quinta-feira, 26 de julho de 2018

O Meu Segredo de Mãe

Todas temos os nossos segredos de Mães. E os Pais também.
Não estou a falar daquele segredo de como fazer coisas espectaculares acontecerem, como "o meu segredo para colocar o edredão na capa em 1 segundo" ou "o meu segredo para a mousse de chocolate mais perfeita de sempre". Não...

Estes segredos são acidentes ou incidentes que aconteceram quando estávamos a cuidar das nossas crias.
Situações mais ou menos chatas que poderiam ser (ou foram) mais ou menos graves.
Situações que, quando aconteceram, nos fizeram sentir os pais mais negligentes à face da terra, os piores pais de sempre, não merecedores da confiança dos nossos filhotes que jurámos proteger e falhámos.
Momentos que não queremos contar a ninguém com medo de que nos julguem tão duramente quanto nos julgamos a nós mesmos.


Fonte




Inspirada num site (este) que sigo há vários anos, onde as pessoas enviam postais anónimos com os seus maiores segredos, pensei que poderia ser interessante e terapêutico para alguns de nós fazermos algo do género, embora mais virado para a maternidade ou paternidade.
Assim, criei um formulário online (aqui) que podem preencher, anonimamente, com o ou os segredos que vos angustiam e que têm receio de partilhar com o mundo. Também podem comentar esta publicação com os vossos segredos ou enviá-los por mail para ameninadajoaoxxi@gmail.com.

A minha ideia é, de vez em quando, partilhar um ou vários segredos com os leitores do blogue e perceberem que não estão sozinhos, que aquilo que aconteceu convosco já aconteceu com outros, para receberem um pouco de empatia ou para que aquilo que vos aconteceu pode servir de alerta para outros.
Comentários com críticas destrutivas, juízos de valor, insultos ou afins não serão tolerados por mim e serão sempre apagados.




A primeira vez que pensei nisto foi no rescaldo do meu próprio segredo.

O Duarte tinha ido ao futebol e eu estava sozinha com a Carminho. Não me lembro da idade dela, mas talvez uns 7 ou 8 meses.
Chegou a hora de a ir deitar. Eu já tinha lido e relido sobre isto e sempre achei que tinha cuidado suficiente, mas não. Coloquei-a no muda-fraldas, sentada, enquanto lhe tirava a camisola. Na altura, deitá-la no muda-fraldas era um drama, porque tinha aprendido a sentar-se há pouco tempo e não se queria deitar, por isso tratava dela sentada enquanto fosse possível.
Ela atirou qualquer coisa ao chão e eu baixei-me para apanhar, continuando a segurá-la pelo braço. Foi o suficiente para, em milésimos de segundos, ela espreitar o que eu estava a fazer, inclinar-se e cair do muda-fraldas! Caiu em cima de mim, dando-me uma cabeçada, e escorregou para o chão. Começou a chorar. Não me lembro como, mas acabei no corredor sentada do chão, a olhar-lhe para os olhos (para ver as pupilas), a abraçá-la, a embalá-la. Cheia de calor, em pleno Inverno, acabei despida e a escorrer suor. Ela chorava em plenos pulmões. As pupilas estavam bem, não tinha vómitos, nem desmaios. Tirando o choro, não me parecia que houvesse algum problema. Mas eu interrogava-me. Vou para o hospital? Ligo para a saúde 24? O que preciso de ver mais? Será que partiu alguma coisa? Será que acertou com a parte mole da cabeça? Sou má mãe! Sou uma mãe terrível! Vou presa? Isto é negligência? Digo ao pai? O que faço?
E, enquanto ela chorava em plenos pulmões, uma das gatas aproximou-se para a cheirar. Calou-se imediatamente! Calou-se e quis ir atrás da gata. Percebi logo que o pranto dela era do susto e da minha ansiedade. Acalmei-me, fiquei um pouco mais com ela.
Acabou por correr bem. Não foi preciso ir ao hospital, não aconteceu nada.

No dia seguinte, continuava angustiada e fui ter com uma amiga para café.
"Aconteceu uma coisa horrível.", disse eu. "Ainda nem recuperei do susto.". "O que foi? O que se passou?". "Ontem deixei cair a Carminho. Não foi nada, está tudo bem, mas sinto-me uma mãe horrível". A cara da minha amiga mudou, ficou séria, séria.
"Eu também deixei cair o meu filho e nunca contei a ninguém."


Ilustração "Universal Language" por Andy Westface
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