisso e é ir fazendo experiências. Desde que ela não se distraia muito connosco...;

16. Controlar o apetite: Quando são os Bebés a decidir o que querem comer (dentro de uma variedade de alimentos nutritivos), a que ritmo, quando querem parar, permite-lhes que se alimentem de acordo com as suas necessidades e torna menos provável que comam demais, mais tarde;

17. Melhor nutrição: Alguns relatos sugerem que é menos provável que, mais tarde, escolham comidas menos saudáveis, sendo mais provável que sejam melhor alimentados. Isto porque se habituaram a copiar o que os pais fazem, a comer "comida de adulto" e porque são mais aventureiros em relação aos alimentos;

18. Saúde a longo prazo: Como o aleitamento (com leite materno) é reduzido de um modo muito gradual, os Bebés continuam a obter uma boa quantidade de leite. O leite materno proporciona protecção contra várias doenças e um balanço perfeito de nutrientes, para o Bebé e para a Mãe;

19. Refeições mais fáceis, menos complicadas: Assumindo que os Pais têm uma alimentação saudável, é fácil para eles adaptar as suas refeições ao Bebé. E, em vez de alimentar o Bebé em momentos diferentes ou enquanto a sua refeição fica fria, podem todos comer em simultâneo. Nos primeiros dias isto era impensável, porque eu sentia que tinha de ficar a observar cada movimento da Carminho, com medo que ela se engasgasse. À medida que nos vamos, todos, habituando a este processo há cada vez mais à vontade e permite que vá fazendo outras coisas enquanto ela come (desde que nunca saia de perto dela);

20. Comer fora é mais fácil: Como no ponto anterior, os pais podem comer tranquilamente enquanto o Bebé também o faz. Se não se levar um tupperware, a maioria dos restaurantes fará um pratinho de legumes cozidos, por exemplo (que terá menos sal do que uma sopa que já esteja pronta). O Bebé tem, então, oportunidade de aprender como funciona este espaço: que a comida é parece e cheira diferente, que tem de esperar por ela, etc. Isto também torna que idas espontâneas sejam possíveis e não representem um grande problema.

21. É mais barato: Permitir que o Bebé coma o mesmo do que o resto da família é mais barato do que comprar e preparar comida à parte. E é, certamente, muito mais barato do que comprar comida para Bebé já feita.

Claro que o Baby-Led Weaning também terá as suas desvantagens, que a meu ver são diminutas, considerando todas as vantagens que foram descritas.

1. A sujidade: Há um pouco de sujidade, é verdade. Há pedaços de comida a irem parar ao chão, aos pais e a todo o lado. Simplesmente, esta sujidade acontece assim que se começa e é por um período bastante curto. Quantas mais oportunidades têm para experimentar, mais vão aperfeiçoando a técnica de como pegar nos alimentos, logo, menos alimentos a voar. De qualquer modo, quando se alimentam os Bebés com a colher também há sujidade - quando eles começam com os "brrrrrr" é sopa ou puré por todo o lado. E, para mim, é mais fácil apanhar e limpar quando cai um pedaço de comida do que pingos de sopa ou puré.

2. As preocupações dos outros: Não é bem uma desvantagem, é mais uma "chatice". Muitas pessoas, até verem como funciona, são muito cépticas e muito assustadas. Não o conhecem, nem percebem como funciona. No artigo anterior contei-vos a postura dos meus Pais e do próprio Duarte ao início, mas a cada dia que passa estamos mais confiantes - ela incluída. É preciso é ter cuidado para que o stress dos outros não assuste o Bebé. Bem sabemos como eles são permeáveis às nossas emoções. Por isso, se decidirem seguir o BLW estejam à vontade para não o fazer quando estão com pessoas que não querem entender o método (por mais vezes que o vejam em acção). E dêem também liberdade a outros cuidadores para que não o façam quando têm de tomar conta do Bebé e não se sentem À vontade com o BLW. Não faz mal nenhum se fizerem algumas das refeições pelo método tradicional, à colher.


Porque consideram que o BLW é melhor do que o Método Tradicional?

Bem, antes de mais e como tudo o resto, cada Mãe/Pai sabe o que é melhor para si, para o seu filho e o que melhor se coaduna com o seu estilo de vida.
Não há nada de mal em alimentar o Bebé à colher se acharem que é o melhor, se não se confia no Baby-Led Weaning. O momento tem de ser um momento com o menos stress possível (como em tudo o que envolve Bebés).
A maioria de nós foi alimentada à colher e estamos bem, não estamos? Eu sou super picuinhas com a comida (já fui muito mais!), mas sou saudável e estou bem.

Com o Método Tradicional o Bebé não é parte integrante da refeição familiar, não come o mesmo do que os outros. Em vez disso, os pais insistem em meter-lhe uma papa na boca, com uma colher. A consistência é sempre a mesma, mas o sabor varia: às vezes é bom, outras vezes não.
Os Pais até podem deixar que o Bebé veja a comida, mas raramente deixam que lhe toque com outra coisa que não a boca. Às vezes parecem com pressa, outras vezes a comida nunca mais chega.
Quando o Bebé cospe (seja porque foi surpreendido, seja porque quer ver o que é), os Pais apressam-se a raspar a comida e metê-la outra vez dentro da boca.
Como os Bebés não aprenderam que a comida os saciará, poderão ficar frustrados quando têm fome porque o que querem é leite.

Desvantagens do Método Tradicional
1. A comida não precisa de ser mastigada: A capacidade de mastigação pode ser atrasada e o Bebé pode não aprender a lidar bem com grumos. A mastigação é importante para o desenvolvimento da fala, boa digestão e comer em segurança;

2. A comida dada à colher tende a ser sugada para o fundo da boca onde não pode ser movimentada tão facilmente (ou de modo seguro);

3. Em muitos Bebés o reflexo de vómito é despoletado quando comem, pelas primeiras vezes, comidas com grumos ou esmagadas porque a sugam para o fundo da boca. É mais difícil aprenderam a evitar o reflexo quando são alimentados por outros do que quando lhes é dada a oportunidade de se alimentarem sozinhos;

4. Com este método, o Bebé não controla nem a quantidade que come nem a velocidade a que come. Muitos acabam por comer mais rápido e a comer mais do que precisam. Se se insistir nisto, poder-se-á interferir com a capacidade de sentir quando está saciado e, mais tarde, a que coma demais;

5. Quando é dada demasiada comida "sólida", o apetite do Bebé pode diminuir e poderá receber menos nutrientes do que necessita. Antes de completarem 12 meses, o aleitamento é a principal e mais importante fonte de alimentação do Bebé;

6. Não é um método divertido para o Bebé. Os Bebés querem explorar a comida - é como aprendem. Se repararem, os Bebés não acham muita piada que se lhes faça coisas ou que se as faça por eles. Permitir que os Bebés se alimentem a eles mesmos, torna as refeições mais agradáveis e encoraja-os a confiar na comida - aumentando a probabilidade de apreciarem uma maior variedade de sabores e texturas.

Com o BLW os Bebés podem comer alimentos em forma de purés, não são apenas alimentos sólidos. Aliás, o problema não está no facto de se comerem alimentos mais "líquidos", mas em apenas se comerem nesse formato e em não se permitir que os Bebés tenham o controlo. Há Bebés que, desde cedo, aprendem a comer com uma colher que os Pais previamente encheram, outros aprendem a "mergulhar" as colheres e outros ainda conseguem lidar com esses alimentos usando as mãos.

A alimentação à colher utiliza-se quando se introduzem os sólidos aos 3 ou 4 meses, apesar de ainda não haver necessidade alimentar com essa idade. Não há outra opção sem ser a colher porque os Bebés não conseguem lidar com a comida nessa idade, ainda não têm as capacidades necessárias para o fazer em segurança. Isto criou  ideia de que as colheres e os purés eram essenciais à introdução dos sólidos.
Mesmo havendo, actualmente, estudos que indicam que não se devem iniciar os sólidos numa idade tão precoce, a maioria das pessoas ainda assume (acriticamente) que o início da alimentação complementar deve ser feita por meio de papas, purés e à colher. De acordo com a Gill Rapley e com a Tracey Murkett, não há qualquer investigação que apoie esta ideia. Simplesmente tornou-se prática comum: experimentada e confiada, mas não testada.




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