domingo, 21 de setembro de 2014

"Nada. Agora já não me lembro."

    - Como é que consegues estar aí, simplesmente deitada, sem fazer nada? Sem ir, sem fazer, sem ser produtiva?
    - Nada? Estou a pensar. A sonhar. A contemplar. A fugir do mundo que me é imposto, com regras que não concordo e que não se adequam ao meu Ser. A imaginar e a construir o meu mundo. Como chamas a isso "nada" é algo que me transcende e que acho completamente absurdo.

    A maioria das pessoas fica inquieta quando vê alguém a pensar. Não sei porquê, nem elas sabem (ou querem) muito bem explicar o porquê, mas isso pouco me importa.
Geralmente sou eu a pensativa, cujo decurso dos pensamentos é interrompido por uma das seguintes questões:
    - Estás bem?
    - Passa-se alguma coisa?
    - Estás preocupada com algo?
   Geralmente seguidas de "É que estás muito calada...". E quando respondo "Estou só a pensar", segue-se um "Nada, agora já não me lembro..." à invariável questão "Em quê?".
    Na realidade a resposta verdadeira é "estava a imaginar que estava muito longe daqui, a lutar contra ninjas e que lhes estava a dar uma coça" ou qualquer outro fruto da minha imaginação fértil.
    Mas nunca posso responder a verdade. Primeiro porque não me apetece chatear ou ter de reagir a um "que pensamento estúpido/infantil". Segundo, e mais importante, porque é um mundo que só a mim pertence, que não quero partilhar e muito menos justificar.

    A minha imaginação é algo que ninguém, nem eu mesma, consegue controlar. É algo com vontade própria, não obedece a horários ou a qualquer outro tipo de regras. É um espaço invisível no qual eu posso ser Eu, sem ter de me adaptar ao Outro, sem consequências sociais ou morais. Sem me preocupar se ofendo alguém ou firo  susceptibilidades (o que acontece com frequência quando abro a boca).
    Sem imposições de qualquer espécie.

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