quinta-feira, 2 de março de 2017

Tanta mudança: A loucura do último ano (Viagens)

Sou uma pessoa que gosta de estabilidade na vida. Até me fartar e questionar a parvoíce da coisa, e então procuro e vou à aventura! Até me sentir assoberbada e desejar rotina e estabilidade. É um ciclo vicioso. Ando numa rotina, farto-me e no dia a seguir faço algo drástico, divirto-me até à exaustão ou achar que já estou a perder o controlo da situação; e volto para o conforto e sossego da rotina numa vida completamente nova. Acontece-me em todos os aspectos da vida e não tenho problemas nenhuns em cortar com o passado e virar uma nova página. Ou até passar para um novo livro. Tanto pode ser porque estou numa relação que não resulta, porque tenho um novo hobbie/obsessão, porque o trabalho que faço já não me satisfaz... Enfim.
Aguento, aguento, aguento, até que chega um ponto em que me farto de ser sempre a mesma história, pego num cutelo, corto, e sigo feliz na minha vida.



























Mas o último ano foi a loucura. A todos os níveis. Aliás, no último ano e meio não houve parte da minha vida que ficasse como estava: relação afectiva, família, amizades, profissão, tudo! Não houve aspecto que ficasse incólume e, devo dizer, que há muito tempo que não me sentia tão leve e feliz. No último ano e meio casei, saí de um emprego onde me sentia miserável há muito tempo, afastei-me de amizades que não me faziam bem, viajei, fiz cursos de formação, fiz de modelo para uma amiga no programa do Goucha, meti-me a criar uma associação, conheci muitas pessoas novas (umas continuam na minha vida, outras nem por isso...), andei e desisti do ginásio, engravidei e comprei uma casa.

Foi um ano de resolver assuntos pendentes e de aproveitar todas as oportunidades que me apareceram, de fazer experiências, de me meter em aventuras, de viver. Foi um ano de resoluções e de auto-conhecimento. 
Uma das aprendizagens mais importantes foi em relação a amigos e trabalho: saber quando vale a pena lutar por eles, quando vale a pena dizer o que nos vai na alma e saber quando nos afastarmos. Sem rancores. Mas esses temas ficam para outra altura. Cada um deles merece uma especial atenção e investimento da minha parte.
Não me arrependo de nada. Sinto-me muito, muito, bem. Sinto-me num lugar muito bom.

Parece que, finalmente, os astros se alinharam para beneficiar a minha vida. Como não sou ingénua e sei que tudo pode mudar radicalmente de um momento para o outro, e como tenho medo de estar numa de ícaro, vou é aproveitar enquanto tudo me corre de feição.




Hoje foco-me nas viagens que fiz no último ano. E que viagens!
Quando viajamos só podemos ganhar. Ganhar conhecimento, ganhar experiência, ganhar vida, ganhar memórias. Aprendemos como vivem outros povos, quais os seus costumes, os seus hábitos, a sua cultura. Por vezes, basta-nos sair da cidade (no meu caso) onde vivemos para ver e aprender coisas novas.
Não há local onde me arrependa de ter ido, onde não tenha aprendido algo. Bem... talvez Bratislava não tenha sido propriamente fundamental ao meu crescimento enquanto pessoa, mas até as 24h que lá passámos foram memoráveis e fizeram história.



Mal saí do meu emprego, meti-me no carro rumo a Barcelona e fui visitar família. Tinha nascido o meu sobrinho mais novo e que melhor motivo para fazer uma viagem?
Eu adoro road trips, desde miúda que as fazia com a minha mãe e as suas/nossas amigas. Desta vez talvez não tenha sido a melhor escolha, porque tínhamos um único destino, o tempo contado e foi uma estafa do caraças. São "só" 12h00 de viagem, directas, apenas com paragens para comer ou pôr gasolina. É dose. Não recomendo.
Já não ia a Barcelona há uns 18 anos. Mudou muito: mais caos, mais turistas, mais vendedores de rua. Mais tudo. Mas é sempre tão bom mudar de ares de vez em quando.
Não deu para ver tudo o que queríamos, porque não ficámos no centro de Barcelona e o objectivo da nossa viagem não era turístico. Mesmo assim, conseguimos passear pelo Parque Güell, pelas Ramblas,  o Mercado de La Boqueria, pelos diversos bairros de Barcelona, passar pelas casas desenhadas pelo Gaudí (a Batlló e La Pedrera).
Eu e o meu marido temos uma política em viagens: não gastar dinheiro para entrar em igrejas ou qualquer monumento religioso. Ou bem que está incluído em algum cartão que tenhamos comprado ou então não vamos gastar dinheiro para ver mais do mesmo. Já vivemos num país riquíssimo em arte sacra e, para leigos que somos, nunca vemos grande diferença entre as igrejas/capelas/basílicas que já visitámos. Obviamente que há excepções à nossa regra e uma delas está em Barcelona. Não só não gastamos dinheiro em entrar em igrejas, como tínhamos decidido não gastar dinheiro para visitar qualquer local: excepto a Sagrada Família! Já tínhamos estado ambos em Barcelona e visitado museus e monumentos, mas nenhum de nós tinha entrado na Sagrada Família e sabemos como é uma estrutura arquitectónica bem diferente dos seus pares. Claro que desistimos, não tínhamos preparado a visita com antecedência, tínhamos os minutos contados e, quando chegámos à porta, disseram-nos que demoraríamos cerca de 7h00 para entrar. Nop! Não vai acontecer! Adeusinho! Quando andamos pelas ruas também vemos coisas bonitas e ainda fazemos exercício: de borla.
Findada a nossa visita a Barcelona, lá nos metemos no carro para mais uma carrada de horas de viagem. Tive a certeza de que era Portuguesa e Alfacinha de gema quando a primeira coisa que fiz assim que atravessámos a fronteira e parámos em terras lusas foi: comer um pastel de nata.
Adoro viajar, mas a Dorothy tinha toda a razão quando dizia "Não há lugar como a nossa casa".



Uns dois ou três meses depois, meti-me novamente no carro com o marido e um casal amigo, e fizemos uma road-trip pelo Norte de Espanha.
Galiza (Santiago de Compustela, Pontedeume, La Coruña, Neda, Ribadeo), Astúrias (Oviedo, Gijón, Río Cares, Picos da Europa, Sotres), Cantábria (Santander), País Basco (Bilbau, Donostia/San Sebastian), Castela e Leão (Burgos, Tordesilhas, Salamanca). Foi maravilhoso. Terras lindíssimas, gastronomia deliciosa, companhia fabulosa! Esta sim, uma road-trip à séria.
Com a devida antecedência fizemos as nossas reservas de alojamento (coisa que não acontecia nas viagens com a minha mãe, que eram a aventura total e tanto podíamos dormir num motel de beira de estrada ou num hotel de montanha à lá Shinning) e a única coisa que sabíamos eram as datas em que tínhamos de estar nessas terras: o resto era improviso.
É por isso que eu gosto de road-trips. Decidirmos pelo lado errado pode trazer-nos histórias para contar: boas ou más, é uma aventura! É o improviso total. Ir fazer uma caminhada e tirar fotos com cabras e encontrar a Puente La Jaya; subir aos picos da Europa e descobrir que os vegetarianos podem gostar muito de animais, mas que os animais se estão a borrifar para as suas escolhas alimentares e desconfiam deles na mesma (a minha amiga tentou fazer uma festinha a uma vaca, mas não correu lá muito bem); chegar à casa em Sotres e ter como vizinho um Border Collie bebé super simpático, que nos acompanhou a todo o lado e nos ofereceu umas pulguitas ❤; confundir um BMW com um jipe e aventurarmo-nos em estradas impróprias para carros desportivos (mas atravessou um riacho!);  ir visitar amigos a Bilbau e sermos altamente bem recebidos por eles e a sua Pit Bull que se aninhava nos nossos colos; decidirmos ir a Tordesilhas e descobrir que os sacanas dos espanhóis deturparam o mapa do tratado e que, num museu(!), parece que os Portugueses não ganharam nada com o negócio; ainda em tordesilhas, quatro amantes de animais anti-touradas perceberem que estava prestes a ter início uma manifestação pró Toro de La Vega, após a proibição de touradas de morte, e acharem que o melhor era bazarem dali antes de levarem porrada; chegar a Salamanca e percebermos que chegámos mesmo a tempo de um festival de luzes na cidade... Enfim, as road-trips são do melhor para nos divertirmos.
E caramba! Como se come bem em Espanha. Ai, as croquetas de jamón! Ai, os bocadillos! Ai, as patatas alioli! Ai, as tapas! Raios partam os espanhóis que bem sabem cozinhar petiscos. Epá!... Agora bem que marchavam umas croquetas de jamón... hmmmm... (mas não posso, que ontem a médica já me chamou à atenção de que me ando a esticar. Mas as croquetas... Bem, tenho de ter um dia do disparate, não é verdade?)


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Dois meses depois de regressarmos da road-trip, meti dois xanax, meti-me num avião com uma amiga e fui conhecer a Transilvânia. Na verdade meti mais do que diz xanax, porque fizemos escala e foi preciso reforçar a dose ao embarcar no segundo voo. Odeio voar. Tenho medo, não gosto... Mas não me impede de viajar. Viva o xanax!
Tudo surgiu durante um jantar entre amigos em que ela disse que ia visitar o pai à Roménia. "Por acaso o teu pai não está na Transilvânia, não?", "Por acaso, está!", "Por acaso posso colar-me a ti?". E foi assim que me colei à minha amiga, deixei o marido em casa, e fomos as duas para a Roménia.
Mais uma viagem inesquecível. Desde miúda (mesmo miúda, para aí desde os 8 anos) que tenho um fascínio pelo Drácula, e vampiros em geral, pelo que viajar à Transilvânia sempre foi um sonho por concretizar. Finalmente, surgiu a oportunidade.
A Transilvânia é uma terra de florestas, de montanhas, tem uma geografia espectacular. A gastronomia não é muito rica, mas é de uma qualidade enorme e é deliciosa. Muitas formas de cozinhar farinha de milho: polenta ou mamaliga. Muita sopinha boa: shorba! Comíamos shorba todos os dias, cozinhada das mais variadas formas, todas elas deliciosas. Todas elas com os vegetais recolhidos do quintal, cozinhadas pela mãe da nossa anfitriã. Que delícia.
A nossa casa era em Medias, uma pequena terrinha, muito simpática, mas não havia muito para ver. Aliás, na Transilvânia as coisas não estão muito concentradas, convém saltar de terra em terra para encontrar e visitar os locais de interesse.
Em Sighisoara visitámos o local onde terá nascido o Drácula, uma pequena terra medieval, muito simpática, muito bem cuidada, onde tivemos de subir uma escadaria enorme por baixo de terra, para chegar ao ponto mais alto e observar a bonita vista (do meio de um cemitério). Em Bazna, relaxámos numas termas e conhecemos uns pastores, muito simpáticos, com quem se tirou umas fotografias (e a quem se pagou para o fazermos). Fizemos a Transfagarasan, uma estrada nos Cárpatos muito conhecida pelos rallies, para chegar ao topo da montanha, a Balea Lac, onde há um lago fabuloso e onde comemos uns frutos silvestres maravilhosos comprados a senhoras que estavam à beira da estrada. Saímos de Balea Lac, para duas horas mais tarde percebermos que tínhamos atravessado a cordilheira, mas para o lado errado ao que queríamos, acabando por demorar 7h00 a chegar a casa. Conhecemos Sibiu, a capital da Transilvânia, onde as casas têm olhos e observam cada passo que damos, onde os miúdos brincam na rua, em jactos de água que saem do chão. E fomos, como não podia deixar de ser, ao Castelo de Bran, mais conhecido por ser o Castelo do Drácula, onde à entrada há um mercado enorme de bugigangas e merchandising e onde aproveitámos para comprar todos os "recuerdos" para a nossa família e amigos.
Foi uma viagem que valeu muito a pena. Foi o concretizar de um sonho. Pode não ser um sonho extraordinário, mas era um sonho de décadas. E só tenho de agradecer à minha amiga por me ter deixado colar a ela e aos meus anfitriões, que me receberam espectacularmente bem.

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Agora, com a bebé, não sei quando voltarei a viajar. O que sei é que, de momento, estou de barriga cheia e expectante com a viagem que aí vem, que vai ser bem mais radical e de aprendizagem do que as que fiz até hoje.
Será uma viagem que, certamente, me irá mudar em muitos aspectos e que revelará outros. E parece-me muito bem!

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