sábado, 28 de março de 2020

A Loucura do Medo e a Procura da Tranquilidade - Parte II


A minha segunda e mais recentemente estratégia adoptada para manter a sanidade mental e tranquilidade?
Filtrar! Filtrar! Filtrar!

Há cerca de duas semanas passava o dia com a televisão ligada em canais noticiosos, a querer ver os directos da Directora da DGS e da Ministra da Saúde e do Primeiro-Ministro. A querer ver os números. O que se passa em Itália, o que se passa em Espanha. E no Reino Unido. E nos Estados Unidos. E na China. E África? Já chegou a África? E, ao mesmo tempo, de telemóvel na mão a ver o meu feed e grupos no Facebook, a receber mensagens em grupos do WhatsApp.

E tanta, mas tanta, informação que me sentia cada vez mais confusa e baralhada. E paranóica.
Usa máscara! Não uses máscara! Os chineses usam máscaras! Mas usam máscaras pela poluição e sempre usaram!
Usa luvas! Não uses luvas! Luvas protegem! Luvas dão falsa sensação de segurança!
Não ponhas um pezinho na rua! Podes ir à rua! Só podes ir à rua para passear o cão! Podes dar um pequeno passeio! Olha para aqueles caixões todos em Itália, são de gente que saiu à rua!
Lava as mãos. Usa álcool gel. Faz uma mistura de água com lixívia que é o que usam em laboratório! Detergentes normais chegam!
Chegaram-me informações sobre como o vinagre era melhor do que o álcool ou que os casais se deviam abster de relações sexuais. Estas, para mim, foram claramente mentira e sem qualquer sentido, mas outras havia em que dava por mim a seguir os meus "achismos". Ora, "achismo" vale zero.

Quando vi uma imagem alarmista que dizia que a OMS tinha dito que o vírus se propagava pelo ar e que tínhamos de andar de máscara sempre e quando dei por mim a comprar lixívia para desinfectar tudo quanto era saco e produto que entrasse nesta casa, percebi que estava me estava a deixar ir numa espiral de paranóia. Lembrei-me, então, que no início disto tudo tinha lido algures a seguinte recomendação:

Não passes o dia a receber informação. Dedica um momento do teu dia a isso e escolhe apenas informação de fontes credíveis e fiáveis.

Dito e feito! Deixei de ver os telejornais, desliguei notificações de grupos de whatsapp e passei a ir informar-me junto de entidades científicas e de confiança.
Não sou um supra-sumo científico dotado de conhecimento que me permita identificar todas as características deste vírus e todos os porquês de fazer assim ou assado em relação às luvas, máscaras e o raio que o parta.
Decidi que, a partir de agora, me iria informar apenas junto de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Direcção-Geral da Saúde (DGS), a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP - que é a minha Ordem) ou o site www.wordometers.info para seguir as suas indicações o mais escrupulosamente possível e retirar informação.

Tal como disse Graça Freitas, a Directora da DGS, estas recomendações e informações são feitas com base na evidência científica que se tem à data. As coisas podem mudar de um dia para o outro.

É muito importante que tenhamos todos a noção de que este vírus é novo, logo, a comunidade científica (que é aquela que devemos ouvir) não tem todos os conhecimentos e a informação vai sendo actualizada com o passar do tempo e com o evoluir da situação e dos estudos sobre o vírus.
Só vou abordar as recomendações para a população geral, não para profissionais de saúde ou agentes de autoridade ou qualquer profissão que exija proximidade com pessoas ou material delicado. Isto é uma espécie de resumo, no final vou colocar os links para os sites para poderem consultar mais detalhadamente e se manterem a par. 

De acordo com a OMS, o vírus é transmitido entre pessoas através de contacto próximo e pelas gotas que expelimos pelo nariz e boca. As pessoas que estão em maior risco são as que estão em contacto próximo ou que cuidam de pacientes com covid-19.


Sintomas
Segundo a DGS, a maioria das pessoas apresenta sintomas ligeiros: febre superior a 37,5º, tosse e dificuldades respiratórias (falta de ar). Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo a maioria dos casos recupera sem sequelas.
A OMS refere que os sintomas mais comuns são a febre, cansaço e tosse seca. Alguns pacientes podem dores dores, congestão nasal, "pingo", dores de garganta ou diarreia. Estes sintomas costumam ser ligeiros e começam gradualmente. Algumas pessoas ficam infectadas, mas não desenvolvem sintomas nem se sentem mal. A maioria das pessoas (cerca de 80%) recuperam sem necessidade de tratamento especial. Cerca de 1 em cada 6 infectados ficam gravemente doentes e desenvolvem dificuldades respiratórias. Os mais velhos e pessoas com doenças prévias (como hipertensão, problemas cardíacos ou diabetes) têm maior probabilidade de desenvolver uma doença grave. Procurar apoio médico se se tiver febre, tosse e dificuldades respiratórias.


Medidas de protecção
Segundo a OMS:
As medidas preventivas mais eficazes, para a população geral, são:
- Limpar frequentemente as mãos com álcool gel ou lavar com água e sabão;
- Não tocar nos olhos, nariz e boca;
- Espirrar ou tossir para lado interior do cotovelo ou para um lenço de papel que deve ser logo deitado fora;
- Usar máscara se tiver sintomas respiratórios e fazer a higiene das mãos após o descarte da máscara;
- Manter uma distância social (mínimo 1 metro) de pessoas com sintomas respiratórios;
- Contactar ajuda médica, de acordo com as directrizes das entidades de saúdes nacionais se apresentar sintomas como tosse, febre e dificuldades respiratórias - Em Portugal é contactar a Linha de Saúde 24 (808 24 24 24);
- Estar atento aos locais e cidades onde o covil-19 se está a espalhar mais e, se possível, evitar esses locais para diminuir a probabilidade de contrair o vírus.

Segundo a DGS:
São reforçadas as medidas acima descritas e acrescentam
- Evitar contacto próximo com pessoas com infecção respiratória;
- Evitar tocar na cara (boca, olhos ou nariz) com as mãos;
- Evitar partilhar objectos pessoais ou comida em que tenha tocado (não se referem a agregados familiares ou pessoas que partilhem diariamente o mesmo espaço);
- Adicionam para pessoas em risco de doença grave (idosos e doentes crónicos):  evitar contacto próximo com outras pessoas, afastar-se de pessoas doentes, limitar o contacto social e evitar multidões. Manter-se em casa, se possível.
- Para quem anda de transportes públicos (porque nem todos se podem dar ao luxo de ficar em casa por opção): garantir a distância mínima de outras pessoas, usar máscara APENAS se tiver problemas de saúde, virar a cara se alguém estiver a tossir e pedir à pessoa que o faça para um lenço, braço ou cotovelo, desinfectar as mãos com solução à base de álcool ou lava-las assim que possível, se o transporte estiver lotado esperar pelo próximo (se possível).


Máscaras e luvas
Segundo a OMS, se formos saudáveis, apenas devemos usar máscaras quando estivermos a cuidar de alguém infectado ou com suspeitas de estar infectado com covid-19; devemos usar se estivermos com tosse ou a espirra. As máscaras só serão eficazes quando usadas em combinação com frequente uso de álcool gel ou lavagem das mãos com água e sabão. Do mesmo modo, só se deve usar máscara quando sabemos como as colocar, usar e como as retirar e descartar.
Alertam, ainda, que a máscara pode dar uma falsa sensação de segurança e até ser ela própria uma fonte de infecção quando não utilizada do modo correcto.

Esta opinião é a partilhada pela DGS "De acordo com a situação atual em Portugal, não está indicado o uso de máscara para proteção individual, exceto nas seguintes situações: Suspeitos de infeção por COVID-19; Pessoas que prestem cuidados a suspeitos de infeção por COVID-19.". A DGS "não recomenda, até ao momento, o uso de máscara de proteção para pessoas que não apresentam sintomas (assintomáticas). O uso de máscara de forma incorrecta pode aumentar o risco de infeção, por estar mal colocada ou devido ao contacto das mãos com a cara. A máscara contribui também para uma falsa sensação de segurança.
Ainda segundo a DGS, o uso de luvas não é eficaz. E, tal como a máscara, pode ser um veículo de transmissão do vírus em vez de serem protectoras.


Transmissão pelo ar ou por superfícies
De acordo com a DGS e com a OMS, o contágio não é pelo ar, mas pelas secreções respiratórias ou gotículas que expelimos (se estivermos infectados) e/ou durante a realização de procedimentos médicos invadidos produtores de aerossóis. As gotículas podem entrar directamente pela boca olhos ou nariz e provocar a infecção. Cumprir o distanciamento social aconselhado pela DGS ou ficar em casa são boas medidas de prevenção da infecção.
Também não se sabe ao certo quanto tempo o vírus sobrevive nas superfícies. Os estudos sugerem que podem persistir em algumas superfícies de algumas horas a vários dias, dependendo das condições, como o tipo de superfície, temperatura ou a humidade do ambiente.
As superfícies não transmitem directamente o vírus, apenas se se tocar com as mãos numa superfície contaminada e posteriormente as levar à boca, nariz e/ou olhos.
Se as superfícies forem lavadas regularmente evita-se esse contágio. Quer na nossa casa como em locais públicos a frequência de limpeza deve ser aumentada, para que o vírus não se acumule nas superfícies. Deve utilizar-se detergente e desinfectante comum de uso doméstico. 


Resumindo
Lavar as mãos, manter uma distância social, lavar as mãos, esquecer máscaras e luvas (se não formos profissionais de saúde ou cuja profissão implique contacto próximo com pessoas ou material delicado),  lavar as mãos, aumentar a frequência de limpeza da nossa casa para evitar a acumulação do vírus.
Em lado algum diz que, para quem não está infectado, de quarentena ou que faça parte do grupo de risco, não podemos dar um breve passeio higiénico, para bem da nossa saúde.

Parem de passar os dias a ler coisas, a partilhar coisas (principalmente falsas, alarmistas e/ou que contribuam para nada mais do que pânico), empanicar com coisas.
Parem de se plantar à janela a filmar ou a fotografar quem sai à rua cumprindo todas as recomendações, para publicar nas redes sociais. Aliás, parem de filmar e fotografar os outros para achincalhar, parem de se armar em PIDE desde a marquise lá de casa.
E gente da margem Norte que hoje entupiu a ponte para ir para a Costa: isso não é um breve passeio higiénico, pá!


Informação e fontes
Para além de tudo o que expus anteriormente, há outros sites e artigos interessantes que gostaria de partilhar convosco.

Ordem dos Psicólogos Portugueses - Aqui
Tem uma variedade de artigos de apoio e vídeos, como passos para lidar com a ansiedade, manter actividades à distância, como explicar a crianças as medidas de distanciamento e isolamento social, etc. 

Artigos do Washington Post
Têm modelos explicativos e animados que nos ajudam a:
perceber as evoluções das epidemias: "How epidemics like cover-19 end (and how to end them faster)" - Aqui
como é que medidas como quarentena obrigatória, isolamento social, distanciamento social, etc., funcionam (ou não funcionam - o caso da quarentena forçada) - "Por que surtos como o coronavírus se espalham exponencialmente e como "achatar a curva" - Aqui

Artigo "Coronavírus: o martelo e a dança" - Aqui - novamente, modelos matemáticos para nos explicar como poderemos abrandar a curva e ganhar tempo.  

Site Worldometers - Aqui - um site que possibilita estatísticas em tempo real (ou o mais possível), se têm mesmo de saber os número de infectados, mortes e recuperações (no mundo e por país). Também inclui sintomas, idade, etc.

Organização Mundial da Saúde - Aqui
Direcção-Geral da Saúde - Aqui
Serviço Nacional de Saúde - Aqui


Concluindo
  • Não saiam de casa sem necessidade;
  • Prefiram compras com entregas ao domicílio (se possível);
  • Se tiverem de ir para filas mantenham a distância social (mínimo de um metro);
  • Afastem a cara de pessoas que estiverem a espirrar e/ou tossir;
  • Se estiverem a tossir ou a espirrar, usem uma máscara se tiverem de sair (será preferível evitar sair);
  • Quando estiverem fora de casa, evitem tocar em superfícies. Se o fizerem, não toquem na cara e desinfectem as mãos assim que possível (eu ando com um fraquinho de álcool gel na carteira);
  • Quando entrarem em casa, tirem os sapatos, troquem de roupa e lavem bem as mãos;
  • Se precisarem, não há problema ou contra-indicação, em irem dar um pequeno passeio higiénico (ir com o marido e filhos não tem problema, aproveitarem para verem amigos é que já não é uma boa prática). E breve! Perto de casa! Não é para irem atravessar a ponte, gente!

Fiquem seguros e fiquem em casa (o mais possível e se possível)

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