quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Amamentar: Sonho ou Pesadelo? - Parte 3/3



Triagem da MAC. Segunda volta.
"Estou com uma mastite, com abscesso", "Tem dores?", "Nem por isso.", "Tem febre?", "Não, mas eu nunca tenho febre. Além do mais, já vim cá ontem, foi confirmada a mastite, mas entretanto fui a uma consulta com uma médica especialista e estou com um abscesso". Desta vez observaram-me as mamas, pelo menos isso.
Sou chamada para a consulta. "Então, diz que tem uma mastite? Com abscesso?", "Sim. Fui vista por uma colega vossa, especialista em lactação, que vos escreveu uma carta.". Lêem a carta, observam-me e optam por chamar o especialista. Enquanto uma das médicas foi chamá-lo, a outra confessou-me "Quando entrou aqui a dizer que tinha uma mastite não acreditei. Pela sua cara, nunca imaginei que estivesse nesse estado. Achei mesmo que estava a exagerar. É uma estóica!".
Disseram-me que, no estado em que estava era suposto estar a chorar baba e ranho e a contorcer-me de dores. "De zero a 10, quanta dor sente?", "Bem... Não é bem dor. É mais desconforto.". Olham uma para a outra, em espanto e lá confirmamos, novamente, minha anormal tolerância à dor. Que, se por um lado é bom porque não sofro tanto, por outro acabamos todos (eu e profissionais de saúde) a desvalorizar sintomas. Se eu não tivesse a sorte de ser tão bem acompanhada, de estar sempre atenta e de ser informada, nem quero imaginar o que me poderia ter acontecido. Uma mastite é algo que se pode tornar extremamente grave se não for tratada o mais rapidamente possível, e é algo que se for apanhado precocemente é de muito fácil resolução.
Começam a explicar-me o procedimento habitual: davam-me anestesia geral, cortavam a mama para drenar e limpar, colocavam um dreno e durante uns dias não podia dar mama.

Deixam-me sozinha no gabinete e chorei. Chorei a pensar que me iam cortar, chorei a pensar que durante uns dias não podia dar daquela mama, chorei a pensar que iam ser dores horríveis, chorei a pensar que ia ficar com a mama marcada para sempre, chorei de medo da anestesia geral (a epidural já tinha corrido mal). Chorei com pena de mim mesma e com raiva, "Porque é que tudo me acontece?".
Entra o especialista, o Dr. Pedro Sereno, olha para mim e diz "grande mama!". Observou-me e deu-me duas opções: cirurgia (que implicava ficar internada umas horas e como tinha comido há pouco tempo ainda teria de esperar mais umas quantas) ou aspiração simples (o abscesso era pequeno, por isso dava para espetar uma seringa e aspirar o pus). Optei pela aspiração. Não só porque me lembrei do que a Dra. Mónica Pina me disse, como sou apologista de se tentar sempre o procedimento mais simples possível. Se piorasse, logo se via o que era necessário fazer.
A aspiração doeu um bocado, não vou mentir. Não tanto o espetar da seringa, mas quando me espremeram a mama para que saísse o pus todo. 20 ml de pus! Uma seringa cheia! Deixou-me o aviso "se piorar volte logo às urgências, caso contrário venha ter comigo na segunda feira de manhã".
Durante uns dias, de vez em quando começava a escorrer pus e lá ia eu buscar compressas e espremer a mama. Carradas de compressas com pus. Duas semanas, duas consultas e mais uma aspiração depois e eu estava como nova.



E... quando tudo parecia estar a correr bem, adivinhem!
Olho-me ao espelho e, uma semana depois, o outro lado da mesma mama estava vermelho e a pega voltou a doer horrores. Entrei em pânico.
Nova mastite? A sério? Quando é que teria descanso? Estava a ser acompanhada, a fazer tudo bem, tudo certinho e tinha de haver tanta coisa? "És de uma família de médicos e enfermeiros, é a nossa sina!", dizia-me a minha tia.
Desta vez ataquei logo, meti a Carminho a trabalhar (mama de 2 em 2horas, enquanto eu massajava), frio na mama depois de cada mamada (almofadas de gel e folhas de couve) e anti-inflamatório. Em 2 ou 3 dias parecia estar tudo bem. Decidi voltar à consulta do Dr. Pedro Sereno, por descargo de consciência, que me confirmou já não haver sinal de mastite - tinha-a atacado a tempo e bem.

Depois de ter resolvido mastites e tudo o resto, a Carminho já mamava de 3h em 3h e as dores eram cada vez menores. Como só ia a uma mama de cada vez, dava tempo aos meus pobres mamilos para recuperarem. Entretanto, vieram as primeiras vacinas e com ela uma crise de "mimo" que me levou a dar mama de 2h em 2h horas. E voltaram as dores! Com as dores que sentia, chegou a um ponto em que concluímos que ela só poderia mamar em intervalos de 2h30/3h00, numa mama de cada vez. Ela quando ia à mama sem fome, brincava com o mamilo ou lá o que fazia e dava cabo dele. Tinha de aguentar, não podia ser em livre demanda. Só podia mamar quando tinha fome, não lhe podia dar mama por mimo. Os intervalos de 3h00 resultavam, por isso tínhamos de voltar a eles. E se chorasse entretanto? Teria de aguentar ao colo (de preferência do pai, para não ser um tormento estar ao colo da mãe e não ir à mama).

Livre demanda? Não deu para mim. Ou melhor, não deu quando a Carminho queria mama com mais frequência. Actualmente, conseguimos. Ela nem pede maminha para se saciar, chega à hora da rotina e toma lá! Com intervalos de 4h00 e noites longas, tenho mais do que tempo para recuperar e consigo dar mama se, por algum motivo, ela precisar de uma mamada extra (como é o caso de ir levar vacinas) ou se fizer um intervalo menor. Assim, consigo tranquilizá-la na maminha.
Mesmo agora, com 5 meses, ainda não pega bem. Safo-me porque cresceu e tem a boca maior, senão o meu horror continuava. Já praticamente desisti de tentar que pegue bem. O problema dela é o posicionamento dos lábios e, de vez em quando, lá estou eu a ajeitá-los.

Se eu tenho uma anormal tolerância à dor e custou o que custou, nem quero imaginar pelo que outras mães passam. Aliás, acho que é graças a essa tolerância que, apesar de tudo, continuo a dar mama. Acho, não! Tenho a certeza.
A cada contratempo pensava "Só mais uma semana. Se não melhorar posso desistir, mas tenho de tentar mais uma semana". E de semana a semana, chegámos aos 5 meses de amamentação exclusiva. 5 meses em que a minha filha não sabe o que é outra coisa senão leite e mama da mãe. Foi o truque que usei para não desistir, para ir aguentando - "Só mais uma semana".


Continuo defensora da amamentação e da amamentação em livre demanda, e acho que as mães devem fazer um esforço para aguentar o máximo que conseguirem, para ver se melhora. É importante, muito importante. Às vezes a dor passa rápido, apenas são precisos uns dias para que os mamilos se habituem. Também é normal doer no momento em que eles pegam na mama e depois já não doer. Outras vezes o problema é o bebé pegar mal, mas há exercícios que se podem fazer e eles lá aprendem. Quando acharem que é muito difícil, respirem fundo e estabeleçam limites, sejam esses limites mais um dia, mais uma semana ou mais um mês.
E não, não há leite mau. Não há leite fraco. Os bebés é que passam por muitas fases, nas quais pedem mais mama. Quando vão passar por picos de crescimento, começam a ir mais vezes à mama e/ou a mamar mais tempo, para sinalizar ao corpo da mãe que será preciso produzir mais leite. Passam também por fases em que ficam mais carentes de mãe, porque se estão a desenvolver e é um trabalho duro, então pedem mais mama. Eu tenho sorte de ter imenso leite e de a Carminho ter tendência para ficar mais tempo na mama do que pedir com mais frequência. Mais tempo eu aguento, mais frequência nem pensar.
Mas somos Mães, não somos mártires. Tenho a certeza de que, se em algum momento tivesse decidido desistir da amamentação, ninguém me condenaria e teria o apoio da família. E, se não tivesse, que se lixassem. Porque o corpo é meu, a escolha é minha. E sabia que o teria feito por não ser capaz fisicamente, e por ser o melhor para a minha relação com a Carminho.

A minha experiência ensinou-me muito sobre amamentação. Muito! Em experiência tenho todo um curso de amamentação.
E ensinou-me também que, apesar da amamentação ser muito importante para o bebé, o mais importante é o bem estar psicológico da mãe e o bebé estar alimentado. É conseguirem encontrar um equilíbrio que permita aos dois estabelecer uma relação. Uma mãe instável não será uma boa mãe, por mais que queira, e isso é pior para o bebé do que lhe dar biberão.
Felizmente, consegui ir dando mama e perceber que tinha de aproveitar outros momentos para estabelecer a vinculação com a minha filha: através do vestir, da higiene, do mudar fraldas, do brincar, etc. Não foi pela amamentação que estabelecemos a nossa relação, com a amamentação corri o risco de prejudicar a nossa relação.
Mas, apesar das coisas terem melhorado, ainda hoje há momentos em que ela me magoa. E muito! E, nesse momento, vem ao de cima toda a revolta, toda a frustração, toda a ansiedade por que passei naqueles meses. Felizmente, não é frequente.

Por isso, não admito que me venham dizer que não promovo a amamentação.
Promovo, sim. Senão, não teria continuado a dar mama e a minha filha há muito que seria alimentada a leite artificial. Senão, não estaria a "rezar" para que não lhe nasça nenhum dente antes de fazer 6 meses, com medo de não aguentar mais dores e ser, por fim, obrigada a desistir de dar mama.
Mas, mais do que promover a amamentação, promovo a saúde mental e a vinculação. Sou uma defensora acérrima da amamentação, desde que não coloque em risco o apego mãe-bebé ou a sanidade mental dos pais. Seja pela dor, seja pela privação de sono, seja pelo que for.
Defendo que, mais importante do que o bebé passar a vida agarrado à mama da mãe, é a relação de vinculo entre os dois. Relação essa que se pode estabelecer de várias formas.

Aproveito para agradecer aos Profissionais que me guiaram neste processo e que me salvaram as mamas: A Enfermeira Luísa Valentim (minha querida Tia), a Enfermeira Adelaide Órfão, a Dra. Mónica Pina e o Dr. Pedro Sereno. Não sei o que teria sido de mim e da Carminho se não fossem eles.
Muito, mas muito obrigada. Do fundo do coração. E da mama! Viva a Mama!

20 comentários:

  1. Obrigada pelo teu testemunho :)
    Adorei mesmo...mas sincero impossível! Estou grávida de 30 semanas (acho que aqui posso dizer em semanas ahah) e a amamentação é um tema para mim...tenho Esclerose Múltipla e tenho de retomar a minha medicação cerca de 2 meses após o nascimento, não é recomendado amamentar, mas queria muito por toda essa ligação que falas... Ao mesmo tempo é bom conhecer estas histórias e não ver só mamãs perfeitas e lindas a dar de mamar. A tua história dá que pensar...e fico com a ideia se me acontecer algo do género vou desistir, mas ao menos fico tranquila por saber que há mães que não me vão julgar :)
    Continuar a escrever que adoro ler as tuas histórias! Beijinho grande para ti e para a Carminho*

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    1. Obrigada, eu <3

      Sim, pode-se falar em semanas ahahah ("Quanto é isso em meses??")
      Podes amamentar e tirar leite para fazer stock, assim se tiveres de interromper a amamentação sempre terá mais uns tempinho de leite materno.

      A minha madrinha tem EM e conheço bem a doença. É imperativo que estejas o mais tranquila possível.
      Experimenta dar mama (pode doer ao início - é normal até os mamilos se habituarem), se tiveres energia/possibilidade/apoio começa logo a tirar leite (fala com as enfermeiras para saberes como fazer), mas se em algum momento dar mama ou tirar leite se tornar demais e te causar stress e ansiedade, mais vale parares.
      Para sermos a melhor mãe de que somos capazes, temos de ser saudáveis (o mais possível).

      Eu tenho um diagnóstico de auto-imune (ANA pontilhado 1/340), embora não se saiba qual a doença, e sei que uma gravidez com estas doenças não é coisa simples. Por isso, parabéns, força e felicidades!

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  2. Obrigada pelo testemunho honesto! Estou grávida de 33 semanas e acho importante também estar preparada para os momentos menos bons que podem surgir!

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    1. Obrigada, eu.
      Vai correr tudo bem! Não se esqueça, é normal doer até os mamilos se habituarem a ter ali uma boquinha várias vezes ao dia, muitos minutos de cada vez. Mas, em princípio, tudo melhora.
      Força!

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  3. Adorei de ler o seu relato! Também sou mãe de uma menina, nasceu a 25 de Abril, já tem os seus 6 mesinhos e digo- lhe, também passei as " passinhas do Algarve " com a minha filha.
    No entanto, aquilo que escreveu de " mais uma semana ", o meu truque era," só mais um dia ". E assim os dias foram passando. De dias para semanas, de semanas para meses.
    E concordo consigo em apelar Sim, à amamentação livre. Só faz é bem!! E o nosso peito agradece, tanto quanto as nossas filhas.
    Já nascemos assim. O nosso corpo é a melhor " bio máquina " que existe ( coisas do meu pai) mas é a verdade.
    E por tal, devemos sim aceitar esse facto.
    Tudo a correr pelo melhor e muita saúde para vós.
    Um grande bem haja :-)

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    1. Obrigada, Verónica!
      25 de Abril - que boa data! Auspiciosa :D
      E até há dias em que é "só mais uma mamada!"
      Beijinhos e felicidades

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  4. Adorei. Estou a amamentar há um mês, com alguma dificuldade e alguns problemas e gostei muito da tua sinceridade. Espero continuar a amamentar, mas principalmente espero ter a clareza de saber quando as coisas já não estão a correr bem...

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    1. Obrigada <3
      É uma decisão unicamente sua. Se algum dia precisar de falar, estou por aqui ;)

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  5. Gostei muito de ler este artigo, obrigada!

    Tenho um bebé de 4 meses e também foi complicado o processo de amamentação, especialmente pela parte emocional que envolve.

    Tenho (tinha) os mamilos invertidos e tive que usar mamilos de silicone (que já foram para o lixo). Estes, além de estarem constantemente a sair do sítio, apenas serviram para me provocar feridas devido à fricção.

    Por outro lado, a livre demanda para o meu bebé era inexistente, ele só queria dormir e não acordava por nada! Tinha que pôr o despertador e acordá-lo bem mas assim que ia para a mama adormecia.

    No hospital, as enfermeiras passavam mais de meia hora connosco durante a hora de mamar. Ele era despido, faziam-lhe cócegas, mexiam nas orelhas, apertavam-lhe os pés, davam-lhe beliscões... não havia nada que o acordasse.

    Em casa o problema continuou, ele adormecia por mais que seguíssemos os "truques" das enfermeiras. Estava cerca de 2h na mama porque adormecia e era dificílimo despertá-lo.

    Nas primeira semanas o bebé continuava a perder peso e a pediatra introduziu uma dose de LA após cada mamada. Então, experimentei tirar leite para saber o que ele bebia. Ao início, tirava muito pouco (menos de 20ml) porque, como ele pouco mamava, não havia estímulo para produzir mais. Aos poucos fui conseguindo tirar mais até que, com 2 meses, já não precisava dar-lhe LA. Pelo meio fui sempre insistindo com a mama mas em vão (ele adormecia e acordava de hora a hora com fome para mamar 5 minutos e adormecer novamente).

    Há cerca de 1 mês e meio fiz uma última tentativa de dar só mama (sem tirar leite). Ao início, tudo correu bem mas depois voltou a adormecer e pedir mama de hora a hora (às vezes menos), fosse dia ou noite. Aguentei cerca de 2 semanas com esperança de melhorar mas o cansaço falou mais alto e decidi voltar a tirar leite.

    Até agora é isto que temos feito: tiro o máximo de leite que consigo, faço cada biberão com uma quantidade exacta (indicada pela pediatra) e, quando ele tem fome, dou-lhe primeiro o biberão e, depois, a mama porque pode não ter ficado totalmente satisfeito. Até agora tem resultado.

    É a solução ideal? Claro que não! Estou constantemente preocupada se tiro a quantidade suficiente e é um desgaste enorme "espremer" a mama. Mas foi o que consegui fazer face a uma situação que, além de estar a prejudicar o desenvolvimento do meu bebé, só contribuiu para ambos passarmos por momentos de enorme frustração na hora de mamar. E fiz o possível para que o meu bebé não fosse alimentado maioritariamente com LA.

    Por isso, não podia concordar mais com as suas palavras. O importante é o bebé estar bem (e nós também, especialmente a nível mental!).

    Um beijinho para as duas :)

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    1. Obrigada <3

      Muitos parabéns pela sua força e perseverança. É precisa muita vontade para estar sempre a tirar leite e depois dar biberão. Imagino que o seu dia seja quase todo passado à volta da alimentação do bebé.
      O importante é mesmo fazermos o melhor que podemos pelos nossos bebés.

      Beijinhos e felicidades

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  6. Obrigada pela partilha...estou grávida e imersa na profusão de informação que existe e que vem de todos os lados...difícil de filtrar mas neste momento começo a priorizar certas coisas apesar da literatura e do que aparentemente é mais correcto...e sem dúvida que com a vossa história confirmei aquilo que vou tentar seguir, o bem estar da minha filha mas sem dúvida o meu bem estar também,mesmo que implique biberão...obrigada

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    1. Olá, Inês.

      Há tanta informação... e umas contradizem as outras. É um mundo de teorias, ideias, experiências, etc.

      A amamentação pode ser uma experiência muito bonita (tenho momentos lindos com a minha filhota).
      O meu objectivo foi alertar que pode ser doloroso. É normal que o seja nos primeiros dias enquanto os mamilos se habituam a uma fricção constante, mas normalmente passa alguns dias depois.
      É importante amamentar o bebé (é o melhor para eles), mas mais importante ainda é que eles estejam alimentados e nós (pais) e a nossa relação com eles esteja bem.

      Muitos parabéns e felicidades.
      Se precisar de esclarecer alguma coisa estarei por aqui.

      Beijinhos

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  7. Foi um prazer ler o seu texto e perceber que não fui a única.

    A minha princesa nasceu a 14 de setembro. Foi uma emoção enorme e o parto correu super bem. Fiquei felicíssima e pensei "afinal não é tão complicado como pintavam". Mas as complicações vieram depois.ja na maternidade parecia que me roia os mamilos. Quando ela se engasgou da primeira vez (aquela situação assustadora em que parece que vai morrer pois não sabe desengasgar) fomos assistidos por uma enfermeira e, para meu espanto bolsou sangue. A enfermeira explicou:é do seu mamilo.

    Tinha constantemente os mamilos em ferida. Li tudo o que havia para ler e o problema era sempre o mesmo. A pega. Fiz todos os exercícios que consegui. Ajeitar o bico da mama. Ajeitar a boca dela. As dores eram horrível mas eu pensei que era assim era suposto ser assim. Gritava, chorava, amaldiçoei o dia em que decidi ser mãe. Exausta e com dores e a menina não dormia, dizia em voz alta "mas porque não dormes!" Larguei-a várias vezes nos braços do meu marido. Disse várias vezes desisto. Passadas duas semanas a primeira mastite. Compramos bomba. Tirava leite, dava leite, adormecia a menina e voltava ao mesmo. Já mal dormia. A mastite curou. Voltei a dar mama. Durante uma semana voltou tudo ao mesmo
    Ela bolsou sangue novamente, mamilos estavam desfeitos e a minha mente também. Não era boa mãe. Não sabia o que fazia. Nunca devia ter pensado sequer em ser mãe. Qual ligação tudo parecia um pesadelo. E a culpa... Será que nem amava a minha filha por não estar aguentar a dor? Choro e mais choro. As primeiras cólicas dela e eu sem dormir. 2ª mastite.

    Tudo aconteceu em pouco tempo e num mês apenas tive de desistir de dar de mamar. Talvez não tivesse aprendido como deve ser a forma para ela pegar sem me magoar. Talvez devesse ter insistido mais. Mas não consegui. Não estava a ser bom para mim e certamente não seria bom para ela. Porque desejar nunca ter estado grávida não era com toda a certeza o caminho certo. Estar fechada no WC a chorar também não. Passar a minha filha para os braços do meu marido e gritar desisto muito menos.

    A minha filha Mamou apenas um mês. Fiz o que pude para que não tivesse de desistir. Mas não consegui. Troquei a mama pelo leite artificial. Custou-me muito a decisão. Mas agora olho com o amor que era suposto para a minha filha. Tiro prazer de todos os momentos que estou com ela. Eu estou feliz ela está feliz. E sei que o amor não vem das maminhas.

    Obrigada pelo testemunho. É importante saber que não estamos sós é que não há nada de errado connosco. Independentemente da decisão que tomemos no final.

    Votos de muitas felicidades

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    1. Afrodite, obrigada eu pelo seu testemunho <3
      Temos uma história semelhante.
      Fez o melhor que pode durante aquele mês, mas conseguirmos unir-nos aos nossos filhos vale mil vezes mais do que se bebem da mama ou do biberão.
      Das vezes que mais perto estive de desistir não foi por causa da dor, mas por causa dessa ligação.
      Não há nada de errado, mesmo!
      Felizmente, já vivemos num tempo em que há alternativas à mama. Não é necessário sofrer.

      Beijinhos grandes e felicidades <3

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  8. Adorei o seu texto. Muito obrigada por partilhar e ter sido honesta. Sou enfermeira, trabalho em pediatra, tenho curso de amamentação e estou grávida de (faz amanhã) 31 semanas. Às vezes tenho discussões com as minhas colegas de trabalho por achar que não podemos ser radicais e levar as coisas demasiado à risca. Sim, a amamentação é muito importante, é óptimo, é o melhor leite do mundo, mas como você refere e muito bem, a saúde mental e o vínculo entre mãe e filho deviam ser ainda mais importantes. Claro está que promovo a amamentação, e estou sempre disponível para ajudar, tirar dúvidas, colocar o bebé na mama. Mas também sou a primeira a perceber que isto dá amamentar não é um mar de rosas, que é preciso o bebé colaborar, que a mãe sozinha não consegue fazer nada. Deixo este comentário porque gostava muito que nas aulas da amamentação e nas de preparação para o parto fosse explicado às mães tudo o que pode acontecer de errado. Porque a maior parte das mães só foi informada do lado cor de rosa e bonito da amamentação, ninguém lhes mostra o outro lado, este lado que você tão bem descreveu. As mulheres precisam ser informadas, precisam saber para o que vão, para depois não se sentirem tão frustradas, desiludidas e especialmente para não acharem que são más mães. É preciso informar, é preciso ensinar, é preciso sermos mais umas para as outras e não criticarmos tanto. Bem haja pelo seu texto. Muitas felicidades. Você é uma guerreira, espero conseguir superar da mesma forma todas as dificuldades.

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    1. Olá, Enfermeira. Obrigada, eu.
      É verdade, devia-se ser mais esclarecedor. Ou pelo menos dizerem "há estes riscos, não se esqueçam! é muito importante", mas são falados como se fosse uma coisa rara de acontecer.
      Felizmente há enfermeiras como você e há mães que têm sorte de se cruzar convosco.
      Eu não sei o que seria de mim sem a minha tia.

      Muitas felicidades para a continuação da gravidez e para a nova etapa que aí vem.
      Beijinhos

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  9. Gostei muito do teu testemunho. Revi-me em muitas situações. Também tive mastite e obsesso. E deixa que te diga foste muito bem seguida. Eu estive quase um mês e como não sentia dores nem tinha febre desvalorizavao até o obsesso ficasse com 6cm tive que fazer cirurgia e ficar 5 dias no hospital com o meu bebê. Tudo desnecessário se tivessem dado a devida atenção. Hoje continuo a amamentar mas já tenho que dar suplemento. Agora penso que o importante é alimentar o bebê é mais nada. Se tiver outro filho não vou ser tão neurótica para dar mama. Se der dá se não der não dá. Penso que nós mamãs também temos que pensar na nossa sanidade mental. Tudo de bom e continua o excelente trabalho.

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    1. Olá, Marisa.
      Tive (e tenho) muita sorte de ter por perto especialistas em amamentação e que me dão toda a informação sempre que preciso. Não sei o que teria sido de mim sem isso. Facilmente teria acabado como tu, no caso da mastite.
      Se uma pessoa não vai para as urgências feita histérica, parece que desvalorizam o que se passa. E uma mastite pode ser algo mesmo muito grave.
      Obrigada e beijinhos <3

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  10. Ainda hoje dizia à minha cunhada, grávida de 1.ª volta, que amamentar não é nada fácil e que se conseguir, óptimo, se não conseguir, não se tem que martirizar. A minha filhota também pegou mal (acho que ainda pega mas não sinto dores agora) e passei uma semana horrorosa: sangue, dores, chorava de cada vez que queria mamar. Experimentei os bicos de silicone e, felizmente para mim, ela deu-se bem com a coisa e consegui ir curando os mamilos. Fez há uma semana 6 meses e conseguimos que tivesse sido amamentação exclusiva, mesmo já estando a trabalhar (tiro com a bomba) mas acho que se ela não pegasse bem com os bicos de silicone não teria aguentado e não seria pior mãe por isso. Só mais um extra: há cerca de três semanas a minha filhota tira o bico de silicone e agarra-se à mama lol pensei que poderia vir a ter outra vez dores mas não, tem sido tranquilo por isso agora nem do bico extra preciso :-)

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    1. Olá, Rosalba!
      Amamentar é uma experiência que pode ser tão boa.
      Agora que já passou a dor, não é um momento maravilhoso entre mãe e filha?
      Fico tão feliz de ter sido capaz de aguentar e ultrapassar todos os contratempos.
      Mas se não der, não dá. Não vale a pena andar a sofrer horrores. Há alternativas.
      Beijinhos

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