quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A minha gravidez I: Desencontros e encontros

Parte 1: Quando um quer e o outro não

Eu e o meu marido andámos, durante uns anos, com timings diferentes nesta coisa de querer ter filhos.
Imagem retirada daqui

Primeiro quis eu, para aí aos 27 ou 28 anos, quando a proximidade dos 30 começou a bater e a fazer-me pensar "oh não, tenho um prazo de validade!! E para a fertilidade isto já começa a ficar velho!".
Mas o namorado não queria e eu assenti e calei. Depois quis casar, mas ele não queria. Já morávamos  juntos há uns anos, portanto, na minha cabeça, era o passo natural a dar.
Mas... ele não queria e não havia nada a fazer, não se pode obrigar ninguém.

Passado uns tempos, com os amigos a ter filhos, vem à baila que agora ele já estava preparado para ter filhos.
Azar! Porque tanto compreendi e assenti que me virei para outras coisas na vida. Fiquei esperançosa e expectante pelos 30, que já só me pareciam uma idade fenomenal para ser uma mulher independente, segura de mim mesma, que sabe o que quer na vida.
Decidi que ou deprimia ou seguia o exemplo das mulheres d'O Sexo e a Cidade. E caramba! Como os meus 30 foram fenomenais.

Um dia, quando estávamos mesmo a chegar a casa, chateei-me a sério e decidi que ia tomar as rédeas da minha vida. Eu queria casar, ele sabia e estávamos desconfiados que um amigo nosso ia pedir a namorada, com quem já tinha um filho, em casamento. Para evitar que eu falasse em casamento disparou um "mas para eles faz sentido que se casem!".
Fiquei furiosa! Mandei-o parar, saí do carro e fui dar uma volta, à noite e à chuva. Desliguei o telemóvel para que ele não me chateasse e fiquei para aí uma hora e meia a acalmar-me e a pensar na vida. A delinear o que eu queria para mim, quais as minhas prioridades, em que é que conseguia ceder e em que é que não o faria.




Quando regressei disse tudo o que tinha a dizer.
Não compreendia como é que ele se dizia preparado para ter filhos, mas se recusava determinantemente a casar.
Um casamento é algo que se desfaz, que pode acabar. Em que duas pessoas podem decidir que não querem mais, até se podem odiar, e a ligação pode acabar e nunca mais falarem um com o outro.
Mas um filho não! Aconteça o que acontecer entre o casal, um filho é uma ligação que fica para SEMPRE. Mesmo que se odeiem, têm que comunicar para bem da criança. Mesmo que desejem a morte um do outro, a criança tem os genes dos dois. Não há volta a dar, mesmo que aconteça uma tragédia, estão unidos para sempre. Como é que se pode ter tanto medo de um casamento e não de ter filhos?

Disse-lhe, explicando os meus motivos, que nunca teria filhos sem casar primeiro, mas que essa questão também já não se colocava, porque eu agora já não queria ter filhos e ele não queria casar.
"Portanto", assegurei, "não te preocupes com casamento. Porque eu também já não quero casar. Não quero casar com alguém que não o quer fazer. Não quero casar com alguém que só casará, a fazer um frete, para me fazer a vontade. Quero casar com alguém que, como eu, compreenda que o casamento formal não é uma questão romântica, mas sim uma questão legal de protecção para as duas pessoas. Romantismo já nós temos: já moramos juntos, já nos deitamos juntos, trocamos afectos e essas coisas todas. Mas se acontece alguma coisa a algum de nós, a nossa relação vale tanto como se fosse com um amigo ou até um desconhecido. Portanto, não queres casar, tudo bem. Eu não quero casar contigo. E para mim, como já só faço questão de casar se for para ter filhos e como não os quero agora, já não há mais nada a falar. São temas encerrados e tabu por agora: filhos e casamento".

Rematei com "E estou farta de viver aqui nos subúrbios!", morávamos em Miraflores, "Não se passa nada. Não é estimulante, não tem vida. Até a porcaria do centro comercial fecha às 22h00 e depois disso não há um sítio onde ir beber café sem termos de nos mexer de carro".
"Eu vou para Lisboa. Está decidido! Agora, decide se vens ou não comigo."

Imagem retirada daqui


Parte 2: Lisboa é linda!

3 meses mais tarde estávamos a tratar das mudanças para um prédio onde eu sempre quis morar, desde os meus 16 anos.
Sabem quando somos miúdos e passamos frequentemente por "aquela casa"? E ficamos a espreitar para ver quem é que lá mora? E sonhamos como será por dentro, porque só pode ser perfeita?
Tive essa sorte. E tive ainda mais sorte de ele ter vindo comigo e de, rapidamente, se ter habituado ao sítio, quando tantos nos diziam que ele ia detestar viver no meio do caos e da confusão do centro da cidade.
Uns meses depois fiz os 30 e estava felicíssima! Desde que tinha mudado de casa tinha mais energia, vontade de sair, de conhecer, de explorar! Ao chegar a casa, depois de um dia de trabalho, vinha sempre com um sorriso nos lábios e a pensar "Uau! Eu moro mesmo aqui... Consegui!"
Comecei a organizar passeios por Lisboa para ir com os amigos, cine-maratonas... Quis ir a todo o lado, aceitar todos os convites, conhecer todas as pessoas.




Era mesmo isto que precisava e não de filhos que me fizessem abdicar de mim, do meu sono, dos meus sonhos, das minhas viagens, do meu crescimento pessoal. Da minha liberdade de fazer o que quero, quando quero, sem ter de me preocupar com alguém que seria tão dependente de mim. Não queria essa responsabilidade.
Assim que me sentisse preparada para abdicar de mim, teria filhos.

E durante uns tempos lá andámos. Assim: sem falar de casamentos e filhos. Felicíssima me encontrar, por encontrar Lisboa, e sempre recusando estes temas tabu.


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