Triagem da MAC. Segunda volta.
"Estou com uma mastite, com abscesso", "Tem dores?", "Nem por isso.", "Tem febre?", "Não, mas eu nunca tenho febre. Além do mais, já vim cá ontem, foi confirmada a mastite, mas entretanto fui a uma consulta com uma médica especialista e estou com um abscesso". Desta vez observaram-me as mamas, pelo menos isso.
Sou chamada para a consulta. "Então, diz que tem uma mastite? Com abscesso?", "Sim. Fui vista por uma colega vossa, especialista em lactação, que vos escreveu uma carta.". Lêem a carta, observam-me e optam por chamar o especialista. Enquanto uma das médicas foi chamá-lo, a outra confessou-me "Quando entrou aqui a dizer que tinha uma mastite não acreditei. Pela sua cara, nunca imaginei que estivesse nesse estado. Achei mesmo que estava a exagerar. É uma estóica!".
Disseram-me que, no estado em que estava era suposto estar a chorar baba e ranho e a contorcer-me de dores. "De zero a 10, quanta dor sente?", "Bem... Não é bem dor. É mais desconforto.". Olham uma para a outra, em espanto e lá confirmamos, novamente, minha anormal tolerância à dor. Que, se por um lado é bom porque não sofro tanto, por outro acabamos todos (eu e profissionais de saúde) a desvalorizar sintomas. Se eu não tivesse a sorte de ser tão bem acompanhada, de estar sempre atenta e de ser informada, nem quero imaginar o que me poderia ter acontecido. Uma mastite é algo que se pode tornar extremamente grave se não for tratada o mais rapidamente possível, e é algo que se for apanhado precocemente é de muito fácil resolução.
Começam a explicar-me o procedimento habitual: davam-me anestesia geral, cortavam a mama para drenar e limpar, colocavam um dreno e durante uns dias não podia dar mama.
Deixam-me sozinha no gabinete e chorei. Chorei a pensar que me iam cortar, chorei a pensar que durante uns dias não podia dar daquela mama, chorei a pensar que iam ser dores horríveis, chorei a pensar que ia ficar com a mama marcada para sempre, chorei de medo da anestesia geral (a epidural já tinha corrido mal). Chorei com pena de mim mesma e com raiva, "Porque é que tudo me acontece?".
Entra o especialista, o Dr. Pedro Sereno, olha para mim e diz "grande mama!". Observou-me e deu-me duas opções: cirurgia (que implicava ficar internada umas horas e como tinha comido há pouco tempo ainda teria de esperar mais umas quantas) ou aspiração simples (o abscesso era pequeno, por isso dava para espetar uma seringa e aspirar o pus). Optei pela aspiração. Não só porque me lembrei do que a Dra. Mónica Pina me disse, como sou apologista de se tentar sempre o procedimento mais simples possível. Se piorasse, logo se via o que era necessário fazer.
A aspiração doeu um bocado, não vou mentir. Não tanto o espetar da seringa, mas quando me espremeram a mama para que saísse o pus todo. 20 ml de pus! Uma seringa cheia! Deixou-me o aviso "se piorar volte logo às urgências, caso contrário venha ter comigo na segunda feira de manhã".
Durante uns dias, de vez em quando começava a escorrer pus e lá ia eu buscar compressas e espremer a mama. Carradas de compressas com pus. Duas semanas, duas consultas e mais uma aspiração depois e eu estava como nova.
E... quando tudo parecia estar a correr bem, adivinhem!
Olho-me ao espelho e, uma semana depois, o outro lado da mesma mama estava vermelho e a pega voltou a doer horrores. Entrei em pânico.
Nova mastite? A sério? Quando é que teria descanso? Estava a ser acompanhada, a fazer tudo bem, tudo certinho e tinha de haver tanta coisa? "És de uma família de médicos e enfermeiros, é a nossa sina!", dizia-me a minha tia.
Desta vez ataquei logo, meti a Carminho a trabalhar (mama de 2 em 2horas, enquanto eu massajava), frio na mama depois de cada mamada (almofadas de gel e folhas de couve) e anti-inflamatório. Em 2 ou 3 dias parecia estar tudo bem. Decidi voltar à consulta do Dr. Pedro Sereno, por descargo de consciência, que me confirmou já não haver sinal de mastite - tinha-a atacado a tempo e bem.
Depois de ter resolvido mastites e tudo o resto, a Carminho já mamava de 3h em 3h e as dores eram cada vez menores. Como só ia a uma mama de cada vez, dava tempo aos meus pobres mamilos para recuperarem. Entretanto, vieram as primeiras vacinas e com ela uma crise de "mimo" que me levou a dar mama de 2h em 2h horas. E voltaram as dores! Com as dores que sentia, chegou a um ponto em que concluímos que ela só poderia mamar em intervalos de 2h30/3h00, numa mama de cada vez. Ela quando ia à mama sem fome, brincava com o mamilo ou lá o que fazia e dava cabo dele. Tinha de aguentar, não podia ser em livre demanda. Só podia mamar quando tinha fome, não lhe podia dar mama por mimo. Os intervalos de 3h00 resultavam, por isso tínhamos de voltar a eles. E se chorasse entretanto? Teria de aguentar ao colo (de preferência do pai, para não ser um tormento estar ao colo da mãe e não ir à mama).
Livre demanda? Não deu para mim. Ou melhor, não deu quando a Carminho queria mama com mais frequência. Actualmente, conseguimos. Ela nem pede maminha para se saciar, chega à hora da rotina e toma lá! Com intervalos de 4h00 e noites longas, tenho mais do que tempo para recuperar e consigo dar mama se, por algum motivo, ela precisar de uma mamada extra (como é o caso de ir levar vacinas) ou se fizer um intervalo menor. Assim, consigo tranquilizá-la na maminha.
Mesmo agora, com 5 meses, ainda não pega bem. Safo-me porque cresceu e tem a boca maior, senão o meu horror continuava. Já praticamente desisti de tentar que pegue bem. O problema dela é o posicionamento dos lábios e, de vez em quando, lá estou eu a ajeitá-los.
Se eu tenho uma anormal tolerância à dor e custou o que custou, nem quero imaginar pelo que outras mães passam. Aliás, acho que é graças a essa tolerância que, apesar de tudo, continuo a dar mama. Acho, não! Tenho a certeza.
A cada contratempo pensava "Só mais uma semana. Se não melhorar posso desistir, mas tenho de tentar mais uma semana". E de semana a semana, chegámos aos 5 meses de amamentação exclusiva. 5 meses em que a minha filha não sabe o que é outra coisa senão leite e mama da mãe. Foi o truque que usei para não desistir, para ir aguentando - "Só mais uma semana".
A cada contratempo pensava "Só mais uma semana. Se não melhorar posso desistir, mas tenho de tentar mais uma semana". E de semana a semana, chegámos aos 5 meses de amamentação exclusiva. 5 meses em que a minha filha não sabe o que é outra coisa senão leite e mama da mãe. Foi o truque que usei para não desistir, para ir aguentando - "Só mais uma semana".
Continuo defensora da amamentação e da amamentação em livre demanda, e acho que as mães devem fazer um esforço para aguentar o máximo que conseguirem, para ver se melhora. É importante, muito importante. Às vezes a dor passa rápido, apenas são precisos uns dias para que os mamilos se habituem. Também é normal doer no momento em que eles pegam na mama e depois já não doer. Outras vezes o problema é o bebé pegar mal, mas há exercícios que se podem fazer e eles lá aprendem. Quando acharem que é muito difícil, respirem fundo e estabeleçam limites, sejam esses limites mais um dia, mais uma semana ou mais um mês.
E não, não há leite mau. Não há leite fraco. Os bebés é que passam por muitas fases, nas quais pedem mais mama. Quando vão passar por picos de crescimento, começam a ir mais vezes à mama e/ou a mamar mais tempo, para sinalizar ao corpo da mãe que será preciso produzir mais leite. Passam também por fases em que ficam mais carentes de mãe, porque se estão a desenvolver e é um trabalho duro, então pedem mais mama. Eu tenho sorte de ter imenso leite e de a Carminho ter tendência para ficar mais tempo na mama do que pedir com mais frequência. Mais tempo eu aguento, mais frequência nem pensar.
E não, não há leite mau. Não há leite fraco. Os bebés é que passam por muitas fases, nas quais pedem mais mama. Quando vão passar por picos de crescimento, começam a ir mais vezes à mama e/ou a mamar mais tempo, para sinalizar ao corpo da mãe que será preciso produzir mais leite. Passam também por fases em que ficam mais carentes de mãe, porque se estão a desenvolver e é um trabalho duro, então pedem mais mama. Eu tenho sorte de ter imenso leite e de a Carminho ter tendência para ficar mais tempo na mama do que pedir com mais frequência. Mais tempo eu aguento, mais frequência nem pensar.
Mas somos Mães, não somos mártires. Tenho a certeza de que, se em algum momento tivesse decidido desistir da amamentação, ninguém me condenaria e teria o apoio da família. E, se não tivesse, que se lixassem. Porque o corpo é meu, a escolha é minha. E sabia que o teria feito por não ser capaz fisicamente, e por ser o melhor para a minha relação com a Carminho.
A minha experiência ensinou-me muito sobre amamentação. Muito! Em experiência tenho todo um curso de amamentação.
E ensinou-me também que, apesar da amamentação ser muito importante para o bebé, o mais importante é o bem estar psicológico da mãe e o bebé estar alimentado. É conseguirem encontrar um equilíbrio que permita aos dois estabelecer uma relação. Uma mãe instável não será uma boa mãe, por mais que queira, e isso é pior para o bebé do que lhe dar biberão.
Felizmente, consegui ir dando mama e perceber que tinha de aproveitar outros momentos para estabelecer a vinculação com a minha filha: através do vestir, da higiene, do mudar fraldas, do brincar, etc. Não foi pela amamentação que estabelecemos a nossa relação, com a amamentação corri o risco de prejudicar a nossa relação.
Mas, apesar das coisas terem melhorado, ainda hoje há momentos em que ela me magoa. E muito! E, nesse momento, vem ao de cima toda a revolta, toda a frustração, toda a ansiedade por que passei naqueles meses. Felizmente, não é frequente.
Por isso, não admito que me venham dizer que não promovo a amamentação.
Promovo, sim. Senão, não teria continuado a dar mama e a minha filha há muito que seria alimentada a leite artificial. Senão, não estaria a "rezar" para que não lhe nasça nenhum dente antes de fazer 6 meses, com medo de não aguentar mais dores e ser, por fim, obrigada a desistir de dar mama.
Mas, mais do que promover a amamentação, promovo a saúde mental e a vinculação. Sou uma defensora acérrima da amamentação, desde que não coloque em risco o apego mãe-bebé ou a sanidade mental dos pais. Seja pela dor, seja pela privação de sono, seja pelo que for.
Defendo que, mais importante do que o bebé passar a vida agarrado à mama da mãe, é a relação de vinculo entre os dois. Relação essa que se pode estabelecer de várias formas.
Aproveito para agradecer aos Profissionais que me guiaram neste processo e que me salvaram as mamas: A Enfermeira Luísa Valentim (minha querida Tia), a Enfermeira Adelaide Órfão, a Dra. Mónica Pina e o Dr. Pedro Sereno. Não sei o que teria sido de mim e da Carminho se não fossem eles.
Muito, mas muito obrigada. Do fundo do coração. E da mama! Viva a Mama!