quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Amamentar: Sonho ou Pesadelo? - Parte 1/3




Tal como as mamas são o símbolo da feminilidade, a amamentação é o símbolo da maternidade, do amor de mãe, da vinculação mãe-bebé.
Mas, e quando o sonho se torna num pesadelo?

Depois de um parto extremamente complicado e com um pós-parto debilitante, a amamentação quase me levou à loucura.
Foi uma chapada muito dura que levei da realidade, talvez a mais penosa de todas. Perceber que a amamentação em vez de fomentar a vinculação com a minha bebé estava a prejudicá-la, foi das coisas mais tristes com que me deparei.
Juntamente com a "loucura" normal pós-parto, as dores da amamentação fizeram-me sentir e dizer as maiores barbaridades em relação a ser mãe, em relação à minha filha. Coisas que nunca irei proferir novamente e das quais me arrependo profundamente. Coisas que farei por apagar da minha memória, não esquecendo que são "normais" e que não me posso culpar por isso, porque não eram verdade.

Há umas semanas, quando publiquei o artigo "Ainda sobre o sono", uma outra mãe achou por bem descontextualizar as minhas palavras e apontar-me o dedo por não promover a amamentação. Não gostei. Não gosto quando descontextualizam as minhas palavras, fico realmente zangada, não gosto quando se critica com o intuito de criticar, e não gosto quando se traçam retratos e fazem acusações sem se conhecer o todo.
Aliás, se se tivesse dado ao trabalho de explorar antes de criticar, ter-se-ia deparado com a crónica "Amamentação" e perceberia a minha posição sobre este tema.
Ora, esta mãe tem toda a legitimidade de não gostar ou não concordar com que escrevi. Tem toda a legitimidade para ter um abordagem da maternidade diferente da minha. No entanto, não tem legitimidade nenhuma (nenhuma!) para dizer que eu não promovo a amamentação.



A minha posição em relação à amamentação é que cada mãe sabe o que é melhor para si e para o seu bebé, cada mãe (e pai) sabe como pretende criar o seu bebé.
Eu defendo a amamentação e a importância da sanidade mental dos pais, para que sejam capazes de dar o seu melhor e promover a saúde física e emocional dos seus bebés. Se por um lado acredito que ir à maminha é fundamental, por outro também acredito na importância de os bebés aprenderem a tranquilizar-se de outras formas. Porquê?
Porque nem todas as mães podem ter os seus bebés acoplados à mama sempre que eles pedem, porque há mães que sofrem com a amamentação, porque há mães que não se podem dar ao luxo de curtir a maternidade e precisam de trabalhar, porque há mães que precisam de dormir mais do que outras, porque há mães que simplesmente não querem. Qualquer uma destas hipótese é legítima.

Sou completamente a favor da amamentação em livre demanda.
Não há melhor para o bebé do que se alimentar directamente da fonte e, nos casos em que a coisa corre bem, não há melhor do que a maminha para tranquilizar o bebé e para fortalecer o laço afectivo entre ambos.
Na mama o bebé faz tudo: alimenta-se, brinca, dorme, tranquiliza, tudo! Quando o bebé pode (ou quer) ir à mama, quando a mãe não sofre com isso e quando a mãe tem disponibilidade para o fazer - dêem mama à vontade. A mama é um mundo! Viva a mama!
Mas, infelizmente, há mães que não podem (ou não querem) e não há problema. Desde que o bebé esteja bem alimentado e saudável está tudo bem, isso é que é o fundamental.

Deixo ainda aqui um exemplo em que não resulta dar-se maminha sempre que eles pedem.
Aqui há umas semanas, quando tive o OK da pediatra para que a Carminho dormisse a noite toda, achei que poderia compensar a mamada da madrugada com mais uma mamada durante o dia. Tinha lido alguns artigos sobre isso e as minhas mamas já aguentariam.
O que aconteceu? Bem, a miúda começou a bolçar sempre e chorava na maminha! Falei com a minha tia (enfermeira especialista em amamentação) porque estava preocupada que fosse refluxo gástrico ou outra coisa qualquer.
Sabem o que era? Excesso de leite. A Carminho, como qualquer bebé, não recusava a maminha que lhe era oferecida, mas ainda tinha leite da mamada anterior no estômago e eu tenho uma enorme produção de leite, portanto ela mamava até ficar enfartada. Aí, obviamente, chorava na maminha, procurava a maminha para se acalmar, sentia-se desconfortável, chorava outra vez e depois ia tudo fora! Assim que acabei com a mamada extra acabou-se o drama.
Quando foi levar a vacina da meningite já tinha mamado, mas ofereci-lhe maminha na mesma (é mais tranquilizador e a dor passa-lhes mais rápido). Claro que 10 minutos depois estava a bolçar tudo, mas foi uma ocasião excepcional.
Portanto, estes são exemplos de situações em que é preciso ter atenção quando se dá maminha em livre demanda. Há bebés que não aguentam e outros que sim.
Cada caso é um caso e os pais é que têm de perceber o que funciona para o seu bebé. Sem culpas!



A amamentação quase me levou à loucura e atrasou o estabelecimento do vínculo afectivo com a minha bebé. Tive de promover o vínculo de outras formas: pela brincadeira, pelos mimos, pelo mudar da fralda, etc. Coisas que só consegui começar a fazer um mês após o nascimento da Carminho. Até lá foi um autêntico inferno.
Estive muitas vezes perto de desistir. Gritei, chorei baba e ranho, mordi-me, mordi a almofada, mordi o meu marido, gritei palavrões, culpei a bebé, culpei-me a mim, dei murros no colchão, arrependi-me de ter tido um bebé, senti-me a mãe mais incapaz do mundo, senti-me culpada por não ser a mãe que a minha bebé inocente merecia. Foi um processo muito complicado, de dor física e psicológica.

Neste meu percurso fiquei a saber algo sobre mim: sou anormalmente tolerante à dor. Com aquilo que eu aguentei (e aguento) a maioria das mulheres teriam desistido de amamentar. E com toda a legitimidade para o fazer.
Somos Mães, não somos mártires. O fundamental é que o bebé esteja alimentado e que mãe e bebé estejam felizes.

6 comentários:

  1. Como em tudo, o que importa é estarem todos bem.
    Comecei a dar suplemento na maternidade. Criticaram-me. Não era o que eu escolheria, mas ia deixar a minha filha com fome e a perder peso?
    Com a chegada do leite largámos o suplemento (não foi fácil, a amamentação não é uma ciência exata e estamos sempre, mãe e filho, a aprender) mas uma destas noites, muito cansada e com uma enxaqueca que nem me deixava abrir os olhos, deixei-a com o pai que substituiu uma das mamadas pelo biberão e eu consegui dormir das 22h às 4h sem interrupções. E seria criticada por muitos, se soubessem. Mas eu tenho a certeza que fui melhor mãe, mais paciente, depois daquelas primeiras seis horas seguidas em meses.

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    1. Olá :)
      Desde que engravidamos é um processo constante de aprendizagem e quando eles nascem ainda mais! E tem de ser tudo sempre muito rápido, porque não lhes podemos pedir "dá-me só 5 minutos para ir ali perguntar" ou "para a semana perguntamos à pediatra".
      Também me lembro de pedir ao meu marido que a tranquilizasse para eu dormir uma sesta extra. Acordei, dei mama e "vai ao pai que a mãe precisa mesmo de dormir mais um bocado". Voltei para a cama, dormir, fiquei na ronha, passei assim 2 horinhas que me deram uma boa dose de energia.
      Temos de fazer o que precisamos para podermos ser melhores mães. Quando fui criticada, foi por dizer que não é preciso ir sempre a correr quando o bebé acorda durante a noite. Pois... Se eu desse mama sempre que a minha bebé se mexia ou resmungasse não seria a melhor mãe de que sou capaz.
      Eu preciso de descansar. Preciso mesmo.
      Aqui, neste espaço, não será criticada. Claro que erramos de vez em quando, mas é a conversar e a ler que aprendemos a ser ainda melhores mães.
      Beijinhos

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    2. E fez ;)
      Eu tive sorte de ter mt leite e de meus filhos engordarem bem (talvez ate demais, o 2º foi percentil 100 ate parar a mama em exclusivo) mas eu digo sempre que se por algum motivo tal nao acontecesse ou se mesmo assim eu me sentisse demasiado cansada nao pensaria duas vezes em substituir uma das mamadas noturnas por LA . Acho que precisamos de estar bem para sermos bons cuidadores.

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  2. Adorei o texto e é isso que penso também!
    Aqui não resultou a livre demanda. Tenho muita facilidade de produção e basta o mínimo xuxar no mamilo para o leite começar a sair a jato...desta forma mesmo quando so queriam um consolo acabavam por engolir bastante leite e bolsar tudo depois ou mesmo ficarem com cólicas (no caso da 1º filha). Daí que tive de aprender a ler os sinais de fome e a deixar o consolo para colo ou xuxa. Aprendi que desde cedo os meus filhos aguentam bem 2 horas sem mama ...o 2º ate aguentava 3h a 4horas e no entanto no seu 1º mês de vida engordou 2kg e cresceu 5cm, portanto, maminha mesmo que poucas vezes resultou lindamente e foi em exclusivo ate aos 7 meses e meio (porque ele nao aceitou solidos aos 6m).
    Acho que as mães t~em de estar cientes que cada corpo funciona de uma determinada forma de acordo com a produção e o leite em si...há maes para quem será essencial a livre demanda para garantir o sucesso da amamentação e há outras como eu que a livre demanda poderá atrapalhar e mesmo causar desconforto ao bebé. Seja como for o leitinho da mãe é o melhor que há, mas a saude mental deverá ser sempre colocada no topo de tudo.

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    1. Exactamente: É importante adaptarmos a amamentação aos nossos corpos. Não é gritar "livre demanda" e ter palas nos olhos, porque teoricamente é o melhor para o bebé.
      Cheguei a ter uma "discussão" online, porque eu dizia que "leite materno directamente da fonte é o perfeito.", e outras mães não percebiam que não estava a criticar quem não pode ou não quer. É simplesmente um facto. Apenas, às vezes não é possível amamentar, seja por que motivo for. Mas mama é o ideal.

      Ui! Elevadas produções: o leite sai em jacto, eles engasgam-se, afastam-se da mama a tossir, mas começam a chorar porque querem voltar à mama, voltam à mama e levam com outro jacto. Até se torna numa situação caricata.
      Aqui há uns dias, estava com as mamas bem cheias, fui dar mama e quando agarrei na mama, mandei com um jacto mesmo na cara da bebé. Levou com 2 ou 3 jactos, porque bastava tocar na mama. Ri-me tanto. O que vale é que acabam por acontecer estas coisas engraçadas.

      Como eu digo, é livre demanda dentro de certos parâmetros. Se mama demasiado cedo, magoa-me ou fica enfartada e bolça. Por isso, é livre demanda em intervalos de 2h30/3h.
      Se tivesse mantido a livre demanda, como solução para tudo, há muito tempo que teria deixado de amamentar. E, provavelmente, a minha filha seria alimentada a LA, porque não vejo como me organizaria para tirar leite para lhe dar. Acho que ficaria maluca de viver para ser uma "leiteira".

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  3. Revejo-me nestes textos, também eu tive problemas com a maminha...feridas que só sararam ao fim de 4 meses, dores horríveis a dar mama, no banho, c frio ou simplesmente a roupa a tocar! Mas mesmo com todo o esforço às 7 semanas tivemos de introduzir o suplemento a seguir à maminha pq a pequena começou a perder peso e depois qdo começou a recuperar não foi o suficiente! A razão da perda de peso foram as dores que me faziam retrair e a produção caiu. A mama esquerda deixou quase de ter leite!!! Não parei o suplemento e já tive de aumentar a quantidade, mas prefiro dar o pouco que tenho e ela andar feliz e satisfeita do que ela passar fome! Tenho a certeza duma coisa...fiz e faço tudo o que posso para dar o melhor à minha bebé que amo de paixão!

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