segunda-feira, 30 de março de 2020

A Procura da Tranquilidade - Como viver em Estado de Emergência





No artigo anterior deixei-vos indicações da Organização Mundial da Saúde e da Direcção-Geral da Saúde sobre sintomas, medidas de protecção, máscaras e luvas, etc. 
Também vos deixei artigos e links interessantes, fidedignos e isentos, para poderem consultar se quiserem saber a evolução da pandemia, sem ficarem ansiosos com a carga sensacionalista que existe nos é impingida pelos telejornais, jornais e redes sociais. 

Entretanto, e durante o fim de semana, as redes sociais encheram-se de insultos e publicações acríticas exigindo a cabeça dos automobilistas que tentavam atravessar a Ponte 25 de Abril e chegar à margem sul. "Criminosos", diziam alguns, "essa gente não quer saber da pandemia e quer ir dar um passeio à praia!" - esta, claro, é uma versão soft das palavras que pulularam. Surpresa das surpresas! Então não é que, afinal, a grande maioria dos automobilistas estavam em cumprimento das directrizes do Estado de Emergência? Não é que, afinal, as filas de trânsito eram provocadas pelo corte feito pelas autoridades para fazerem a operação STOP? Não é que, afinal e para não variar, fomos impulsivos na análise de uma situação?
Temos, então, uma oportunidade para, em vez de nos indignarmos por cada pessoa que vemos na rua, pensarmos que essa pessoa provavelmente, tal como nós, está a cumprir a sua parte e a ser consciente? Fiquemos felizes por até vivermos numa sociedade em que, pelo menos em tempo de pandemia, somos realmente solidários, responsáveis e com sentido comunitário.
Além do mais, com os inconscientes e inconsequentes, não é a insultá-los que chegamos a eles. É com diálogo e educação. É fazê-los pensar que fazem parte de um todo, que podem ficar doentes e transmitir o vírus a alguém de quem gostam. Portanto, se virem alguém que não está a cumprir e quiserem chamar a polícia, façam-no, mas abstenham-se de filmar as pessoas para as achincalhar nas redes sociais.


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Estou a pensar quantidade de gente que vi ontem por aqui a reagir aos automobilistas que tentavam atravessar a ponte. Fiquei algo desapontada. A maioria que vi era acrítica, imponderada e insultuosa. Acontece que a maioria (arrisco, a grande maioria) está a cumprir com as regras do estado de emergência e com as directrizes das entidades de saúde competentes. E acontece que esta mesma maioria está com medo. Estamos todos. O presente incerto, o futuro também. Passamos a maior parte do tempo fechados em casa, alguns passam o tempo TODO em casa. Fechados há dias e a única janela para o mundo exterior são a televisão e as redes sociais. A maioria das pessoas está a cumprir com o pedido de distanciamento social, com o estado de emergência. Respirem, acalmem-se e pensem no que pode causar certos movimentos. O trânsito ontem, na ponte, foi causado pela operação STOP que foi feita. Há muitas pessoas que trabalham na margem norte e moram na margem sul. O estado de emergência também permite que se vá prestar auxílio a familiares que estão isolados. Segundo a agente responsável, a maioria das pessoas estava em cumprimento. Ou seja, a fila não era provocada por quem queria ir passear para a costa. E parem de contar e criticar as pessoas que vêem na rua a fazer a sua vida possível. Ainda há muitas pessoas que trabalham o dia inteiro e que aproveitam o fim de semana para fazer as suas compras. É absolutamente normal e expectável que continue a haver mais gente na rua ao fim de semana. Porque é que assumem logo que, tal como vocês, aquelas pessoas não estão a fazer a sua parte? Só vocês é que são o exemplo, o resto é tudo “imbecil”, “energúmeno”, “acéfalo”, e tudo o mais que li por aí? Sim, há quem seja inconsciente ou inconsequente, mas não são a regra. Não são. E sim, é para educar, não é para prender ou bater, como também já vi pedirem. A PSP é, e bem, um agente activo na educação e informação dos cidadãos. O que é mais importante do que reprimir e agredir. Mais do que nunca, calma e empatia precisam-se. #cidadania #parentalidade #media #comunicação #pandemia #coronavírus #covid19 #empatia #psp #dgs
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Em que consiste o Estado de Emergência

Mas... Mas... Antes até de se chamar a polícia ou exigir um carrasco para os meliantes (não podia deixar fugir a oportunidade de escrever esta palavra), convém sabermos o que se pode ou não fazer durante o actual estado de emergência.

O actual estado de emergência foi decretado a 18 de Março, aprovado a 19 e entrou em vigor a 22 de Março. Termina a 02 de Abril, mas poderá ser renovada (que deverá vir a acontecer).
Basicamente, este estado de emergência tem como objectivo limitar as nossas deslocações e, consequentes, interacções, de modo a prevenir a transmissão do covid-19. Refere o decreto "(...) os contactos entre pessoas, que constituem forte veículo de contágio e de propagação do vírus, devem manter-se no nível mínimo indispensável" e "(...) a redução do contacto entre pessoas e bens ou estruturas físicas deve ser acautelada e reduzida tanto quanto possível".. Assim, de um modo geral, todas as actividades que não são consideradas necessárias para o funcionamento do país e para a saúde individual ficam ou em regime de teletrabalho ou suspensas.
Uma das grandes "polémicas" do covid (e a mais frequente das minhas discussões) tem sido a deslocação de pessoas na via pública. No presente estado de emergência, há uma clara preocupação com a saúde física e mental provocada pela situação reclusão (ainda que voluntária). O decreto é claro " Fica também prevista (...) uma permissão de circulação para efeitos, por exemplo, de exercício físico, por forma a mitigar os impactos que a permanência constante no domicílio pode ter no ser humano.

O Decreto é demasiado extenso para o colocar aqui na sua totalidade e, tal como no artigo anterior, vou colocar apenas aqui o que interessa saber sobre como vivemos, ou como podemos viver, a nossa nova vida quotidiana.
Existem três novas formas de vida: Confinamento obrigatório, dever especial de protecção e dever geral de recolhimento domiciliário (artigos 3.º a 5.º, da página 2).

Confinamento Obrigatório

Passa a viver em confinamento obrigatório (em estabelecimento de saúde ou no próprio domicilio, dependerá do estado de saúde), as pessoas que se encontrarem doentes ou aquelas cujas autoridades ou profissionais de saúde tenham determinado vigilância activa (pessoas que tiveram contactos com alto risco de exposição)

Dever Especial de Protecção

Estão nesta situação os maiores de 70 anos e as pessoas consideradas de risco (imunodeprimidos e portadores de doença crónica - hipertensos, doentes cardiovasculares, portadores de doença respiratória crónica e doentes oncológicos).
Podem sair de casa para, entre outros,
- adquirir bens e serviços;
- obtenção de cuidados de saúde;
- ir aos correios, bancos e agências de seguros;
- deslocações curtas para actividade física (proibido o exercício de actividade colectiva);
- deslocações curtas para passear os animais de companhia;
As pessoas consideradas de risco podem, se não tiverem em situação de baixa médica, deslocar-se para exercício de actividade profissional.

Dever Geral de Recolhimento Domiciliário

A restante população (que não a anterior) pode deslocar-se para, entre outros,
- adquirir de bens e serviços;
- trabalhar;
- procurar trabalho ou responder a oferta de trabalho;
- obter cuidados de saúde, transportar quem deles necessite ou doar sangue;
- Assistir pessoas vulneráveis, com deficiência, filhos, progenitores, idosos ou dependentes;
- para ir para estabelecimentos escolares (lembram-se que há crianças que, pelas actividades dos pais continuam a ir à escola?);
- deslocações de curta duração para efeitos de fruição de momentos ao ar livre;
- deslocações de curta duração para efeitos de actividade física (proibido o exercício de actividade colectiva);
- deslocações para voluntariado social;
- cumprimento de partilha de responsabilidades  parentais;
- deslocações aos correios, bancos e seguradoras;
- passear os animais de companhia e alimentação de animais (e levar os animais ao veterinário);
- regressar ao domicílio pessoal.
- e várias mais.
Os veículos podem circular na via pública para realizar as actividades mencionadas ou para ir a bombas de gasolina.
E, muito importante, em todas as deslocações efectuadas devem ser respeitadas as recomendações e ordens determinadas pelas autoridades (de saúde e de segurança), designadamente as respeitantes às distâncias a observar entre as pessoas.
Reparem que, no início, escrevi "entre outros". Significa que há mais situações em que as pessoas se podem deslocar. Portanto, quando tiverem o impulso de ir à janela apontar dedos, acalmem-se e olhem para esta lista.

Resumindo e concluindo

Evitem sair de casa, sim. É para sair o menos possível. Mas evitem, também, ficar SEMPRE em casa, pela vossa saúde física e mental. A OMS recomenda 30 minutos de exercício físico diário para adultos e 1 hora para crianças. Esperam-nos muitas mais semanas de distanciamento social e, provavelmente, estado de emergência. Já temos de estar fisicamente longe dos outros, vamos evitar comprometer mais o nosso bem estar mental (e da nossa família) ao ficarmos de quarentena se não houver recomendação para isso por parte das autoridades (de saúde ou governamentais).
Não é preciso ir ao supermercado ou ao banco ou aos correios todos os dias. De cada vez que vão estão a colocar-se em risco (e aos outros). São situações que não podem concretizar sem estarem perto de outras pessoas ou sem tocarem em sítios onde outros tocaram.
A DGS e a OMS recomendam que tenhamos uma boa alimentação, portanto optem por ir ao supermercado semanalmente ou com a menor frequência possível. Se puderem, optem por compras online (se conseguirem, que aquilo está difícil) ou requisitem os serviços que algumas juntas de freguesia estão a facultar par algumas situações.
Podem ir fazer o tal passeio higiénico recomendado pelo Primeiro-Ministro, mas sozinhos ou com quem partilham a vossa casa. Não é para ir correr com o vizinho ou com o amigo ou com o familiar que mora noutra casa. Escolham sítios isolados, com pouca gente. Ou optem pela clássica "volta ao quarteirão".

É importante nunca esquecer: comportamentos de segurança de higiene.
Quando tenho de sair de casa, só toco mesmo no que tiver de ser e só com uma mão: na porta, interruptores, código de acesso, tampa do ecoponto. Nunca toco na cara e levo na outra mão álcool gel para desinfectar as mãos logo a seguir. Não uso o casaco para proteger aos mãos, nem o rabo ou pernas para empurrar. É mais fácil e imediato desinfectar as mãos.
Por exemplo, num trajecto de casa ao carro: levo o desinfectante na mão esquerda, a mão esquerda é para acender a luz da escada (se for preciso), abrir e fechar a porta da rua, abrir a porta do carro. E pimbas! Logo a seguir álcool-gel. No regresso, a mesma coisa, mas assim que entro em casa tiro os sapatos, lavo as mãos e mudo de roupa. Se algum de nós tiver ido ao supermercado ou a um sítio onde passe muita gente, lavo o chão da entrada a seguir.


Deixo-vos aqui a Declaração do Estado de Emergência, para que o consultem e se informem e saibam o que podem fazer e como o devem fazer.
E não se esqueçam: respirar, acalmar, filtrar e empatizar! Só assim isto se torna mais suportável.
Vai ficar tudo bem.
Fonte

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