quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Introdução dos Sólidos: Baby-Led Weaning (BLW) - Como?

Já vos falei do que é o BLW e medos frequentes, no porquê de escolher este método quando comparado com o tradicional (papinhas e purés) e no quando se começar o Baby-Led Weaning (e qualquer outro tipo de alimento que não seja o leite materno ou artificial).

Agora chega a vez do mais esperado que é o "como iniciar o BLW".
Como prepararmos o espaço, o que vestir ao bebé para que não se suje, que tipo de cadeira, a frequência das refeições, como confeccionar os alimentos, como apresentar os alimentos, em que quantidade, etc.
Neste artigo, tal como nos anteriores, vou falar do BLW "puro e duro". No próximo, falarei mais pormenorizadamente de como o adaptámos à nossa vida diária, à nossa disponibilidade, etc.



O Espaço e o Material

Não é preciso nada de especial para o BLW. Na sua forma mais básica basta um colo e uma mesa normalíssima.
Mas isso não é o mais prático, pois não? Até porque quando estão ao nosso colo não os conseguimos ver bem, nem controlar o que fazem. Portanto, vamos lá:
  • Cadeira de Refeições: Se optarem por uma cadeira que não tenha tabuleiro, mas se encaixe na vossa mesa de refeições é uma forma óptima de poupar espaço. Se preferirem usar uma com tabuleiro, optem por uma que tenha um generoso e com rebordo (eles brincam imenso com a comida e quanto maior o tabuleiro menor a quantidade de comida que irá parar ao chão). Se tiver um assento almofadado/insuflável é óptimo para que o Bebé fique aconchegado e mais confortável, se não tiver podem usar uma pequena almofada ou uma tolha enrolada. A cadeira do Ikea, por exemplo, é óptima e barata.
  • Pratos: Os Bebés querem explorar tudo o que se lhes apresenta, por isso tal como pegam num pedaço de comida, irão pegar no prato e brincar com ele - a comida irá pelos ares e para o lado do prato de qualquer das formas. A minha mãe tentou insistir com o prato ("onde é que já se viu comer sem prato?"), mas à terceira tentativa desistiu - passava o tempo a impedir que o prato fosse parar ao chão. Eu vi um prato super fofinho e não consegui resistir, mas na realidade está guardado até que a Carminho seja menos "besta".
  • Individual: A minha alternativa ao prato, porque estava farta de limpar o tabuleiro e não era nada prático, foi pegar num rolo de plástico de forrar gavetas e recortá-lo à medida do tabuleiro, improvisando um individual - assim, só preciso de o tirar no final de cada refeição e lavá-lo no lavatório. É muito mais prático. No dia em que o usei pela primeira vez, a Carminho distraiu-se e, em vez de comer, ficou foi a explorar o individual - deixei a superfície rugosa para cima, assim a comida não escorrega tanto, mas ela gosta de raspar aquilo.
  • Algo para proteger para o chão: O Baby-Led Weaning não estraga o chão, mas suja-o. A ideia de algo como um plástico ou um lençol velho para o chão é para evitar a sujidade e o desperdício de comida. Não que o façam propositadamente, mas os Bebés acabam por atirar/empurrar/largar comida para o chão porque ainda são descoordenados. Quanto mais habituados estiverem, menos o fazem. Claro que a certa altura o farão de propósito, tal como o fazem com os brinquedos - é assim que aprendem sobre a gravidade, distâncias, a sua própria força, etc. Se tiverem algo em baixo da cadeira, não só evitam ter de estar sempre a lavar o chão, como podem pegar e voltar a dar o que caiu. E relaxem! É só sujidade, não se preocupem com isso, deixem o vosso Bebé explorar e sujar à vontade - quanto mais o fizer, mais rapidamente aprenderá a fazê-lo com o mínimo de sujidade possível.
  • Babetes e bibes: O que usar depende dos pais e do Bebé. Se fosse Verão a Carminho usaria um babete normal ou estaria só de fralda e voaria para um duche rápido a seguir às refeições (se fosse preciso), como está frio substituo o casaquinho de malha por um daqueles bibes com mangas. Estes bibes têm uma desvantagem: são geralmente grandes para um Bebés e restringem um pouco os movimentos, podem ficar à frente da cara, escondem comida, etc, mas para mim vale a pena. Ela não se queixa de o usar e assim eu estou mais à vontade para que "mergulhe" na comida, sem me preocupar se a roupa vai ficar suja ou manchada.

Quando Comer
É importante que os Bebés não estejam com fome quando os sentamos à mesa.
Nas primeiras semanas, a refeição não tem nada a ver com as necessidades nutricionais, mas com o brincar, partilhar, copiar os pais, explorar os alimentos. Se o Bebé tiver fome quando o sentarmos à mesa, ele não vai querer a comida, porque ainda não aprendeu que aquilo lhe irá saciar a fome - o que ele quer é leite. Além do mais, nos primeiros tempos, a quantidade de comida ingerida não é suficiente para alimentar adequadamente, logo a fonte principal deverá ser o leite. Portanto, se ele estiver com fome, dêem-lhe mama ou biberão.
Também é importante que não esteja cansado ou irritadiço, se estiver não vai aderir à refeição. Portanto, se à hora da refeição ele estiver com sono, deitem-no. Não há qualquer problema em saltar refeições ou adiá-las um pouco - seja qual for o motivo.

Quantas refeições
Ao contrário do método tradicional, que advoga que se comece apenas por uma vez ao dia e se vá progredindo na quantidade de refeições diárias, no BLW o Bebé é incluído em todas as refeições que os pais façam.

A questão da progressão é completamente legítima, principalmente quando se iniciam os sólidos antes dos 6 meses e o Bebé ainda não tem o Sistema Digestivo suficientemente desenvolvido, mas a partir desta idade já não é necessária esta preocupação, porque dificilmente os Bebés reagirão mal aos alimentos (atenção às alergias, claro!).

Portanto, no BLW os pais colocam os Bebés à mesa se eles estiverem bem dispostos e despertos a essa hora.



Forma de Apresentação
Aos 6 meses, os Bebés utilizam a mão inteira para agarrar, isto significa que o ideal é que os pedaços tenham um comprimento suficiente que permita ao bebé agarrá-los com toda a mão e que ainda fique um pouco de fora (que é o pedaço que comerão). Basicamente, a largura da mão e mais um pouco. Há alimentos, como os brócolos ou a couve-flor, que têm um formato óptimo - já têm um "cabo", por assim dizer. Os restantes podem ser cortados em formato "palito" - como se faz para as batatas fritas. 

Com a experiência e desenvolvimento adequado à idade, o Bebé vai sendo capaz de manipular pedaços mais pequenos e vai-se tornando mais coordenado. Se inicialmente, dava uma "dentada" e largava porque não sabia/conseguia mover o alimento dentro da boca, vai acabando por conseguir fazê-lo cada vez melhor. Por isso, no início é normal que larguem os pedaços, não significa que não queiram mais, apenas que como ficaram mais pequenos não os consegue agarrar e levar à boca - não desistam, dêem é outro. 

Vão ver como eles rapidamente aprendem onde está a boca - na primeira vez a Carminho levava a comida aos olhos, ao nariz, a todo o lado, actualmente (após 1 mês, apenas) a comida vai direitinha à boca.

Confecção
A confecção é, obviamente, o elemento-chave do BLW e, a par dos medos, onde as pessoas têm mais questões e insegurança. Assim, há método no que diz respeito a preparar os alimentos de forma a que sejam seguros para o Bebé e fáceis de ele os manipular.

O ideal é estar cozinhado num ponto em que se desfaça quando fazemos um pouco de pressão entre  polegar e o indicador.
Eu gosto de cozer a vapor e, depois, saltear, levar ao forno ou oferecer mesmo frio. Cuidado com os aquecimentos no microondas - às vezes não aquecem de forma homogénea e podem queimar o Bebé. O Bebé pode não ligar a determinado alimento se for apenas cozido, mas ficar bastante entusiasmado se o mesmo alimento tiver sido assado ou salteado - é bom ir variando. Até porque cada forma de cozinhar, confere o seu próprio sabor ou textura.

Certos alimentos, como a banana, o abacate ou a manga, não precisam de ser cozinhados, mas a maioria precisa. Suficientemente consistente para se conseguir pegar sem que se desfaça, suficiente mole para que se esmague facilmente com um pouco de pressão. Podem deixar um pouco da casca, porque pode ajudar o Bebé a pegar na comida, não fica tão escorregadio.
Alguns alimentos, como o iogurte, necessitam de alguma criatividade ou de colher. Podem molhar um palito de pão ou fruta em iogurte, por exemplo. Nós aqui usamos tudo. Foi assim que introduzimos a colher e ela gosta, e quanto mais a usa, melhor o faz - não consegue tirar colheradas (obviamente, tem 7 meses), mas se lhe apresentar a colher, consegue pegar nela e levá-la à boca sem a virar. A não ser que esteja muito entusiasmada - aí, mal vê a colher abre a boca e leva a cabeça à comida sem lhe tocar.



Oferecer
No Baby-Led Weaning não se dá comida, oferece-se. O que é que isto quer dizer?
No método tradicional, enche-se a colher e mete-se na boca do Bebé até que ele coma tudo o que tem à frente ou se recuse a comer mais (normalmente, em formato berreiro). No BLW, prepara-se a comida e coloca-se ao seu alcance para que seja ele a decidir o que quer fazer com a comida - não se mete comida na boca do Bebé, até por questões de segurança (ver BLW e medos frequentes).

O Bebé pode decidir manejar, cheirar, atirar, esmagar, o que quiser. Eventualmente, levará a comida à boca.
Uma coisa que ajuda a que o faça é ver os pais fazerem. Quando a Carminho está mais distraída, costumo comer algo de forma a que ela veja e depois ofereço-lhe um pedaço - em 99% das vezes, tira-me o pedaço da mão e leva-o à boca.

Quantidade
Não é que o Bebé vá comer uma maçã inteira, mas pode brincar tanto que manda imenso ao chão ou surpreender e comer imenso.
Tenham sempre disponível uma quantidade maior do que aquela que acham que ele vai comer e evitem "roubar" pedaços enquanto o Bebé ainda não tiver terminado. Nós comemos no fim! (ou aquele pedaço que caiu ao chão e fingimos que acreditamos na regra dos 3 segundos). O Bebé é que vai decidir quando a refeição acabou e se não tiverem mais para lhe dar vão ter de interromper uma actividade que lhe é extremamente prazerosa e útil para o desenvolvimento.
Não lhe dêem apenas um pedaço, dêem-lhe 3 ou 4 e deixem-no explorar. Não têm de ser todos do mesmo alimento - podem dar diferentes. Mas 1 pedaço pode ser aborrecido e mais do que 4 pode ser demasiado confuso.
Uma coisa que fazemos quando apresentamos um alimento novo à Carminho, é oferecer primeiro apenas um pedaço para que ela explore, depois vamos adicionando outro e outro. Reparámos que, quando reconhece um alimento de que gosta tem tendência a ir logo a esse e pode ignorar o alimento novo - que é o que queremos que experimente.
Com a experiência vão percebendo as quantidades que o vosso Bebé come. No início eu fazia imensa comida, agora já sei a quantidade certa (mais ou menos).

  • Oferecer água às refeições: podem, e devem, oferecer água às refeições. Inicialmente, tal como os sólidos, será apenas uma brincadeira visto que o Bebé bebe leite e é isso que lhe irá saciar a sede. No entanto, oferecer água é mais uma oportunidade de aprendizagem. Podem dar-lhe naqueles copos de transição (com tampa) ou em copos normais. Se derem em copos normais, lembrem-se de dar em copos de proporção adequada - os copos para adultos para um bebé são o equivalente a tentarmos beber de um pequeno balde, não é nada prático. Copos tipo os de shot são bons para isso (na zona de crianças do IKEA há uns pequenitos de plástico - são os que temos). Como em tudo o resto, quanto mais cedo tiverem contacto e experimentarem, mais rapidamente aprendem a utilizar bem. Um copo normal, no início, causará água por todos os lados, mas rapidamente o Bebé aprenderá a utiliza-lo. Já agora, é mais fácil para o Bebé se o copo estiver cheio do que se estiver apenas a metade. Para os pais é mais chato porque significa mais líquido para limpar;
  • Esperar que coma tudo: Não tenham qualquer tipo de expectativas. De início o vosso Bebé NÃO vai comer tudo o que lhe puserem à frente. Aliás, nem tudo nem um pouco. Nas primeiras refeições, 99% da comida vai parar a todo o lado menos ao estômago da criança. Isto não tem qualquer significado em relação ao sabor da comida, à vossa qualidade enquanto cozinheiros ou ao gosto do Bebé por determinado alimento. Num dia pode não comer nada, no outro pode surpreender e comer meio abacate (aconteceu-nos);
  • Dar tempo: Deixem ser o Bebé a decidir quando terminou a refeição, não o apressem. Lá porque passou de estar a mexer na comida para ficar entretido com o bibe ou com o gato que passeia, não significa que já tenha terminado. Pode acontecer, voltar a olhar para a comida e voltar a dar-lhe atenção;
  • Saber quando terminou a refeição: Eles deixam de ligar ao que têm à frente, podem ficar rabugentos, etc. Facilmente perceberão quando eles acabaram;
  • Frustração: Há momentos (e fases) em que o Bebé parecerá irritadiço durante as refeições. Isto pode ser porque estão a tentar fazer algo que ainda não conseguem e ficam frustrados. Não tem a ver com a qualidade dos alimentos, com a satisfação nutricional, nem com o facto de ele gostar ou não de determinada comida. São fases;
  • Fases: Há dias em que o Bebé só quer estar à mesa e há dias (podem ser vários seguidos) em que não liga nenhuma ao que lhe é posto à frente. Não assumam que é por não gostar do lhe estão a dar ou do método. São apenas fases - continuem como se nada fosse;
  • Rejeição de alimentos: Se o Bebé rejeitar determinado alimento é porque, naquele momento, naquele dia, naquela fase, não o queria ou não precisava dele. Não significa que é por não gostar,  noutra altura poderá "atirar-se" a ele;
  • Nada de pressões: imaginem que sempre que comessem tinham uma, duas ou mais pessoas a olharem fixamente para vocês. Provavelmente, deixariam de se sentir confortáveis. Deixem-nos à vontade. Nunca os deixem sozinhos a comer, mas não é necessário seguir todos os movimentos. No início é difícil, mas depois habituar-se-ão. Prometo.



Dicas/Síntese
  • Oferecer a comida quando o Bebé não tem fome;
  • Não esquecer que é um momento de brincadeira e experimentação;
  • Proporcionar que o Bebé participe nas refeições familiares, sempre que possível;
  • Certificar que o Bebé está bem sentado e direito, na cadeira de refeições ou ao colo;
  • Dar poucos pedaços de cada vez, mas ter mais disponíveis (para que a comida não acabe enquanto o Bebé ainda está interessado);
  • Lavar/limpar as mãos do Bebé antes de lhe oferecer a comida;
  • Oferecer os alimentos em formato palito e com um tamanho que o Bebé consiga manipular;
  • Não dar, oferecer. O Bebé é que decide o que quer comer, deixem os alimentos ao seu alcance;
  • Ter atenção à temperatura dos alimentos, para evitar queimaduras;
  • Não esperar que o Bebé coma toda a quantidade que fizerem;
  • Nunca deixar o Bebé sozinho;
  • Tentar comer o mesmo que o Bebé e durante a mesma refeição;
  • Dar tempo ao Bebé para explorar e decidir o que fazer com a comida;
  • Falar com o Bebé sobre a comida - os nomes, as cores, etc.;
  • Variar os alimentos, texturas, cores;
  • Fazer da refeição um momento agradável e prazeroso para todos.


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Volto a dizer:
Como sabem não é um método inventado por mim, o que escreverei acerca do mesmo será informação retirada dos livros da Gill Rapley e da Tracey Murkett, e que complementarei com o que observo na Carminho e as experiências que temos tido.
Será como que uma tradução do livro "Baby-Led Weaning: The Essential Guide to Introducing Solid Foods and Helping Your Baby to Grow Up a Happy and Confident Eater". Livro este que aconselho que leiam.
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