domingo, 14 de outubro de 2018

A Culpa é da Mãe


"Nasce uma mãe, nasce a culpa"
Qual é o blogue sobre maternidade que nunca citou esta frase?
Mas é a realidade. Ao longo da nossa vida passamos, várias vezes, por situações que nos suscitam sentimentos de culpa, mas nenhuma nos faz sentir isso tantas vezes quanto a maternidade.
Que coisas nos fazem sentir culpadas de algo?

  • Amamentar;
  • Não amamentar;
  • Dar chucha;
  • O bebé chuchar no dedo;
  • Fazer BLW;
  • Fazer a tradicional iniciação aos alimentos sólidos;
  • Optar pelo co-sleeping;
  • Por não conseguimos fazer co-sleeping;
  • Porque não damos as vacinas extra-plano;
  • Porque o bebé chorou quando lhe demos banho;
  • Porque o bebé chorou quando lhe mudámos a fralda;
  • Porque o bebé chorou e não sabemos porquê;
  • Porque o bebé chorou e sabemos porquê, mas não percebemos instantaneamente;
  • Porque o bebé chora, mesmo sabendo nós que "os bebés choram" (por tudo e por nada);
  • Porque o bebé se espetou;
  • Porque sofre de uma qualquer alergia, a culpa é nossa porque estava nos nossos genes (ou não, não interessa);
  • Porque tem pele atópica;
  • Porque somos umas bestas horrorosas que lhes cortam as unhas;
  • Porque não lhes damos o que eles querem, quando querem, como querem, na quantidade/forma/cor/sabor/whatever que eles querem;
  • Porque achamos que o cocó deles cheira às profundezas do inferno e o nosso amor por eles devia fazer com que cheirasse a "rosas, senhor";
  • Deixá-lo ver televisão;
  • Deixá-lo ver/jogar com um tablet ou telemóvel;
  • ...
... poderia ficar nisto até ao Natal, porque nos sentimos culpadas por tudo.
E até nos sentimos culpadas porque os outros fazem as coisas de forma diferente da nossa e se calhar os outros é que estão certos. 
Ou então, se os outros fazem diferente e o dizem é porque estão a querer dizer que somos maus pais.

Falando de um modo leviano, a nossa prioridade enquanto mães (e pais, cuidadores, etc.) é certificarmo-nos de que as nossas crias vão crescendo e sobrevivendo. Tudo o resto é bónus.
De resto, somos confrontados com escolhas todo o dia, todos os dias. Algumas serão melhores do que outras e vamos aprendendo por tentativa e erro.
Algumas escolhas são as correctas porque temos a informação correcta, outras não são tão acertadas porque temos a informação errada ou nem sequer a temos e é preciso improvisar na hora, algumas escolhas sabemos que não são as mais correctas, mas é o que conseguimos/podemos fazer.
Não faz mal!
Outra coisa que acontece é, muitas vezes, estamos demasiado sensíveis e interpretamos como críticas comentários que não o são.



Por exemplo: há quem diga que eu sou "fanática da amamentação" e que critico quem opta por alimentar o seu bebé com leite artificial, simplesmente por dizer que "a amamentação é o melhor".
Vamos lá ver uma coisa, amamentar é o melhor. Não sou eu que o digo, é a ciência.
No entanto, amamentar é uma escolha da mulher, porque se trata do seu corpo. E amamentar não é a única opção para alimentar bebés. E, se optarem por não amamentar de todo ou por fazerem um padrão misto (leite materno e fórmula), isso é a vossa escolha e não significa que se devam sentir culpadas, devam ser culpadas por outros, ou que quem promove a amamentação vos está a criticar negativamente.
Como já disse anteriormente "mais do que promover a amamentação, promovo a saúde mental e a vinculação. Sou uma defensora acérrima da amamentação, desde que não coloque em risco o apego mãe-bebé ou a sanidade mental dos pais. Seja pela dor, seja pela privação de sono, seja pelo que for. Defendo que, mais importante do que o bebé passar a vida agarrado à mama da mãe, é a relação de vinculo entre os dois. Relação essa que se pode estabelecer de várias formas." (neste artigo).
A escolha sobre como alimentar o seu bebé cabe à mãe. Infelizmente, muitas mulheres querem amamentar e acabam por não o fazer ou por desistir, não por assim o pretenderem, mas por serem aconselhadas com informação incorrecta. E até por profissionais de saúde, que não o fazem por mal, mas por, com a melhor das intenções, disseminarem informação incorrecta. Ainda este fim de semana ouvi uma enfermeira aconselhar uns pais, de um recém-nascido de 1 dia, a terem em casa uma "latinha de leite em pó", para alguma emergência. Ou para administrarem um bebé-gel se o bebé ficasse mais de 24h sem evacuar ou irem para as urgências se ficasse 3 dias sem o fazer - algo que é super comum acontecer com bebés que são amamentados em exclusivo. Pode ser algo mais complicado? Claro que pode, mas pode não ser. Antes de correrem para as urgências com um bebé, enviem uma mensagem ao médico assistente.


Ilustração por Brooke Smart
http://www.brooke-smart.com


Bem... divaguei. Como de costume.
Onde é que eu queria chegar com este artigo? Ah, sim! A culpa da mãe.
Ao longo do nosso percurso vamo-nos sentir culpadas por tudo e mais alguma coisa. Fazendo ou não a escolha correcta, sendo ou não algo que esteja sob o nosso controlo.
E somos sensíveis a quem tem opiniões diferentes da nossa. Mas lembrem-se, lá porque alguém faz diferente de nós, não está a dizer que somos más mães ou que são melhores do que nós. Interpretem como estarem a oferecer uma alternativa que poderemos seguir (ou não!).
A parentalidade não se guia por uma única fórmula, há infinitas combinações possíveis. E o que resulta melhor vai depender: do bebé, dos pais, da família, do meio sócio-cultural em que se insere, do acesso que tem a determinadas infra-estruturas, entre muitas outras. Depende de tantas, mas tantas, variáveis.

Já nem promovo um "aprendam a livrar-se da culpa", mas antes um "aprendam a gerir esse sentimento". Porque a realidade é que, com maior ou menor frequência, ela lá aparece para dar um ar da sua graça. 
Como dizia a outra: "shake it off"









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